Friday, December 23, 2005

Prontos para a jornada.

Faltam só algumas horas para irmos audaciosamente onde poucos de aventuraram e sairam vivos para contar a história: rumo ao Brasil de classe econômica da KLM com uma criança de 2 anos.
São 6 horas e meia até Amsterdam, 4 horas no aeroporto e mais umas 12 horas até Guarulhos - sem contar a hora e meia de estrada até a casa do meu pai.
Acho que deve ter sido mais confortável para os peregrinos que passavam meses atravessando os oceanos em barquinhos de madeira.
Saímos hoje às 1h30 da matina e chegamos em GRU às 20h50 - sem descontar os fuso de 6 horas.
Espero que a ceia ainda esteja quentinha quando a gente chegar.

Tuesday, December 20, 2005

Seis meses sem ver uma gota de chuva, e contando.

Nem quando fui para Beirute, nem em Amsterdam. E dias nublados foram só uns 3.
Pelo que me disseram, no Brasil vai ser diferente. Bem diferente.
Veremos...

Sunday, December 18, 2005

Acho que vou passar todo o tempo que vamos ficar no Brasil comendo e conversando.
Faz mais de 6 meses que não como uma feijoada ou um bife acebolado.
Churrasco nem pensar. Fui num restaurante com uns amigos há uns 4 meses e paguei mais de 100 reais numa carninha meia-boca... Linguiça, picanha, alcatra...
E eu já sou um ardoroso fã da língua-pátria falada. Imaginem agora que estou há mais de 6 meses quase sem interlocutores.
(A Dri já não deve me aguentar mais)
Me aguardem.

Saturday, December 17, 2005

O Grande Macaco e a pequena cinéfila.

Ontem fomos ao Ibn Battuta Mall para fazer compras. Eram 8 da noite e a Carolina, enfim, estava dormindo no seu carrinho depois de fazer estripulias o dia inteiro.
Idéia da Dri - conhecendo nossa pequena tínhamos certeza que a dona fofinha não acordaria mais naquela noite. Que tal se tentássemos ver de novo King Kong?
De novo porque na quarta nós fomos tentamos assistir com ela. Mas chegou um certo ponto em que as cenas estavam pesadas demais para a nossa pequena e saímos antes da metade do filme - com água na boca.
Lá fomos nós com nosso bebê no carrinho para a sessão das 9 e meia do filme - que tem mais de 3 horas de duração.
Quando peguei a pequena no colo a bichinha acordou. E não pregou mais o olho até o fim. Aliás, ficou com os olhos bem mais abertos que o normal.
Cobrimos seus olhinhos nas cenas mais pesadas - que são pouquinhas, menos de 3 minutos do filme - e ela seguiu alegremente pelo filme, vibrando com tudo que estava acontecendo na tela.
Acho deve ter um gene que codifica a paixão pelo cinema ainda por ser descoberto.

O filme é magnífico. Emocionante, emocional, surpreendente e impressionante.
É um daqueles momentos raros e preciosos em que você se sente novamente como um garoto de 8 anos de idade. O Peter Jackson acertou de novo.

Semana que vem vamos tentar assistir Harry Potter. Mas aí vai ser no Brasil.
Dia 24 estamos chegando na Pindorama.

Wednesday, December 14, 2005

O dia em que a terra tremeu.

Estar em Dubai é sempre interessante. Sempre tem uma novidade para contar. Infelizmente o ritmo da minha vida tem sido tão alucinante que tenho falhado em postar neste blog regularmente. E pode ter certeza que tem muita coisa para acontecendo.
A antepenúltima coisa interessante que aconteceu foi mais um item para entrar no meu currículo.
Estava eu aqui na minha sala no 17o. andar das Emirates Towers, logo depois de comer um típico prato local chamado Big Mac, quando senti que tudo estava balançando. Meu primeiro pensamento foi "o que será que eles colocam neste molho especial?".
Realmente as coisas estavam sacudindo. Era um terremoto.
Interessante que em momentos como este você fica sem ação, sem saber o que fazer, abestalhado, parvo, abobalhado.
Nada na vida pode prever o que acontece em situações inesperadas, você fica a mercê dos seus instintos, da sua capacidade de improvisação e, pior de tudo, do espírito da matilha.
Isso mesmo. Em situações de estresse agimos em bando. Uma inteligência - ou estupidez - coletiva toma conta de todos nós.
Demorou alguns minutos até entendermos o que estava acontecendo. Aí todos fugiram do prédio - tentando preservar as aparências, mas fugindo do mesmo jeito.
Depois de algum tempo a segurança do prédio veio dizer que era seguro voltar, que nada mais ia acontecer.
E, acreditem, as pessoas voltaram!
Tenho certeza que a admnistração do prédio ligou para Princeton e Harvard para colher esta informação antes de passar para a gente...
Em momentos como estes as pessoas voltam a ser crianças. Precisam que alguém mostre o que é certo e errado e que lhes digam o caminho.
Eu demorei mais um pouquinho, para enfatizar minha independência, mas fiz o mesmo no fim.

O que aconteceu foi um terremoto de 6.5 graus na escala Richter com o epicentro em uma cidade do Irã a 250km daqui. Matou algumas pessoas e destruiu umas casas. E foi a primeira vez que um evento como esse foi percebido em Dubai.
A Dri por exemplo só ficou sabendo depois que eu liguei para contar. Pelo jeito só os prédios mais altos - que são como imensos pêndulos - sofreram claramente os efeitos do choque. E as Emirates Towers têm mais de 50 andares.

É muito estranho estar numa situação como esta. É como se o planeta estivessa fazendo uma exclamação que diz claramente "ei, amigos, por mais que você pensem o contrário quem controla as coisas por aqui sou eu".
Faz a gente se sentir bem pequeninho.

Essa eu vou colocar no currículo. E olha que nem estava no pacote...

Monday, December 05, 2005

O Burjo.

Que beleza! Minha filha não só reconhece o Burj Al Arab na paisagem como é apaixonada por este hotel magnífico.
Quando estamos passando pela Sheikh Zayed Road ela nos surpreende gritando "Olha o Burjo!". E lá está ele, enorme e imponente.
Na praia em que vamos - a Jumeira Beach - estamos do lado do hotel. Uma vista impressionante. E ela fica em êxtase.
Isso porque tudo que ela precisa está lá: mamãe, papai, areia para fazer seus bolinhos e o Burjo.
Viu só como a vida pode ser simples?

Sunday, December 04, 2005

Um novo ponto de vista.

Uma coisa muito importante que você aprende depois de chegar a Dubai é que aqui o termo "Camelódromo" tem um significado totalmente diferente.

Thursday, November 24, 2005

Comprei o carro.

Mas isso é assunto para um post completo. Aguardem.
Nem parece Dubai.

As estações vão passando e o clima vai se transformando.
Acreditem ou não à noite chega a fazer frio.
Uma das melhores coisas que eu posso dizer sobre isso é que meu contato com ar-condicionado foi bastante reduzido.
As pessoas aqui têm uma paixão imensa por ar-condicionado. Se você tomasse como exemplo a temperatura que experimentamos em taxis e lugares públicos, iria achar que estamos em um lugar com clima sub-polar.
Pinguins poderiam andar de taxi tranquilamente aqui.
Acho que usar essa maldita caixa de fazer gelo é uma maneira das pessoas daqui se sentirem civilizadas.
Deve ser esta a razão que levou estes alucinados a criar a maior caixa de fazer gelo que se tem notícia.
Semana passada foi inaugurado no Mall of the Emirates - que em si já é um lugar com clima sub-polar - o Ski Dubai.
Isso mesmo, uma pista de esqui indoor no meio do deserto. Nela a paixão local por coisas imensas e por ar-condicionado alcançou o ápice.
A pista de esqui é uma vista surreal que parece um espaçoporto, coisa de ficção científica, A entrada é dentro do Mall of the Emirates, que fica pertinho do Burj Al Arab.
Dentro do Shopping tem janelas enormes onde é possível ver as pessoas brincando alegremente com a neve, jogando bolas de neve umas nas outras, correndo, pulando e agindo como retardadas - tudo que se poderia esperar de gente nesta situação. Infelizmente a pista de esqui ainda não estava liberada - chegar na temperatura adequada e preparar neve suficiente leva meses.
Quem diria que o meu primeiro contato com esqui iria ser no meio do deserto no oriente médio.
Que tal um programa do tipo tomar sol na praia de manhã e esquiar à tarde? E tudo isso separado por apenas 1 km.
Para que achava que já tinha visto de tudo...

Saturday, November 19, 2005

Contrastes.
Dubai é um lugar onde você consegue ver num shopping center uma mulher de ultra-microssaia e, numa virada de pescoço, uma outra vestida toda de preto com o rosto e as mãos totalmente cobertos.
As coisas não são muito normais por aqui...
Meu Brasil brasileiro.
Estar longe do Brasil faz a gente ter comportamentos muito estranhos.
De repente tudo que diz respeito à terra natal ganha um novo significado.
Coisas que não importavam nada passam a ser maravilhosas.
Calma, não vou dizer que sinto falta de assistir televisão no domingo.
Mas estar em comunhão com a Pindorama é algo que a gente tem uma necessidade muito grande.
É tão forte essa necessidade que acabamos fazendo coisas impensáveis.
E hoje pode acontecer uma delas.
Um grande ídolo mundial está dando uma passada nestas terras. E, como em todos os outros lugares, multidões se reúnem para estar perto do mito.
Não, não estamos falando do Michael Jackson ou do Ronaldinho.
Também não é o Pelé.
É ele, o Alquimista, a lenda. O escritor favorito de franceses, iranianos, árabes e russos.
Paulo Coelho está em Dubai.
E hoje tem uma noite de autógrafos na Macgrudy's do Ibn Battuta Mall.
E o pior de tudo: estamos REALMENTE pensando em ir.
Saudades da terrinha fazem a gente se comportar de maneira estranha.

Thursday, November 17, 2005

Aqui em Dubai os carros têm duas opções de combustível:
Os movidos a gasolina e os movidos a muita gasolina.

Sunday, November 13, 2005

Brasil 8x0 Mirrados Árabes Unidos

Que naba! Ontem foi o jogo da seleção local contra a seleção.
Consegui resistir à pressão de 2 meses que a galera da agência fez para eu ir.
Inacreditável!
Ainda bem que eles acreditaram que no Brasil a gente sempre tem a oportunidade de assistir à seleção jogar. Quase todo final de semana a seleção joga pertinho de casa.
Como diria meu grande amigo Alê Guerreiro, dá para falar para eles que tem macaco andando na rua que eles acreditam.
250 dirhams cada ingresso mais a viagem para Abu Dhabi, mais a babá para a Carolina e mais a vontade de ficar traquilinho com a minha família me convenceram a ficar em casa.
O que eu perdi foi uma chuva de gols - que começou na hora que a gente decidiu desligar a televisão.
E como a seleção dos Mirrados é ruim. Devia ser a seleção da Toscana.
Os caras estavam completamente amedrontados com o poder da camisa amarelinha. Até mesmo a Ponte - com o Monga - ganhava de goleada deles.
Metade dos torcedores era do Brasil...espera aí, me disseram que só tinha uns 300 brasileiros aqui...
A câmera passeia e olha só a galera brasileira agitando...pera lá, aquele carinha alegre com a camisa do Brasil trabalha comigo! Um libanês da gema!
Acho que vai ser difícil ver uns brasileiros legítimos.
O Brasil faz sucesso por aqui.
Todo mundo adora torcer pelo mais fraco - mesmo que a coisa fraca aí no Brasil seja a economia e as questões sociais.
A melhor coisa do jogo foi poder assistir a uma transmissão completa sem ouvir o Galvão Bueno. Não dá para ter uma idéia como é bom isso.
Tudo bem que os locutores árabes eram mais animados que locutor de rádio e que se um jogador dos Mirrados chutasse a bola para a lateral eles faziam pelo menos 5 replays, mas foi muito bom ver que eles escreveram o nome do nosso glorioso técnico Perera - e falavam o nome do desgraçado a cada 5 minutos.
Um evento interessantíssimo que transformou um amistoso de boa vontade numa célebre cena de atropelamento, onde repetidamente novas estrelas do futebol tupiniquim passavam por cima da vítima indefesa - aliás INdefesa é uma boa mareira de definir aquela zaga - para garantir sua presença na próxima copa.
Bom, batemos nos bêbado.
Vamos ver o que acontece quando a história for séria.
O bom é chegar no trabalho no dia seguinte e agir como se você tivesse ganhado o jogo.
Nada como ser o representante local de uma franquia de sucesso.

Saturday, November 12, 2005

As coisas em Dubai são tão baratas que a gente gasta tudo economizando.

