Essa vale a pena contar.
Assim que aluguei meu carrinho feio senti novamente aquela sensação incômoda que você tem quando está se aventurando em um ambiente novo.
Eu comparo essa sensação a de uma pessoa que acordou de um coma de 20 anos. As coisas lembram o que você estava acostumado. As paisagens tem algo de semelhante, mas a sensação de desorientação permanece. As coisas não fazem sentido como deveriam. E parece que seus membros não se mexem com a desenvoltura que deveriam porque simplesmente, não estão acostumados com a situação.
Você fica parecido com aquele cara que vai jogar basquete com os amigos basqueteiros e que nunca joga basquete, apesar de não ser descoordenado. Quem joga basquete sabe o que esperar de outro jogador de basquete. Os movimentos são previstos, esperados. Com o novato é diferente. Parece que sempre está sobrando um joelho ou um cotovelo no lugar errado.
Eles nunca fazem o que se espera, por isso o resultado é, invariavelmente, uma o mais pessoas no chão.
Quando a gente dirige num país novo é como se fôssemos novatos numa quadra de basquete que acabaram de sair de um coma. Somos um perigo. E tome buzinada!
No segundo dia com o carro estava mais desenvolto, mas ainda não dominava. Ainda mais essas coisas xoxas que são os carros hidramáticos. A forma menos sensual de dirigir um carro - parece que tem um tiozinho com alzheimer responsável por trocar as marchas, elas nunca entram na hora certa.
Eis que estou dirigindo e uma coisa começa a apitar. Cinto? Combustível? Porta aberta? Pneu furado? O que será que o novato tinha feito de errado? Logo agora que estava começando a me sentir confiante. Parou.
Nesta noite eu deixei o carro no estacionamento aqui do lado e fui para casa com um amigo. Ele mora do lado de casa e queria me mostrar a vizinhança. Grande cara o Rami Bakkar. Fomos até a Dubai Marina - mais um empreendimento monstro ultra-luxuoso perto de casa. Uma marina excavada terra adentro. Impressionante. Lá tem uma fonte de águas que dançam que é uma das coisas mais bregas - e hipnóticas - que eu já vi. Perfeito para crianças e brasileiros recém saídos do coma.
No dia seguinte o Rami me pega na sua mercedes e vamos para o trabalho. No meio do caminho o carro dele começa a apitar.
O que é isso, perguntei.
E ele me responde que o governo manda eles colocarem isso em todos os carros. Um apito que começa a tocar quando você passa de 120 por hora. Bingo! O mundo volta a fazer sentido!
A parte boa é que funciona - grande idéia para os governantes da terra do Pau-Brasil.
A ruim é que você se acostuma e passa a ignorar, como um monte de coisas importantes na vida.
Mas é bom estar acordado.
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