Os Dubaianos sandalhudos.
Um detalhe interessante sobre os locais é que eles adoram usar suas vestimentas tradicionais - ou dish dashas.
Eles estão para todos os lados. E como todos se vestem de branco com a peça de tecido branca na cabeça - que se chama guthra, se não me engano - todos têm a aparência de milionário do petróleo de filme de Hollywood.
É a democratização da moda. Não dá para saber se o cara é rico ou não, mas a chances são boas porque a renda per capita de Dubai, senão a mais alta está entre as maiores do mundo. A maioria deles trabalha para o governo - que paga bem e exige bem menos que a iniciativa privada. Todo local quer trabalhar para o governo.
Lembram-se daquela concorrência que atormentou minha vida por uns 10 dias? Era um trabalho para o governo de Dubai. Eles querem integrar mais os locais na setor privado - participação que atualmente é quase inexistente. Querem entender o pepino em que me meti? Vamos lá.
Eu tinha que fazer duas campanhas (isso para só um dos trabalhos, porque tinham mais 4 campanhas para outros setores do governo também) uma para convencer os empresários do setor privado a contratarem os dubaianos e outra para convencer os dubaianos a buscarem empregos no setor privado.
Problemas? Bom, os empresários acham que os locais não querem trabalhar muito, querem uma carreira rápida e salários altos.
Os dubaianos acham que as empresas do setor privado querem que eles trabalhem demais, têm um plano de carreira muito lento e pagam pouco.
Estão vendo o tamanho do meu dilema?
Soma-se isso ao prazo, apertado, à equipe desmotivada, irresponsável (não todos, mas uma boa parte) e cansada, à quantidade de trabalho que tinha de ser feita e ao fato de as campanhas terem sido bombadas 3 dias antes da apresentação - e bombadas de novo na noite anterior à apresentação. Uma noite em claro, muita tensão e um grupo de fiéis escudeiros se superando e chegamos lá. O resultado foi excelente. Teve um momento em que tive que me transformar no juiz Nicholas Marshall e fazer justiça com as próprias mãos - todas as campanhas sairam da minha cabeça - mas a equipe fez tudo acontecer.
Um pesadelo com final feliz, espero.
Mas eu me lembrei disso não só pelo fato de estar falando dos locais, mas porquê a campanha foi apresentada para locais ligados diretamente ao Sheikh Maktoon - líder supremo master-blaster com porção extra de muzzarela local. Ou seja, os caras não são fracos não!
Mas o que eu notei é que eles estavam com seus dish dashas tradicionais mas com sapatos de executivos. Isso é interessante porque a imensa maioria dos locais usam sandálias. As mulheres que frequentam as Emirates Towers, onde fica a agência, visitam as lojas do shopping center dos pisos inferiores vestidas de preto, com o cabelo e, muitas vezes, com o rosto coberto. E não ficam só andando não. Compram. E compram muito!
São lojas como Cartier, Valentino...sei lá, tudo muito caro.
No shopping Ibn Batuta tem ainda mais locais - e ainda mais mulheres totalmente cobertas. Muitas delas.
Eu vivo me perguntando como os maridos acham elas quando se separam no shopping. Vai ver que eles memorizam o formato. Ou desenvolveram bulbos olfativos comparáveis a um pastor alemão.
Talvez eles só descubram em casa. E se preferirem o material, nada de devolver.
Imagina se uma comunidade de swing existisse aqui? Os caras iam aprontar em todo lugar e ninguém ia ficar sabendo...
O mais legal é que muitas delas usam tênis. Dois mundos que não tem nada a ver: roupa preta, rosto coberto, mãos cobertas e Nike Shox prateado. Sensacional!
Mas lá vão os locais com suas sandálias, suas BMWs SUVs, suas Mercedes e outros itens de luxo.
O que eu não me conformo é que os sandalhudos tem aquele calcanhar esbranquiçado e farinhento de tio brasileiro.
Passa um cremezinho, pelo menos.
Será que é reação alérgica com tapete de carro de luxo?
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