Sunday, November 06, 2005

Vamos a la playa.

O final de semana ultra-prolongado do fim do Ramadan me deu a oportunidade de fazer várias coisas que fazia tempo que eu tinha vontade de fazer.
Nada era uma delas.
Outra, era finalmente visitar a praia.
Poucas pessoas vão acreditar, mas desde que cheguei a Dubai não fui à praia. Sempre gostei muito de praia, mas a experiência aqui tem sido tão intensa que acabei deixando de lado a idéia, até que recebi um ultimado de minha digníssima e tive que ceder.
Como era sábado e neste dia a principal praia fechada é reservada para mulheres e crianças (meninos só até 8 anos de idade!) resolvemos nos aventurar a ir em uma praia mais afastada na vizinhança de Jebel Ali.
Para quem não sabe - até pouco tempo eu me incluiria neste grupo - Jebel Ali é o lugar onde foi construído o maior porto artificial do mundo e que, dizem, pode ser visto do espaço.
É lá também que eles estão construindo uma daquelas ilhas artificiais com o formato de palmeiras - gigantes e cheias de construções de alto luxo. The Palm Jebel Ali, o empreendimento irmão do The Palm Jumeirah.
Mas a praia....ah a praia...
Pegamos as indicações no guia e lá fomos nós.
Quando chegamos pertinho da praia não tinha mais estrada, só uma estrada de areia batida, mas cheia de marcas.
Vamos por aqui.
Depois de andar um pouco chegamos na dita cuja. E ela estava cheia, lotada de 4x4, que passaram da categoria de figurantes para atores principais nesta minha história de Dubai, tamanha a quantidade.
A galera vai até a areia com elas, monta umas tendinhas e aí começa a farofa.
Tudo digno de Praia Grande, com direito até a churrasco feito na areia.
Fomos indo, indo e...não iu.
O nosso carrinho atolou na areia.
Escolado que já sou depois de ter dado esta mancada outras vezes, parei instantaneamente.
A situação parecia desesperadora, mas lembre-se que tinha mais de 500 4x4 nas redondezas.
Não foi preciso. Desci e consegui, com a ajuda da minha co-pilota no volante, empurrar o carro para fora do atoleiro. Me respeitei.
Paramos o carro num lugar seguro - leia-se areia dura - e fomos para a praia.
Retrato de um pesadelo.
A primeira imagem marcante depois dos carros foi um grupo de malas dirigindo quadriciclos no meio da praia. Não sei o que é pior, o barulho ou os caras passando a toda do seu lado.
E não é só isso!!! Tem mais!!!
Os 4x4 circulam a toda pela areia, tanto no meio quando perto da rebentação (ou arrebentação?). Me senti - nos sentimos - como aquele sapo no jogo antigo de Atari.
Só que a gente não tinha que evitar ser atropelado na rua, mas sim na praia.
Ah, mas pelo menos tinha o mar tranquilo...
Não.
Outro bando de joselitos ficava passando de Jet Ski na beirada, fazendo malabarismo ou puxando outros maletas de wake board.
Pelo menos a Carolina de divertiu. Os papais estavam muito tensos tentando protegê-la dos 48 tipos de perigo disponíveis na praia.
Saímos fugidos de lá.
Para quem veio para cá buscando uma cultura nova, foi uma surpresa encontrar os farofeiros da baixada por aqui.
Só faltou canja na garrafa térmica e Ki-Suco.
Visite Jebel Ali. Mas não me chame.

Friday, November 04, 2005

Rides
Mais um capítulo da minha aventura está acontencendo: a compra de um carro.
As histórias são tantas que vão gerar vários posts.
Só para dar uma pincelada: semana passada fomos eu, a Dri, a fofinha e dois amigos sérvios (eles estavam em outro carro) procurar carro para comprar.
Primeiro fomos em um mercado em Dubai - uma área reservada pelo governo onde eles colocaram umas 120 lojas de carro. Vimos alguns carros e sentimos o clima.
De lá eles nos guiaram para outro mercado em um Emirado vizinho: Sharjah.
Sharjah fica a uns 15 quilômetros do centro de Dubai e é um primo pobre dos Emirados bacanudos.
Fomos com a promessa de achar os mesmos carros com preços muito melhores.
Depois de ficarmos perdidos por uma hora e meia seguindo nossos ditos "guias", chegamos ao tal mercado.
É um lugar bem tosco. Lojas de carros se enfileiram por quilômetros. Todas cheias de SUVs gigantescas. Algo que não parece de verdade, tal a quantidade. Imagina uma Santa Ifigênia que em vez de vender muamba vende Toyotas Land Cruiser e Pajeros.
Toyotas, Mitsubishis, Nissans, Lincolns, Infinitis, Lexus, Land Rovers...
Todas gigantes, caras, usadas e à venda.
Acho que só naquela área tinha mais delas que no Brasil inteiro.
E esse é o Emirado pobre...
Os preços eram melhores mas não eram nada de outro mundo.
E os vendedores ou aquele jeito de escroque safado ou são uns figuras panacas que não sabem nada de inglês.
Vi muitos carros mas ainda não fechei com nenhum.
A busca continua.
Depois tem mais. Muito mais.
O Ramadan terminou mesmo...
Dubai - e todo o mundo islâmico - explode em comemoração.
Os shoppings estão lotados. As praças de alimentação cheias não só de muçulmanos que estão tirando o atraso, mas também de não-muçulmanos que estavam de saco cheio de comer em casa.
As pessoas estão nas ruas os tempo todo. Diferente do Ramadan quando todos os muçulmanos ficavam meio em ponto-morto. Parece que eles estão correndo atrás do prejuízo.
Para mim vai ser uma baita mudança. Não vou ter que comer nos restaurantes caríssimos nas Emirates Towers - que abriam atrás de biombos - ou ter que levar sanduíches insípidos para comer no escritório.
O mundo volta a girar no ritmo de sempre.

Thursday, November 03, 2005

O Ramadan terminou.
E também terminou mais um projeto extremamente desgastante que me tirou do ar por uma semana, com direito a noite virada e tudo. Um daqueles projetos internacionais com 4 agências da rede envolvidas - nós, Londres, Noviorque e - surpresa - Brasil!
Como são irritantes estes projetos. Cada lugar tem uma idéia do que deve ser feito, todos apresentam coisas completamente diferentes e acham que estão certos. O problema é que é um projeto para o Oriente Médio e nós éramos o centro de tudo.
Óbvio que o pensamento estratégico que foi gerado aqui era mais elaborado, completo, definido, abrangente e EXTREMAMENTE CHATO.
As outras agências não tinham essa preocupação e apresentaram coisas interessantes e divertidas. Para nós foi um porre porque nossas comerciais tinham que dizer 1427 coisas diferentes, em 60 segundos.
Os passos eram definidos em conference calls - um dos maiores males do mundo corporativo contemporâneo. 30 pessoas curvadas em frente a aparelhos de telefone sem saber muito o que fazer e sem entender direito o que está se passando. Lindo!
E é melhor ainda quando elas são longas.
12 horas antes da apresentação e não tínhamos nada. Tudo, inclusive o material mandado pelas outras agências da rede, foi tachado de "fora da estratégia". Tivemos que sentar eu e outro diretor de criação e criar 5 filmes em 3 horas. 4 deles foram bombados novamente pelo picão local e pelo picão internacional que veio para cá especialmente para a apresentação. Aí remendamos idéias de outras agências, mudamos as nossas, viramos a noite e - surpresa - fizemos uma apresentação impecável.
O cliente deve ter achado que estávamos com tudo pronto há mais de 2 semanas e só ficamos ensaiando...
Parece aquelas cidades cenográficas de Hollywood. Só a fachada é real. Se o cliente olhasse atrás de mim iria ver os cabos e as estruturas que estavam me mantendo em pé.
Ah, o maravilhoso mundo da propaganda...

Wednesday, October 26, 2005

Pérolas de sabedoria.

Quando estiver criando anúncios e comerciais nos Emirados - e no resto do Oriente Médio - você não deve usar:

1 - Política
2 - Religião
3 - Sexo
4 - Camelos

Monday, October 24, 2005

Onde fica?

O tempo passa. A tecnologia chega. Carros velozes e modernos, internet, tv a cabo, edifícios que parecem ter saído de filmes de ficção científica...
Mas qual é o seu endereço?
Aqui em Dubai as coisas não tem endereço.
Achar um nome de rua é um parto. As avenidas até tem placas, mas vai tentar achar um número...
Para se localizar aqui você tem que ser um pouco beduíno.
Onde fica este oásis?
Ande 2 dias até uma árvore grande na direção do pôr-do-sol e vire à esquerda. Mais um dia de marcha e você chega no lugar.
Ainda é assim.
Os anúncios não tem endereços. Tem telefones.
Você liga para o lugar e eles dizem como chegar lá.
"Vá até a torre do relógio e vire em direção ao Al Khaleej Plaza Hotel. Quando cruzar o Al Maktoom Building você vai ver uma Coop - diminutivo de Cooperative, um supermercado local -aí você me liga que eu vou te pegar"
As indicações são assim. Mas com um sotaque estranho falando nomes ainda mais estranhos.
Já estou acostumado a me perder - faz parte da aventura.
Os lugares não tem CEP ou ZIP code.
O que acaba acontecendo é que toda a nossa correspondência acaba indo para os lugares onde trabalhamos - que em geral ficam em edifícios conhecidos e têm caixas postais que agilizam o processo.
Correio aqui é transportado por lesmas disfarçadas e os carteiros têm cérebro de pombos-correio para achar os lugares.
E neste exato momento tenho um jantar para ir sabe onde?
Sabe aquela árvore grande? Siga até ela e vire à esquerda.
Assim caminha a humanidade.

Sunday, October 23, 2005

Semana que vem termina o Ramadan.

A parte boa é que vou poder voltar a almoçar normalmente.
A parte melhor ainda é que tem um feriado de 4 dias para celebrar.
O islamismo não é demais?

Saturday, October 22, 2005

Os nenéns árabes.

Os nenéns árabes - principalmente os do Golfo - são esquisitos.
Eles não têm aquele olhar vago, sonhador, dos nenéns ocidentais.
Eles têm um olhar focado é sério. Cheio de propósito. E eles nunca choram.
Pelo menos eu nunca vi.
De vez em quando eu penso que são anõezinhos disfarçados.
Que medo!
Quem são os bárbaros?

Quando você diz que vai para um lugar no Oriente Médio a primeira coisa que as pessoas pensam é que você está louco.
Quando você diz que vai levar sua família junto aí pensam que deveriam cololocá-lo em uma camisa de força.
Eu adoraria dizer que estou um lugar que é o mais próximo de outro planeta que se pode experimentar se ser abduzido por camaradinhas cinzentos e cabeçudos.
Mas não é bem assim.
Você descobre quando vem para Dubai é que os seres humanos são muito parecidos. Que eles pensam igual e querem basicamente as mesmas coisas.
As pessoas que encontro aqui são menos alienígenas do que franceses, por exemplo. Ou, numa maior escala, do que holandeses.
E nem estou falando de suecos, finlandeses e noruegueses.
Naior parte dos casos considerar alguém selvagem ou incivilizado é uma questão de falta de informação, ignorância e, muitas vezes, burrice.
E quando se trata de Oriente Médio nós, cidadãos do mundo, somos extremamente ignorantes.
O importante é não terceirizar o conhecimento.
Não deixar que o Zeca Camargo e o Sergio Chapelin sejam a ferramenta pela qual entendemos o mundo.
Vocês gostam quando quando dizem que Brasil é um país onde só existem favelas e futebol e que uma vez por ano se entrega a um espetáculo orgiástico digno dos mais devassos imperadores romanos?
Bom, não está muito errado...
Mas somos muito mais do que isso!
Chega de Jornal Nacional!
Assistam ao Al Jazira.

Thursday, October 20, 2005

"A verdadeira viagem de descoberta consiste não em buscar novas paisagens, mas em ter novos olhos" Marcel Proust.

