Minha maior aventura em Dubai.
Ontem me lancei num território novo e desconhecido. Decidi mais uma vez sair da zona de conforto (como se eu estivesse em uma) e arriscar tudo em um empreendimento arriscado e assustador. Vocês sabem que eu sou corajoso, mas desta vez mesmo para meus padrões quase foi demais, estive prestes a desistir.
Fui cortar o cabelo.
Vocês acham que isso é fácil?
Primeiro você está em um país completamente diferente. Depois você percebe que nas suas aulinhas de inglês nunca houve uma lição sequer em que você tem uma alegre conversação com um barbeiro ou cabelereiro. Ou seja, você está basicamente no escuro.
A aventura começou quando perguntei para um amigo aqui da agência, o Khaled, um egípcio muito gente boa, e para um amigo dele - um indiano chamado Sahil, não menos legal - onde cortar o cabelo. Eu sabia que a pedrada não ia ser fácil - e vocês sabem como a minha separação com o dinheiro quando relacionada a atos de vaidade é difícil. Eles falaram de lugares que custam 200 DHS ((dirhams, para quem não sabe - é a moeda local - uns 140 pilas). Mas também achavam muito caro. Tinham outros por 100 e eles disseram que o negócio era ir até Jumeira Beach que tinha uns salões simplezinhos que cobravam até 10 DHS - agora eles estavam falando a minha língua.
Óbvio que eu fui até lá e não achei nenhum salão. Devo ter passado na frente mas não vi nenhum.
Aí me lembrei de um lugar que era perto do hotel onde fiquei as primeiras semanas depois de chegar a Dubai.
É no meio do bairro indiano em Bur Dubai e realmente custava 10 DHS! Barato até para o Brasil.
Como já estava no meio do caminho não foi difícil chegar lá.
Conferi o preço na janela - realmente 10 DHS, e com direito a massagem na cabeça no fim - e entrei.
Um cara estava fazendo a barba de um indiano com aquela coisinha colorida na testa e dois caras estavam estirados nos sofás, dormindo.
Aí o que está fazendo a barba acorda um que está dormindo e ele acorda, meio descabelado e com cara de travesseiro - mesmo que não tivesse nenhum travesseiro na cena.
Esse foi o momento da decisão, aquela hora em que você sente a adrenalina sendo bombeada. Me lembrou a hora em que estava no meio da ponte na Nova Zelândia e tinha chegado o momento de pular. Pulei, quero dizer, mandei o cara cortar o cabelo.
Não teve nenhum problema com o inglês - ele não entendia nada, a não ser uma palavra: short!
Ele começou e a cortar, e não parava mais. E nestas horas eu gostaria de ser religioso para pedir aos céus "Senhor, por favor, não permita que esta boa alma corte meu cabelo tijelinha e nem que ele raspe minhas costeletas na altura da orelha."
A finalização foi feita inteirinha com gilete - novinha por sinal. Mais emoção. Muita emoção. Mas o descabelado mandou bem.
Para coroar minha aventura ele pega uma máquina que parece um daqueles negócios de amassar cimento e que vibra e liga em cima da minha cabeça - essa era a massagem.
Posso te dizer que estou tendo um curso avançado de linguagem de sinais, porque funcionou, não sei bem como.
Saí feliz da vida com meu cabelo cortado, por 10 DHS e com a sensação de ter vivido uma grande aventura.
Mais barato que o bungy jumping.
Sunday, July 31, 2005
Thursday, July 28, 2005
Essa vale a pena contar.
Assim que aluguei meu carrinho feio senti novamente aquela sensação incômoda que você tem quando está se aventurando em um ambiente novo.
Eu comparo essa sensação a de uma pessoa que acordou de um coma de 20 anos. As coisas lembram o que você estava acostumado. As paisagens tem algo de semelhante, mas a sensação de desorientação permanece. As coisas não fazem sentido como deveriam. E parece que seus membros não se mexem com a desenvoltura que deveriam porque simplesmente, não estão acostumados com a situação.
Você fica parecido com aquele cara que vai jogar basquete com os amigos basqueteiros e que nunca joga basquete, apesar de não ser descoordenado. Quem joga basquete sabe o que esperar de outro jogador de basquete. Os movimentos são previstos, esperados. Com o novato é diferente. Parece que sempre está sobrando um joelho ou um cotovelo no lugar errado.
Eles nunca fazem o que se espera, por isso o resultado é, invariavelmente, uma o mais pessoas no chão.
Quando a gente dirige num país novo é como se fôssemos novatos numa quadra de basquete que acabaram de sair de um coma. Somos um perigo. E tome buzinada!
No segundo dia com o carro estava mais desenvolto, mas ainda não dominava. Ainda mais essas coisas xoxas que são os carros hidramáticos. A forma menos sensual de dirigir um carro - parece que tem um tiozinho com alzheimer responsável por trocar as marchas, elas nunca entram na hora certa.
Eis que estou dirigindo e uma coisa começa a apitar. Cinto? Combustível? Porta aberta? Pneu furado? O que será que o novato tinha feito de errado? Logo agora que estava começando a me sentir confiante. Parou.
Nesta noite eu deixei o carro no estacionamento aqui do lado e fui para casa com um amigo. Ele mora do lado de casa e queria me mostrar a vizinhança. Grande cara o Rami Bakkar. Fomos até a Dubai Marina - mais um empreendimento monstro ultra-luxuoso perto de casa. Uma marina excavada terra adentro. Impressionante. Lá tem uma fonte de águas que dançam que é uma das coisas mais bregas - e hipnóticas - que eu já vi. Perfeito para crianças e brasileiros recém saídos do coma.
No dia seguinte o Rami me pega na sua mercedes e vamos para o trabalho. No meio do caminho o carro dele começa a apitar.
O que é isso, perguntei.
E ele me responde que o governo manda eles colocarem isso em todos os carros. Um apito que começa a tocar quando você passa de 120 por hora. Bingo! O mundo volta a fazer sentido!
A parte boa é que funciona - grande idéia para os governantes da terra do Pau-Brasil.
A ruim é que você se acostuma e passa a ignorar, como um monte de coisas importantes na vida.
Mas é bom estar acordado.
Assim que aluguei meu carrinho feio senti novamente aquela sensação incômoda que você tem quando está se aventurando em um ambiente novo.
Eu comparo essa sensação a de uma pessoa que acordou de um coma de 20 anos. As coisas lembram o que você estava acostumado. As paisagens tem algo de semelhante, mas a sensação de desorientação permanece. As coisas não fazem sentido como deveriam. E parece que seus membros não se mexem com a desenvoltura que deveriam porque simplesmente, não estão acostumados com a situação.
Você fica parecido com aquele cara que vai jogar basquete com os amigos basqueteiros e que nunca joga basquete, apesar de não ser descoordenado. Quem joga basquete sabe o que esperar de outro jogador de basquete. Os movimentos são previstos, esperados. Com o novato é diferente. Parece que sempre está sobrando um joelho ou um cotovelo no lugar errado.
Eles nunca fazem o que se espera, por isso o resultado é, invariavelmente, uma o mais pessoas no chão.
Quando a gente dirige num país novo é como se fôssemos novatos numa quadra de basquete que acabaram de sair de um coma. Somos um perigo. E tome buzinada!
No segundo dia com o carro estava mais desenvolto, mas ainda não dominava. Ainda mais essas coisas xoxas que são os carros hidramáticos. A forma menos sensual de dirigir um carro - parece que tem um tiozinho com alzheimer responsável por trocar as marchas, elas nunca entram na hora certa.
Eis que estou dirigindo e uma coisa começa a apitar. Cinto? Combustível? Porta aberta? Pneu furado? O que será que o novato tinha feito de errado? Logo agora que estava começando a me sentir confiante. Parou.
Nesta noite eu deixei o carro no estacionamento aqui do lado e fui para casa com um amigo. Ele mora do lado de casa e queria me mostrar a vizinhança. Grande cara o Rami Bakkar. Fomos até a Dubai Marina - mais um empreendimento monstro ultra-luxuoso perto de casa. Uma marina excavada terra adentro. Impressionante. Lá tem uma fonte de águas que dançam que é uma das coisas mais bregas - e hipnóticas - que eu já vi. Perfeito para crianças e brasileiros recém saídos do coma.
No dia seguinte o Rami me pega na sua mercedes e vamos para o trabalho. No meio do caminho o carro dele começa a apitar.
O que é isso, perguntei.
E ele me responde que o governo manda eles colocarem isso em todos os carros. Um apito que começa a tocar quando você passa de 120 por hora. Bingo! O mundo volta a fazer sentido!
A parte boa é que funciona - grande idéia para os governantes da terra do Pau-Brasil.
A ruim é que você se acostuma e passa a ignorar, como um monte de coisas importantes na vida.
Mas é bom estar acordado.
Os indianos e Dubai.
Certamente eu já contei para vocês que 60% da população de Dubai é composta por indianos. Estes parentes do Rivellino torradinhos estão para todo o lado. Estão espalhados por toda a economia de Dubai, em geral em posições mais baixas e sub-remuneradas. Estão nos táxis, nos supermercados e nas construções. E pode ter certeza que são MUITAS construções.
Estive aqui em Dubai pela primeira vez em outubro de 2004. O lugar parecia um canteiro de obras. Eles estão construindo em todos os lugares e sempre coisas enormes. Nunca é uma casinha, um predinho, uma vendinha. Tudo aqui é mega, com fritas e refrigerante grande. Mas o ponto é que estava aqui em outubro e vi como esse movimento era intenso e vibrante. Os caras realmente estão fazendo este lugar acontecer. Obras de uma magnitude que não tem paralelo em lugar nenhum do mundo. Uma ilha artificial - na verdade já são três - com mais de 10 quilômetros em formato de palmeira, que vai alojar casas e prédios de luxo, ilhas particulares que juntas formam um mapa múndi (é como ter o seu próprio país, dizem), pistas de esqui com neve, parques aquáticos gigantescos, centros financeiros enormes, cidades-hospital, cidades-evento, cidades-internet e cidades-empresa de mídia. Tudo isso permitindo um crescimento que é quase impossível de acompanhar.
Eu senti a diferença 7 meses depois da minha primeira visita. A cidade parecia diferente. E não aquela diferença sutil que você sente quando fica alguns meses longe de um lugar conhecido. Ela realmente estava diferente. Coisas que nem existiam antes estavam completas, muitas outras estavam começando a acontecer, tudo com o caracterísco gigantismo das coisas por aqui. E o que acontece quando tem tanto dinheiro envolvido? Primeiro os aluguéis disparam e segundo surgem infindáveis oportunidades de trabalho. É aí que entram os indianos.
Em geral os expatriados - nós gringos - que vem do ocidente em geral vem ganhar uma grana boa e levar uma vida melhor ainda. Os expats do resto do oriente médio também.
Mas uma nação terceiromundista vizinha que tem mais de 1 bilhão de habitantes pode fornecer uma força de trabalho monstruosa, por um precinho camarada. É um bom negócio para todos os lados. As empresas locais pagam pouco e, o trabalhador indiano (para os seus padrões) ganha muito. O principal empregador é o setor da Construção Civil (sim, com maiúscula, porque tudo aqui é gigante). É só ver um pedaço desocupado de deserto - e, acreditem, tem muito aqui - e os caras começam a levantar algum prédio. Uma nova obra e lá vem os indianos. Este é o lado duro desta brilhante Dubai que está sendo criada. Estes personagens esquecidos vem para cá tentar a sorte e trabalhar por 12, 14 horas num calor que, altualmente, passa dos 44 graus facilmente. Em condições de trabalho terríveis, muitas vezes sem segurança e sem descanso.
