Monday, November 13, 2006

Frio na barriga?

Ontem foi oficialmente meu último dia na Impact BBDO. É sempre uma coisa estranha dizer adeus a um ambiente de trabalho.

Não parece mas o espaço físico, os móveis, os computadores, o carpete cinza, a minha janela dando para o palácio do Sheikh, sua pista de corrida de cavalos particular e suas cavalariças com cavalos de muitos milhares de dólares acabaram se transformando em uma parte essencial do que Dubai representa na minha cabeça tão cheia de informação desordenada.

Dar uma última passada lá para dar um tchau e depois entregar o seu cartão de acesso é realmente esquisito. Os nossos lugares de trabalho, sem que a gente perceba, acabam fazendo parte da gente - tanto como a gente acaba fazendo parte dos lugares.

Agora é hora de recomeçar - e sem janela para palácio.

Meu grande Andrej - um diretor de arte sérvio que é uma das figuras mais queridas - me perguntou ontem:

"Você não está com um frio na barriga?"

Eu parei para pensar e percebi que não.

Acho que um pouco porque depois de algum tempo de carreira você percebe que trabalho é trabalho em qualquer lugar. Se você é uma farsa, vai continuar sendo. Se ninguém descobriu até agora, as chances são pequenas que desta vez você seja desmascarado. Se você é bom, nada vai mudar. Se você é um gênio, sorte sua - mas não conte para ninguém. E se você não sabe em qual categoria você se enquadra, provavelmente vai continuar vivendo com a benção da ignorância.

Claro que isso conta para não me fazer perder o sono, mas tem mais.

Esta mudança para Dubai, Emirados Árabes Unidos, Oriente Médio, Hemisfério Norte, foi muito radical. Muita coisa ao mesmo tempo: país, língua, sotaques, cultura (ou culturas), empresa (ou agência, se você leitor for publicitário), cultura empresarial, responsabilidade, clientes, leis, burocracia, temperatura, comida, nomes de pessoas, feriados, trânsito, carros diferentes, amizades, dias de final de semana, fuso horário, moeda, ausência de amendoim Mendorato...

É tanta coisa que é quase como nascer de novo - com a vantagem que desta vez você não tem que aprender a passar sem fraldas.

A sensação é de que qualquer mudança agora não assusta mais - e nem causa o impacto que costumava causar. E nem frio na barriga.

Afinal, é só um emprego novo.

Saturday, November 11, 2006

Um pequeno passo para a humanidade...um grande passo para um homem.

Uma semana que começa com dois eventos que vão marcar a vida deste seu interlocutor.

O primeiro: Estou mudando de emprego. Depois de quase um ano e meio na Impact BBDO estou saindo para me aventurar em um lugar novo. Foram um ano e meio que mais pareceram uns 15 anos. Teve muito de tudo: medo, insegurança, frustração, surpresas, descoberta, conquista, satisfação, diversão e umas boas risadas.

Mas, como tudo tem um fim - menos A Praça é Nossa - chegou a hora de mudar. Foi tudo inesperado. Estava eu lá na agência vivendo talvez o momento da minha carreira, fazendo coisas muito bacanas para clientes como Pepsi, Mountain Dew, Wrigley's e Snickers. Um dia sai uma matéria com uns anúncios que fiz para Snickers e no dia seguinte me ligam:

Piyush (O dono da agência de headhunters que me trouxe para cá):
Chegou o momento. Entrevista hoje às 17h na Team Young&Rubicam.

Guilherme (diretor de criação da Impact BBDO que não estava entendendo nada):
Hã? Cuma?

Piyush: Está marcado

Guilherme (diretor de criação da Impact BBDO que continuava não entendendo nada):
Hã...OK.

Mais cinco minutos de explicações de como chegar no lugar - o que é de praxe aqui (aliás, o que é "de praxe"?) já que os lugares não têm números e as ruas não têm placas - e quando têm são em geral números que se repetem de acordo com o bairro e lá vou eu imaginando como escapar no meio da tarde sem dar na vista.

Sabe a síndrome do sábado à noite? Isso afeta mais os solteiros mas os casados também são vítimas comuns. Você fica vários finais de semana esquecido. Os amigos viajando, doentes ou ocupados com outras coisas, todos os filmes legais no cinema já assistidos... De repente chega um final de semana em que tem 4 festas de grupos de amigos diferentes, 8 novos filmes sensacionais em cartaz e mais um amigo que você não vê há uma década está de passagem na cidade te liga para dar uma saída para colocar o papo em dia.