Foi com essa citação que comecei minha apresentação da campanha de Emirates Airlines - ou só Emirates, como eles gostam de ser chamados.
E acho que é assim que devemos levar nossas vidas.
Não precisamos mudar de lugar para descobrir algo novo.
A chave é estar sempre preparado para olhar para onde estamos de uma maneira original.
É possível sentar todo dia no seu escritório e sempre ver algo novo. E para isso você não precisa vir para Dubai. Só acredite na minha palavra.
Se bem que vir para Dubai ajuda...
Às vezes os novos olhos tem que ser importados.
E os meus olhos importados chegaram há um pouco mais de duas semanas.
Não dá para imaginar a quantidade de descobertas que um par de olhos fresquinhos proporcionam.
Os maravilhosos olhos da minha querida musa me trouxeram uma nova Dubai.
São novas cores, novos insights - ou sacadas, no bom e velho português, novas paisagens.
Foi ela que descobriu detalhes dos tetos do exagerado Ibn Battuta Shopping Mall - onde cada ala tem o estilo de um país do passado.
Ela que descobriu novos cheiros e sabores nos supermercados.
Foi quem descobriu detalhes da iluminação noturna do Burj Al Arab.
E, melhor de tudo, foi ela quem descobriu que as mulheres locais que vestem preto - abeyyas, como eles chamam estas túnicas - tem uma maneira toda especial de comunicar sua vaidade e sua predileção pelo luxo para quem só pode observar parte do seu rosto - às vezes nem isso.
Elas dizem isso usando as suas bolsas.
Bolsas Gucci, Prada, Fendi, Ferragamo, Louis Vuitton e etc.
Coisas que eu nunca havia percebido porque para mim dizem pouco - ou nada.
Mas que dizem muito.
Mulheres são mulheres. Não importa aonde você esteja.
Para entender isso você só precisa de novos olhos.

Tuesday, October 18, 2005

Que vista!

No final de semana passado fomos jantar com um casal de amigos libaneses no Madinat Jumeira, um hotel de frente para o mar que parece um castelo árabe antigo - e que fica do lado do Burj Al Arab.
O jantar foi num deck montado no meio da praia e a vista é coisa de cartão postal vagabundo.
Sabe que que cartão postal vagabundo sempre mostra aquelas fotos óbvias que a gente adora ver, mas tem vergonha de contar ou mandar para os amigos.
Esta era a vista do deck. Atrás da gente um castelo árabe sensacional. Do lado um dos prédios mais extraordinários do mundo - e um dos meus favoritos. Uma vista de sonho.
Para variar os libaneses pediram toneladas de comida - que aliás estava ótima.
Do nosso lado um monte de gente fumando shishas - o mesmo que narguilé - o que deixava o ar perfumado e leve.
A Carolina adorou o cheirinho - e comentou isso. Aliás ela era a única criança no lugar.
Foi engraçado porque foi a primeira vez que a ela saiu com a gente e com um casal que não falava português. Bom, a esposa do meu amigo não falava, porque ele passou a adolescência em Campinas.
Acho que já falei isso, mas dane-se. Se você me aguentou agora vai tolerar umas piadas repetidas.
Inglês foi a língua da noite.
E a pequena não entendia nada.
Caramba, deve ter pensado ela, gasto minha vida inteira aprendendo uma língua e esses caras agora decidem trocar tudo??!!!
Uma hora ela falou "Pára todo mundo. Vocês tão deixando a Calol maluca!!!"
A trilha sonora era feita por dois caras tocando música árabe - alaúde, tabla e vocais.
O visual, o cheiro e os sabores me fizeram ter de novo a sensação de que estou em outro planeta.
O pior é que eu tinha parado o carro no estacionamento do Souq (mercado) do hotel, que era longe pacas e na subida. Já pensou como foi a tarefa de carregar este colossinho por meia hora?
Nem preciso de academia.
Também nem preciso falar no tamanho da conta...não quero deixar ninguém chocado.
Use sua imaginação.
A vida é uma aventura ousada, ou nada.
Mas a comida e a vista são boas.

Sunday, October 16, 2005

Homens do deserto.

Todo dia eu vejo algo interessante e, como fiquei quase duas semanas sem postar, tem pilhas de coisas novas para descrever.
Tentem criar uma campanha mundial e correr atrás de uma menininha de 2 anos para entender o porquê do meu desaparecimento recente.
O que eu tenho para contar hoje tem a ver com os locais - os dubaianos - e sua relação com o deserto.
Este lugar inóspito para nós brasucas é objeto de adoração para eles.
Especialmente agora que estamos no Ramadã essa história ficou aparente. Toda noite volto pela Al Khail Road - uma estrada moderna que, em português, se chamaria Estrada dos Cavalos. Ela passa pelo meio do deserto - na borda da cidade de Dubai. E, como todo deserto de filme, está cheio de dunas. E eles param no acostamento com suas SUVs gigantes - a versão moderna dos camelos - e sobem nas dunas para conversar. Toda noite eles estão lá. Dúzias de carrões e seus donos, curtindo a noite no deserto. Como beduínos modernos armados de celulares em vez de cimitarrras.
Achou estranho?
Então imagina você numa fila por uma hora para entrar em uma danceteria onde a música é alta, a cerveja é quente, o preço é alto e o atendimento é péssimo.
Eu fico com o deserto.
Gui 1x0 Tim Delaney

A campanha de Emirates fez um sucesso e recebi um monte de comentários positivos de todos os lados.
E-mails bacanas, pessoas me parando no corredor.
Me faz quase ficar feliz por ter passado por 3 meses de privações e pressões enormes de todos os lados para entregar esta campanha.
Eu já estava acostumado a ter muita gente envolvida em projetos grandes, mas agora foi demais.
Do CEO da agência até o atendimento júnior todo mundo tinha algo a dizer. E o panaca aqui tinha que gerenciar todas as expectativas e tentar entregar um material coerente.
A primeira apresentação foi na semana passada, na terça, dia 11. Claro que depois de uma noite em claro. Para não perder o costume das grandes concorrências.
Foi muito cansativa. Dormi só uma hora e vim correndo para a agência para terminar as últimas peças.
Tudo terminado fiquei esperando a hora de entrar na reunião, que se arrastava por horas. Sentadinho numa poltrona por umas duas horas. Sem comer nada desde a manhã. E isso eram 4 horas da tarde.
Mas a adrenalina estava lá - e é disso que eu preciso quando vou apresentar algo.
A apresentação foi ótima. Pelo menos eu me senti ótimo e o feedback foi excelente. Disseram na hora que o trabalho é muito melhor do que o apresentado pela Leagas Delaney de Londres, pela Saatchi Saatchi de Hamburgo e por uma agência poderosa de Nova Iorque que eu não lembro o nome.
Melhor. No dia seguinte eles disseram que iríamos apresentar para os rolas-grossa de Emirates. Caras que nunca dão as caras para agência nenhuma, se é que você entende.
E essa apresentação foi hoje. Estou no escritório desde as 7h30 da matina. Fomos para a Emirates ao meio dia e a apresentação começou uma da tarde. De novo sem almoço e com muita adrenalina - e agora com casa cheia.
A apresentação privê para os roludos acabou sendo um festival com mais de 15 pessoas do lado do cliente.
Mais uma vez tudo foi muito bem e, ao final, eles colocaram todas as campanhas na mesa e começaram a fazer comentários.
Nestas horas em geral eu desligo porque não tem nada que me diga respeito. 90% são comentários bestas que o pessoal mais júnior faz para impressionar os chefes. E em geral são um porre. De vez em quando alguém faz uma pergunta e você responde da maneira mais apaixonada possível - e depois volta para a letargia.
Essa letargia também é causada pela excitação da apresentação - no final de uma apresentação importante você tem a sensação de que é um pedaço de maria-mole. Não dá vontade de fazer mais nada.
O pior é que você volta e tem toneladas de coisas para fazer.
Assim é a vida.
Muito bom para uma agência que nem tinha sido convidada para a concorrência no começo.
Entramos de bicões e mandamos ver.
A seguir cenas dos próximos capítulos.

Monday, October 10, 2005

Hoje o dia pegou e ainda está pegando.

A campanha de Emirates está rolando a todo vapor e, como nos velhos tempos, devo ficar no trabalho até de madrugada.
Assim que terminar esta correria vou voltar a postar com mais regularidade.
Por enquanto o que eu posso fazer é sobreviver a esta noite.
Quem disse que eu iria ter moleza aqui em Dubai?
Vamos que vamos...

Sunday, October 09, 2005

Voltando à ativa.

Os últimos dias foram completamente tomados por duas coisas: minha família e a campanha de Emirates Airlines.
Felizmente a campanha de Emirates tem data para terminar.
Família é para sempre.
Ainda bem.

Thursday, October 06, 2005

Para a frente, sempre.

Ainda estou tomando fôlego para contar como foi a chegada das minhas meninas.
Posso adiantar que foi fantástica. Minha vida já está totalmente diferente. Agora faço de tudo para chegar o mais rápido possível em casa.
O problema é que o nosso condomínio é longe de tudo. E em Dubai tudo é longe de tudo. Sem carro você não chega a lugar nenhum.
É uma metáfora da sua vida. Se você não estiver no controle, não chega a lugar nenhum.
Se estiver com alguém na direção, pode ser que o lugar em que chegue não seja o lugar em que queria estar - e pode demorar muito mais do que gostaria.
Por isso vou comprar um carrão, porque além de chegar no lugar que quero, ainda posso passar por cima dos outros.
E a gasolina ainda é barata.
A rua, digo, a vida não é linda?

Monday, October 03, 2005

Einstein e Dubai.

O tempo é realmente relativo.
O dia de hoje não acaba nunca. As horas se arrastam. Os ponteiros do relógio parecem presos numa gelatina que faz cada segundo demorar o dobro.
Estou meio anestesiado. Não parece que está acontecendo.
Acho que me acostumei a viver o dia inteiro com saudade. Acabou virando parte de mim essa sensação de vazio, falta de algo maior que você que costumamos chamar de saudade - e que é um mistério para aqueles que falam inglês, já que eles não tem uma palavra equivalente para este sentimento tão intenso. E acho que não tem esse termo também em árabe, mas tenho certeza.
Não consigo me imaginar sem saudade. É como se esta sensação estivesse comigo desde sempre.
Como será a hora em que se abrirem as portas e a saudade se for?
Se os ponteiros do relógio colaborarem, amanhã vou produzir um relato completo.

Sunday, October 02, 2005

Amanhã é o dia.
Depois de quase 4 meses elas estão chegando.
E vou me sentir uma pessoa completa de novo, tanto tempo depois.
A não-aventura.

Hoje cortei o cabelo pela segunda vez desde que cheguei em Dubai.
Estou no meio de uma loucura de trabalho e as meninas chegam amanhã. Imaginem como está a minha cabeça...
Como estava sem tempo fui a um barbeiro, ou cabelereiro, perto das Emirates Towers. Pelo estilo dos caras eles devem ser libaneses.
Não teve nem metade da graça da vez em que cortei o cabelo naquele salão indiano no meio de Bur Dubai.
E, claro, custou 4 vezes o preço.
Estou ficando tão acostumado com ter uma aventura depois da outra que, quando as coisas acontecem de uma maneira previsíve,l parece que a experiência parou no meio do caminho.

Que venham novos desafios!

Friday, September 30, 2005

Senhor do destino.

Logo após a odisséia da carteira de habilitação eu me senti como os peixes de aquário que fogem no final de Procurando Nemo - que, graças à minha linda filhota eu tive a chance de assistir 427 vezes.
E agora?
Teoricamente a minha única opção era comprar um carro - o que ia ser um saco quando não se tem um carro. Já imaginou ter que ir de loja em loja de taxi (sempre eles)?
Aí ia ser a pentelhação de arrumar o financiamento, registrar o carro e fazer o seguro, sem carro.
Um ritual que iria tomar vários dias. Mais uma semana isolado do mundo nesta ilha distante que é o meu condomínio.
Mas aí resolvi tentar uma coisa.
Tinham me dito que as locadoras de automóvel não aceitam carteiras de habilitação com menos de 1 ano. E, como elas não estavam aceitando a minha carteira brasileira era como se eu fosse um desses indianos coitados que abandonaram suas bicicletas anteontem.
Aí, armado de minha cara de pau e do jeitinho brasileiro decidi atacar a Budget Rent a Car do hotel das Emirates Towers.
Cheguei lá e disse que queria alugar um carro. A garota que atendia disse que não tinha nenhum - para completar meu infortúnio está acontecendo uma feira de tecnologia imensa e gente de todo o Oriente Médio está aqui - mas que ela tentaria providenciar para mim. Para adiantar as coisas ela iria pegar meus documentos para tirar cópias.
Eu entreguei tudo - inclusive minha carteira de motorista brasileira.
Quando ela disse que a minha carteira local era nova e se eu tinha alguma internacional eu entreguei a brasileira.
Agi como se respondesse a esta pergunta pelo menos 2 vezes por semana. Poker face, diriam alguns.
Ela olhou e perguntou onde estava a data de validade. Eu mostrei. Caramba, tenho carteira há 16 anos...
Colou!
Para você ter uma idéia do que aconteceu, abra sua carteira e dê uma olhada na sua habilitação.
Veja se tem alguma coisa escrita em inglês ou árabe ali.
Pois é. Ela aceitou mesmo sem ter idéia do que estava recebendo. Era só uma espécie de documento com meu nome e minha foto. Para todos os efeitos poderia ser a minha carteira do clube ou da biblioteca. Iria dar na mesma.
Ou eles confiam demais nas pessoas ou querem alugar MUITO os carros.
O bom é que consegui meu carro - tã feio quanto o primeiro, mas o suficiente para me levar de um lado para o outro e para me refrescar. Tudo que um carro precisa ser aqui nas arábias da vida.
Segunda-feira minhas meninas chegam e posso buscá-las no aeroporto com o novo possante, que é tão pequenino que parece um modelo em escala.
Espero que a bagagem caiba dentro dele. (Caiba é uma palavra horrível de se escrever. Parece errada.)
Enfim sou dono dos meus caminhos novamente.