E nós, felizes expats em nossos ar-condionados ambulantes, observamos tudo protegidos por uma camada de vidro e de alienação. Afinal, Dubai é o lugar de cuidar dos seus interesses - e nada mais não é?
Estar longe de casa faz a gente olhar para essas coisas e percebê-las, como se fosse a primeira vez. Mas será que é?
Será que a mesma novela não está acontecendo na pátria mãe tupiniquim mesmo agora? E nós simplesmente fomos treinados para ignorar este cenário?
O fato é que todos estão aqui para perseguir um sonho. E cada um tem o seu.
Para os rivellinos torradinhos talvez este sonho seja mandar o dinheiro suado - e realmente eles fazem por merecer a expressão - para uma obscura província na Índia, para uma família que, muitas vezes, passar 2 anos sem ver.
Assim é a vida, em Dubai e no resto do mundo.
Certamente eu já contei para vocês que 60% da população de Dubai é composta por indianos. Estes parentes do Rivellino torradinhos estão para todo o lado. Estão espalhados por toda a economia de Dubai, em geral em posições mais baixas e sub-remuneradas. Estão nos táxis, nos supermercados e nas construções. E pode ter certeza que são MUITAS construções.
Estive aqui em Dubai pela primeira vez em outubro de 2004. O lugar parecia um canteiro de obras. Eles estão construindo em todos os lugares e sempre coisas enormes. Nunca é uma casinha, um predinho, uma vendinha. Tudo aqui é mega, com fritas e refrigerante grande. Mas o ponto é que estava aqui em outubro e vi como esse movimento era intenso e vibrante. Os caras realmente estão fazendo este lugar acontecer. Obras de uma magnitude que não tem paralelo em lugar nenhum do mundo. Uma ilha artificial - na verdade já são três - com mais de 10 quilômetros em formato de palmeira, que vai alojar casas e prédios de luxo, ilhas particulares que juntas formam um mapa múndi (é como ter o seu próprio país, dizem), pistas de esqui com neve, parques aquáticos gigantescos, centros financeiros enormes, cidades-hospital, cidades-evento, cidades-internet e cidades-empresa de mídia. Tudo isso permitindo um crescimento que é quase impossível de acompanhar.
Eu senti a diferença 7 meses depois da minha primeira visita. A cidade parecia diferente. E não aquela diferença sutil que você sente quando fica alguns meses longe de um lugar conhecido. Ela realmente estava diferente. Coisas que nem existiam antes estavam completas, muitas outras estavam começando a acontecer, tudo com o caracterísco gigantismo das coisas por aqui. E o que acontece quando tem tanto dinheiro envolvido? Primeiro os aluguéis disparam e segundo surgem infindáveis oportunidades de trabalho. É aí que entram os indianos.
Em geral os expatriados - nós gringos - que vem do ocidente em geral vem ganhar uma grana boa e levar uma vida melhor ainda. Os expats do resto do oriente médio também.
Mas uma nação terceiromundista vizinha que tem mais de 1 bilhão de habitantes pode fornecer uma força de trabalho monstruosa, por um precinho camarada. É um bom negócio para todos os lados. As empresas locais pagam pouco e, o trabalhador indiano (para os seus padrões) ganha muito. O principal empregador é o setor da Construção Civil (sim, com maiúscula, porque tudo aqui é gigante). É só ver um pedaço desocupado de deserto - e, acreditem, tem muito aqui - e os caras começam a levantar algum prédio. Uma nova obra e lá vem os indianos. Este é o lado duro desta brilhante Dubai que está sendo criada. Estes personagens esquecidos vem para cá tentar a sorte e trabalhar por 12, 14 horas num calor que, altualmente, passa dos 44 graus facilmente. Em condições de trabalho terríveis, muitas vezes sem segurança e sem descanso.
E nós, felizes expats em nossos ar-condionados ambulantes, observamos tudo protegidos por uma camada de vidro e de alienação. Afinal, Dubai é o lugar de cuidar dos seus interesses - e nada mais não é?
Estar longe de casa faz a gente olhar para essas coisas e percebê-las, como se fosse a primeira vez. Mas será que é?
Será que a mesma novela não está acontecendo na pátria mãe tupiniquim mesmo agora? E nós simplesmente fomos treinados para ignorar este cenário?
O fato é que todos estão aqui para perseguir um sonho. E cada um tem o seu.
Para os rivellinos torradinhos talvez este sonho seja mandar o dinheiro suado - e realmente eles fazem por merecer a expressão - para uma obscura província na Índia, para uma família que, muitas vezes, passar 2 anos sem ver.
Assim é a vida, em Dubai e no resto do mundo.
Wednesday, July 27, 2005
EU NÃO SEI SAMBAR!!!
É um choque. Lidar com os estereótipos do brasileiro é uma coisa engraçada. Eu não estava acostumado com isso.
Quando você vai os Estados Unidos não tem esse problema. Eles sabem que o Brasil é um país - nem todos - mas não sabem se é para cima ou para baixo, para os lados ou em outro planeta. Os intelectuais talvez saibam que aqui tem carnaval e os realmente bem informados dirão que ouviram falar de um jogador de soccer - porque futebol para eles é aquele jogo de xadrez protagonizado por ogros - chamado Péle (com acento agudo na primeira sílaba mesmo).
A única superpotência do planeta nos ignora. E quando não nos ignora coloca algum infeliz falando espanhol para representar um brasileiro quase figurante em algum filme de ação meia-boca.
Mas quando você está no oriente médio as coisas são diferentes. Aqui todos amam o Brasil. Óbvio que é um Brasil distorcido, mas interessante. É um Brasil onde TODOS jogam futebol, dançam samba e vivem num carnaval eterno.
Para eles o Brasil é o maior país libanês do mundo - tem o dobro de libaneses do Líbano.
Não aguento mais ouvir coisas sobre o Ronaldinho, o Ronaldo dentuço, perguntas sobre o Robinho e até sobre jogadores brasileiros obscuros que nem eu começo.
Tenho que estar preparado para os olhares horrorizados quando conto que não jogo futebol, mas sim basquete.
Futebol para mim só em churrasco - em geral acompanhado de boas doses de cerveja, que ajudam a melhorar a qualidade da minha malemolência de lateral direito driblador - ou para neutralizar meu senso do ridículo, o que dá no mesmo.
Hoje vieram me perguntar se eu era um grande dançarino de samba. Bom, quem já me viu dançando sabe que sou um passista que segue a escola do Príncipe Charles. Mas eu disse que realmente sei como me expressar na Marquês de Sapucaí - eles nunca saberiam a diferença. Se eles virem um local vou dizer que sou adepto do samba-força, ao invés do samba-arte.
A última coisa engraçada que aconteceu foi um papo com o pessoal aqui da agência em que uma garota me perguntou se era verdade que no carnaval todo mundo transava. Aí veio um outro cara e perguntou se era verdade que as pessoas transavam na praia, lá no Rio. E a minha cara, com fica? Digo com a voz do padre Quevedo "É MENTIRA, ISSO NON ECZISTE!!!".
Olha só a imagem que os selvagens dos trópicos estão passando. Por isso eu sempre detestei o carnaval. Essa festa pagã promove um desserviço para a imagem nacional que precisaríamos de umas 126 Embraers para mudar. Tudo bem, o Clóvis Bornay still rules na nossa memória com suas fantasias do tipo "Nagô Reluzente na Corte do Rei Salomão e sua Natureza Frondosa", mas vamos maneirar...
Levante a mão aquele que já assistiu ao desfile das escolas de samba inteirinho. (mas abaixe rapidinho, porque se eu te pegar...)
Pois é, os Brasis estão por aí...cada um tem sua versão.
Achou ruim? Agora imagina se você fosse de Bahrain e perguntasse para as pessoas o que acham de lá.
Viu como sempre tem alguém pior que você?
É um choque. Lidar com os estereótipos do brasileiro é uma coisa engraçada. Eu não estava acostumado com isso.
Quando você vai os Estados Unidos não tem esse problema. Eles sabem que o Brasil é um país - nem todos - mas não sabem se é para cima ou para baixo, para os lados ou em outro planeta. Os intelectuais talvez saibam que aqui tem carnaval e os realmente bem informados dirão que ouviram falar de um jogador de soccer - porque futebol para eles é aquele jogo de xadrez protagonizado por ogros - chamado Péle (com acento agudo na primeira sílaba mesmo).
A única superpotência do planeta nos ignora. E quando não nos ignora coloca algum infeliz falando espanhol para representar um brasileiro quase figurante em algum filme de ação meia-boca.
Mas quando você está no oriente médio as coisas são diferentes. Aqui todos amam o Brasil. Óbvio que é um Brasil distorcido, mas interessante. É um Brasil onde TODOS jogam futebol, dançam samba e vivem num carnaval eterno.
Para eles o Brasil é o maior país libanês do mundo - tem o dobro de libaneses do Líbano.
Não aguento mais ouvir coisas sobre o Ronaldinho, o Ronaldo dentuço, perguntas sobre o Robinho e até sobre jogadores brasileiros obscuros que nem eu começo.
Tenho que estar preparado para os olhares horrorizados quando conto que não jogo futebol, mas sim basquete.
Futebol para mim só em churrasco - em geral acompanhado de boas doses de cerveja, que ajudam a melhorar a qualidade da minha malemolência de lateral direito driblador - ou para neutralizar meu senso do ridículo, o que dá no mesmo.
Hoje vieram me perguntar se eu era um grande dançarino de samba. Bom, quem já me viu dançando sabe que sou um passista que segue a escola do Príncipe Charles. Mas eu disse que realmente sei como me expressar na Marquês de Sapucaí - eles nunca saberiam a diferença. Se eles virem um local vou dizer que sou adepto do samba-força, ao invés do samba-arte.
A última coisa engraçada que aconteceu foi um papo com o pessoal aqui da agência em que uma garota me perguntou se era verdade que no carnaval todo mundo transava. Aí veio um outro cara e perguntou se era verdade que as pessoas transavam na praia, lá no Rio. E a minha cara, com fica? Digo com a voz do padre Quevedo "É MENTIRA, ISSO NON ECZISTE!!!".
Olha só a imagem que os selvagens dos trópicos estão passando. Por isso eu sempre detestei o carnaval. Essa festa pagã promove um desserviço para a imagem nacional que precisaríamos de umas 126 Embraers para mudar. Tudo bem, o Clóvis Bornay still rules na nossa memória com suas fantasias do tipo "Nagô Reluzente na Corte do Rei Salomão e sua Natureza Frondosa", mas vamos maneirar...
Levante a mão aquele que já assistiu ao desfile das escolas de samba inteirinho. (mas abaixe rapidinho, porque se eu te pegar...)
Pois é, os Brasis estão por aí...cada um tem sua versão.
Achou ruim? Agora imagina se você fosse de Bahrain e perguntasse para as pessoas o que acham de lá.
Viu como sempre tem alguém pior que você?
Tuesday, July 26, 2005
É engraçado como você percebe o oceano que separa sua vida atual daquela confortável existência tupiniquim em pequenos detalhes.
Ao invés dos prédios imensos e dos árabes do golfo com suas roupinhas de magnata do petróleo, às vezes é o fato de comer um sanduíche numa lanchonete que te faz sentir com toda força que está em outro planeta.
