Saturday, March 29, 2008

Sem frescura - No Fuss

Quando você trabalha em propaganda a vida passa em múltiplos de 30 segundos.

Neste post tem duas unidades. Me custaram dois meses de idas e vindas, conference calls, reuniões ao vivo, muitos emails de feedback escritos, longas horas na ilha de edição e alguns - novos - cabelos brancos.

Essa é a nova campanha de marca da Ford para ao Oriente Médio - um comercial que chamamos "No Fuss". Foi escrito por dois indianos e um brasileiro, produzido por libaneses, dirigido por um espanhol, com locução de um americano, música de um inglês e coordenado por uma equipe de atendimento liderada por um australiano, capitaneada por uma neozelandesa e com um soldado palestino-austríaco na linha de frente.

Isto é Dubai


Wednesday, March 26, 2008

A Sangue-frio.

A vida é assim. Vivemos nos auto-enganando.

Damos desculpa para adiar o começo do regime, para furar o regime, para recomeçar o regime, para deixar de pagar o cartão de crédito, para deixar de ligar para um amigo ou parente querido, para deixar de acordar mais cedo para ir à academia, para deixar de começar a ler aquele livro técnico importante que vai fazer toda a diferença na sua carreira, para não parar de espremer cravos no nariz, para não responder agora os emails recebidos, para adiar a ida ao dentista, , para parar de assistir ao Big Brother, para deixar para outra hora aquela ligação para o seu banco, para continuar votando no PT e para adiar para outro dia a tarefa de escrever um novo post.

Amanhã eu começo, eu faço, eu paro.

E assim vamos levando a nossa vida cheia de agoras.

As coisas boas devem ser saboreadas o quanto antes.

As coisas ruins devem ser tratadas como tirar band-aids: faça rápido e de uma vez só.

Assim tem sido a minha vida de chefe: todo dia é como se meu corpo amanhecesse coberto de band-aids de todas as cores e tamanhos.

Estes são os problemas que eu encontro todos os dias.

Alguns são daqueles redondinhos, cor-da-pele e pequenininhos. Saem fácil, você quase não percebe. Outros são daqueles tradicionais - transparentes, cor-da-pele ou até mesmo coloridos com estampas alegres. Doem bastante, mas dá para aguentar - se você for rápido e puxar com decisão.

Mas alguns são uns esparadrapos gigantes que cobrem uma área peluda perto da virilha. As mulheres sabem muito bem do que estamos falando.

Em geral a expectativa é mais dolorida do que a atividade da retirada propriamente dita. Você é quem dita a dimensão do curativo a ser removido.

Chamar alguém que pisou na bola para o que os escritores de livro de administração chamariam de "Feedback negativo porém construtivo" pode ser desde um band-aid redondinho até um quadrado de tamanho respeitável.

Se você for escolado pode ser até mesmo como passar um mertiolate dos novos - incolor, indolor e já vem com sopro. (A maior parte das pessoas nem deve conhecer o mertiolate vermelho e dolorido)

Mas tem algumas situações que sempre vão ser muito espadrapo, sem gaze numa região sensível e com muitos pelos debaixo.

Na vida do chefe eu diria que seriam anunciar demissões e fazer avaliações de final de ano extremamente negativas - estou tendo uma boa dose das duas.

Diria o sábio que notícia ruim é que nem presente: é melhor dar do que receber.

Eu diria que há dúvidas.

Você chega ao final do dia completamente esgotado e dolorido.

Talvez chegue um dia em que eu vá me transformar em um calejado assassino de aluguel que não lembra mais o nome das vítimas - ou uma enfermeira veterana encarregada de trocar as ataduras. Insensível.

Para mim ainda está longe de ser assim. Eu sofro até quando assisto aos episódios de O Aprendiz. (Bom, isso não é verdade, mas seria engraçado se fosse)

Mas no final do dia, da semana, do mês ou do ano fiscal você vai ter que fazê-lo.

Mas se tiver que acontecer, lembre-se: faça rápido, de uma vez.

Afinal o pelos crescem de novo.