Wednesday, September 28, 2005

É ouro!

Depois de um longo inverno finalmente tenho energia e cabeça - porque vocês sabem que tempo a gente sempre arruma - para escrever as minhas aventuras nos últimos dias.
A gente vive dizendo que não teve tempo de ligar para aquele amigo ou parente, que não deu tempo de fazer aquela coisa importante...
Mas o fato é que a gente consegue passar uma hora relendo aquele Chico Bento amarelado que está há uns 3 anos no banheiro.
O tempo a gente faz. Tempo a gente cria.
E eu tive que fazer esse tempo existir esta semana para terminar minhas novelas, matar minhas Odetes Roitmans.
E quem acompanhou a minha novela da carteira de habilitação sabe do que eu estou falando.
Nestas últimas duas semanas descobri que existe algo místico no universo.
Eu que sempre fui um materialista, cientificista, cético e cínico tive que me curvar.
O universo não é um lugar onde apenas as leis da física imperam. Existe algo mais.
Acho que desde sempre existiu uma verdade absoluta. Uma das poucas.
A verdade de que eu odeio pegar taxis. Sempre detestei e continuo detestando. Pode ser em São Paulo, em Campinas, no Rio, na Nova Zelândia, no Egito, em Israel, em Dubai ou em qualquer lugar. O taxímetro para mim é como uma ampulheta em que a areia é o meu dinheiro.
Mas eis que o universo conspira e quando chego de Amsterdam descubro que não tenho carro e nem tenho direito a ter um carro. E por isso tenho que usar taxis, muitos taxis. Diariamente, até que eu vença a burocracia local e arrume a minha carteira de habilitação. E não é só isso! Ainda liguei para a agência de aluguel de carros e eles me disseram que mesmo que eu tirasse a carteira eles não poderiam aceitar que eu alugasse, porque eles não aceitam carteiras com menos de 1 ano desde a data de emissão.
E assim foi. Por duas longuíssimas semanas fui totalmente dependente dos taxis. E não é só isso. Eu moro longe, muito longe do trabalho. Não só os taxis demoravam para chegar como eram caríssimos.
Agora vai me dizer que a ciência explica isso? Para mim parece mais uma punição divina.

Mas, enfim, depois de tudo isso eu consegui.
Ontem foi o dia.
Começou na verdade anteontem quando eu imprimi 6 páginas de placas de trânsito locais para estudar.
E volta aquela sensação quase esquecida de quem vai ter prova no dia seguinte. Aquele frio na barriga do estudante que vai ser avaliado e que lembra véspera de vestibular.
Saio de manhã - de taxi, é claro - e vou para o outro lado da cidade.
Encontro o instrutor e tenho duas aulas seguidas em que ele me ensina como agir como um robô. 437 dicas de como agir na frente de quem vai avaliar. O frio na barriga aumenta. Será que vou conseguir lembrar de tudo? Parece que nunca dirigi antes.
Chega a hora do teste das placas. Vou para a sede do departamento de trânsito de Dubai e um monte de policiais mal-encarados que quase não falam inglês me mandam para um computador onde você faz o tal teste.
Medo de falhar. E já se foram 10 questões. Fim? Como assim fim? Só isso? Aprovado?
Que decepção. Me preparei para sofrer um bocado. Quase não dormi, estudei pacas para isso?
Próxima parada teste prático. Mais policiais mal-encarados e uma centena de pessoas esperando pelos seus testes.
Mais ansiedade.
Finalmente chega o meu grupo. Os últimos. Os 4 condenados.
Eu, espertamente, fico no meião para não ser o primeiro.
Ali vai o primeiro. Terrível. Depois um garoto iraniano. Parece que fez tudo certinho. Aí sou eu.
O robô recém treinado entra em ação.
5 minutos depois é a vez do último condenado.
Terrível. Chato dizer mas isso me faz sentir melhor. Seres humanos são uma droga mesmo.
Resultado: só uma das pessoas que estava no carro foi aprovada - e não estou falando do avaliador - esse foi reprovado por todos.
VITÓRIA!
E o melhor de tudo, a carteira ficou pronta na hora e é dourada.
Essa sensação de realização maravilhosa.
E caramba, é só uma carteira de habilitação!
Carteira de habilitação não. É minha carta de alforria.

A seguir cenas do próximo capítulo....

Sunday, September 25, 2005

Você sabia...

Que Dubai é o maior consumidor de água per capita do mundo?
Que Dubai é o maior produtor de lixo per capita do mundo?

Saturday, September 24, 2005

A aldeia global.

Para matar a vontade de usar livremente os meios de comunicação passei o dia de ontem brincando na internet, acessando o Orkut (que aqui é censurado), papeando no msn e baixando músicas.
Acho que baixei umas 200 músicas. Uma música leva a outra. Você lembra de uma situação em que ouviu uma música bacana, aí você lembra de alguém que estava junto com você neste momento e que gostava de uma outra música e esta música leva a outra e a outra e a outra. Quando você tem toda uma fonoteca nova para apreciar.
Depois fui dar uma olhada na TV a cabo. São 183 canais!
179 são horríveis. Canais de TV de Omã, Bahrain, Egito, Kuwait, Dubai, Abu Dhabi, Líbano, Síria, Jordânia e até do Iraque.
Elas me lembram a TV italiana. Piorada.
A TV italiana é como a música italiana.
Para mim a música italiana devia ter parado em Verdi. Tudo depois disso para mim é Festival de San Remo. Parece Pepino di Capri. Deprimente.
Como não tem nada anterior à TV italiana ela nem precisava existir. Faz o Ratinho e o João Kléber parecerem produções da BBC.
Agora tentem imaginar as TVs árabes que povoam minha TV a cabo. Os piores cenários, as piores músicas e os piores apresentadores tudo em um só pacote!
Como diria meu grande amigo Carlos Frederico 1607, a programação é toda gravada na toscana.
Parece que a programação é composta de 3 tipos de coisas: programas de auditório horríveis, programas tipo MTV péssimos e filmes tenebrosos que tem interpretação do tipo do Chaves - só que são sérios.
Acho que os terrorista ao invés de mandarem bombas deveriam mandar a programação local.
Seus inimigos na guerra santa não iriam suportar.
Acho que não foi uma boa idéia. Talvez eles devam continuar com as bombas.
Ninguém merece.

Thursday, September 22, 2005

E.T. phone, internet e TV a cabo home.

Wednesday, September 21, 2005

Meu cérebro está vazio.

Depois de uma semana inteira trabalhando como um louco, finalmente acabamos a tal concorrência.
A galera aqui é meio devagar e, para variar, acabei trabalhando por três, talvez quatro.
Como toda concorrência, estávamos atrasados e terminamos em cima da hora. Adrenalina pura.
Isso faz com que você tenha a sensação de que não vai conseguir pensar em mais nada por uns 3 meses.
Fora o stress ainda tem uma coisa muito forte para te deixar ainda mais drenado.
O visto das minhas meninas ainda não saiu. Está demorando muito mais do que o esperado, mesmo para os padrões dubaianos. Dubaianos, este termo nunca foi tão apropriado. Eta leseira...
Parece que eles mudaram algumas regras para aprovar os vistos que tornaram (ainda) mais complicado o processo.
Adicione-se isto ao fato do WUSTA (e não wusha como foi anteriormente noticiado) que ajuda nestas questões está no Líbano e só chega hoje à noite.
Descobri que existem gradações de wustas. Eles têm mais ou menos poder, dependendo das pessoas que eles conhecem no orgão do governo em questão. Por isso tem wustinhas e wustões. Enquanto o wustão que está no Líbano não chegava eles pegaram um wustinha que não resolveu nada.
E minha frustração só aumenta com isso.
Aprendi que as coisas aqui só funcionam se você é um pentelho. Tem que aparecer a cada 5 minutos para cobrar, senão não tem jogo.
Pode ser no trabalho, alguém que está prestando um serviço para você, um motorista que vem te pegar. Não tem jeito, o negócio só vai funcionar se você aparecer e encher o saco. Isso sempre foi uma coisa que eu detestei fazer, mas pouco a pouco vou aprendendo.
Mas a pentelhação neste caso não ajudou nada. Não teve jeito
Continuo aqui, sem minhas meninas e com o cérebro vazio.
Amanhã tem mais. Quilos e quilos de trabalhos me esperando.
Tudo gigante e internacional.
Cê tá com medo por que veio?

Tuesday, September 20, 2005

Olho maior que a barriga e a descoberta chocante.

Não estava preparado para isso.
Ontem fui jantar com um amigo libanês, sua esposa e outro libanês que trabalha no Kwaitt.
Fomos, claro, num restaurante tradicional libanês.
Os caras têm uma mania de sempre pedir 3 vezes mais comida do que você consegue comer. Sempre sobra muita comida, que poderia ser usada para criar um sentimento de culpa em gerações de crianças indefesas.
Mas o rango estava bom, bom demais. Ainda mais para alguém que tem tido que se virar com a alimentação por mais de 3 meses.
Haja sanduíche!
Eles adoram azeitonas. E pegam com a mão. Eu me senti um desajeitado pegando as azeitonas com o garfo, comendo e jogando a semente de novo no garfo - o que vocês sabem que não é fácil - antes de jogar no pratinho. Uma contorção complexa para manter os bons modos à mesa. Aqui as coisas são muito simples. Aprendi uma lição e ainda fui motivo de riso. Ser o exótico de plantão não é fácil...
Mas choque estava por vir.
O papo estava bom, divertido e envolvente. Uma hora não resisti e fiz a pergunta fatídica, porque a pessoa que estava comigo era especial: um libanês que viveu no Brasil. O portador de uma sabedoria única. O único capaz de responder a pergunta que não quer calar:
Tem beirute em Beirute?
E ele disse...não!
Que decepção.
Estava torcendo para que ele me dissesse que beirute em Beirute chama bauru, ou algo assim.
Mas não tem jeito.
Não existem beirutes em Beirute.

Monday, September 19, 2005

Eu e a carteira de motorista.

Eu realmente me odeio.
Porque será que tenho essa mania de adiar as coisas até encontrar a solução ideal?
Poderia estar com a carteira de motorista pronta ou quase pronta.
Mas é quase sempre assim. Tenho um problema e aparece uma solução. Mas aí ela não é ideal por causa do preço, do prazo ou da pessoa responsável. Começo a procurar alternativas. É claro que encontrar alternativas demanda tempo.
E as pessoas que te dão as respostas não estão preocupadas com a sua ansiedade.
Uma demora aqui, outra ali. De repente o tempo que você pretendia economizar já foi, mas você está preso. "agora que eu já perdi esse tempo todo é que tenho que achar alguém que faça rápido."
E por aí vai. No fim você acaba fazendo com o mesmo cara que apareceu no primeiro dia e, graças à lei de Murphy, ele não vai conseguir as coisas no mesmo prazo do começo. Vai demorar, claro, mais um pouquinho.
Hoje foi mais um capítulo desta história. Ia fechar com o cara, um tal de Ziad, que foi recomendado por um outro cara que ajudou um amigo meu a tirar a carteira em 2 dias (claro que essas coisas nunca acontecem comigo - quando entrei em contato com o cara ele só falava árabe). Um pouco antes dele ligar fui falar com a secretária do VPzão sobre uma carta que precisava para poder contratar os serviços de internet e TV a cabo lá em casa. Contei de passagem minha situação da carteira e ela prontamente me colocou para falar com um cara que, supostamente, resolveria todos os meus problemas rapidinho e com presteza.
O jeito do cara já me mostrou que não era o tipo de malaco que eu precisava. A gente começa a farejar esses tipos quando está em dificuldades burocráticas.
A primeira coisas que esse cara falou foi que eu precisava tirar uma carteira nova e que ia ter que fazer 15 (quinze) horas de lições de direção. Neste momento eu entendi porque o Tio Patinhas diz QUAC!!! quando está enfurecido.
Acabei ficando com o Ziad, que vai me comer uma grana, mas vai resolver minha vida.
E o melhor, ele é malaco. Do jeito que a gente precisa quando está vendido num país estranho.