Aqui não tem ovo colorido e nem tremoço. Também não tem chopp e nem steinhager.
Você para em uma lanchonete e, ao invés de um bauru ou de um misto quente, tem um frango tikka típico da Índia.
Você vai no shopping brega exagerado de Ibn Batuta (é esse o nome mesmo, acredite), que seria o sonho de consumo dos arquitetos do Shopping Dom Pedro tal a mistura de estilos e o tamanho do lugar, e vê redes de fast food árabes - e não é Habib's - tailandesas, indonésias e por aí vai.
Ontem eu dei uma passada lá para comprar um cabo RCA para o DVD de casa. E neste horário os locais - dos Emirados, digo - invadem todos os locais. Saem para consumir com a voracidade de leões que passaram por uma dieta de um mês só de salada e iogurte. São centenas de árabes sandalhudos e de mulheres de preto - women in black - uma boa parte com a cara coberta também. Mas elas consomem exatamente igual às ocidentais de cara descoberta. Estão para todo lado, principalmente nas lojas mais caras. Luxo é a palavra de ordem. O Athayde Patrese se sentiria em casa aqui.
Dubai é assim, luxo por todos os lados, mas sem um estilo definido. Eles importam tudo do bom e do melhor e misturam tudo com resultados algumas vezes no mínimo controverso. É como se o lugar tivesse sido colonizado pelos habitantes da Barra da Tijuca -talvez o Sheikh seja a Vera Loyolla.
Quem sabe?
Bom, deixa eu me empirulitar daqui.
Ao invés dos prédios imensos e dos árabes do golfo com suas roupinhas de magnata do petróleo, às vezes é o fato de comer um sanduíche numa lanchonete que te faz sentir com toda força que está em outro planeta.
Aqui não tem ovo colorido e nem tremoço. Também não tem chopp e nem steinhager.
Você para em uma lanchonete e, ao invés de um bauru ou de um misto quente, tem um frango tikka típico da Índia.
Você vai no shopping brega exagerado de Ibn Batuta (é esse o nome mesmo, acredite), que seria o sonho de consumo dos arquitetos do Shopping Dom Pedro tal a mistura de estilos e o tamanho do lugar, e vê redes de fast food árabes - e não é Habib's - tailandesas, indonésias e por aí vai.
Ontem eu dei uma passada lá para comprar um cabo RCA para o DVD de casa. E neste horário os locais - dos Emirados, digo - invadem todos os locais. Saem para consumir com a voracidade de leões que passaram por uma dieta de um mês só de salada e iogurte. São centenas de árabes sandalhudos e de mulheres de preto - women in black - uma boa parte com a cara coberta também. Mas elas consomem exatamente igual às ocidentais de cara descoberta. Estão para todo lado, principalmente nas lojas mais caras. Luxo é a palavra de ordem. O Athayde Patrese se sentiria em casa aqui.
Dubai é assim, luxo por todos os lados, mas sem um estilo definido. Eles importam tudo do bom e do melhor e misturam tudo com resultados algumas vezes no mínimo controverso. É como se o lugar tivesse sido colonizado pelos habitantes da Barra da Tijuca -talvez o Sheikh seja a Vera Loyolla.
Quem sabe?
Bom, deixa eu me empirulitar daqui.
Monday, July 25, 2005
Manhã de segunda-feira.
Para vocês ainda é a noite de domingo para segunda, mas para mim o dia já começou faz tempo.
Ainda é estranho pensar que a semana começa aqui no domingo. Nossos hábitos estão programados na nossa cabeça de uma forma tão intensa que é difícil mudar o significado de uma coisa aparentemente tão simples como a função dos dias da semana.
Afinal, foram 34 anos - quase 35 - comendo macarronada, vendo jogos de futebol geralmente péssimos, zapeando os 4 canais disponíveis e reclamando que não tinha nada de interessante para ver antes da TV a cabo, zapeando os 158 canais disponíveis e reclamando de que não tinha nada de interessante para ver depois da TV a cabo, ficando horrorizado com os faustões e gugus da vida e, pior de tudo, pensando "Droga, amanhã é segunda. Como foi que o fim de semana passou tão rápido? Não deu para fezer nada".
Pois é, de repente os domingos perderam seu significado. Mas nossa cabeça continua lutando contra isso. Ela parece não aceitar que os sábados não são mais mágicos, não são mais aquele dia em que a diversão não acaba. Sábado aqui é dia de faustão.
Aí fica a pergunta: será que o TGI Friday's faria sucesso aqui?
Para vocês ainda é a noite de domingo para segunda, mas para mim o dia já começou faz tempo.
Ainda é estranho pensar que a semana começa aqui no domingo. Nossos hábitos estão programados na nossa cabeça de uma forma tão intensa que é difícil mudar o significado de uma coisa aparentemente tão simples como a função dos dias da semana.
Afinal, foram 34 anos - quase 35 - comendo macarronada, vendo jogos de futebol geralmente péssimos, zapeando os 4 canais disponíveis e reclamando que não tinha nada de interessante para ver antes da TV a cabo, zapeando os 158 canais disponíveis e reclamando de que não tinha nada de interessante para ver depois da TV a cabo, ficando horrorizado com os faustões e gugus da vida e, pior de tudo, pensando "Droga, amanhã é segunda. Como foi que o fim de semana passou tão rápido? Não deu para fezer nada".
Pois é, de repente os domingos perderam seu significado. Mas nossa cabeça continua lutando contra isso. Ela parece não aceitar que os sábados não são mais mágicos, não são mais aquele dia em que a diversão não acaba. Sábado aqui é dia de faustão.
Aí fica a pergunta: será que o TGI Friday's faria sucesso aqui?
Sunday, July 24, 2005
Fiquei enrolando aqui jogando um joguinho estúpido no computador...
Vou para casa agora assistir um filme que peguei. Na verdade são dois - um desenho, Steamboy e um filme de suspense/terror - relic.
Vamos nessa que é bom à beça.
Postei esse post só para não perder o hábito de encher a cabeça de você, caro leitor, de bobagens que fazem parte do meu dia-a-dia.
Ah, tem algo notável para contar: hoje vi a primeira nuvem sobre Dubai, acreditam?
E mais do que isso, o tempo fechou mesmo, não dava para ver mais o céu azul que é uma constante.
Tudo isso foi seguido por...uma tempestade de areia!!!
E essa foi intensa. Como não tinha sol parecia que estava chovendo, ficou aquela neblina.
Não se via quase nada lá fora. Impressionante.
Será que ainda tem algum resquício? Vamos ver... (aliás, resquício é uma palavra muito boa!)
Quero ter a oportunidade de contar a vocês como é dirigir numa tempestade de areia. Dizem que logo, logo o bicho pega.
Inté.
Vou para casa agora assistir um filme que peguei. Na verdade são dois - um desenho, Steamboy e um filme de suspense/terror - relic.
Vamos nessa que é bom à beça.
Postei esse post só para não perder o hábito de encher a cabeça de você, caro leitor, de bobagens que fazem parte do meu dia-a-dia.
Ah, tem algo notável para contar: hoje vi a primeira nuvem sobre Dubai, acreditam?
E mais do que isso, o tempo fechou mesmo, não dava para ver mais o céu azul que é uma constante.
Tudo isso foi seguido por...uma tempestade de areia!!!
E essa foi intensa. Como não tinha sol parecia que estava chovendo, ficou aquela neblina.
Não se via quase nada lá fora. Impressionante.
Será que ainda tem algum resquício? Vamos ver... (aliás, resquício é uma palavra muito boa!)
Quero ter a oportunidade de contar a vocês como é dirigir numa tempestade de areia. Dizem que logo, logo o bicho pega.
Inté.
Friday, July 22, 2005
Para satisfazer a curiosidade de muitos, o meu ar-condicionado eh um Mitsubishi Lancer.
E ontem a droga do AC me deixou na mao.
Na hora de ir embora para casa a bateria estava morta. Demorou quase uma hora para um indiano de motoca aparecer para resolver o problema.
A parte legal eh que apareceu um cara que trabalha comigo para buscar o carro e ficamos trocando uma ideia. Gente boa o cara.
E ele tem uma BMW V12 de 1991 e pagou 25 mil reais, acreditam?
Coisas de Dubai...
E hoje foi a gloria.
Passei a tarde cuidando de lavar minha roupa.
Quem disse que estar no exterior nao tem seus momentos nobres.
Nao vejo a hora de arrumar uma empregada do Sri Lanka...
Soh aqui mesmo.
E ontem a droga do AC me deixou na mao.
Na hora de ir embora para casa a bateria estava morta. Demorou quase uma hora para um indiano de motoca aparecer para resolver o problema.
A parte legal eh que apareceu um cara que trabalha comigo para buscar o carro e ficamos trocando uma ideia. Gente boa o cara.
E ele tem uma BMW V12 de 1991 e pagou 25 mil reais, acreditam?
Coisas de Dubai...
E hoje foi a gloria.
Passei a tarde cuidando de lavar minha roupa.
Quem disse que estar no exterior nao tem seus momentos nobres.
Nao vejo a hora de arrumar uma empregada do Sri Lanka...
Soh aqui mesmo.
Thursday, July 21, 2005
Nas ruas de Dubai.
Pense em um carro caro?
Pois é, hoje eu já vi pelo menos um quatro desses.
Dubai é povoada por manadas de carros caríssimos. Bentleys, Porsches, Ferraris, Lamborghinis, Hummers, Mercedes, Mercedes, Mercedes e BMWs, BMWs, BMWs, BMWs...
Eles estão para todos os lados, em todos os lugares. Talvez porque aqui esses caros sejam mais baratos, por causa do imposto baixo. Talvez porque a cidade inspire esse consumismo alucinado e de padrões assustadores.
Com o imposto baixíssimo eles ficam caros para cacete, muito melhor do que no Brasil, onde eles são caros para caralho. (desculpe meu português de pé rachado)
O árabe não tem só predileção pelo caro, mas também pelo enorme. Se o carro for caro e enorme, melhor ainda.
Por isso SUVs com cara de Darth Vader são mania nacional.
E os caras dirigem chutado na estrada - e como são folgados. 180 na estrada e você, no seu humilde carrinho alugado, tem que pular para o lado, como se fosse aquela galinhazinha do jogo meia-boca de Atari.
Daqui para a minha casa são mais ou menos 25 quilômetros. Por "aqui" estou me referindo ao trabalho.
Por isso todos os dias vejo dúzias destes bólidos assassinos cruzando meu caminho.
E eu, com meu carrinho de aluguel. Ele não é exatamente um carro. Eu diria que é um ar-condicionado que me leva e busca do trabalho. Tudo bem que eu não queria jogar muita grana fora num carro alugado, mas por que que eles tinham que me arrumar um carro mais sem-graça que o João Kléber?
Tudo bem, se eles me incomodarem eu me vingo mandando uma foto do meu carro para a casa deles. Os caras não vão suportar.
Ah, as ruas aqui não tem bueiros.
E você sabe por que?
Pense em um carro caro?
Pois é, hoje eu já vi pelo menos um quatro desses.
Dubai é povoada por manadas de carros caríssimos. Bentleys, Porsches, Ferraris, Lamborghinis, Hummers, Mercedes, Mercedes, Mercedes e BMWs, BMWs, BMWs, BMWs...
Eles estão para todos os lados, em todos os lugares. Talvez porque aqui esses caros sejam mais baratos, por causa do imposto baixo. Talvez porque a cidade inspire esse consumismo alucinado e de padrões assustadores.
