O iPod e o Corão.
Faz algum tempo que eu tenho vontade de comprar um iPod. A maioria das pessoas sabem que não sou muito ligado nestes itens de consumo da moda e gastar dinheiro com algo que não é nem livro nem filme é sempre uma tarefa cerebral e sofrida para mim. Pois é, a meses venho avaliando a possibilidade de ter um desses aparelhinhos bonitinhos. No Brasil a idéia nem me passava pela cabeça, tinha muito armário e piso para pagar para que eu me sentisse confortável pagando uma grana pelo trocinho. Outra coisa que me segurava era o fato de que no Brasil eu era o dono da minha empresa. O que eu fazia é o que eu ganhava, nem mais nem menos. É uma sensação estranha para quem foi assalariado toda a vida. Quando você é assalariado a relação entre o que você produz e o que você ganha não é muito clara. Num mês você trabalha para cacete, vira noites e fins de semana e ganha x. No outro mês você não faz nada, fica jogando no computador e conversando sobre cinema e ouvindo umas fofocas e ganha o mesmo x. A linha divisória é nebulosa.
Já quando você ganha pelo que você produz - que era o meu caso no Brasil, como palestrante - a ligação é clara.
Se eu dou um curso ou palestra eu ganho x. Se não dou nenhum curso e nenhuma palestra não ganho nada. Simples assim.
Os empresários são como formigas enquanto os assalariados podem se dar ao luxo de ser cigarras de vez em quando.
A sensação era mais ou menos essa: você pede um chopp para o garçon e pensa "para pagar esse chopp vou ter que falar por 4 minutos e 17 segundos". O maldito guardador de carros vem pedir uma graninha - e vocês sabem como eu adoro isso - e eu penso "vou ter que falar 2 minutos e 43 segundos por causa deste maldito" e por aí vai.
Por tanto estou eu aqui, de volta ao mundo dos assalariados, nesta vida nebulosa da mais-valia.
E tenho pensado muito, mas muito mesmo se eu compro ou não o bendito iPod.
Já se passaram quase 2 meses e nada de iPod. As forças em conflito tem garantido a imobilidade do meu dinheiro dentro da carteira. Um lado dizendo "Sim! Compre! Você merece!" e o outro dizendo "Não! Não compre! Você não precisa!". Resultado: empate técnico.
Até que aconteceu a morte do Rei Fahd.
E o rádio com o corão.
E a terrível notícia de que o luto oficial vai durar 7 dias inteiros. Mais 5 dias inteiros de corão non-stop.
iPod, aqui vou eu!!!
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