Cada música tem a sua história.
Duas coisas me fizeram pensar isso. Primeiro foi ter comprado o iPod. Para quem não tem um MP3 player portátil não faz muito sentido, mas poder carregar uma tonelada de músicas com você faz uma enorme diferença. Para um solitário num país árabe faz mais ainda. Tudo bem, tudo bem, as pessoas aqui são legais mas como suas relações ainda não estão solidificadas você continua sendo um solitário uma boa parte do tempo. Principalmente nos finais de semana, onde você tem ócio de sobra para te acompanhar.
O iPod preencher os vazios da caminhada até o carro, a da hora que você passa fritando dos hambúrgueres de frango, aquela relaxada antes de dormir, as compras no supermercado e nos momentos em que você não está fazendo - nem querendo fazer - nada.
Minha Querida e Amada Adriana descreveu o iPod assim: a trilha sonora da sua vida.
E esse comentário não poderia ser mais profundo.
Tenho aqui muitas músicas - e ando canibalizando ainda mais de outros computadores.
Quando a gente ouve músicas que gostamos realmente em geral associamos com algum acontecimento em nossas vidas.
É uma delícia essa sensação de recapturar um momento perdido na curva do espaço tempo. Uma sensação breve de contato com alguém que fomos.
Mas essa sensação é abafada pelos barulhos do nosso dia-a-dia.
Mas aqui não. Os silêncios são muitos e eu consigo escutar esses Guilhermes de outrora claramente.
Light My Fire, do Doors me faz voltar ao primeiro ano da faculdade. Me faz ver o Rodrigão, a San, o Pequeno, o Fernando, a Biju e tantos outros. Sei que eles vão estar lá no CA me esperando para jogar conversa fora.
Em The Number of the Beast estou na numa danceteria em Campinas em 1984, fazendo cara de mau e fingindo não gostar de New Wave. Só indo para a pista de dança quando tocava heavy metal.
Aí vem Sweet Child O'mine e estou de volta ao quartel, saindo com a galera para desopilar a tensão acumulada e dar muitas risadas. Criando amizades que vão me acompanhar para todo o sempre. Lá estão o Colt, o Valério, o Tangão com seu Tangomóvel, o Véio, o Cássio, o DiDio, o Cyro e tantos outros...logo ali, perto do palco onde o Artigo 26 está tocando.
De repente vem In My Life dos Beatles e estou em vários lugares ao mesmo tempo. Sou o garoto magrinho (sempre ele) com uns 8 anos de idade ouvindo um vinil no Rio de Janeiro.
Toca uma do Frank Zappa e estou bêbado no carro com meu brother André. O show no Delta Blues nem começou e já estamos bêbados. Não tente fazer isso sem a ajuda de profissionais treinados.
Vem uma do Huey Lewis e estamos em Camburi, eu, o Romolo, o Russo e o Sarrafa. Porradinhas de uíque, galinhão e muitas risadas. Golfada!!!
Ao mesmo tempo estou me casando com a minha Musa e pareço o Ronie Von. Meus amigos-irmãos estão ali, apesar de ser quase impossível reconhecê-los com suas roupas dos anos 70.
Vem mais uma do Ozzie e estou andando com o meu grande irmãozinho Serafa para as nossas respectivas casas em Perdizes. Os dois lembrando de um monte de clássicos das nossas infâncias e cantando suas melodias no meio da noite.
Aí toca a pouco conhecida Hooked on the Feeling do filme Cães de Aluguel e me lembro do dia em que encontrei aquela que viria a ser minha companheira-namorado-esposa. E eu cantando para ela, desse meu jeito meio exagerado e maluco de quem não canta bem, mas adora tocar o horror no palco.
Vem Speed of Sound, do Coldplay e essa é a música de Dubai. Acho que as músicas escolhem os momentos, e não o contrário. Tem horas que elas parecem, sei lá, certas.
E essa é a trilha sonora da minha vida. Ou pelo menos parte dela.
O volume 1, acho.
1 comment:
Gui,
Só uma sugestão. Por que você não muda o nome do teu blog para "Dubailacobaco"?
Um abraço,
Rafael Chambouleyron
PS. Mande um abraço para o Massud
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