Com o imposto baixíssimo eles ficam caros para cacete, muito melhor do que no Brasil, onde eles são caros para caralho. (desculpe meu português de pé rachado)
O árabe não tem só predileção pelo caro, mas também pelo enorme. Se o carro for caro e enorme, melhor ainda.
Por isso SUVs com cara de Darth Vader são mania nacional.
E os caras dirigem chutado na estrada - e como são folgados. 180 na estrada e você, no seu humilde carrinho alugado, tem que pular para o lado, como se fosse aquela galinhazinha do jogo meia-boca de Atari.
Daqui para a minha casa são mais ou menos 25 quilômetros. Por "aqui" estou me referindo ao trabalho.
Por isso todos os dias vejo dúzias destes bólidos assassinos cruzando meu caminho.
E eu, com meu carrinho de aluguel. Ele não é exatamente um carro. Eu diria que é um ar-condicionado que me leva e busca do trabalho. Tudo bem que eu não queria jogar muita grana fora num carro alugado, mas por que que eles tinham que me arrumar um carro mais sem-graça que o João Kléber?
Tudo bem, se eles me incomodarem eu me vingo mandando uma foto do meu carro para a casa deles. Os caras não vão suportar.
Ah, as ruas aqui não tem bueiros.
E você sabe por que?
Wednesday, July 20, 2005
Essa é para você, Yeh...
Comer num país novo sempre é uma aventura.
Na Nova Zelândia, por exemplo, eu experimentei um Lamburger - hambúrguer de carne de Carneiro - foi uma das piores coisas que eu comi. E, invariavelmente, quando você pede essas coisas você sempre está trincando de fome e sem grana.
Ou seja, você tem que comer tudo e lamber o prato.
Minha primeira aventura aqui foi quando vim para cá no Ramadã. Para quem não sabe, o Ramadã é o mês em que os muçulmanos jejuam da hora que o sol nasce até a hora em que o sol se põe. Não pode nem beber água. Nas empresas locais e internacionais os muçulmanos mais praticantes que levam o jejum à sério saem às 3 horas da tarde durante o mês sagrado.
Eu não sabia como o lugar leva a sério esse negócio - nenhum restaurante ou lanchonete abre durante o dia. Nada, nadinha.
O panaca aqui sai para uma longa caminhada para dar uma avaliada no ambiente. Uma longa caminhada, diga-se de passagem. Ao final de uma hora e meia andando eu cheguei no mar, suando como um porco e já com a aparência de um camarão - e com as marcas de quem ficou no sol de camiseta, para completar a situação patética.
Aqui não dá para andar sem camiseta na rua, é considerado ofensivo.
Entrei nas águas do golfo, que tem a temperatura de uma jacuzzi, vi na praia alguns perdidos passeando - estes sim, com a vestimenta tradicional de um ocidental praiano, ou seja, quase nada - e decidi voltar.
Neste momento a fome já era grande. Andei, andei, andei e todos os lugares estavam fechados. McDonald's, Burger King's, KFC's, Pizza Huts e o Bar e Restaurante do Habib...tudo fechado. Já tinham se passado mais de 3 horas desde minha saída e a fome era grande. Depois de muito andar achei um shopping center onde, escondido no fundo, tinha um Supermercado chamado Spinney's. Foi minha salvação. Eram quase 4 da tarde e o pedaço de tábua que me salvou de um fim terrível foi um saco de bolachas que estava em árabe e eu não sabia bem do que era. Mas naquele momento foi uma ambrósia, um alimento divino e poderoso.
No dia seguinte fui convidado pelo cara que estava me entrevistando para jejuar com ele. Parece brincadeira.
Mas foi muito bom, porque ele queria que eu aproveitasse plenamente o ritual da alimentação que acontece todo dia depois que o sol se põe. As ruas se transformam, todos estão por toda parte para celebrar e comer, comer, comer, comer e comer.
É o que os muçulmanos chamam de Iftar, e eu chamo de RANGAR ABSURDO!
É um buffet que é uma autêntica feira de Acari: tem de tudo e é um sucesso (ou mistério, nunca me lembro).
Muita coisa parecida com nossos restaurantes árabes e muita coisa que eu não faço idéia do que seja. Mas acho que comi de tudo um pouco, digo, muito!
Você começa tomando um suco de sei lá o que, muito doce, para te deixar esperto. O resto é um festim que lembra aquele filme A Comilança. Você não querer parar nunca. Tudo bem feito e gostoso.
Ao final você se sente preparado para uma semana inteira de jejum.
Mas tenho certeza que no dia seguinte é a mesma coisa...
Depois eu conto mais. Preciso dar uma parada para resolver um pepininho.
Um beijo do gordo para vocês.
(mesmo longe do Brasil e sentindo muita saudade de tudo que diz respeito à nossa terrinha, continuo destando o Jô Soares)
Comer num país novo sempre é uma aventura.
Na Nova Zelândia, por exemplo, eu experimentei um Lamburger - hambúrguer de carne de Carneiro - foi uma das piores coisas que eu comi. E, invariavelmente, quando você pede essas coisas você sempre está trincando de fome e sem grana.
Ou seja, você tem que comer tudo e lamber o prato.
Minha primeira aventura aqui foi quando vim para cá no Ramadã. Para quem não sabe, o Ramadã é o mês em que os muçulmanos jejuam da hora que o sol nasce até a hora em que o sol se põe. Não pode nem beber água. Nas empresas locais e internacionais os muçulmanos mais praticantes que levam o jejum à sério saem às 3 horas da tarde durante o mês sagrado.
Eu não sabia como o lugar leva a sério esse negócio - nenhum restaurante ou lanchonete abre durante o dia. Nada, nadinha.
O panaca aqui sai para uma longa caminhada para dar uma avaliada no ambiente. Uma longa caminhada, diga-se de passagem. Ao final de uma hora e meia andando eu cheguei no mar, suando como um porco e já com a aparência de um camarão - e com as marcas de quem ficou no sol de camiseta, para completar a situação patética.
Aqui não dá para andar sem camiseta na rua, é considerado ofensivo.
Entrei nas águas do golfo, que tem a temperatura de uma jacuzzi, vi na praia alguns perdidos passeando - estes sim, com a vestimenta tradicional de um ocidental praiano, ou seja, quase nada - e decidi voltar.
Neste momento a fome já era grande. Andei, andei, andei e todos os lugares estavam fechados. McDonald's, Burger King's, KFC's, Pizza Huts e o Bar e Restaurante do Habib...tudo fechado. Já tinham se passado mais de 3 horas desde minha saída e a fome era grande. Depois de muito andar achei um shopping center onde, escondido no fundo, tinha um Supermercado chamado Spinney's. Foi minha salvação. Eram quase 4 da tarde e o pedaço de tábua que me salvou de um fim terrível foi um saco de bolachas que estava em árabe e eu não sabia bem do que era. Mas naquele momento foi uma ambrósia, um alimento divino e poderoso.
No dia seguinte fui convidado pelo cara que estava me entrevistando para jejuar com ele. Parece brincadeira.
Mas foi muito bom, porque ele queria que eu aproveitasse plenamente o ritual da alimentação que acontece todo dia depois que o sol se põe. As ruas se transformam, todos estão por toda parte para celebrar e comer, comer, comer, comer e comer.
É o que os muçulmanos chamam de Iftar, e eu chamo de RANGAR ABSURDO!
É um buffet que é uma autêntica feira de Acari: tem de tudo e é um sucesso (ou mistério, nunca me lembro).
Muita coisa parecida com nossos restaurantes árabes e muita coisa que eu não faço idéia do que seja. Mas acho que comi de tudo um pouco, digo, muito!
Você começa tomando um suco de sei lá o que, muito doce, para te deixar esperto. O resto é um festim que lembra aquele filme A Comilança. Você não querer parar nunca. Tudo bem feito e gostoso.
Ao final você se sente preparado para uma semana inteira de jejum.
Mas tenho certeza que no dia seguinte é a mesma coisa...
Depois eu conto mais. Preciso dar uma parada para resolver um pepininho.
Um beijo do gordo para vocês.
(mesmo longe do Brasil e sentindo muita saudade de tudo que diz respeito à nossa terrinha, continuo destando o Jô Soares)
Tuesday, July 19, 2005
Dormi só uma hora, acordei, passei meu terno e, sem tomar café da manhã, vim para a agência e participei de uma apresentação de quase 3 horas.
Ainda bem que a apresentação foi um sucesso, porque senão eles iam ter que me levar daqui num carrinho de mão.
Deixa eu ir comer alguma coisa e depois dar uma desamaiada básica.
Ainda bem que a apresentação foi um sucesso, porque senão eles iam ter que me levar daqui num carrinho de mão.
Deixa eu ir comer alguma coisa e depois dar uma desamaiada básica.
Demorou um mês, mas aqui estou eu depois de meu primeiro fim de semana virado e no meio da minha primeira noite em claro para entregar uma campanha.
Para quem acompanhou o a história, ainda é aquela maldita campanha do governo, que foi mudada pela enésima vez...
Não tinha nenhuma ilusão que trabalhar em uma agência no exterior fosse muitíssimo diferente de trabalhar em uma agência no Brasil. Mas também não esperava que fosse TÃO igual.
Mudam os camelos...
Na manhã desta terça-feira é a apresentação para a equipe do líder supremo. E vou ter que usar terno - sem gravata, mas terno mesmo assim, porque afinal sou da criação e os caras não me aceitariam usando aquele pedaço de pano pendurado no pescoço - mesmo que fosse um anacrônico estampado de piu-pius. (lembram?)
Os clientes aqui também são iguais, vivem tornando a nossa vida miserável - só que alguns deles usam aqueles troços brancos na cabeça, que NÃO são turbantes.
Propaganda é que nem Big Mac, tem o mesmo gosto e aparência no mundo inteiro. O que muda é a paisagem.
Para quem acompanhou o a história, ainda é aquela maldita campanha do governo, que foi mudada pela enésima vez...
Não tinha nenhuma ilusão que trabalhar em uma agência no exterior fosse muitíssimo diferente de trabalhar em uma agência no Brasil. Mas também não esperava que fosse TÃO igual.
Mudam os camelos...
Na manhã desta terça-feira é a apresentação para a equipe do líder supremo. E vou ter que usar terno - sem gravata, mas terno mesmo assim, porque afinal sou da criação e os caras não me aceitariam usando aquele pedaço de pano pendurado no pescoço - mesmo que fosse um anacrônico estampado de piu-pius. (lembram?)
Os clientes aqui também são iguais, vivem tornando a nossa vida miserável - só que alguns deles usam aqueles troços brancos na cabeça, que NÃO são turbantes.
Propaganda é que nem Big Mac, tem o mesmo gosto e aparência no mundo inteiro. O que muda é a paisagem.
Sunday, July 17, 2005
Hoje estou sem saco de escrever post nenhum.
Bem, mas isso já é um post. Então minha intenção foi completamente destruída.
Se não consegui evitar escrever um post, que pelo menos ele seja muito curto e não me faça perder tempo.
Principalmente porque já é tarde e quero ir para casa. Interessante que um lugar em que estou há pouco mais de uma semana e onde eu só vou para dormir acaba se tornando um nosso lar tão rapidamente. É com o Sartre dizia...epa! Olha eu de novo aqui...essa droga já deixou de ser um post curto e está se tornando algo longo e cheio de pensamentos desconexos...
Pára tudo!
Câmbio e desligo.
Bem, mas isso já é um post. Então minha intenção foi completamente destruída.
