O Rei Fahd e as rádios de Dubai.
Ontem morreu o soberano saudita, o Rei Fahd.
Dono, digo, regente de uma potência vizinha, a morte desta figura importante trouxe uma comoção local.
A maior parte foi causada pela expectativa de que o governo de Dubai decretasse luto oficial de dois dias. Realmente eles levam esse negócio a sério.
Acho que se o presidente da Argentina morresse os brasileiros também deixariam de trabalhar.
Infelizmente essa informação não se confirmou.
A morte do Rei Fahd afetou profundamente minha vida.
Ontem, quando saí daqui alegremente para ir para casa, sentei no carro e liguei meu companheiro fiel nos 30 quilômetros que separam a Sheikh Zayed Road e as Emirates Towers da simpática villa que alugo no residencial de Springs - o rádio.
Já estava na minha rádio favorita, onde volta e meia ouço a minha música símbolo de Dubai: Speed of Sound do Coldplay.
Eu não sei porquê a gente sempre associa uma música específica a uma situação ou pessoa. Em geral a música não tem nada a ver. Talvez seja diferente. Talvez seja a música que escolhe você. Ela chega e decide entrar na sua cabeça com força e, não importa o que você esteja fazendo e pensando no momento, você passa a associar isso com a música.
Mas liguei o radinho - aquele carrinho não tem CD, só toca-fitas - que já devia estar tocando algum roquinho meia-boa pelo menos e, para minha surpresa, ouço um velho cantando algo em árabe, sem acompanhamento. Só aquela ladainha num tom monocórdio e interminável. Olho para o mostrador surpreso achando que tinha trocado de estação sem querer. Nada, era ela mesma. Será que aqui eles têm Voz do Brasil, ou melhor, Voz de Dubai e eu nunca reparei? Troco para a minha segunda preferida, e outra, e outra e outra. Está para todos os lados. Uma espécie de cântico parecido com o David Lee Roth cantando aquele finzinho de Just a Gigolo, mas beeeeeeeeem devagar e sem acompanhamento (acho que não música também não tem, mas a frase ficou mais legal assim).
A viagem até minha casa, que em geral demora uns 20 minutos, demorou 9 dias para passar. Maldito rádio!
Procurei, procurei até que achei uma única rádio que não tinha algum velho orando. Achei, mas talvez fosse melhor não ter achado. Essa rádio estava tocando um soft jazz tão chinfrim, mas tão chinfrim que fiquei com saudades dos cânticos.
Hoje de manhã eu ainda tinha esperanças. Não demorou muito para descobrir que o luto continua.
E minha viagem continua interminável...
O rei morreu, vida longa ao rei!
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