Sunday, September 18, 2005

Tive um papo que seria surreal se não fosse em Dubai.
Hoje peguei carona com o Rami, um diretor de arte que trabalha na BBDO. Ele passou em casa e, como é um aficcionado em jardinagem, comentou que o gramado da minha casa ainda tem salvação e que agora que a temperatura baixou para agradáveis 38 graus as coisas vão ser diferentes.
Nada com uma brisa fresquinha como essa...
Para quem suportou temperaturas que beiravam os 50 graus há poucas semanas atrás, 38 graus é bolinho.
Um bolinho que acabou de sair do forno, é claro.
Hoje é aniversário do meu querido amigo que, por um maravilhoso acaso do destino, também é meu pai.
Amigo, companheiro e mentor. Grande referência e inspirador. Uma das pessoas que me faz querer ser uma pessoa melhor.
Parabéns para você, Lázaro.
Muitos beijos do filho que te ama.

Gui

Saturday, September 17, 2005

Mais uma vez:


O que era bom ficou ainda melhor.
Agora para postar seus comentários no DUBALACUBACO não precisa mais se registrar.
Então você, caro leitor, não tem mais desculpa para deixar de dividir com o resto da audiência as suas opiniões.
Divirtam-se.

O editor
Al Braçudos

Como a galera aqui é braço duro.
Se alguém espirra no trânsito já é causa para engarrafamento.
Agora imagina o que acontece quando tem um acidente numa das avenidas mais movimentas dos Emirados Árabes...
Foi o que aconteceu hoje na Sheikh Zayed Road, a avenida-estrada que liga Dubai a Abu Dhabi.
Teve um acidente pesado em que apareceu até ambulância. Não preciso dizer que parou a cidade inteira.
Eu estava indo no sentido contrário e estava tudo parado também, o que me levou a constatar mais uma vez que os seres humanos são iguais em todos os lugares. Aquela irritante curiosidade mórbida do motorista é internacional - seja ele indiano, árabe, inglês, suazilandês, não importa, todos reduzem para ver o circo pegar fogo.
Demorei meia hora para fazer um trecho que não levaria mais do que 5 minutos.
Estava indo para Al Karama, um bairro predominantemente indiano perto de Bur Dubai.
Lá tem uma agência do UAE Exchange, de onde eu mando o fruto do meu suor para a Pindorama. É rápido, eficiente e barato.
Claro que dá aquela mega-insegurança na primeira vez que você faz isso, aquele sentimento meio infantilóide, de total desproteção - mais ou menos parecido com alquela sensação que você tem quando vai em uma repartição pública no Brasil, em que você precisa arrumar alguma coisa muito importante que está atrapalhando a sua vida, você está totalmente vendido. É como se você estivesse dando adeus para as suas verdinhas, que aqui são de outras cores.
Mas o dinheiro acaba chegando, sem problemas.
Hoje ainda aproveitei para comprar um relógio farseta da Panerai. Uma peça extraordinária da pirataria por apenas 110 reais.
Uma das poucas coisas que tive vontade de comprar por aqui até agora. Acho que a próxima vai ser um carro.
Que mudança, hein?
Quando saí do Karama Center, o shopping de indianos que fica em Al Karama, o trânsito continuava horrível - mesmo a quilômetros do epicentro do acidente.
Saí andando em direção às Emirates Towers porque estava tudo parado. E eu ia muito mais rápido que os carros.
Andei meia hora e fiquei, mais uma vez, suado para caramba. Viva o deserto.
Quando estava mais perto das Emirates Towers peguei um taxi para dar uma resfriada e uma secada. Assim cheguei ao escritório com um aspecto menos deprimente, mas ainda impressionado com a capacidade das pessoas aqui de gerarem tempestades não em copos d'água, mas em tanques de areia.
Podia ser pior. Podia ser sábado.

Friday, September 16, 2005

Última forma!

Estava falando sobre a concorrência e queria adicionar um fato. Eu e minha equipe nos reunimos hoje para criar as tais campanhas. Para dar uma arejada na cabeça resolvemos dar uma saída da agência. É sempre bom fugir deste ambiente cinzento. Ajuda as idéias a fluirem.
Fomos para um restaurante bacaninha e arrumamos uma mesa. O lugar estava lotado e era muito barulhento.
Discutimos o trabalho, tivemos idéias, falamos sobre filmes, mais idéias, mais filmes, ainda mais filmes, comemos, falamos sobre filmes e decidimos que o lugar estava muito barulhento para criar.
Vamos lá para fora, decidimos.
Arranjamos uma mesa e começamos a falar sobre filmes. Mais uma idéia e mais filmes. 15 minutos depois estávamos suando como porcos (de onde vem essa expressão esdrúxula?).
O calor ainda não está dando sossego - e hoje a umidade estava de matar.
Como foi que a civilização chegou até aqui? A civilização até que não faz tanta falta, mas o chopp sim.
Como foi que o chopp não chegou até aqui?
Se Maomé conhecesse o chopp certamente o teria colocado como uma das coisas sagradas para o Islã.
E com certeza faria com que a tarefa de criar uma campanha chatíssima numa tarde de sexta-feira - que é como o sábado para vocês tupiniquins - fosse uma tarefa mais agradável.
In vino veritas.
Concorrências

Como alguns de vocês sabem, para mim já é fim de semana.
Mas o trabalho não pára. Me reuni com uma equipe para preparar uma campanha chatíssima para uma concorrência.
Por que será que as concorrências são sempre chatas?
Em propaganda as concorrências são as coisas mais pentelhas do mundo. Pode ser no Brasil, nos Estados Unidos, na França, em Dubai e em Uganda. Parece que tem uma lei universal tão forte como a lei da gravidade.
Quando você está trabalhando em uma concorrência a sensação é de que vai para um limbo para onde todos os profissionais de propaganda vão, um lugar sem fronteiras em que todas as agências de todos os lugares parecem se encontrar.
Um imaginário coletivo publicitário que é a definição da chatice.
São trabalhos longos, desgastantes, imensos e que têm dúzias de pessoas com diferentes expectativas envolvidas - e no final todas têm que ficar satisfeitas.
Quase como uma reunião do conselho de segurança da ONU. A única diferença é que às vezes o conselho de segurança chega a um consenso.
E, no fim, a apresentação.
Aí não importa muito se o trabalho é bom ou é ruim. Sempre tem alguma coisa que não tem nada a ver com a qualidade da criação que vai definir se você ganhou. Se ela for terrível com certeza vai ajudar a perder. Mas se for maravilhosa não garante nada. Sempre tem alguém que conhece alguém que faz com que o resultado mude.
A apresentação é sempre igual. Se você apresenta não tem a mínima idéia do que o cliente pensou - eles sempre fazem cara de jogadores de pôquer. Se é outra pessoa que apresentou ela sempre chega dizendo que foi fantástico, maravilhoso. Mas você sabe que é balela. Quando está lá nunca é claro.
Tudo bem, você ganhou. Aí vem a parte mais irritante. Sua campanha NUNCA é produzida. O cliente diz: "muito bem, vocês ganharam. Agora vou dizer o que quero realmente."
Bem vindos ao maravilhoso mundo da propaganda mundial.
Mudam os endereços, mas não as mos...quero dizer, o estilo.

Thursday, September 15, 2005

Finalmente o calor está começando a ceder.
Melhor do que isso, a umidade está ficando tolerável.
Antes era impossível ficar parado em lugares abertos por muito tempo. 10 minutos e você já estava parecendo - e cheirando como - um estivador no porto de Santos.
Mesmo assim eu fui dar uns arremessos na meia quadra que tem do lado de casa anteontem à noite.
Fiquei 40 minutos arremessando e parecia no final que eu tinha ficado 40 minutos nadando.
Ainda bem que a piscina do condomínio fica a 30 passos da quadra de basquete.
Aí a vida parece que faz muito mais sentido.
O que era bom ficou ainda melhor.
Agora para postar seus comentários no DUBALACUBACO não precisa mais se registrar.
Então você, caro leitor, não tem mais desculpa para deixar de dividir com o resto da audiência as suas opiniões.
Divirtam-se.

O editor

Wednesday, September 14, 2005

Que falta do Didi Mocó.

Muito do meu senso de humor - não estou dizendo que sou engraçado - é totalmente baseado nas coisas da terra. E isso a gente não consegue trazer para o exterior.
Os trocadilhos, as imitações do Galvão Bueno, falar mal do Faustão e destestar o Jô.
Fazer conversas inteiras usando metáforas futebolísticas.
Contar piadas.
Eu lembro de um filme menor baseado em um livro do Stephen King ainda menor, O Apanhador de Sonhos.
Este filme é um samba do crioulo doido (outra expressão perdida!), tem alienígenas, terror, amigos de infância que vivem aventuras e que depois tem um vínculo paranormal, mortes, exército e bomba atômica.
Mas tem uma coisa muito interessante, que já era legal no livro e que no cinema ficou ainda mais jóia.
O tal alienígena invade a mente das pessoas.
E um dos personagens tem sua mente invadida e, para representá-la, eles criaram uma imensa biblioteca onde essa criatura persegue nosso herói. Montes de prateleiras com livros, cadernos, papéis, arquivos, guardanapos com mensagens, estantes cheias. Linda.
Ele foge e, quando tudo parece perdido e ele vai ter sua mente totalmente tomada pelo monstro alienígena (que nós não vemos - ponto para eles!) ele se refugia num quartinho onde estão suas memórias esquecidas de infância. Discos, livros, objetos. Ele se tranca ali e fica protegido, talvez não por muito tempo. Quem quiser saber o que acontece, arrisque-se na locadora mais próxima.
Para mim a nossa cabeça é como essa biblioteca. Cheia, muito cheia, de coisas que sabemos, fizemos e lembramos. Talvez não sempre, mas sempre que precisamos daquela frase chave ou aquela referência matadora, lá vem ela.
O que eu sinto hoje é que muitas prateleiras estão esquecidas, empoeiradas. Prateleiras não, alas inteiras.

Balão Mágico, Cremogema, Araquém - o Showmen, o Xandó, Montanaro, Bernard e William, Bollet's, Havaianas, Chico Anísio, Paralamas do Sucesso, Ultraje a Rigor, Armação Ilimitada, TV Pirata, Fernando Collor, Tancredo Neves, Blitz, Opala, Chevette, Brasília - amarela, de preferência, Fuscão Preto, Chacrinha, Globo Repórter, Você Decide, Perdidos na Noite (Faustão, você teve a sua chance), Chico e Caetano, PT, Yakult, Jornal Nacional, Sessão da Tarde, Pagode, música sertaneja, Xou da Xuxa, Turma da Mônica, Mobilette, Caloi 10, Geléia de Mocotó Colombo, Bala de Leite Kids, Discão, desfile de 7 de Setembro, Sílvio Santos, Show do Milhão, Domingo no Parque, Cid Moreira e Sergio Chapelin, Zico e Sócrates, Playcenter, Capitão Aza, Globinho, Sítio do Pica-Pau Amarelo, Amendoim Japonês, Angeli e Laerte, Analista de Bagé, Veríssimo e Jabor, Carnaval, Lecy Brandão e Carlos Imperial, a Praça é Nossa e Zorra Total, Coleção Vagalume, O Gênio do Crime, O Menino Maluquinho, Flicts, Daniel Azulay, Ayrton Senna, Nelson Piquet, Emerson Fittipaldi, Luciano do Valle, Sílvio Luís e Juarez Soares, Osmar Santos, Vale Tudo, Roque Santeiro e O Bem Amado, Vereda Tropical e Guerra dos Sexos, Que Rei Sou Eu, Os Imigrantes, danoninho e bala Soft, Ked's e Kichute, Bamba e Adidas Top Ten, Planeta dos Homens, Balança Mas Não Cai, festival Jerry Lewis e filme dos Trapalhões nas férias.

Essas, e um monte de prateleiras cheias de coisas que não lembrei ou não tive tempo de escrever, nos fazem quem somos.
Nos fazem maiores do que somos porque nos ajudam a nos conectar com outras pessoas ligadas a este imaginário comum.

Nossa persona internacional é diferente de nosso personagem local. Uma versão mais séria e talvez um pouco menos rica do que aquela lançada em terras tupiniquins, mas sempre interessante. Porque a soma desses volumes que enchem nossas prateleiras nos faz o que somos.

Mas que faz falta gritar "Cacildis!!!" faz.

Como diria o grande sábio Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumo,
ô da poltrona, ou me empirulitar daqui.
É Caflito!!!

Tuesday, September 13, 2005

Eles, de novo!

Agora que sou um pedestre de novo - ou seja, deixei de pertencer ao grupo de indivíduos normais, do qual fazia parte desde que aluguei um carro e comprei um celular - não paro de fazer descobertas.
De repente o lugar está cheio de camelos.
E logo no caminho de casa. Eles estavam lá o tempo todo, escondidos nas dunas do deserto. E são muitos! Só que com a atenção voltada para a estrada não via nada. As paisagens de Dubai voltam a oferecer novidades.
Afinal de contar até que não é tão ruim estar a pé.
Também tem prédios interessantes que eu nunca tinha visto e construções que avançaram muito desde que dei minha última olhada rápida.
A pista de esqui está quase pronta. Sim, aqui tem uma pista de esqui - indoor e com neve de verdade, é claro, porque se fosse aberta ao final do dia ela não ia estar nem molhada. Não sei se já tinha falado sobre ela. Mas sempre vale a pena lembrar as coisas malucas que se vê por aqui.
Não podemos perder a sensação de maravilhamento, nunca. Deixar de perceber o espaço que nos rodeia.
Por isso estar a pé tem suas vantagens. Me faz perceber que tem muita coisa para descobrir, mesmo quando achamos que já sabemos exatamente onde estamos.
Ficar sem carro é chato para cacete, mas não é o fim do mundo.
Mas a minha casa está bem perto de lá.
Táxi!

Monday, September 12, 2005

Pedestre

Minha vida anda meio atrapalhada ultimamente. Consegui meu visto de residência um dia antes de viajar para o Líbano. Até aí tudo bem - finalmente havia me afirmado como um morador oficial de Dubai. Mas eu não sabia que iria entrar em um buraco negro burocrático que está me tomando tempo, energia e dinheiro.
No dia de viajar entreguei meu carro alegremente na locadora e pensei "que beleza, vou enconomizar uns trocados enquanto estou fora". Liguei de Amsterdam para a locadora e pedi para que eles deixassem um carro me esperando no aeroporto de Dubai quando chegasse. Tudo certinho. Nem parecia que era eu, de tão organizado.
Depois do pesadelo que foi a viagem de Amsterdam para Dubai pela maldita KLM cheguei, cansado, no aeroporto de Dubai.
Finalmente as coisas iriam começar a funcionar.
Era essa a idéia.
Fui até o guichê da Europcar e pedi meu carro. Ele estava lá, lindinho me esperando. Só que eles não aceitaram minha carteira de motorista...Segundo os malditos depois que você recebe o visto de residência você tem que ter uma carteira local - coisa fácil de você tem uma carteira de motorista americana ou inglesa, situação em que você só precisa trocar a licença por uma local. Mas para nós, pobres terceiro-mundistas da longínqua América do Sul, não tem outro jeito. Tem que fazer os testes. E, fazendo os testes você tira a sua maravilhosa carteira - mas não pode alugar o carro!!!
Isso porque a locadora não aceita carteiras com menos de um ano...
Agora que eu estou morando num condomínio que é num fim de mundo essa situação fica ainda mais penosa.
Táxi, táxi, táxi...
E grana, grana, grana.
Ei, alguém aí pode me dar uma carona?

Saturday, September 10, 2005

O show do Wusha.

Hoje a minha maior preocupação em Dubai não é criar campanhas para Emirates Airlines ou Pepsi. Toda os meus pensamentos estão concentrados em trazer minhas meninas o mais rápido para cá possível. Acho que só assim as coisas vão ficar realmente boas. Vocês não fazem idéia como é duro para mim acompanhar todas as coisas que estão acontecendo à distância. Cada detalhe das coisas que estão acontecendo com as duas. Principalmente com a dona fofinha. Cada dia é uma novidade, cada dia sua personalidade vai ficando mais complexa, interessante e divertida. Cada dia ela se afasta mais daquele bebezinho lindo que falava algumas palavrinhas e vai virando uma pessoinha. E você sabe que essas coisas não vão voltar. São únicas. Cada dia perdido não tem como recuperar - especialmente nesta fase em que tudo é novo e acontece numa velocidade inacreditável.
Por isso eu preciso de um wusha.
Mas que diabo é isso?
Wusha é uma figura que existe aqui nos Emirados que tem uma única função: furar filas.
São caras que ganham a vida pulando obstáculos na burocracia árabe. Eles conhecem todos os buracos nas legislações, todas as brechas e todas as pessoas-chave ou não tão chave assim que podem fazer a sua vida mais simples e sem dores de cabeça.
É sempre bom ter um wusha especializado em imigração, no departamento de trânsito ou em qualquer outro lugar que possa te causar algum transtorno ou prejuízo - geralmente os dois.
São uma versão sofisticada daqueles coitados que ganham a vida guardando lugar em fila de repartição pública. Só que esses não usam havaianas - dirigem SUVs gigantes.
No meu caso o wusha vai trabalhar para conseguir o visto para minhas meninas o mais rápido possível.
Não tão rápido quanto eu gostaria, mas até aí nunca seria rápido o bastante.
Uma coisa podemos dizer: a KLM é realmente confiável - assim como diz seu slogan "the reliable airline".
Você pode confiar que seu próximo vôo vai ser uma droga.
O meu foi uma desgraça completa. Querem saber porquê?
Acho que sou a primeira pessoa do mundo a ganhar um "downgrade".
Isso mesmo. Era para eu viajar de business e, quando cheguei para o check in, eles me dizem que a business class estava "oversold" mas, como eles são muito bacanas, iriam me arrumar um lugar na econômica, já que o desgraçado do vôo não tinha primeira classe. Mas aí é querer muito deste lixo de companhia. Foram 6 horas e meia de muita irritação. Uma aeromoça veterana veio tentar me apaziguar (boa palavra essa!) e foi muito gentil - a única coisa boa a respeito desta experiência irritante. E, achando que ia me deixar REALMENTE feliz, me presenteou com uma miniatura de porcelana de uma casa holandesa cheia de liquor que eles distribuem para a business class. Minha vontade era jogar aquela droga pela janela, e dar muitas risadas vendo a equipe da KLM sendo sugada e lançada no espaço.
Acreditem em mim NÃO VOEM PELA KLM!!!

Wednesday, September 07, 2005

Amanhã eu volto para Dubai. De KLM, que é um lixo de companhia.
Pelo menos vai ser de business.
Se bem que o vôo de Beirute para Amsterdam também foi de business.
Só que foi em um 737 velho. A única diferença entre a business e a econômica era a cortininha.
De volta para as areias do deserto.
Não estava muito inspirado para escrever sobre Amsterdam.
A cidade é muito interessante, não parece de verdade. É um misto de algo muito, muito antigo, nos seus prédios e canais com a juventude que povoa suas ruas.
O holandês é um povo bonito e graúdo. Tem umas mulheres aqui que seriam pivôs titulares em qualquer time de basquete. Ver mulheres mais altas do que eu me incomoda. Acho que me sinto meio infantilizado, de volta aos meus 9 anos de idade - época em que era fácil encontrar mulheres mais altas do que eu.
Mas tem jovens de todos os lados. Indonésios, africanos, americanos, italianos, indianos, franceses, japoneses, árabes, sulamericanos, mexicanos e brasileiros.
Eles vêm para cá para apreciar os museus fantásticos, andar pelas suas charmosas ruas e canais que remontam ao século XVI, para admirar seus belos prédios, absorver um pouco da rica cultura local e para fumar maconha.
Se você estiver andando por Amsterdam e resolver entrar em um Coffee Shop você vai encontrar muita coisa: gente com cabelo rastafári - dreadlocks para os íntimos - estrangeiros de todos os tipos, um cheiro de mato queimado, cardápios completos com mais de 40 tipos de ervas, elefantes cor-de-rosa e muito pouco café.
Os caras aqui levaram a coisa ao extremo. Tem até cadeias dos tais coffee shops. A mais famosa delas é a Bulldog. Estão para todos os lados.
Fora os 40 tipos de maconha tem a descrição de que tipo de barato cada uma causa.
"barato claro"
"barato alucinado"
"Só para fumantes experientes"
"barato extremamente forte"
"barato ultra-extremamente forte"
"Uau"
E por aí vai.
Divertido, não é?
Não tente fazer isso em casa sem a ajuda de profissionais.

Friday, September 02, 2005

As ruas de Beirute.

Imaginem um trânsito bagunçado.
É pouco. Pensem mais. Acho que vocês ainda não chegaram lá.
Beirute é bem pior. O planejamento urbano parece ter sido feito por drogado com mal de parkinson.
Não existem ruas paralelas em Beirute. Com poucas exceções não existem ruas largas e avenidas.
E, claro, existem MUITOS carros.
Carros novos e carros velhos. Muitos carros velhos.
E, para ajudar, quase não existem placas.
Dirigir em Beirute é algo que exige décadas de aprendizado. Para decorar os caminhos tortuosos e para sobreviver a este trânsito darwinista.
Os locais não respeitam sinais. Vão entrando e jogando os carros uns sobre os outros. Param no meio da rua e seguram o trânsito para fazer conversões proibidas. E se xingam. Se xingam muito. Mas é um xingamento leve, parte da interação social desta cidade vibrante. Não deixa residuais de estresse como em São Paulo, onde você desenvolve uma úlcera nervosa se leva uma fechada.
Em São Paulo um conflito em trânsito é motivo para perseguição digna dos piores filmes de Hollywood.
Aqui é só motivo para fazer um gesto com a mão, que lembra um brasileiro perguntando "quanto custa" na linguagem dos surdo-mudos. E que aqui significa "você está louco?".
Tudo isso me levou à conclusão que as ruas no mundo árabe são um lugar onde reina o mais absoluto caos.
Mesmo nessa cidade com jeito de Europa.
Para ajudar o cara da agência que veio comigo é daqui e alugou um carro para a gente se movimentar.
Só tem um detalhe: ele é ex-piloto de rali...
Tava procurando emoção?

Como diria a imortal Angélica, eu vou de taxi.

Thursday, September 01, 2005

Como falam!

Eu sempre achei que eu falasse bastante. Mas nada se compara com os árabes. Eles preenchem todos os espaços disponíveis com palavras.
Durante a filmagem aqui em Beirute éramos eu, o pessoal da agência, o pessoal da produtora de comerciais, o diretor e o diretor de fotografia.
O diretor era um holandês escroque parecido com o Jeff Bridges. Um dos caras mais desagradáveis que eu já conheci. E olha que trabalhando em publicidade eu já tive a oportunidade de ver todo tipo abominações. Quem vê rolo não vê coração. (N.do E.: Rolo em propaganda é a maneira que a o povo de propaganda chama o conjunto comerciais gravados por um diretor, agência, produtora ou cliente. Pode ser videocassete, DVD ou, para os antigos, um rolo mesmo)
Para nossa sorte ele ficava longe. Bem longe. E acompanhávamos a filmagem através de uns monitores.
Confortavelmente instalados em nossas cadeiras e vendo a filmagem de longe, o truque que a produtora usa para nos manter felizes é dar comida incessantemente. Em geral porcaria - mas muita porcaria.
Come-se te tudo muito.
Doces, salgados, refrigentantes, sucos. Tem até comida.
Tudo isso para disfarçar o marasmo que é uma filmagem. Nada acontece. Cada tomada demora horas para ser aprontada, depois um tempão para ser filmada. Nesse meio tempo você não tem nada para fazer. A não ser comer e falar.
E os árabes falam. Se bem que "árabe" é um conceito amplo. Aqui em Beirute tem muitos cristãos descendentes de franceses por exemplo. Todo mundo fala francês e árabe. Tem também muitos muçulmanos e tem os misturados. Não é clara a separação. Mas vou tratá-los por árabes para ficar mais fácil. Principalmente porque eles falam árabe o tempo todo.
E como falam!
E para o brasuca ignorante na linguagem aqui é como se estivessem falando grego. Não. grego ia ser mais fácil. Até tem umas palavrinhas em comum. Onomatopéia, maratona, égide, prosopopéia, Temístocles... Só coisas úteis para se falar num papo amigo.
Eu fico ali, de lado e eles falam, falam e falam. Onde arrumam tanto assunto?
Depois de um tempo eu desenvolvi a técnica de entrar no modo Sleep. Se ficar sem um impulso sonoro reconhecível por 15 minutos, desconecto.
Sou reativado pelo som do meu nome. Quer dizer que é a hora de dar umas opiniões e fazer cara de interessante. Desta vez em inglês.
Mais uma vez quero agradecer a São Miguel Paulo 3, padroeiro do iPod. Sem sua ajuda este post não seria possível. Ia morrer de tédio.
A filmagem acabou anteontem e neste momento estou apreciando o silêncio enquanto trabalho do meu quarto do hotel.
Será que a gente fala tanto assim?

Tuesday, August 30, 2005

O papo pequeno.