Se não consegui evitar escrever um post, que pelo menos ele seja muito curto e não me faça perder tempo.
Principalmente porque já é tarde e quero ir para casa. Interessante que um lugar em que estou há pouco mais de uma semana e onde eu só vou para dormir acaba se tornando um nosso lar tão rapidamente. É com o Sartre dizia...epa! Olha eu de novo aqui...essa droga já deixou de ser um post curto e está se tornando algo longo e cheio de pensamentos desconexos...
Pára tudo!
Câmbio e desligo.
Saturday, July 16, 2005
Falar com os amigos é sempre bom.
Hoje ouvi a voz dos meus Queridos (com "Q" maiúsculo mesmo) Marcel e Andréia Portella.
Ao mesmo tempo que dá uma energia extra ouvir a voz deles tão perto, como se estivessem aqui do lado, dá aquela sensação de algo faltando...
Você percebe que não dá para ligar na próxima tarde à tarde para o Colt (apelido do Marcel) e marcar aquela corrida na lagoa no fim do dia. Ou encontrar com eles sem querer no balão do Kennedy e combinar de tomar uma cerveja na noite de sábado.
A verdade é que o Marcel, a Andréia, a Lagoa, o balão do Kennedy e a cerveja são uma realidade que está a 12 mil quilômetros daqui. 7 horas de diferença de fuso. Uma realidade que eu só consigo abraçar em pensamento.
Mas enquanto estou com eles no telefone dá a impressão que é só marcar de se encontrar nesse sábado a noite que tudo é possível. Mas aí eu volto para minha realidade e percebo que sábado à noite para mim é agora. Enquanto para vocês aí, meus queridos amigos, ela é só um momento que está para acontecer, num futuro próximo.
Tomem uma cerveja por mim.
Aliás, tomem várias.
Hoje ouvi a voz dos meus Queridos (com "Q" maiúsculo mesmo) Marcel e Andréia Portella.
Ao mesmo tempo que dá uma energia extra ouvir a voz deles tão perto, como se estivessem aqui do lado, dá aquela sensação de algo faltando...
Você percebe que não dá para ligar na próxima tarde à tarde para o Colt (apelido do Marcel) e marcar aquela corrida na lagoa no fim do dia. Ou encontrar com eles sem querer no balão do Kennedy e combinar de tomar uma cerveja na noite de sábado.
A verdade é que o Marcel, a Andréia, a Lagoa, o balão do Kennedy e a cerveja são uma realidade que está a 12 mil quilômetros daqui. 7 horas de diferença de fuso. Uma realidade que eu só consigo abraçar em pensamento.
Mas enquanto estou com eles no telefone dá a impressão que é só marcar de se encontrar nesse sábado a noite que tudo é possível. Mas aí eu volto para minha realidade e percebo que sábado à noite para mim é agora. Enquanto para vocês aí, meus queridos amigos, ela é só um momento que está para acontecer, num futuro próximo.
Tomem uma cerveja por mim.
Aliás, tomem várias.
Friday, July 15, 2005
Notícias da pátria-mãe.
Que coisa linda que é a internet. Chego de manhã aqui no trabalho e tem notícias fresquinhas me esperando. À uma e meia da matina para vocês cá estou a procurar no UOL qual foi a última desgraça que aconteceu com o Petê.
E posso te dizer que parece que este lamaçal não tem fim. É denúncia daqui, dali, de acolá. É dinheiro na cueca, é mensalão...
Parece que os caras estão envolvidos em todo tipo de maracutaia possível.
Uma coisa você não pode negar: eles aprendem rápido.
O poder corrompe. O poder executivo e o legislativo corrompem muito mais.
Que venham os reis.
Aqui em Dubai não tem disso. Aqui não tem presidente nem primeiro-ministro. Aqui tem Líder Supremo.
É muito legal viver em um lugar em que tem um líder supremo. O únicos lugares que eu sabia que tinham líderes supremos era em vídeo game e em filme ruim de ficção científica. Agora são três.
O líder supremo aqui não é algo que você enfrenta no final da última fase. Aqui o cara manda. É o Gordinho Guimarães do pedaço. (poucos vão entender essa)
Se ele decide que os impostos vão mudar, mudam. Se ele decide que estrangeiros agora podem ter propriedades, pronto está mudado. Se ele decide que o sol vai nascer do outro lado amanhã de manhã, não tenha dúvida que isso vai acontecer. Se ele decide que a Ponte Preta vai ser campeã...bom, tudo bem, o cara não é assim tão poderoso.
Mas uma coisa pode-se dizer: quando eles decidem fazer algo, eles fazem.
Não tem aquela lenga-lenga que o dito processo democrático demanda. As coisas acontecem. E num ritmo vertiginoso.
Dubai parece um mandiopã. Lembra quando você jogava o mandiopã no óleo quente e ele inflava na hora?
É a mesma coisa aqui. Tudo é gigante e inacreditável. A última deles é criar uma pista de esqui no meio do deserto...com neve! Eu juro que é verdade! Passo na frente do lugar todo dia.
Sei que já fui muito xingado por não postar imagens, mas prometo que essa semana vou arrumar uma câmera meia-boca para começar a registrar tudo.
Bom, o fato é que os líderes aqui não param de pensar em coisas para fazer o país funcionar melhor. E eles pensam e fazem na hora. Esse é um dos motivos porque estou aqui agora escrevendo para vocês este post. Porque passei o dia criando para esses malditos governantes que não param de ter idéias. E o pior, é uma concorrência. (lembrem-se que sexta-feira já fim de semana para o mundo muçulmano)
Só peço uma coisa, POR FAVOR PAREM DE TER IDÉIAS, quero dar uma descansada no fim de semana.
Saudade do Brasil onde nada de concreto acontece...só coisas pegajosas e fedorentas.
Bom, deixa eu voltar para a labuta!
Que coisa linda que é a internet. Chego de manhã aqui no trabalho e tem notícias fresquinhas me esperando. À uma e meia da matina para vocês cá estou a procurar no UOL qual foi a última desgraça que aconteceu com o Petê.
E posso te dizer que parece que este lamaçal não tem fim. É denúncia daqui, dali, de acolá. É dinheiro na cueca, é mensalão...
Parece que os caras estão envolvidos em todo tipo de maracutaia possível.
Uma coisa você não pode negar: eles aprendem rápido.
O poder corrompe. O poder executivo e o legislativo corrompem muito mais.
Que venham os reis.
Aqui em Dubai não tem disso. Aqui não tem presidente nem primeiro-ministro. Aqui tem Líder Supremo.
É muito legal viver em um lugar em que tem um líder supremo. O únicos lugares que eu sabia que tinham líderes supremos era em vídeo game e em filme ruim de ficção científica. Agora são três.
O líder supremo aqui não é algo que você enfrenta no final da última fase. Aqui o cara manda. É o Gordinho Guimarães do pedaço. (poucos vão entender essa)
Se ele decide que os impostos vão mudar, mudam. Se ele decide que estrangeiros agora podem ter propriedades, pronto está mudado. Se ele decide que o sol vai nascer do outro lado amanhã de manhã, não tenha dúvida que isso vai acontecer. Se ele decide que a Ponte Preta vai ser campeã...bom, tudo bem, o cara não é assim tão poderoso.
Mas uma coisa pode-se dizer: quando eles decidem fazer algo, eles fazem.
Não tem aquela lenga-lenga que o dito processo democrático demanda. As coisas acontecem. E num ritmo vertiginoso.
Dubai parece um mandiopã. Lembra quando você jogava o mandiopã no óleo quente e ele inflava na hora?
É a mesma coisa aqui. Tudo é gigante e inacreditável. A última deles é criar uma pista de esqui no meio do deserto...com neve! Eu juro que é verdade! Passo na frente do lugar todo dia.
Sei que já fui muito xingado por não postar imagens, mas prometo que essa semana vou arrumar uma câmera meia-boca para começar a registrar tudo.
Bom, o fato é que os líderes aqui não param de pensar em coisas para fazer o país funcionar melhor. E eles pensam e fazem na hora. Esse é um dos motivos porque estou aqui agora escrevendo para vocês este post. Porque passei o dia criando para esses malditos governantes que não param de ter idéias. E o pior, é uma concorrência. (lembrem-se que sexta-feira já fim de semana para o mundo muçulmano)
Só peço uma coisa, POR FAVOR PAREM DE TER IDÉIAS, quero dar uma descansada no fim de semana.
Saudade do Brasil onde nada de concreto acontece...só coisas pegajosas e fedorentas.
Bom, deixa eu voltar para a labuta!
Thursday, July 14, 2005
Nada como ver seu trabalho recusado para começar o fim de semana.
Acabei de chegar de uma reunião com o chefão e ele torpedeou 2 das 3 campanhas que tínhamos nas mãos.
Voltamos praticamente à estaca zero.
O pior é que para vocês, brasucas, ainda tem a sexta feira. Aqui não. O fim de semana começa agora. Portanto tenho um fim de semana inteiro pela frente com a minha equipe para tentar deixar tudo pronto no domingo - que é a nossa segunda.
Mais um desafio...
Amanhã estaremos aqui, eu e minha equipe, ralando nossos traseiros para fazer uma campanha pentelha para o governo.
Fazer campanha para governo é uma merda aqui, no Brasil e em Gana. É sempre um pé no saco.
Essa especificamente vai ser apresentada para His Highness Himself, O Sheikh Maktoum.
Que beleza é morar em um país em que ao invés de um presidente tem um líder supremo...
Bom, desejem-me sorte e mandem pensamentos positivos para que mostremos grandes peças para eles no sábado à noite.
Acabei de chegar de uma reunião com o chefão e ele torpedeou 2 das 3 campanhas que tínhamos nas mãos.
Voltamos praticamente à estaca zero.
O pior é que para vocês, brasucas, ainda tem a sexta feira. Aqui não. O fim de semana começa agora. Portanto tenho um fim de semana inteiro pela frente com a minha equipe para tentar deixar tudo pronto no domingo - que é a nossa segunda.
Mais um desafio...
Amanhã estaremos aqui, eu e minha equipe, ralando nossos traseiros para fazer uma campanha pentelha para o governo.
Fazer campanha para governo é uma merda aqui, no Brasil e em Gana. É sempre um pé no saco.
Essa especificamente vai ser apresentada para His Highness Himself, O Sheikh Maktoum.
Que beleza é morar em um país em que ao invés de um presidente tem um líder supremo...
Bom, desejem-me sorte e mandem pensamentos positivos para que mostremos grandes peças para eles no sábado à noite.
Wednesday, July 13, 2005
O aniversário longe da Terra Brasilis.
Este é o meu primeiro aniversário longe das águas territoriais da terra de Macunaíma.
Engraçada essa sensação de passar um aniversário real em branco e o virtual à todo vapor.
Pois é, foram muitas mensagens, muitos minutos nos chats e muito carinho.
Aqui na agência ninguém sabia - e eu não quis contar. Quer coisa mais deprê do que alguém falando "ei, hoje é meu aniversário, sabia?". É triste e meio gay.
Não gosto deste parabéns forçado. Prefiro ser esquecido ao natural. Ah, também gosto do "feliz aniversário por que o orkut me lembrou", principalmente porque eu sou péssimo para lembrar datas e, por isso, qualquer laço no dedo já tá valendo.
Pois é, já se vão 35 invernos para o filho de Vera e Lázaro. Uma idade respeitável onde a maioria das pessoas está assentada, pronta para curtir aquele caminho tranquilo que leva ao futuro e que poucas supresas são esperadas, e desejadas.
