É ouro!
Depois de um longo inverno finalmente tenho energia e cabeça - porque vocês sabem que tempo a gente sempre arruma - para escrever as minhas aventuras nos últimos dias.
A gente vive dizendo que não teve tempo de ligar para aquele amigo ou parente, que não deu tempo de fazer aquela coisa importante...
Mas o fato é que a gente consegue passar uma hora relendo aquele Chico Bento amarelado que está há uns 3 anos no banheiro.
O tempo a gente faz. Tempo a gente cria.
E eu tive que fazer esse tempo existir esta semana para terminar minhas novelas, matar minhas Odetes Roitmans.
E quem acompanhou a minha novela da carteira de habilitação sabe do que eu estou falando.
Nestas últimas duas semanas descobri que existe algo místico no universo.
Eu que sempre fui um materialista, cientificista, cético e cínico tive que me curvar.
O universo não é um lugar onde apenas as leis da física imperam. Existe algo mais.
Acho que desde sempre existiu uma verdade absoluta. Uma das poucas.
A verdade de que eu odeio pegar taxis. Sempre detestei e continuo detestando. Pode ser em São Paulo, em Campinas, no Rio, na Nova Zelândia, no Egito, em Israel, em Dubai ou em qualquer lugar. O taxímetro para mim é como uma ampulheta em que a areia é o meu dinheiro.
Mas eis que o universo conspira e quando chego de Amsterdam descubro que não tenho carro e nem tenho direito a ter um carro. E por isso tenho que usar taxis, muitos taxis. Diariamente, até que eu vença a burocracia local e arrume a minha carteira de habilitação. E não é só isso! Ainda liguei para a agência de aluguel de carros e eles me disseram que mesmo que eu tirasse a carteira eles não poderiam aceitar que eu alugasse, porque eles não aceitam carteiras com menos de 1 ano desde a data de emissão.
E assim foi. Por duas longuíssimas semanas fui totalmente dependente dos taxis. E não é só isso. Eu moro longe, muito longe do trabalho. Não só os taxis demoravam para chegar como eram caríssimos.
Agora vai me dizer que a ciência explica isso? Para mim parece mais uma punição divina.
Mas, enfim, depois de tudo isso eu consegui.
Ontem foi o dia.
Começou na verdade anteontem quando eu imprimi 6 páginas de placas de trânsito locais para estudar.
E volta aquela sensação quase esquecida de quem vai ter prova no dia seguinte. Aquele frio na barriga do estudante que vai ser avaliado e que lembra véspera de vestibular.
Saio de manhã - de taxi, é claro - e vou para o outro lado da cidade.
Encontro o instrutor e tenho duas aulas seguidas em que ele me ensina como agir como um robô. 437 dicas de como agir na frente de quem vai avaliar. O frio na barriga aumenta. Será que vou conseguir lembrar de tudo? Parece que nunca dirigi antes.
Chega a hora do teste das placas. Vou para a sede do departamento de trânsito de Dubai e um monte de policiais mal-encarados que quase não falam inglês me mandam para um computador onde você faz o tal teste.
Medo de falhar. E já se foram 10 questões. Fim? Como assim fim? Só isso? Aprovado?
Que decepção. Me preparei para sofrer um bocado. Quase não dormi, estudei pacas para isso?
Próxima parada teste prático. Mais policiais mal-encarados e uma centena de pessoas esperando pelos seus testes.
Mais ansiedade.
Finalmente chega o meu grupo. Os últimos. Os 4 condenados.
Eu, espertamente, fico no meião para não ser o primeiro.
Ali vai o primeiro. Terrível. Depois um garoto iraniano. Parece que fez tudo certinho. Aí sou eu.
O robô recém treinado entra em ação.
5 minutos depois é a vez do último condenado.
Terrível. Chato dizer mas isso me faz sentir melhor. Seres humanos são uma droga mesmo.
Resultado: só uma das pessoas que estava no carro foi aprovada - e não estou falando do avaliador - esse foi reprovado por todos.
VITÓRIA!
E o melhor de tudo, a carteira ficou pronta na hora e é dourada.
Essa sensação de realização maravilhosa.
E caramba, é só uma carteira de habilitação!
Carteira de habilitação não. É minha carta de alforria.
A seguir cenas do próximo capítulo....
2 comments:
tá, tá, agora conta:
quanto vc pagou pros caras?
ou melhor, quanto custa a alforria em dubai?
Quando vc era criança, lembra o quanto vc queria abrir um chocolate e ver o papel alumínio dourado do Sr. Wonka?
Pois a carteia dourada é agora seu passaporte para um passeio livre e motorizado pelas ruas de Dubai
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