Eu sou muito mais interessante em português.
Isso pode ou não ser verdade, mas essa é a minha sensação.
O problema é que as aulinhas de inglês não nos preparam para sermos interessantes.
Somos treinados para ser uma figura esquemática de ser humano. Sem opiniões ou vontades.
Elas ajudam a oferecer copos de café e pedaços de bolo. A perguntar que horas são e onde eu pego o trem para o aeroporto.
Mas me pegam de jeito e começam a falar sobre futebol.
Como caramba se fala meia-esquerda em inglês? Half-Left ou half-sock? Não vem nada. A sensação é péssima.
Como se fala lençol (não aquele de usar na cama - já imaginou você dizendo que "the player made a bed linen on his adversary"). Tocar de letra, embaixada, firula, cera... Não faço a mínima idéia de como falar essas coisas em inglês.
Neste começo de vida no exterior somos vítimas constantes do papo pequeno. Quando chega a hora de jogar conversa fora deixamos de ser profissionais sofisticados e nos transformamos em brucutus gagos.
Consigo defender brilhantemente uma campanha milionária, falar de problemas sociais no Brasil e detalhes da política externa americana.
Agora me peçam para falar sobre como é um churrasco ou sobre festa junina que não tem jeito.
Como descrever uma macarronada de domingo?
Me chamem para passar meia hora conversando banalidades sobre coisas para comprar para casa e eu vou ser a pessoa mais desinteressante do planeta. Eu nem lembro como se chama o tapete para colocar na porta de casa.
Você fica se sentindo mais ou menos como aquele personagem do antigo programa do Jô Soares (lembram quando ele era engraçado?) que levava uma invertida e só conseguia falar "Ah é, é? Ah é, é?". Aí quatro horas depois ele arrumava uma resposta brilhante.
Esses brancos vão ficando menos frenquentes e prolongados. Mas continuam assobrando minhas conversas.
Por isso eu prefiro falar sobre os rumos do capitalismo num contexto de revolução dos meios de produção do que da última partida da seleção.
A propósito, o tal tapete se chama door mat.
Ah é, é?
Paredes de Beirute.

Não consigo parar de olhar para as paredes de Beirute.
A cidade é linda. Cheia de ares europeus e influências árabes. Um lugar único.
Mas toda vez que saio são as paredes que me chamam atenção.
É nelas que está escrita a história recente desta cidade. Nelas e na cabeça de quem viveu aqui os 17 anos da guerra civil que arrasou o país.
Ninguém sabe explicar direito porque a guerra começou, nem porque acabou. Mas eles conseguem te explicar exatamente a sensação de estar dentro delas.
Combates constantes entre cristãos e muçulmanos.
Medo constante, amigos e parentes mortos. Às vezes diante dos seus próprios olhos. Franco-atiradores à espreita, em qualquer hora, em qualquer lugar. Buscando qualquer vítima. Mulheres, crianças, qualquer um.
Eu olho para todos os lados e vejo essas marcas.
Quando cheguei aqui não parecia ser verdade. Aqueles buraquinhos circulares que estão para todo o lado, contando essa história.
Tem muitos prédios abandonados, semi-destruídos. Neste a violência que assolou o lugar é muito clara. Marcas para todos os lados. Principalmente nas janelas.
Mas é mais impressionante nos prédios que ainda estão ocupados. Todos aqueles que estavam aqui antes do fim da guerra ainda carregam marcas. Às vezes tapadas por cimentos, pintadas. Mas elas estão ali. Sempre.
Numa janela no alto de um prédio dezenas de marcas. Eu me pergunto quem seriam os caras que estavam ali em cima. E quem seriam os outros?
Qual o final dessa história?
E tem muitas dessas.
Numa parede na rua dezenas de marcas. Algo muito sério aconteceu ali.
Em outro prédio a marca de uma explosão, como de um míssil.
Nenhum lugar foi poupado.
Para mim é chocante. Quando fico sabendo que morreram quase 50 mil pessoas nos 17 anos de guerra é ainda pior.
Não só pelo desperdício de vidas humanas. Mas por pensar que no Brasil esse é aproximadamente o número de homicídios anual.
Aí dá para entender como os libaneses levaram a vida por este período tão longo.
A gente se acostuma. Se acostuma com tudo.
A diferença é que não temos marcas nas paredes para nos lembrar.

Sunday, August 28, 2005

Beirute, por favor.

Aqui estou eu, na Paris do Oriente Médio. A pérola do Adriático. A cidade que deu o nome ao sanduíche mais consumido no Habib's.
Beirute é uma cidade com um monte de caras. Um mar muito bonito - claro que estar num hotel magnífico ajuda muito - e umas praias nem tanto. A cidade me parece uma mistura entre Rio, Salvador e Buenos Aires.
Um pouco da orla do Rio com seus prédios antigos, um pouco da orla de Salvador com suas curvas e faróis e aquele monte de prédios antigos e charmosos.
O povo tem cara de brasileiro - talvez porque tenha mais libaneses em São Paulo do que tem no Líbano - adora a vida noturna. E dezenas de bares que ficam aberto até altas horas comprovam isso. Também adoram comer bem - coisa que vem da influência francesa.
Eles também enchem a calçada na orla, coisa que lembra muito a vida do carioca. Mas é só olhar para as mulheres muçulmanas com seus cabelos cobertos, que aqui vestem roupas coloridas - ao contrário de Dubai em que o pretinho básico é de lei - que essa ilusão se dissipa. Estou longe de casa.
Me disseram hoje que Beirute é a única cidade no oriente médio que tem cara de Europa. E eu tenho que concordar. A cidade tem seu charme cosmopolita da velha Europa.
Mas a cidade é muito mais do que isso. É o paraíso das Mercedes e BMWs. Os locais são apaixonados por essas duas marcas e até pouco tempo elas eram a única coisa que se via nas ruas. Hoje existem outras marcas. Carro francês, japonês, coreano...
Nas ruas da cidade existem mercedes de todos os tipos. Principalmente as MUITO velhas. São taxis caindo aos pedaços e carros particulares com todos os estados de conservação. E estão por lado. Das mais novas e caras até pilhas de ferrugem que se movem não se sabe como.
Não existem carros mais ou menos novos aqui. Por mais ou menos novos entenda-se algo com até dez anos de idade.
Existe um branco entre os anos 70 e meados dos anos 90. Mercedes muito velhas e Mercedes novinhas. Eu me perguntei o porquê disso.
Guerra.
O Líbano é o primeiro país que eu visito em que posso sentir a presença real e assustadora da guerra.
Foram 17 anos de guerra civil. Uma guerra longa e suja onde nada e ninguém foi poupado. Crianças, mulheres, jovens, velhos, cristãos e muçulmanos, todos foram vítimas.
Ainda se pode ver por todos os lados os efeitos do conflito, que terminou em 1994.
São paredes marcadas por tiros por todos os lados e muitos dos prédios mais antigos. Edifícios parcialmente ou completamente destruídos que pontuam a cidade.
E como um lembrete de que ainda não é passado é o quarteirão onde aconteceu o atentado que matou recentemente o presidente Hariri.
Nem dá para descrever direito o que uma tonelada de dinamite fez nos prédios ao redor do local da explosão. Só digo que é uma destruição impressionante.
Que tipo de raiva é essa que leva alguém a algo tão extremo?
Mas o ser humano tem a capacidade de tocar o barco pra frente não importa o que aconteça. E tocar o barco pra frente é algo ainda mais fácil para este povo descendente dos Fenícios.

Friday, August 26, 2005

Homens de branco.

Nem só de trabalho vive o homem. Ele também tem que comer e dormir.
Hoje foi dia de muito trabalho. Reunião a tarde inteira para definir todos os detalhes da produção do comercial que vamos filmar a partir de domingo. É um processo longo e cansativo que diz respeito a tudo que vai aparecer no filme: elenco, figurino, locações, música, fotografia, edição e muito blá, blá, blá e "eu acho" para aqui e para lá. Muitos "eu acho" mesmo.
A sorte é que os clientes são pessoas muito, muito bacanas mesmo.
É o meu primeiro contato mais intenso com os locais de Dubai e descobri uma coisa extraordinária sobre eles:
são iguaizinhos à gente.
Estes dois especialmente são ainda mais iguais. Eu não podia imaginar quando vi os dois pela primeira vez na reunião de apresentação do filme. Eles estavam usando as roupas tradicionais locais. Ele de dish dasha (aquela roupa de milhonário do petróleo) e ela de preto com o cabelo coberto - a versão tradicional local.
Muito simpáticos, mas confesso que a roupa tradicional coloca uma distância entre nós a princípio - o que é uma besteira.
Já no aeroporto o cara me aparece de camiseta e tênis. Parecia algum amigo de faculdade.
Hoje na reunião conversei muito com eles e descobri que são gente como a gente. Gostam das mesmas coisas, são empolgados e interessantes. E mais uma coisa interessante: eles só falam inglês entre eles. Não que isso seja o padrão, mas está se tornando mais e mais normal. Não sei o que vai ser da língua árabe por aquelas bandas em algumas décadas. Já ouvi de várias fontes que está cada vez mais difícil encontrar pessoas que falam um árabe perfeito. É uma língua muito complexa e que é ainda mais difícil de se escreverm e ler. Vamos ver o que o tempo vai nos dizer.
Só sei que a gente descobre nestas nossas andanças que tem uma galera gente boa para todo lado.

Thursday, August 25, 2005

Beirute hoje.

E o melhor de tudo, super hotel, quarto bacana e...internet de graça no quarto!
Este post está sendo digitado direto da pérola do Adriático, a Paris do Oriente Médio.
Cheguei aqui de business class, que realmente é um outro mundo.
Dá para entender porque muita gente nunca mais consegue voltar atrás depois do upgrade.
Esse não é o meu problema, porque gastar mil doletas a mais para poder esticar as pernas e tomar uns vinhos 3/4 de boca (não são tão ruins assim) não me faz a cabeça.
Mas aqui estou eu, no Líbano.
Diferente de Dubai, aqui as coisas tem uma cara de Brasil. Beirute fica em um morro que termina no mar, tem um jeito meio Rio e meio Salvador, com brimos para todos os lados, é claro. O trânsito também é bem Brasil - uma zona.
Cheguei aqui à noite, por isso vou dar minhas impressões mais profundas amanhã, quando experimentar o visual da cidade à luz do dia.
Amanhã tem mais.
De viagem marcada.

Estou viajando hoje para o Líbano. Vamos filmar um comercial em Beirute e depois seguimos para Amsterdam para a finalização do material.
Vai ser uma loucura porque ao mesmo tempo em que estou lá vou ter que criar a campanha da concorrência de Emirates.
Ou seja, nada de férias.
Trabalhar neste projeto à distância vai ser difícil mas tem que funcionar. A pressão para entregar algo outstanding e logo é imensa.
Bom, se eu queria aventuras, aí estão elas. Aos montes e se sem parar.
Não sei se vou conseguir conectar logo e mandar mais notícias pelo blog. Mas tenho certeza que vou ter dúzias de histórias novas para contar quando voltar.
Torçam por mim.
E que a Força esteja com vocês.

Wednesday, August 24, 2005

Enfim eles.

Ontem fui para Abu Dhabi. Uma viagem de 140km para ir e o mesmo para voltar.
Tinha que mandar uma procuração para o Brasil e a única maneira de fazer isso é visitando a embaixada brasileira.
Me preparei muito bem. Procurei mapas da cidade na internet, fiz meu itinerário certinho e memorizei o endereço.
Não era para ter erro. Era só ir até a rua 5 (as ruas lá são numeradas) e achar a embaixada.
Uma hora e meia perdido no meio da cidade que tem o trânsito mais lento do mundo e eu desisti e pedi arrego. Liguei para lá para conseguir umas indicações. (claro que não demorou tanto para eu ligar, mas sim para chegar. Mas para efeitos dramáticos usei o valor total)
Quem atendeu foi um cara indiano que tinha o sotaque mais carregado que eu já ouvi. E todas as indicações que ele me dava eram lugares com nomes árabes ainda mais difíceis de se entender. Uma hora me enchi e parei numa ruazinha e abandonei o carro. De pergunta em pergunta fui me aproximando de lugares com nomes que lembravam aquela coisas incompreensíveis que o indiano falava. Algum tempo e muito suor depois avisto a abençoada bandeira da pátria mãe tupiniquim.
Lá dentro o indiano e uns folhetos cheios de mulheres de tangas dos anos 80 e opalas parados no pelourinho. Tudo com cara de velho. Mas essa era só a entradinha da embaixada, lá dentro era outra história.
Muito tempo depois o embaixador em pessoa apareceu e me convidou para um café. Eu e uma mulher doidinha vinda direto de Itu. Uma decoradora de uns 55 anos que se converteu ao islamismo depois de arrumar um amigo muçulmano pela internet. Largou tudo e veio para Abu Dhabi na louca total.
E como falava. Nunca vi igual. A história dela demorou umas 2 horas, só parou quando o embaixador apareceu. Eu não tenho certeza, mas juraria que ela não respirava para falar. Não tinha interrupções.
O nosso café com o embaixador foi muito bacana. Nada como estar em contato com a nata da diplomacia brasileira. Uns caras com um formação sólida. Político e homem de negócios desterrado há muitas décadas. Um mundo com o qual não temos muito contato e que é muito interessante.
Com a procuração na mão e com aquela sensação maravilhosa de ter passado mais de 2 horas pessoas falando em português - vocês não têm idéia como faz bem para os ouvidos - tomei o caminho da roça. Desta vez não teve erro.
Isto resumiria minha aventura do dia 23 se não tivesse passado por uma experiência única e tão esperada.
Enquanto pegava a estrada para Abu Dhabi lá estavam eles.
E não poucos. Dezenas. Para todos os lados, como se estivessem esperando o momento de fazer sua aparição triunfal.
No meio de uma área imensa do deserto estavam, enfim, os camelos.
VINI, VIDI

Monday, August 22, 2005

Nos termômetros oficiais, 42 graus.

A temperatura aqui nunca passa dos 45 graus. Oficialmente.
Oficialmente, por lei, se ela passar dos 50 graus ninguém deve ir trabalhar. Não só os trabalhadores braçais que estão erguendo edifícios gigantes para todos os lados, mas também a galera do ar-condicionado. Não me perguntem por quê.
Talvez a visão de um dia tão quente possa afetar nosso sensível sistema nervoso.
Mas o fato é que a temperatura NUNCA chegou a passar dos 50 graus aqui em Dubai. Oficialmente.
Semana passada eu experimentei o que é um vento de 52 graus - e não estou falando da direção.
Um vento que não devia estar lá. Oficialmente.
Eu respeito os caras que se estabeleceram aqui há séculos, muito antes que a mente do mais desvairado escritor de literatura fantástica sequer imaginasse que um dia existiria essa unidade portátil de clima suiço.
E respeito ainda mais os carinhas que aguentam - ou por opção ou por falta dela - trabalhar lá fora nos oficiais 42 graus, e sabendo que existe um mundo muito confortável sendo criado nas caixas de aço e vidro que eles estão construindo.

Thursday, August 18, 2005

Ontem eu fui comer em um restaurante libanês. É sempre bom sair deste maldito edifício onde só tem comida ruim e/ou cara.
Todos os restaurantes aqui são frescos. Também pudera, as Emirates Towers são o lugar mais caro e nobre de Dubai...quem mandou?
Fui com dois caras aqui da agência, o Nadim e o Wissam. Quando chegamos lá abri a porta do taxi em que fomos e experimentei um daqueles momentos em que você realmente sente que está em um outro planeta.
A sensação foi de estar de cara para o exaustor de um caminhão. Um vento muito forte e quente como eu nunca tinha visto.
Não parecia real, mas é o vento seco do meio do verão. Uma coisa inacreditável, que parece filme de ficção científica.
Nessa horas você pára e pensa: "Totó, parece que não estamos mais no Kansas".
Como será que a civilização conseguiu se desenvolver em um lugar tão inóspito? O que fez os caras decidirem ficar por aqui?
Me faz lembrar o Agente Smith em Matrix dizendo que os seres humanos são vírus. Eles ocupam todos os espaços disponíveis, se enfiltram em todos os cantos.
Esquimós, índios, beduínos, aborígenes, polinésios...
Não tem ambiente em que o ser humano não esteja presente.
Nada mal para este macaco pelado que nós somos. Somos mais fracos, mais lentos, menos ágeis e resistentes que os outros animais. Mas estamos para todo lado.
Nada como alguns gramas a mais de massa encefálica para dominar o mundo.

Tuesday, August 16, 2005


Indo para casa e arriscando a vida, tudo no mesmo pacote.

Monday, August 15, 2005

Fatos bizarros que só acontecem para quem está no Oriente Médio:

Semana passada estávamos combinando de fazer um churrasco - seja lá o que isso signifique para os árabes - com algumas pessoas da agência. Não rolou.
Mas o que aconteceu foi que o Ramzi, do RH, disse que a gente podia fazer o tal churrasco no condomínio dele. E que lá tinha piscina resfriada!
Coisas que só fazem sentido quando você está no meio do deserto.
47 graus à sombra é para poucos...
Uma coisa muito importante que faz uma falta enorme e que não coloquei na minha lista:
amendoim japonês.
Sonâmbulos

Estava até agora há pouco conversando com minha irmãzinha Ju pelo MSN. Uma coisa legal de escrever coisas que acabaram de acontecer ajuda a gente a capturar este momento no tempo. Daqui a 5, 10, 30 anos eu vou ler estas palavras e vou sentir o gosto desta hora. É aquela sensação de achar uma foto dentro de um livro que você não vê faz tempo. Um pedaço da nossa memória que a gente não conseguia nem sabia como acessar.
A gente estava falando exatamente sobre isso. Nossa percepção do tempo e do espaço.
Coisas extraordinárias têm acontecido na minha vida ultimamente. Olhando para trás é quase impossível acreditar que tudo isso é real, que estou realmente assim. Mas quanto dura essa sensação de maravilhamento?
Quanto tempo vai demorar para que eu ache que as areias do deserto que me cercam virem uma parte do universo que eu nem mais reparo?
Quando tempo vai ser preciso para eu parar de admirar a figura única do Burj Al Arab à noite no caminho de casa?
Quanto tempo levará para eu não perceber mais esta mistura única de raças, cores, roupas, cheiros e sabores?
O triste é pensar que é da natureza do ser humano se tornar insensível a maior parte do mundo que nos cerca.
Demora algum tempo, mas a gente acaba se acostumando com tudo. Pára de perceber o quanto a vida é rica.
Saímos do trabalho e de repente estamos em casa. Do caminho, que levou uns 40 minutos, só lembramos daquele motorista corno maldito que fechou a gente. Ah, tinha que ser mulher! E só. Todo o resto é uma memória nebulosa, difícil de acessar. A monotonia da existência. Nós vivemos da diferença, da comparação e do interesse. O resto vai para uma espécie de arquivo morto.
Nós lembramos do caminho, mas não da paisagem.
O pior é quando isso acontece com as pessoas. Não percebemos o mendigo na rua, o pessoal da limpeza do prédio, as pessoas com quem não temos muita afinidade...
Mas o medo está quando paramos de perceber as pessoas que são mais importantes. E isso acontece.
Há um tempo atrás assisti um filme com o Bruce Willis - Bruce Rules! - e a Michelle Pfeiffer. História de Nós Dois - do Rob Reiner, o mesmo diretor de Harry e Sally.
O filme fala sobre a história de um relacionamento. Um relacionamento como qualquer outro e que não acaba bem.
E lá tinha uma cena que me fez pensar.
Na hora de uma crise profunda ela diz para ele que há muito tempo eles pararam de se olhar nos olhos.
E isso é verdade. Dá medo.
Por isso eu tento lutar contra nossa tendência a nos fechar dentro de nossos casulos de percepção seletiva.
Quando será que paramos de olhar para o céu à noite?
Quero continuar olhando para o deserto, indo para casa e pensar "caramba, estou do outro lado do mundo!"
A vida não é extraordinária?

Sunday, August 14, 2005


Que tal uma vista da sacada lá de casa?

E este sou eu na frente das Emirates Towers.
Se alguém queria uma prova de vida, aí está.

Uma imagem vale mais do que 1027,45 palavras, pelo câmbio do dia.
Este é o lugar onde trabalho - as Emirates Towers.
As mulheres de preto e os tons de cinza.

Existem coisas com as quais eu ainda não me acostumei. Sempre me considerei uma pessoa com a mente aberta, mas todo mundo tem o seu ponto de tensão.
Para mim é ver as mulheres com seu rosto coberto. Totalmente coberto. Mesmo aqui nas Emirates Towers elas aparecem, para comprar Cartier, Gucci e outras marcas caríssimas. Andam em bandos do Ibn Batuta Mall e em outros lugares frequentados pelos locais. Que tipo de cultura é essa que faz com que os membros de um determinado sexo tenham parte de sua individualidade escondida do resto do mundo? Que faz com que essas mulheres se transformem num que só pode ser olhada pelo seu proprietário. Aí vejo as crianças, meninas ainda com seus rostos descobertos. Quanto tempo vai demorar para que sua imagem seja escondida para sempre? Como será que as crianças vêem este futuro obscuro? Será que é justo?

Eu sempre questionei as verdades. Especialmente as minhas verdades. Minha digníssima esposa sempre me disse que eu sou do contra. Se alguém diz que existe vida em outros planetas eu digo que não e testo os limites da outra afirmação. Se alguém afirma categoricamente de que não existe prova de vida em outros planetas eu contra-ataco. Assim é a minha maneira de construir meu mundo. Uma aventura dialética interminável. É desgastante, porque no fim você acaba descobrindo que não existe verdade, mas sim verdades. E eu acabo de fazer uma afirmação muito forte - uma verdade. Será injusto questionar a validade dos costumes locais?

Vamos nos imaginar no lugar de uma sociedade extremamente, absurdamente e estranhamente liberal.
Como eles veriam nossa sociedade ocidental? Por que as mulheres têm que usar a parte de cima do biquíni nas nossas praias e piscinas? Por que a maioria das mulheres assumem os nomes de família dos maridos quando casam? Por que elas ganham menos, são promovidas menos e têm menos chances? Por que é difícil ver uma mulher rica se envolvendo com um homem mais pobre e não o inverso? Por que a maioria dos homens acha humilhante ganhar menos que a mulher - e não ser tão bem-sucedido como ela? Por que é impensável para um homem abdicar de sua carreira para cuidar dos filhos?
Como uma sociedade totalmente igualitária veria estas contradições desta nossa sociedade "moderna"?

Talvez para eles fosse tão chocante como é para mim passear pelo Ibn Batuta Mall e ver as hordas de mulheres locais na sua frenesi de consumo debaixo de seus véus. Anônimas e ocultas.

Mas aonde começa o que é certo e o que é errado? Ninguém pode dizer e todos podem dizer. A idéia de certo e errado não está escrita na matéria e nas leis do universo. É algo criado pela mente do homem. Por mais que achemos que a resposta está além de nós é a nossa decisão que faz com que eles sejam reais. E este conceito varia de cultura para cultura, de país para país, de pessoa para pessoa, de uma época para outra.

O que eu posso afirmar é o que é certo para mim agora. Eu nem tenho mais certeza do que era certo para mim no passado. Nossa mente tem a capacidade de moldar o nosso passado à semelhança do que somos hoje.

Mas, como dizia Sartre, o Homem está condenado a ser livre. Mesmo que a expressão desta liberdade seja a total ausência dela.

Ou, como dizia meu avô querido, viva e deixe os outros viverem.

Thursday, August 11, 2005

Vitrines de Dubai.

Árabes pode ser bons negociantes, mas para arrumar nomes para os seus negócios eles são ainda melhores.
Todas a lojas aqui têm nome em inglês. Muitas vezes nem o nome em árabe elas têm.
As cadeias intenacionais de lanchonetes têm logtipos tradicionais e logotipos em árabe. Bem estranho esse negócio de logotipo em árabe...
Mas as lojas locais são as melhores.
Quando passo por elas me sinto viajando por uma versão revista e ampliada do Shopping Interlagos ou do SP Market.
Lá tem umas marcas meia-boca que vendem produtos 1/4 de boca que tem nomes sensacionais. Coisas como Mariano Sport's, Fashion Confecções, kaiac esporte, Picadinho's...
Parece que é só colocar apóstrofe e esse que tudo fica sofisticado. Põe uma palavrinha e inglês e voi lá! Você está no Olimpo.
Nem os nossos prédios têm nome brasileiro. É nome em italiano, espanhol, francês, inglês...
Para os brasucas é impensável morar num edifício de alto-padrão chamado Nhu-Nhu Guaçu, ou Jirandaia.
Tem que ser CORAL GABLES, Chateau de Galeaucha, Villagio di Muzzarela...
Aqui é a mesma coisa. Eles adoram dar nomes estrangeiros para as coisas, mas o que eles tem de ladinos no mundo dos negócios eles os caras são ingênuos na hora de dar nomes.
São muito tontos. Loja de carros usados Good Cars. Tasty Food Restaurant. Beautiful Clothes Clothing. E por aí vai.
Faz o pessoal do shopping Interlagos parecer empresário da Oscar Freire.
Mas que os caras estão fazendo dinheiro, estão...