Estou, com meus 35 aninhos, começando uma aventura da qual não vou sair o mesmo. Uma aventura que me faz ver longe e também enxergar o que está perto com mais nitidez.
Fazer aniversário longe de casa me dá a chance de olhar para tudo que aconteceu e pensar em quem sou agora.
Eu me lembro que em 1981 eu era um moleque recém-chegado do Rio, morando em Campinas no bairro do São Quirino.
Andava para cima e para baixo de ônibus e todo mundo sabe que quem anda de ônibus tem muito tempo para pensar.
Especialmente quando você está esperando por ele em um bairro afastado do centro. E esse era meu caso.
No meio de uma dessas esperas intermináveis eu tive uma idéia meio esquisita mas que nunca mais me largou.
Eu ia começar a contar. Mas não ia ser uma contagem normal - ia ser uma contagem muuuuuuuuuito lenta.
Apenas um número por ano. E engraçado é que eu nunca mais me esqueci. Cheguei ao número 25 continuo em frente.
Essa contagem me faz, por alguns momentos, estar em contato com aquele menino magrinho e imaginativo.
Eu olho nos olhos deles e o entendo. Penso em seus sonhos, desejos e me entendo.
Olho para ele e percebo o quanto a vida é extraordinária e rica. Inesperada e interessante. Às vezes a gente esquece.
Aí eu sinto que depois de todo esse tempo ele ainda está dentro de mim. Todo ano nos encontramos e nos entendemos.
E depois eu continuo no meu caminho e ele me segue em silêncio, mas sempre comigo.
Que venha o número 26!
Este é o meu primeiro aniversário longe das águas territoriais da terra de Macunaíma.
Engraçada essa sensação de passar um aniversário real em branco e o virtual à todo vapor.
Pois é, foram muitas mensagens, muitos minutos nos chats e muito carinho.
Aqui na agência ninguém sabia - e eu não quis contar. Quer coisa mais deprê do que alguém falando "ei, hoje é meu aniversário, sabia?". É triste e meio gay.
Não gosto deste parabéns forçado. Prefiro ser esquecido ao natural. Ah, também gosto do "feliz aniversário por que o orkut me lembrou", principalmente porque eu sou péssimo para lembrar datas e, por isso, qualquer laço no dedo já tá valendo.
Pois é, já se vão 35 invernos para o filho de Vera e Lázaro. Uma idade respeitável onde a maioria das pessoas está assentada, pronta para curtir aquele caminho tranquilo que leva ao futuro e que poucas supresas são esperadas, e desejadas.
Estou, com meus 35 aninhos, começando uma aventura da qual não vou sair o mesmo. Uma aventura que me faz ver longe e também enxergar o que está perto com mais nitidez.
Fazer aniversário longe de casa me dá a chance de olhar para tudo que aconteceu e pensar em quem sou agora.
Eu me lembro que em 1981 eu era um moleque recém-chegado do Rio, morando em Campinas no bairro do São Quirino.
Andava para cima e para baixo de ônibus e todo mundo sabe que quem anda de ônibus tem muito tempo para pensar.
Especialmente quando você está esperando por ele em um bairro afastado do centro. E esse era meu caso.
No meio de uma dessas esperas intermináveis eu tive uma idéia meio esquisita mas que nunca mais me largou.
Eu ia começar a contar. Mas não ia ser uma contagem normal - ia ser uma contagem muuuuuuuuuito lenta.
Apenas um número por ano. E engraçado é que eu nunca mais me esqueci. Cheguei ao número 25 continuo em frente.
Essa contagem me faz, por alguns momentos, estar em contato com aquele menino magrinho e imaginativo.
Eu olho nos olhos deles e o entendo. Penso em seus sonhos, desejos e me entendo.
Olho para ele e percebo o quanto a vida é extraordinária e rica. Inesperada e interessante. Às vezes a gente esquece.
Aí eu sinto que depois de todo esse tempo ele ainda está dentro de mim. Todo ano nos encontramos e nos entendemos.
E depois eu continuo no meu caminho e ele me segue em silêncio, mas sempre comigo.
Que venha o número 26!
Tuesday, July 12, 2005
Uma rapidinha...
Ontem abri meu congelador para pegar uns gelos. A única companhia que eles tinham era uma caixa de hambúrgueres de frango que eu comprei na sexta.
Eu tinha comprado automaticamente, sem reparar na caixa.
Ontem eu reparei sem querer na caixa e na marca...SADIA!!!
Brasil, il, il!!!
Devorar estes bolinhos de frango agora vai ser uma comunhão com a pátria-mãe.
Impressionante como as coisas adquirem um significado todo especial quando estamos no desterro.
Um hambúrguer de frango acaba virando um banquete cerimonial.
Será que eles têm pão de queijo aqui aqui?
Habemus Chester!
Ontem abri meu congelador para pegar uns gelos. A única companhia que eles tinham era uma caixa de hambúrgueres de frango que eu comprei na sexta.
Eu tinha comprado automaticamente, sem reparar na caixa.
Ontem eu reparei sem querer na caixa e na marca...SADIA!!!
Brasil, il, il!!!
Devorar estes bolinhos de frango agora vai ser uma comunhão com a pátria-mãe.
Impressionante como as coisas adquirem um significado todo especial quando estamos no desterro.
Um hambúrguer de frango acaba virando um banquete cerimonial.
Será que eles têm pão de queijo aqui aqui?
Habemus Chester!
Descobri três coisas que fazem você ser um chefe muito respeitado:
1 - Mesmo que você não esteja entendendo nada do que estão falando, faça uma cara de muito preocupado e leve a mão ao queixo.
2 - Nunca fale nada definitivo. Deixe sempre uma aura de mistério sobre qual é a sua verdadeira opinião.
3 - SEMPRE mude alguma coisa.
1 - Mesmo que você não esteja entendendo nada do que estão falando, faça uma cara de muito preocupado e leve a mão ao queixo.
2 - Nunca fale nada definitivo. Deixe sempre uma aura de mistério sobre qual é a sua verdadeira opinião.
3 - SEMPRE mude alguma coisa.
Monday, July 11, 2005
Os indianos estão chegando...
Uma coisa interessante - mais uma - em Dubai é que 60% da população - isso mesmo 60%! - é composta por indianos. Indianos são seres humanos torradinhos e que usam bigode, por isso é mais difícil saber quem é quem. Eles estão por todo lado.
Aqui na agência eles dominam o departamento financeiro. Já é difícil a nossa relação com o departamento financeiro em qualquer lugar. Imagina como é em lugar em que você nunca lembra para qual deles você fez um pedido. O cara vem e diz que não sabe de nada. E quem é você para contrariá-lo?
Os indianos tem um tique de balançar a cabeça para o lado. Parece que eles estão dançando ao som de uma música que só eles escutam - ou será que eles têm fones melhores para seus iPods?
O problema é que você não sabe se eles estão concordando, negando ou balançando a cabeça desse jeito esquisito.
O sotaque deles é um caso a parte. Hoje perguntei para o redator sulafricano da minha equipe se às vezes ele deixava de entender algo. E ele disse na maior parte das vezes ele não entende nada. Ufa! Me sinto menos incompetente.
Diferente do Brasil, aqui restaurante indiano é baratinho - a versão dubaiana dos saudosos PFs das terras tupiniquins.
Quando contei todo orgulhoso para um colega de trabalho que tinha comido em um restaurante indiano por 15AEDs (quinze dirhams para os íntimos) ele falou "pagou caro!"
Que beleza! Vou me entupir de curry!
Que a Força esteja com vocês.
Uma coisa interessante - mais uma - em Dubai é que 60% da população - isso mesmo 60%! - é composta por indianos. Indianos são seres humanos torradinhos e que usam bigode, por isso é mais difícil saber quem é quem. Eles estão por todo lado.
Aqui na agência eles dominam o departamento financeiro. Já é difícil a nossa relação com o departamento financeiro em qualquer lugar. Imagina como é em lugar em que você nunca lembra para qual deles você fez um pedido. O cara vem e diz que não sabe de nada. E quem é você para contrariá-lo?
Os indianos tem um tique de balançar a cabeça para o lado. Parece que eles estão dançando ao som de uma música que só eles escutam - ou será que eles têm fones melhores para seus iPods?
O problema é que você não sabe se eles estão concordando, negando ou balançando a cabeça desse jeito esquisito.
O sotaque deles é um caso a parte. Hoje perguntei para o redator sulafricano da minha equipe se às vezes ele deixava de entender algo. E ele disse na maior parte das vezes ele não entende nada. Ufa! Me sinto menos incompetente.
Diferente do Brasil, aqui restaurante indiano é baratinho - a versão dubaiana dos saudosos PFs das terras tupiniquins.
Quando contei todo orgulhoso para um colega de trabalho que tinha comido em um restaurante indiano por 15AEDs (quinze dirhams para os íntimos) ele falou "pagou caro!"
Que beleza! Vou me entupir de curry!
Que a Força esteja com vocês.
Sunday, July 10, 2005
Inaugurando a seção Dubalacobaco em Imagens
Estar em Dubai é uma experiência única. Uma mistura de Feira de Acari com os cenários de um filme de ficção científica.
E a coisa está se espalhando para Abu Dhabi, que é o Emirado mais rico - e que nada em petróleo.
Essa imagem é uma amostra do que os caras estão preparando. É um hotel-roda gigante chamado The Ring.
Não é coisa de outro planeta?
Andando de Taxi.
Andando de de táxi em Dubai eu me sinto em Nova York.
Não, não é porque os arranha-céus daqui me lembram a Grande Maçã, mas sim por que nenhum motorista de táxi é daqui.
Aliás, eu desconfio que são os mesmos.
São caras do Paquistão, Sri Lanka, Índia, Afeganistão...
Na verdade todos parecem ser o mesmo cara - é como se eu estivesse num episódio de Além da Imaginação em que o mesmo dia se repete sem fim - ou no dia da marmota.
Existem dois cartões postais reconhecidos por qualquer um que passa por Dubai: o Burj Al Arab e as Emirates Towers - que é onde eu trabalho.
Não é que na última quinta eu peguei um táxi na frente do hotel e o desgraçado - eu tenho certeza que eu já tinha visto ele - não sabia como chegar?
O que fazer com um sujeito desses? O pior é que de manhã é quase sempre impossível arrumar um táxi, ainda mais com o calor e a umidade. E minha idéia de diversão não é chegar no trabalho parecendo um picolé em um dia de verão. Peguei o maldito táxi.
E tive que explicar para o energúmeno (eta palavrinha!) como chegar. Quando chegamos pensei em falar para ele para gente rachar o preço da corrida, mas deixei por isso mesmo.
Um motorista de táxi que não conhece a cidade foi a coisa mais exótica que encontrei aqui até agora.
Andando de de táxi em Dubai eu me sinto em Nova York.
Não, não é porque os arranha-céus daqui me lembram a Grande Maçã, mas sim por que nenhum motorista de táxi é daqui.
Aliás, eu desconfio que são os mesmos.
São caras do Paquistão, Sri Lanka, Índia, Afeganistão...
Na verdade todos parecem ser o mesmo cara - é como se eu estivesse num episódio de Além da Imaginação em que o mesmo dia se repete sem fim - ou no dia da marmota.
Existem dois cartões postais reconhecidos por qualquer um que passa por Dubai: o Burj Al Arab e as Emirates Towers - que é onde eu trabalho.
Não é que na última quinta eu peguei um táxi na frente do hotel e o desgraçado - eu tenho certeza que eu já tinha visto ele - não sabia como chegar?
O que fazer com um sujeito desses? O pior é que de manhã é quase sempre impossível arrumar um táxi, ainda mais com o calor e a umidade. E minha idéia de diversão não é chegar no trabalho parecendo um picolé em um dia de verão. Peguei o maldito táxi.
E tive que explicar para o energúmeno (eta palavrinha!) como chegar. Quando chegamos pensei em falar para ele para gente rachar o preço da corrida, mas deixei por isso mesmo.
Um motorista de táxi que não conhece a cidade foi a coisa mais exótica que encontrei aqui até agora.
Saturday, July 09, 2005
Me arrumem um marido!
Ontem foi um dos piores momentos que passei desde que cheguei a Dubai.
Foi tão difícil que quase não consigo descrever.
Bem, vou tentar...
Fiz uma coisa terrível, que só quando se está solteiro, bem longe da mulher, que se tem coragem de fazer:
Comprei um vidro de cebolinhas em conserva!
Só quem não tem nada a perder comete um ato desses.
Mas o drama todo começou quando cheguei em casa, todo feliz da vida, preparei um copo de suco e parti para o ataque às cebolinhas.
O vidro não abria!
Como é possível que eu, o macho-alfa, o provedor, o maridão, pudesse estar sendo derrotado por um vidro de cebolinhas?
Me senti sem lugar no mundo, sem função. Comecei a fazer planos para tentar implodir o maldito pote de cebolinhas ou, pelo menos, me livrar dele, enterrar no meio do deserto (o que aqui é uma coisa muito fácil de se fazer) e nunca contar a ninguém sobre o que havia acontecido.
Mas fiquei com medo que um dia uma tempestade de areia descobrisse esta mancha no meu currículo e voltei a atacar o maldito com força redobrada.
Muitos minutos e muita suadeira depois, missão cumprida!
Me refestelei (que palavrinha!) com as cebolinhas.
Vini, vidi, vici et glutonicus cebolinicus
Ontem foi um dos piores momentos que passei desde que cheguei a Dubai.
Foi tão difícil que quase não consigo descrever.
Bem, vou tentar...
Fiz uma coisa terrível, que só quando se está solteiro, bem longe da mulher, que se tem coragem de fazer:
Comprei um vidro de cebolinhas em conserva!
Só quem não tem nada a perder comete um ato desses.
Mas o drama todo começou quando cheguei em casa, todo feliz da vida, preparei um copo de suco e parti para o ataque às cebolinhas.
O vidro não abria!
Como é possível que eu, o macho-alfa, o provedor, o maridão, pudesse estar sendo derrotado por um vidro de cebolinhas?
Me senti sem lugar no mundo, sem função. Comecei a fazer planos para tentar implodir o maldito pote de cebolinhas ou, pelo menos, me livrar dele, enterrar no meio do deserto (o que aqui é uma coisa muito fácil de se fazer) e nunca contar a ninguém sobre o que havia acontecido.
Mas fiquei com medo que um dia uma tempestade de areia descobrisse esta mancha no meu currículo e voltei a atacar o maldito com força redobrada.
Muitos minutos e muita suadeira depois, missão cumprida!
Me refestelei (que palavrinha!) com as cebolinhas.
Vini, vidi, vici et glutonicus cebolinicus
Friday, July 08, 2005
As delicias do nao ser.
Vivo uma sensacao de angustia constante.
A gente nao percebe mas nosso dia eh quase inteiramente composto de tarefas automaticas. Voce nao pensa quando acorda e vai escovar os dentes, nem quando prepara seu sanduiche ou sucrilhos enquanto le o jornal. O transito ateh o trabalho eh como se fosse um sonho - ou pesadelo. E quando voce acorda estah no escritorio. E tome mais um monte de tarefas automatizadas que a gente nem percebe. Chega o almoco e voce encontra os mesmos amigos e houve as mesmas historias e reclamacoes. Ao final do dia mais transito - sonho ou pesadelo - uma passada na padaria ou no supermerado, para comprar aquelas coisinhas que sempre estao faltando, e voce estah em casa. Aih ve os mesmos programas que costuma assistir todos os dias.
Nao, eu nao estou dizendo que o nosso dia-a-dia eh enfadonho ou sem valor. Mas sim que montamos nossa rotina em cima destas tarefas automatizadas. Se tivessemos que pensar, racionalizar tudo antes de fazer cada coisa seria quase insuportavel, ao final do dia estariamos exaustos - soh de ter acordado, ido ao supermercado e voltado.
Eu sinto que a sensacao da passagem do tempo acontece de verdade quando passamos por disturbios neste fluxo de eventos. Quando voce encontra algum amigo que nao ve ha muito tempo, quando tem uma tarefa ou responsabilidade nova no trabalho, quando vive uma situacao inesperada...
Quandos os dias se repetem voce para olha para tras e comenta como o tempo passou rapido. Dias, semanas, meses, anos se vao e nem percebemos.
O que eu tenho vivido aqui eh totalmente o oposto.
Vivo uma zona nebulosa em que nada faz sentido. Para arrumar um copo d'agua eu tenho que pensar em como e onde encontra-lo. Cada visita ao supermercado eh um suplicio - nao sei o que comprar, se estah barato ou caro, se eh o que eu estou pensando. Todas essas pequenas coisas demandam o mesmo grau de raciocinio que antes eu gastava resolvendo os maiores problemas criativos.
E nem estamos falando daquelas tarefas ainda mais complexas e chatas - e quando nao fazem nenhum sentido mesmo quando voce estah no seu pais natal. Coisas como alugar um carro, arrumar um celular e pedir um sanduiche para um garcon que veio da Malasia sao coisas tao dificeis e cansativas quanto resolver problemas de calculo diferencial no meio de uma aula de spinning.
Ao final do dia estou drenado - e desejando o nao ser. Essa sensacao deliciosa de que o mundo faz sentido, e que voce consegue passar um dia inteiro por ele como se tivesse saido para uma caminhada leve de 15 minutos.
Eu me lembro que naquele texto "wear sunscren". Tem uma passagem lah que diz o seguinte: tente fazer todo dia algo que tenha medo.
Acho que estes ultimos dias me deixaram com saldo suficiente para passar os proximos 45 anos da minha vida levando uma vida em que a coisa mais emocionante vai ser assistir a novela das 6.
Mas vamos lah que, se a vida fosse simples, vinha com manual de instrucoes.
Cambio e desligo.
Vivo uma sensacao de angustia constante.
A gente nao percebe mas nosso dia eh quase inteiramente composto de tarefas automaticas. Voce nao pensa quando acorda e vai escovar os dentes, nem quando prepara seu sanduiche ou sucrilhos enquanto le o jornal. O transito ateh o trabalho eh como se fosse um sonho - ou pesadelo. E quando voce acorda estah no escritorio. E tome mais um monte de tarefas automatizadas que a gente nem percebe. Chega o almoco e voce encontra os mesmos amigos e houve as mesmas historias e reclamacoes. Ao final do dia mais transito - sonho ou pesadelo - uma passada na padaria ou no supermerado, para comprar aquelas coisinhas que sempre estao faltando, e voce estah em casa. Aih ve os mesmos programas que costuma assistir todos os dias.
Nao, eu nao estou dizendo que o nosso dia-a-dia eh enfadonho ou sem valor. Mas sim que montamos nossa rotina em cima destas tarefas automatizadas. Se tivessemos que pensar, racionalizar tudo antes de fazer cada coisa seria quase insuportavel, ao final do dia estariamos exaustos - soh de ter acordado, ido ao supermercado e voltado.
Eu sinto que a sensacao da passagem do tempo acontece de verdade quando passamos por disturbios neste fluxo de eventos. Quando voce encontra algum amigo que nao ve ha muito tempo, quando tem uma tarefa ou responsabilidade nova no trabalho, quando vive uma situacao inesperada...
Quandos os dias se repetem voce para olha para tras e comenta como o tempo passou rapido. Dias, semanas, meses, anos se vao e nem percebemos.
O que eu tenho vivido aqui eh totalmente o oposto.
Vivo uma zona nebulosa em que nada faz sentido. Para arrumar um copo d'agua eu tenho que pensar em como e onde encontra-lo. Cada visita ao supermercado eh um suplicio - nao sei o que comprar, se estah barato ou caro, se eh o que eu estou pensando. Todas essas pequenas coisas demandam o mesmo grau de raciocinio que antes eu gastava resolvendo os maiores problemas criativos.
E nem estamos falando daquelas tarefas ainda mais complexas e chatas - e quando nao fazem nenhum sentido mesmo quando voce estah no seu pais natal. Coisas como alugar um carro, arrumar um celular e pedir um sanduiche para um garcon que veio da Malasia sao coisas tao dificeis e cansativas quanto resolver problemas de calculo diferencial no meio de uma aula de spinning.
Ao final do dia estou drenado - e desejando o nao ser. Essa sensacao deliciosa de que o mundo faz sentido, e que voce consegue passar um dia inteiro por ele como se tivesse saido para uma caminhada leve de 15 minutos.
Eu me lembro que naquele texto "wear sunscren". Tem uma passagem lah que diz o seguinte: tente fazer todo dia algo que tenha medo.
Acho que estes ultimos dias me deixaram com saldo suficiente para passar os proximos 45 anos da minha vida levando uma vida em que a coisa mais emocionante vai ser assistir a novela das 6.
Mas vamos lah que, se a vida fosse simples, vinha com manual de instrucoes.
Cambio e desligo.
Thursday, July 07, 2005
A medida do ser humano.
Hoje comprovei que a sensação de ser um indivíduo completo passou por muitas mudanças nos últimos tempos.
Só passei a ser considerado uma pessoa depois deste dia inacreditavelmente ocupado.
Foi tudo de uma vez: aluguei uma casa, aluguei um carro e comprei um celular.
De repente as pessoas pararam de me olhar como se eu fosse um alienígena - bom, pelo menos os olhares estão mais comedidos - e passaram a me considerar um ser mais ou menos normal.
Essas coisas - principalmente, muito principalmente o celular - dão uma medida do que é preciso para estar integrado no mundo de hoje.
Mesmo que eu só estivesse em dois lugares possíveis durante todos os horários de todos os dias - trabalho e limbo, digo, hotel - e estivesse ao alcance de qualquer ligação, as pessoas me olhavam com um tipo de espanto que se vê num filme de suspense e terror. Um misto de surpresa e asco, como se não fosse possível suportar tamanho sofrimento.
Tudo bem, amigos, agora faço parte do rebanho...chega daquelas breves caminhadas anônimas no calor e umidade insuportáveis de Dubai. Estou ao alcance da ponta dos seus dedos.
Ser humano, enfim.
Hoje comprovei que a sensação de ser um indivíduo completo passou por muitas mudanças nos últimos tempos.
Só passei a ser considerado uma pessoa depois deste dia inacreditavelmente ocupado.
Foi tudo de uma vez: aluguei uma casa, aluguei um carro e comprei um celular.
De repente as pessoas pararam de me olhar como se eu fosse um alienígena - bom, pelo menos os olhares estão mais comedidos - e passaram a me considerar um ser mais ou menos normal.
Essas coisas - principalmente, muito principalmente o celular - dão uma medida do que é preciso para estar integrado no mundo de hoje.
Mesmo que eu só estivesse em dois lugares possíveis durante todos os horários de todos os dias - trabalho e limbo, digo, hotel - e estivesse ao alcance de qualquer ligação, as pessoas me olhavam com um tipo de espanto que se vê num filme de suspense e terror. Um misto de surpresa e asco, como se não fosse possível suportar tamanho sofrimento.
Tudo bem, amigos, agora faço parte do rebanho...chega daquelas breves caminhadas anônimas no calor e umidade insuportáveis de Dubai. Estou ao alcance da ponta dos seus dedos.
Ser humano, enfim.
Se tudo der certo estou deixando hoje o hotel.
Uma das piores coisas deste início de experiência longe de casa é estar em um hotel.
Hotel não é vida, é uma semi-existência. Você não está realmente, você não faz parte do lugar.
Quando você vai para lá parece que está entrando em um limbo atemporal, onde você só tem duas opções: ou se refugia na leitura e se deixa levar para longe ou fica em estado vegetativo na frente da televisão, com os sentidos entorpecidos e a mente em ponto morto.
A idéia é sempre manter a mente ocupada, porque se você deixa a cabeça solta ela invariavelmente te leva de volta para casa. E casa ainda significa aquele lugar adorável onde eu curtia meus dias com as minhas meninas. Aí você sofre.
Pois é, talvez hoje eu consiga ir para o novo lugar que um dia eu vou chamar de casa.
Eu sei que mudar para um lugar novo é que nem começar um relacionamento. Você precisa se acostumar com o jeito do outro, saber onde estão as coisas que você gosta e como você se encaixa (não só neste sentido que você está pensando).
Quando você começa um relacionamento não consegue dormir abraçado - porque você ainda não sabe aonde estão as coisas e sempre tem um cotovelo e um joelho fora do lugar. Com o tempo parece que são duas peças moldadas que foram feitas para se encaixar. (perdão Nick Hornby)
Com as casas novas a coisa é igual. Demora um tempo para que seus joelhos parem de ter encontros inesperados. Demora para saber qual a gaveta onde estão os talheres. Mas é só dar tempo ao tempo.
Câmbio e desligo.
Uma das piores coisas deste início de experiência longe de casa é estar em um hotel.
Hotel não é vida, é uma semi-existência. Você não está realmente, você não faz parte do lugar.
Quando você vai para lá parece que está entrando em um limbo atemporal, onde você só tem duas opções: ou se refugia na leitura e se deixa levar para longe ou fica em estado vegetativo na frente da televisão, com os sentidos entorpecidos e a mente em ponto morto.
A idéia é sempre manter a mente ocupada, porque se você deixa a cabeça solta ela invariavelmente te leva de volta para casa. E casa ainda significa aquele lugar adorável onde eu curtia meus dias com as minhas meninas. Aí você sofre.
Pois é, talvez hoje eu consiga ir para o novo lugar que um dia eu vou chamar de casa.
Eu sei que mudar para um lugar novo é que nem começar um relacionamento. Você precisa se acostumar com o jeito do outro, saber onde estão as coisas que você gosta e como você se encaixa (não só neste sentido que você está pensando).
Quando você começa um relacionamento não consegue dormir abraçado - porque você ainda não sabe aonde estão as coisas e sempre tem um cotovelo e um joelho fora do lugar. Com o tempo parece que são duas peças moldadas que foram feitas para se encaixar. (perdão Nick Hornby)
Com as casas novas a coisa é igual. Demora um tempo para que seus joelhos parem de ter encontros inesperados. Demora para saber qual a gaveta onde estão os talheres. Mas é só dar tempo ao tempo.
Câmbio e desligo.
Wednesday, July 06, 2005
Estou falando com o Romolo pelo msn e contei para ele da minha vista aqui do prédio.
Dei uma paradinha no trabalho para descrever o que é que eu enxergo daqui.
Bom, para começar eu estou no décimo sétimo andar do prédio mais alto do Oriente Médio e a vista aqui é impressionante.
Quase tudo que enxergo daqui - e não é pouco - é parte do palácio do do Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum. (não, eu não lembro do nome inteiro, eu copiei direto do texto que o Romolo mandou pelo MSN - e eu também acho que ele copiou de algum outro lugar).
O lugar tem quilômetros quadrados. É um retrato punjente (adoro esta palavra) do que alguns bilhões de dólares podem comprar. E olha que este é apenas um dos seus palácios. Ele não mora aqui - só os seus cavalos. E cada um deles vale mais de 1 milhão de dólares, alguns mais de 3. Os bichos com certeza não trabalham como cavalos. Tem baias com ar-condicionado, piscina e pelo menos um cavalariço para cada bicho. Eles também têm sua própria pista de corridas.
O palácio em si é uma coisa monstruosa e disforme que se vê quase no horizonte. Ah, o prédio em que estou também é dele.
A principal conta que eu atendo - Emirates Airlines - é uma companhia dele. Cuidado! Sua casa e seu carro talvez sejam dele também.
It's good to be king...
Mas a gente tem que respeitar esse cara que criou as condições para que esse lugar florescesse no meio do deserto. Tudo bem, não é no meio do deserto, mas sim onde o deserto encontra o golfo pérsico - mas "no meio do deserto" fica muito mais legal. E "no meio do deserto" esse lugar não para de crescer. Eles estão construindo para todos os lados. Todo tipo de coisas e de todas as formas - algumas delas de gosto duvidoso, outras de gosto péssimo mesmo. O lugar não pára.
Mas eu tenho que parar um pouco, porque é hora de ir para o hotel...
Que a Força esteja com vocês.
Dei uma paradinha no trabalho para descrever o que é que eu enxergo daqui.
Bom, para começar eu estou no décimo sétimo andar do prédio mais alto do Oriente Médio e a vista aqui é impressionante.
Quase tudo que enxergo daqui - e não é pouco - é parte do palácio do do Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum. (não, eu não lembro do nome inteiro, eu copiei direto do texto que o Romolo mandou pelo MSN - e eu também acho que ele copiou de algum outro lugar).
O lugar tem quilômetros quadrados. É um retrato punjente (adoro esta palavra) do que alguns bilhões de dólares podem comprar. E olha que este é apenas um dos seus palácios. Ele não mora aqui - só os seus cavalos. E cada um deles vale mais de 1 milhão de dólares, alguns mais de 3. Os bichos com certeza não trabalham como cavalos. Tem baias com ar-condicionado, piscina e pelo menos um cavalariço para cada bicho. Eles também têm sua própria pista de corridas.
O palácio em si é uma coisa monstruosa e disforme que se vê quase no horizonte. Ah, o prédio em que estou também é dele.
A principal conta que eu atendo - Emirates Airlines - é uma companhia dele. Cuidado! Sua casa e seu carro talvez sejam dele também.
It's good to be king...
Mas a gente tem que respeitar esse cara que criou as condições para que esse lugar florescesse no meio do deserto. Tudo bem, não é no meio do deserto, mas sim onde o deserto encontra o golfo pérsico - mas "no meio do deserto" fica muito mais legal. E "no meio do deserto" esse lugar não para de crescer. Eles estão construindo para todos os lados. Todo tipo de coisas e de todas as formas - algumas delas de gosto duvidoso, outras de gosto péssimo mesmo. O lugar não pára.
Mas eu tenho que parar um pouco, porque é hora de ir para o hotel...
Que a Força esteja com vocês.
Realmente é fantástico ter uma língua que una todos os povos.
Hoje estava almoçando com um sírio, um palestino, uma egípcia e um sérvio e todos nos entendemos. Eu dei aquela parada e caiu a ficha que estava no meio de pessoas que não entendem absolutamente nada da língua portuguesa. O máximo que eles conseguem falar é ronaldinho - eu isso eu não aguento mais ouvir. É ronaldinho para cá, ronaldinho para lá. Eles até me chamam de ronaldinho de vez em quando. E imaginar que aquela coisa dentuça e sorridente virou nosso maior embaixador...
Pois é, essa sensação de uma Torre de Babel invertida é muito louca. E conforme eu vou me acostumando com a miríade de sotaques que encontro por aqui, a experiência vai ficando mais rica.
Vai tentar entender um indiano falando para saber do que estou falando.
Vamos nessa que é bom a beça.
Hoje estava almoçando com um sírio, um palestino, uma egípcia e um sérvio e todos nos entendemos. Eu dei aquela parada e caiu a ficha que estava no meio de pessoas que não entendem absolutamente nada da língua portuguesa. O máximo que eles conseguem falar é ronaldinho - eu isso eu não aguento mais ouvir. É ronaldinho para cá, ronaldinho para lá. Eles até me chamam de ronaldinho de vez em quando. E imaginar que aquela coisa dentuça e sorridente virou nosso maior embaixador...
Pois é, essa sensação de uma Torre de Babel invertida é muito louca. E conforme eu vou me acostumando com a miríade de sotaques que encontro por aqui, a experiência vai ficando mais rica.
Vai tentar entender um indiano falando para saber do que estou falando.
Vamos nessa que é bom a beça.
Estou aqui há mais de três semanas e hoje estou acompanhando minha segunda tempestade de areia.
Não é uma daquelas coisas fantasmagóricas que arrastam caravanas de beduínos para o esquecimento.
Tudo está meio amarelo e da janela da minha sala (coisa boa essa de ter a minha própria sala depois de tantos anos trabalhando em departamentos de criação abertos) a vista, que já é impressionante, ganhou dimensões de sonho.
Daqui posso ver o palácio do sheikh de Dubai. Ou melhor, um dos palácios. É interessante ter uma medida do que alguns bilhões de dólares e o título de líder supremo podem comprar.
Depois eu conto mais sobre essa propriedade que domina a minha vista. O que eu posso dizer agora é que ela está mergulhada nessa névoa amarela que só faz aumentar essa sensação de estranheza que ainda me acompanha.
Nossos sentidos são treinados para reconhecer padrões que nem percebemos conscientemente. Quando essa realidade nos é tirada parece que estamos num sonho. Às vezes é assim que me sinto. Mas este sentimento vai ficando cada vez mais sutil a medida que passam os dias.
Hoje vou fazer a proposta para uma villa que vi ontem. Os preços dos aluguéis aqui são astronômicos, mas acho que só vou relaxar e passar a me sentir parte da paisagem quando tiver meu canto definitivo para ficar.
Vamos ver o que dá.
Câmbio e desligo.
Não é uma daquelas coisas fantasmagóricas que arrastam caravanas de beduínos para o esquecimento.
Tudo está meio amarelo e da janela da minha sala (coisa boa essa de ter a minha própria sala depois de tantos anos trabalhando em departamentos de criação abertos) a vista, que já é impressionante, ganhou dimensões de sonho.
Daqui posso ver o palácio do sheikh de Dubai. Ou melhor, um dos palácios. É interessante ter uma medida do que alguns bilhões de dólares e o título de líder supremo podem comprar.
Depois eu conto mais sobre essa propriedade que domina a minha vista. O que eu posso dizer agora é que ela está mergulhada nessa névoa amarela que só faz aumentar essa sensação de estranheza que ainda me acompanha.
Nossos sentidos são treinados para reconhecer padrões que nem percebemos conscientemente. Quando essa realidade nos é tirada parece que estamos num sonho. Às vezes é assim que me sinto. Mas este sentimento vai ficando cada vez mais sutil a medida que passam os dias.
Hoje vou fazer a proposta para uma villa que vi ontem. Os preços dos aluguéis aqui são astronômicos, mas acho que só vou relaxar e passar a me sentir parte da paisagem quando tiver meu canto definitivo para ficar.
Vamos ver o que dá.
Câmbio e desligo.
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