Tuesday, August 30, 2005

O papo pequeno.

Eu sou muito mais interessante em português.
Isso pode ou não ser verdade, mas essa é a minha sensação.
O problema é que as aulinhas de inglês não nos preparam para sermos interessantes.
Somos treinados para ser uma figura esquemática de ser humano. Sem opiniões ou vontades.
Elas ajudam a oferecer copos de café e pedaços de bolo. A perguntar que horas são e onde eu pego o trem para o aeroporto.
Mas me pegam de jeito e começam a falar sobre futebol.
Como caramba se fala meia-esquerda em inglês? Half-Left ou half-sock? Não vem nada. A sensação é péssima.
Como se fala lençol (não aquele de usar na cama - já imaginou você dizendo que "the player made a bed linen on his adversary"). Tocar de letra, embaixada, firula, cera... Não faço a mínima idéia de como falar essas coisas em inglês.
Neste começo de vida no exterior somos vítimas constantes do papo pequeno. Quando chega a hora de jogar conversa fora deixamos de ser profissionais sofisticados e nos transformamos em brucutus gagos.
Consigo defender brilhantemente uma campanha milionária, falar de problemas sociais no Brasil e detalhes da política externa americana.
Agora me peçam para falar sobre como é um churrasco ou sobre festa junina que não tem jeito.
Como descrever uma macarronada de domingo?
Me chamem para passar meia hora conversando banalidades sobre coisas para comprar para casa e eu vou ser a pessoa mais desinteressante do planeta. Eu nem lembro como se chama o tapete para colocar na porta de casa.
Você fica se sentindo mais ou menos como aquele personagem do antigo programa do Jô Soares (lembram quando ele era engraçado?) que levava uma invertida e só conseguia falar "Ah é, é? Ah é, é?". Aí quatro horas depois ele arrumava uma resposta brilhante.
Esses brancos vão ficando menos frenquentes e prolongados. Mas continuam assobrando minhas conversas.
Por isso eu prefiro falar sobre os rumos do capitalismo num contexto de revolução dos meios de produção do que da última partida da seleção.
A propósito, o tal tapete se chama door mat.
Ah é, é?

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