Pois é (acho que eu uso muito "pois é" quando escrevo, mas fazer o que? Eu falo assim mesmo) é mais ou menos o que acontece quando você tem entrevista de emprego. De repente a campanha que era para amanhã precisa ser apresentada no final do dia. De repente o seu chefe precisa falar com você no meio da tarde e quer ver o status desta campanha - coisa que ele em geral não faz. De repente tem um evento - o primeiro desde que a Dri entrou na Microsoft - em que todas as famílias estão convidadas - e que começa às seis da tarde.

O universo conspira.

Bati todos os recordes para entregar o trabalho em tempo e deixei só um pedaço para terminar depois. Me reuni com meu chefe com a cabeça nas nuvens e depois, como um ninja, sumi numa nuvem de fumaça. Dirigi como um piloto de F1 em Mônaco e consegui chegar a tempo para a entrevista.

Gente bacana, a agência excelente - a melhor do Oriente Médio - muito premiada em todos os festivais internacionais, e possibilidades profissionais fantásticas.

Hora de mudar de curso de novo.

Novos recorde batidos na volta ao trabalho. O ninja retorna. Campanha entregue e é hora de correr para o evento da Microsoft - um iftar, ou momento de quebrar o jejum que os muçulmanos fazem durante o mês sagrado do Ramadan. Eles ficam sem comer o dia inteiro e assim que o sol se põe é a comilança.

E lá ia eu, atrasado e com muita fome. A única coisa no meu estômago, fora aquele frio na barriga pré-entrevista, era uma maçã que eu tinha pegado na academia no dia anterior e esquecido na minha mochila. Fui sonhando com um buffet gigante cheio de quitutes árabes me esperando. Me sentia como um Ali Babá pronto para entrar na caverna onde estava o tesouro dos 40 Ladrões. Só que ao invés de ouro, prata e pedras preciosas estavam tijelas cheias de quibes e esfihas.

Cheguei no lugar do evento e não encontro ninguém. Ligo para a Dri e ela e diz que está na saída, esperando o carro.

Nada de esfihas e quibes. (Se bem que aqui não tem as esfihas que a gente costuma comer - mas fica muito mais legal no texto)

Encontro minhas mulheres e vamos embora. Eu, elas e o meu estômago frustado, indo rumo aos cachorros-quente que me esperam em casa.

Tem uma música de uma banda americana, The Steve Miller Band que diz:

"You got to go through hell before you get to heaven."

Não foi tão difícil assim, mas ainda penso naqueles quibes.

Resumo da ópera: proposta na mão, várias reuniões com os "rola-grossa" da agência e a carta de alforria liberada. Na próxima quarta-feira começo como diretor de criação da Team Young & Rubicam.

Segundo: De que vale estar no Oriente Médio se você só toma Coca Cola e chá gelado?

Por isso decidi viver uma experiência decididamente beduína: tomei leite de camelo - ou melhor, de camela. Tudo bem que vem embalagem de plástico e é processado em instalações ultra-modernas - além de custar o dobro do leite normal.

Pode não ser tão radical quanto a primeira experiência que eu narrei, mas fica muito melhor com chocolate.

Pena que aqui não tem Nescau.


A aventura continua.

Monday, November 06, 2006

O dilema do escritor.

O meu problema recentemente...bom, não tão recentemente assim, é que não me faltam idéias para postar no blog. O fato é exatamente o contrário. Estou com um excesso de notícias e fatos interessantes para escrever no blog e não sei por onde começar.

Só para ter uma idéia do que tem na minha cabeça:

1 - Vou mudar de emprego na semana que vem.

2 - Passou o verão.

3 - Comemos feijoada semana passada.

4 - As mulheres locais também saem para correr...todas cobertas.

5 - Casar para o muçulmano tradicional é uma coisa complicada.

6 - Como vim parar aqui.

7 - Os nativos - ou locais - acham que são os donos do lugar. E estão certos.

8 - Aventuras no Dia das Bruxas.

9 - Livros, livros, muitos livros. Abriu a primeira Borders (uma livraria imensa) no Mall of the Emirates.

10 - A Carolina cada vez mais menina.

11 - Coisas que fazem falta no Brasil.

12 - Minha última viagem para o Líbano.

13 - O que está tocando no meu iPod. (Só para dar um gostinho: Scissor Sisters - uma banda que faz um som dançante que tem os Bee Gees como avós e o Elton John como avó. Muito boa.)

Por onde começar então?
Olha só um comercial que eu fiz: