Senhor do destino.
Logo após a odisséia da carteira de habilitação eu me senti como os peixes de aquário que fogem no final de Procurando Nemo - que, graças à minha linda filhota eu tive a chance de assistir 427 vezes.
E agora?
Teoricamente a minha única opção era comprar um carro - o que ia ser um saco quando não se tem um carro. Já imaginou ter que ir de loja em loja de taxi (sempre eles)?
Aí ia ser a pentelhação de arrumar o financiamento, registrar o carro e fazer o seguro, sem carro.
Um ritual que iria tomar vários dias. Mais uma semana isolado do mundo nesta ilha distante que é o meu condomínio.
Mas aí resolvi tentar uma coisa.
Tinham me dito que as locadoras de automóvel não aceitam carteiras de habilitação com menos de 1 ano. E, como elas não estavam aceitando a minha carteira brasileira era como se eu fosse um desses indianos coitados que abandonaram suas bicicletas anteontem.
Aí, armado de minha cara de pau e do jeitinho brasileiro decidi atacar a Budget Rent a Car do hotel das Emirates Towers.
Cheguei lá e disse que queria alugar um carro. A garota que atendia disse que não tinha nenhum - para completar meu infortúnio está acontecendo uma feira de tecnologia imensa e gente de todo o Oriente Médio está aqui - mas que ela tentaria providenciar para mim. Para adiantar as coisas ela iria pegar meus documentos para tirar cópias.
Eu entreguei tudo - inclusive minha carteira de motorista brasileira.
Quando ela disse que a minha carteira local era nova e se eu tinha alguma internacional eu entreguei a brasileira.
Agi como se respondesse a esta pergunta pelo menos 2 vezes por semana. Poker face, diriam alguns.
Ela olhou e perguntou onde estava a data de validade. Eu mostrei. Caramba, tenho carteira há 16 anos...
Colou!
Para você ter uma idéia do que aconteceu, abra sua carteira e dê uma olhada na sua habilitação.
Veja se tem alguma coisa escrita em inglês ou árabe ali.
Pois é. Ela aceitou mesmo sem ter idéia do que estava recebendo. Era só uma espécie de documento com meu nome e minha foto. Para todos os efeitos poderia ser a minha carteira do clube ou da biblioteca. Iria dar na mesma.
Ou eles confiam demais nas pessoas ou querem alugar MUITO os carros.
O bom é que consegui meu carro - tã feio quanto o primeiro, mas o suficiente para me levar de um lado para o outro e para me refrescar. Tudo que um carro precisa ser aqui nas arábias da vida.
Segunda-feira minhas meninas chegam e posso buscá-las no aeroporto com o novo possante, que é tão pequenino que parece um modelo em escala.
Espero que a bagagem caiba dentro dele. (Caiba é uma palavra horrível de se escrever. Parece errada.)
Enfim sou dono dos meus caminhos novamente.
Friday, September 30, 2005
Wednesday, September 28, 2005
É ouro!
Depois de um longo inverno finalmente tenho energia e cabeça - porque vocês sabem que tempo a gente sempre arruma - para escrever as minhas aventuras nos últimos dias.
A gente vive dizendo que não teve tempo de ligar para aquele amigo ou parente, que não deu tempo de fazer aquela coisa importante...
Mas o fato é que a gente consegue passar uma hora relendo aquele Chico Bento amarelado que está há uns 3 anos no banheiro.
O tempo a gente faz. Tempo a gente cria.
E eu tive que fazer esse tempo existir esta semana para terminar minhas novelas, matar minhas Odetes Roitmans.
E quem acompanhou a minha novela da carteira de habilitação sabe do que eu estou falando.
Nestas últimas duas semanas descobri que existe algo místico no universo.
Eu que sempre fui um materialista, cientificista, cético e cínico tive que me curvar.
O universo não é um lugar onde apenas as leis da física imperam. Existe algo mais.
Acho que desde sempre existiu uma verdade absoluta. Uma das poucas.
A verdade de que eu odeio pegar taxis. Sempre detestei e continuo detestando. Pode ser em São Paulo, em Campinas, no Rio, na Nova Zelândia, no Egito, em Israel, em Dubai ou em qualquer lugar. O taxímetro para mim é como uma ampulheta em que a areia é o meu dinheiro.
Mas eis que o universo conspira e quando chego de Amsterdam descubro que não tenho carro e nem tenho direito a ter um carro. E por isso tenho que usar taxis, muitos taxis. Diariamente, até que eu vença a burocracia local e arrume a minha carteira de habilitação. E não é só isso! Ainda liguei para a agência de aluguel de carros e eles me disseram que mesmo que eu tirasse a carteira eles não poderiam aceitar que eu alugasse, porque eles não aceitam carteiras com menos de 1 ano desde a data de emissão.
E assim foi. Por duas longuíssimas semanas fui totalmente dependente dos taxis. E não é só isso. Eu moro longe, muito longe do trabalho. Não só os taxis demoravam para chegar como eram caríssimos.
Agora vai me dizer que a ciência explica isso? Para mim parece mais uma punição divina.
Mas, enfim, depois de tudo isso eu consegui.
Ontem foi o dia.
Começou na verdade anteontem quando eu imprimi 6 páginas de placas de trânsito locais para estudar.
E volta aquela sensação quase esquecida de quem vai ter prova no dia seguinte. Aquele frio na barriga do estudante que vai ser avaliado e que lembra véspera de vestibular.
Saio de manhã - de taxi, é claro - e vou para o outro lado da cidade.
Encontro o instrutor e tenho duas aulas seguidas em que ele me ensina como agir como um robô. 437 dicas de como agir na frente de quem vai avaliar. O frio na barriga aumenta. Será que vou conseguir lembrar de tudo? Parece que nunca dirigi antes.
Chega a hora do teste das placas. Vou para a sede do departamento de trânsito de Dubai e um monte de policiais mal-encarados que quase não falam inglês me mandam para um computador onde você faz o tal teste.
Medo de falhar. E já se foram 10 questões. Fim? Como assim fim? Só isso? Aprovado?
Que decepção. Me preparei para sofrer um bocado. Quase não dormi, estudei pacas para isso?
Próxima parada teste prático. Mais policiais mal-encarados e uma centena de pessoas esperando pelos seus testes.
Mais ansiedade.
Finalmente chega o meu grupo. Os últimos. Os 4 condenados.
Eu, espertamente, fico no meião para não ser o primeiro.
Ali vai o primeiro. Terrível. Depois um garoto iraniano. Parece que fez tudo certinho. Aí sou eu.
O robô recém treinado entra em ação.
5 minutos depois é a vez do último condenado.
Terrível. Chato dizer mas isso me faz sentir melhor. Seres humanos são uma droga mesmo.
Resultado: só uma das pessoas que estava no carro foi aprovada - e não estou falando do avaliador - esse foi reprovado por todos.
VITÓRIA!
E o melhor de tudo, a carteira ficou pronta na hora e é dourada.
Essa sensação de realização maravilhosa.
E caramba, é só uma carteira de habilitação!
Carteira de habilitação não. É minha carta de alforria.
A seguir cenas do próximo capítulo....
Depois de um longo inverno finalmente tenho energia e cabeça - porque vocês sabem que tempo a gente sempre arruma - para escrever as minhas aventuras nos últimos dias.
A gente vive dizendo que não teve tempo de ligar para aquele amigo ou parente, que não deu tempo de fazer aquela coisa importante...
Mas o fato é que a gente consegue passar uma hora relendo aquele Chico Bento amarelado que está há uns 3 anos no banheiro.
O tempo a gente faz. Tempo a gente cria.
E eu tive que fazer esse tempo existir esta semana para terminar minhas novelas, matar minhas Odetes Roitmans.
E quem acompanhou a minha novela da carteira de habilitação sabe do que eu estou falando.
Nestas últimas duas semanas descobri que existe algo místico no universo.
Eu que sempre fui um materialista, cientificista, cético e cínico tive que me curvar.
O universo não é um lugar onde apenas as leis da física imperam. Existe algo mais.
Acho que desde sempre existiu uma verdade absoluta. Uma das poucas.
A verdade de que eu odeio pegar taxis. Sempre detestei e continuo detestando. Pode ser em São Paulo, em Campinas, no Rio, na Nova Zelândia, no Egito, em Israel, em Dubai ou em qualquer lugar. O taxímetro para mim é como uma ampulheta em que a areia é o meu dinheiro.
Mas eis que o universo conspira e quando chego de Amsterdam descubro que não tenho carro e nem tenho direito a ter um carro. E por isso tenho que usar taxis, muitos taxis. Diariamente, até que eu vença a burocracia local e arrume a minha carteira de habilitação. E não é só isso! Ainda liguei para a agência de aluguel de carros e eles me disseram que mesmo que eu tirasse a carteira eles não poderiam aceitar que eu alugasse, porque eles não aceitam carteiras com menos de 1 ano desde a data de emissão.
E assim foi. Por duas longuíssimas semanas fui totalmente dependente dos taxis. E não é só isso. Eu moro longe, muito longe do trabalho. Não só os taxis demoravam para chegar como eram caríssimos.
Agora vai me dizer que a ciência explica isso? Para mim parece mais uma punição divina.
Mas, enfim, depois de tudo isso eu consegui.
Ontem foi o dia.
Começou na verdade anteontem quando eu imprimi 6 páginas de placas de trânsito locais para estudar.
E volta aquela sensação quase esquecida de quem vai ter prova no dia seguinte. Aquele frio na barriga do estudante que vai ser avaliado e que lembra véspera de vestibular.
Saio de manhã - de taxi, é claro - e vou para o outro lado da cidade.
Encontro o instrutor e tenho duas aulas seguidas em que ele me ensina como agir como um robô. 437 dicas de como agir na frente de quem vai avaliar. O frio na barriga aumenta. Será que vou conseguir lembrar de tudo? Parece que nunca dirigi antes.
Chega a hora do teste das placas. Vou para a sede do departamento de trânsito de Dubai e um monte de policiais mal-encarados que quase não falam inglês me mandam para um computador onde você faz o tal teste.
Medo de falhar. E já se foram 10 questões. Fim? Como assim fim? Só isso? Aprovado?
Que decepção. Me preparei para sofrer um bocado. Quase não dormi, estudei pacas para isso?
Próxima parada teste prático. Mais policiais mal-encarados e uma centena de pessoas esperando pelos seus testes.
Mais ansiedade.
Finalmente chega o meu grupo. Os últimos. Os 4 condenados.
Eu, espertamente, fico no meião para não ser o primeiro.
Ali vai o primeiro. Terrível. Depois um garoto iraniano. Parece que fez tudo certinho. Aí sou eu.
O robô recém treinado entra em ação.
5 minutos depois é a vez do último condenado.
Terrível. Chato dizer mas isso me faz sentir melhor. Seres humanos são uma droga mesmo.
Resultado: só uma das pessoas que estava no carro foi aprovada - e não estou falando do avaliador - esse foi reprovado por todos.
VITÓRIA!
E o melhor de tudo, a carteira ficou pronta na hora e é dourada.
Essa sensação de realização maravilhosa.
E caramba, é só uma carteira de habilitação!
Carteira de habilitação não. É minha carta de alforria.
A seguir cenas do próximo capítulo....
Sunday, September 25, 2005
Saturday, September 24, 2005
A aldeia global.
Para matar a vontade de usar livremente os meios de comunicação passei o dia de ontem brincando na internet, acessando o Orkut (que aqui é censurado), papeando no msn e baixando músicas.
Acho que baixei umas 200 músicas. Uma música leva a outra. Você lembra de uma situação em que ouviu uma música bacana, aí você lembra de alguém que estava junto com você neste momento e que gostava de uma outra música e esta música leva a outra e a outra e a outra. Quando você tem toda uma fonoteca nova para apreciar.
Depois fui dar uma olhada na TV a cabo. São 183 canais!
179 são horríveis. Canais de TV de Omã, Bahrain, Egito, Kuwait, Dubai, Abu Dhabi, Líbano, Síria, Jordânia e até do Iraque.
Elas me lembram a TV italiana. Piorada.
A TV italiana é como a música italiana.
Para mim a música italiana devia ter parado em Verdi. Tudo depois disso para mim é Festival de San Remo. Parece Pepino di Capri. Deprimente.
Como não tem nada anterior à TV italiana ela nem precisava existir. Faz o Ratinho e o João Kléber parecerem produções da BBC.
Agora tentem imaginar as TVs árabes que povoam minha TV a cabo. Os piores cenários, as piores músicas e os piores apresentadores tudo em um só pacote!
Como diria meu grande amigo Carlos Frederico 1607, a programação é toda gravada na toscana.
Parece que a programação é composta de 3 tipos de coisas: programas de auditório horríveis, programas tipo MTV péssimos e filmes tenebrosos que tem interpretação do tipo do Chaves - só que são sérios.
Acho que os terrorista ao invés de mandarem bombas deveriam mandar a programação local.
Seus inimigos na guerra santa não iriam suportar.
Acho que não foi uma boa idéia. Talvez eles devam continuar com as bombas.
Ninguém merece.
Para matar a vontade de usar livremente os meios de comunicação passei o dia de ontem brincando na internet, acessando o Orkut (que aqui é censurado), papeando no msn e baixando músicas.
Acho que baixei umas 200 músicas. Uma música leva a outra. Você lembra de uma situação em que ouviu uma música bacana, aí você lembra de alguém que estava junto com você neste momento e que gostava de uma outra música e esta música leva a outra e a outra e a outra. Quando você tem toda uma fonoteca nova para apreciar.
Depois fui dar uma olhada na TV a cabo. São 183 canais!
179 são horríveis. Canais de TV de Omã, Bahrain, Egito, Kuwait, Dubai, Abu Dhabi, Líbano, Síria, Jordânia e até do Iraque.
Elas me lembram a TV italiana. Piorada.
A TV italiana é como a música italiana.
Para mim a música italiana devia ter parado em Verdi. Tudo depois disso para mim é Festival de San Remo. Parece Pepino di Capri. Deprimente.
Como não tem nada anterior à TV italiana ela nem precisava existir. Faz o Ratinho e o João Kléber parecerem produções da BBC.
Agora tentem imaginar as TVs árabes que povoam minha TV a cabo. Os piores cenários, as piores músicas e os piores apresentadores tudo em um só pacote!
Como diria meu grande amigo Carlos Frederico 1607, a programação é toda gravada na toscana.
Parece que a programação é composta de 3 tipos de coisas: programas de auditório horríveis, programas tipo MTV péssimos e filmes tenebrosos que tem interpretação do tipo do Chaves - só que são sérios.
Acho que os terrorista ao invés de mandarem bombas deveriam mandar a programação local.
Seus inimigos na guerra santa não iriam suportar.
Acho que não foi uma boa idéia. Talvez eles devam continuar com as bombas.
Ninguém merece.
Thursday, September 22, 2005
Wednesday, September 21, 2005
Meu cérebro está vazio.
Depois de uma semana inteira trabalhando como um louco, finalmente acabamos a tal concorrência.
A galera aqui é meio devagar e, para variar, acabei trabalhando por três, talvez quatro.
Como toda concorrência, estávamos atrasados e terminamos em cima da hora. Adrenalina pura.
Isso faz com que você tenha a sensação de que não vai conseguir pensar em mais nada por uns 3 meses.
Fora o stress ainda tem uma coisa muito forte para te deixar ainda mais drenado.
O visto das minhas meninas ainda não saiu. Está demorando muito mais do que o esperado, mesmo para os padrões dubaianos. Dubaianos, este termo nunca foi tão apropriado. Eta leseira...
Parece que eles mudaram algumas regras para aprovar os vistos que tornaram (ainda) mais complicado o processo.
Adicione-se isto ao fato do WUSTA (e não wusha como foi anteriormente noticiado) que ajuda nestas questões está no Líbano e só chega hoje à noite.
Descobri que existem gradações de wustas. Eles têm mais ou menos poder, dependendo das pessoas que eles conhecem no orgão do governo em questão. Por isso tem wustinhas e wustões. Enquanto o wustão que está no Líbano não chegava eles pegaram um wustinha que não resolveu nada.
E minha frustração só aumenta com isso.
Aprendi que as coisas aqui só funcionam se você é um pentelho. Tem que aparecer a cada 5 minutos para cobrar, senão não tem jogo.
Pode ser no trabalho, alguém que está prestando um serviço para você, um motorista que vem te pegar. Não tem jeito, o negócio só vai funcionar se você aparecer e encher o saco. Isso sempre foi uma coisa que eu detestei fazer, mas pouco a pouco vou aprendendo.
Mas a pentelhação neste caso não ajudou nada. Não teve jeito
Continuo aqui, sem minhas meninas e com o cérebro vazio.
Amanhã tem mais. Quilos e quilos de trabalhos me esperando.
Tudo gigante e internacional.
Cê tá com medo por que veio?
Depois de uma semana inteira trabalhando como um louco, finalmente acabamos a tal concorrência.
A galera aqui é meio devagar e, para variar, acabei trabalhando por três, talvez quatro.
Como toda concorrência, estávamos atrasados e terminamos em cima da hora. Adrenalina pura.
Isso faz com que você tenha a sensação de que não vai conseguir pensar em mais nada por uns 3 meses.
Fora o stress ainda tem uma coisa muito forte para te deixar ainda mais drenado.
O visto das minhas meninas ainda não saiu. Está demorando muito mais do que o esperado, mesmo para os padrões dubaianos. Dubaianos, este termo nunca foi tão apropriado. Eta leseira...
Parece que eles mudaram algumas regras para aprovar os vistos que tornaram (ainda) mais complicado o processo.
Adicione-se isto ao fato do WUSTA (e não wusha como foi anteriormente noticiado) que ajuda nestas questões está no Líbano e só chega hoje à noite.
Descobri que existem gradações de wustas. Eles têm mais ou menos poder, dependendo das pessoas que eles conhecem no orgão do governo em questão. Por isso tem wustinhas e wustões. Enquanto o wustão que está no Líbano não chegava eles pegaram um wustinha que não resolveu nada.
E minha frustração só aumenta com isso.
Aprendi que as coisas aqui só funcionam se você é um pentelho. Tem que aparecer a cada 5 minutos para cobrar, senão não tem jogo.
Pode ser no trabalho, alguém que está prestando um serviço para você, um motorista que vem te pegar. Não tem jeito, o negócio só vai funcionar se você aparecer e encher o saco. Isso sempre foi uma coisa que eu detestei fazer, mas pouco a pouco vou aprendendo.
Mas a pentelhação neste caso não ajudou nada. Não teve jeito
Continuo aqui, sem minhas meninas e com o cérebro vazio.
Amanhã tem mais. Quilos e quilos de trabalhos me esperando.
Tudo gigante e internacional.
Cê tá com medo por que veio?
Tuesday, September 20, 2005
Olho maior que a barriga e a descoberta chocante.
Não estava preparado para isso.
Ontem fui jantar com um amigo libanês, sua esposa e outro libanês que trabalha no Kwaitt.
Fomos, claro, num restaurante tradicional libanês.
Os caras têm uma mania de sempre pedir 3 vezes mais comida do que você consegue comer. Sempre sobra muita comida, que poderia ser usada para criar um sentimento de culpa em gerações de crianças indefesas.
Mas o rango estava bom, bom demais. Ainda mais para alguém que tem tido que se virar com a alimentação por mais de 3 meses.
Haja sanduíche!
Eles adoram azeitonas. E pegam com a mão. Eu me senti um desajeitado pegando as azeitonas com o garfo, comendo e jogando a semente de novo no garfo - o que vocês sabem que não é fácil - antes de jogar no pratinho. Uma contorção complexa para manter os bons modos à mesa. Aqui as coisas são muito simples. Aprendi uma lição e ainda fui motivo de riso. Ser o exótico de plantão não é fácil...
Mas choque estava por vir.
O papo estava bom, divertido e envolvente. Uma hora não resisti e fiz a pergunta fatídica, porque a pessoa que estava comigo era especial: um libanês que viveu no Brasil. O portador de uma sabedoria única. O único capaz de responder a pergunta que não quer calar:
Tem beirute em Beirute?
E ele disse...não!
Que decepção.
Estava torcendo para que ele me dissesse que beirute em Beirute chama bauru, ou algo assim.
Mas não tem jeito.
Não existem beirutes em Beirute.
Não estava preparado para isso.
Ontem fui jantar com um amigo libanês, sua esposa e outro libanês que trabalha no Kwaitt.
Fomos, claro, num restaurante tradicional libanês.
Os caras têm uma mania de sempre pedir 3 vezes mais comida do que você consegue comer. Sempre sobra muita comida, que poderia ser usada para criar um sentimento de culpa em gerações de crianças indefesas.
Mas o rango estava bom, bom demais. Ainda mais para alguém que tem tido que se virar com a alimentação por mais de 3 meses.
Haja sanduíche!
Eles adoram azeitonas. E pegam com a mão. Eu me senti um desajeitado pegando as azeitonas com o garfo, comendo e jogando a semente de novo no garfo - o que vocês sabem que não é fácil - antes de jogar no pratinho. Uma contorção complexa para manter os bons modos à mesa. Aqui as coisas são muito simples. Aprendi uma lição e ainda fui motivo de riso. Ser o exótico de plantão não é fácil...
Mas choque estava por vir.
O papo estava bom, divertido e envolvente. Uma hora não resisti e fiz a pergunta fatídica, porque a pessoa que estava comigo era especial: um libanês que viveu no Brasil. O portador de uma sabedoria única. O único capaz de responder a pergunta que não quer calar:
Tem beirute em Beirute?
E ele disse...não!
Que decepção.
Estava torcendo para que ele me dissesse que beirute em Beirute chama bauru, ou algo assim.
Mas não tem jeito.
Não existem beirutes em Beirute.
Monday, September 19, 2005
Eu e a carteira de motorista.
Eu realmente me odeio.
Porque será que tenho essa mania de adiar as coisas até encontrar a solução ideal?
Poderia estar com a carteira de motorista pronta ou quase pronta.
Mas é quase sempre assim. Tenho um problema e aparece uma solução. Mas aí ela não é ideal por causa do preço, do prazo ou da pessoa responsável. Começo a procurar alternativas. É claro que encontrar alternativas demanda tempo.
E as pessoas que te dão as respostas não estão preocupadas com a sua ansiedade.
Uma demora aqui, outra ali. De repente o tempo que você pretendia economizar já foi, mas você está preso. "agora que eu já perdi esse tempo todo é que tenho que achar alguém que faça rápido."
E por aí vai. No fim você acaba fazendo com o mesmo cara que apareceu no primeiro dia e, graças à lei de Murphy, ele não vai conseguir as coisas no mesmo prazo do começo. Vai demorar, claro, mais um pouquinho.
Hoje foi mais um capítulo desta história. Ia fechar com o cara, um tal de Ziad, que foi recomendado por um outro cara que ajudou um amigo meu a tirar a carteira em 2 dias (claro que essas coisas nunca acontecem comigo - quando entrei em contato com o cara ele só falava árabe). Um pouco antes dele ligar fui falar com a secretária do VPzão sobre uma carta que precisava para poder contratar os serviços de internet e TV a cabo lá em casa. Contei de passagem minha situação da carteira e ela prontamente me colocou para falar com um cara que, supostamente, resolveria todos os meus problemas rapidinho e com presteza.
O jeito do cara já me mostrou que não era o tipo de malaco que eu precisava. A gente começa a farejar esses tipos quando está em dificuldades burocráticas.
A primeira coisas que esse cara falou foi que eu precisava tirar uma carteira nova e que ia ter que fazer 15 (quinze) horas de lições de direção. Neste momento eu entendi porque o Tio Patinhas diz QUAC!!! quando está enfurecido.
Acabei ficando com o Ziad, que vai me comer uma grana, mas vai resolver minha vida.
E o melhor, ele é malaco. Do jeito que a gente precisa quando está vendido num país estranho.
Eu realmente me odeio.
Porque será que tenho essa mania de adiar as coisas até encontrar a solução ideal?
Poderia estar com a carteira de motorista pronta ou quase pronta.
Mas é quase sempre assim. Tenho um problema e aparece uma solução. Mas aí ela não é ideal por causa do preço, do prazo ou da pessoa responsável. Começo a procurar alternativas. É claro que encontrar alternativas demanda tempo.
E as pessoas que te dão as respostas não estão preocupadas com a sua ansiedade.
Uma demora aqui, outra ali. De repente o tempo que você pretendia economizar já foi, mas você está preso. "agora que eu já perdi esse tempo todo é que tenho que achar alguém que faça rápido."
E por aí vai. No fim você acaba fazendo com o mesmo cara que apareceu no primeiro dia e, graças à lei de Murphy, ele não vai conseguir as coisas no mesmo prazo do começo. Vai demorar, claro, mais um pouquinho.
Hoje foi mais um capítulo desta história. Ia fechar com o cara, um tal de Ziad, que foi recomendado por um outro cara que ajudou um amigo meu a tirar a carteira em 2 dias (claro que essas coisas nunca acontecem comigo - quando entrei em contato com o cara ele só falava árabe). Um pouco antes dele ligar fui falar com a secretária do VPzão sobre uma carta que precisava para poder contratar os serviços de internet e TV a cabo lá em casa. Contei de passagem minha situação da carteira e ela prontamente me colocou para falar com um cara que, supostamente, resolveria todos os meus problemas rapidinho e com presteza.
O jeito do cara já me mostrou que não era o tipo de malaco que eu precisava. A gente começa a farejar esses tipos quando está em dificuldades burocráticas.
A primeira coisas que esse cara falou foi que eu precisava tirar uma carteira nova e que ia ter que fazer 15 (quinze) horas de lições de direção. Neste momento eu entendi porque o Tio Patinhas diz QUAC!!! quando está enfurecido.
Acabei ficando com o Ziad, que vai me comer uma grana, mas vai resolver minha vida.
E o melhor, ele é malaco. Do jeito que a gente precisa quando está vendido num país estranho.
Sunday, September 18, 2005
Tive um papo que seria surreal se não fosse em Dubai.
Hoje peguei carona com o Rami, um diretor de arte que trabalha na BBDO. Ele passou em casa e, como é um aficcionado em jardinagem, comentou que o gramado da minha casa ainda tem salvação e que agora que a temperatura baixou para agradáveis 38 graus as coisas vão ser diferentes.
Nada com uma brisa fresquinha como essa...
Para quem suportou temperaturas que beiravam os 50 graus há poucas semanas atrás, 38 graus é bolinho.
Um bolinho que acabou de sair do forno, é claro.
Hoje peguei carona com o Rami, um diretor de arte que trabalha na BBDO. Ele passou em casa e, como é um aficcionado em jardinagem, comentou que o gramado da minha casa ainda tem salvação e que agora que a temperatura baixou para agradáveis 38 graus as coisas vão ser diferentes.
Nada com uma brisa fresquinha como essa...
Para quem suportou temperaturas que beiravam os 50 graus há poucas semanas atrás, 38 graus é bolinho.
Um bolinho que acabou de sair do forno, é claro.
Saturday, September 17, 2005
Al Braçudos
Como a galera aqui é braço duro.
Se alguém espirra no trânsito já é causa para engarrafamento.
Agora imagina o que acontece quando tem um acidente numa das avenidas mais movimentas dos Emirados Árabes...
Foi o que aconteceu hoje na Sheikh Zayed Road, a avenida-estrada que liga Dubai a Abu Dhabi.
Teve um acidente pesado em que apareceu até ambulância. Não preciso dizer que parou a cidade inteira.
Eu estava indo no sentido contrário e estava tudo parado também, o que me levou a constatar mais uma vez que os seres humanos são iguais em todos os lugares. Aquela irritante curiosidade mórbida do motorista é internacional - seja ele indiano, árabe, inglês, suazilandês, não importa, todos reduzem para ver o circo pegar fogo.
Demorei meia hora para fazer um trecho que não levaria mais do que 5 minutos.
Estava indo para Al Karama, um bairro predominantemente indiano perto de Bur Dubai.
Lá tem uma agência do UAE Exchange, de onde eu mando o fruto do meu suor para a Pindorama. É rápido, eficiente e barato.
Claro que dá aquela mega-insegurança na primeira vez que você faz isso, aquele sentimento meio infantilóide, de total desproteção - mais ou menos parecido com alquela sensação que você tem quando vai em uma repartição pública no Brasil, em que você precisa arrumar alguma coisa muito importante que está atrapalhando a sua vida, você está totalmente vendido. É como se você estivesse dando adeus para as suas verdinhas, que aqui são de outras cores.
Mas o dinheiro acaba chegando, sem problemas.
Hoje ainda aproveitei para comprar um relógio farseta da Panerai. Uma peça extraordinária da pirataria por apenas 110 reais.
Uma das poucas coisas que tive vontade de comprar por aqui até agora. Acho que a próxima vai ser um carro.
Que mudança, hein?
Quando saí do Karama Center, o shopping de indianos que fica em Al Karama, o trânsito continuava horrível - mesmo a quilômetros do epicentro do acidente.
Saí andando em direção às Emirates Towers porque estava tudo parado. E eu ia muito mais rápido que os carros.
Andei meia hora e fiquei, mais uma vez, suado para caramba. Viva o deserto.
Quando estava mais perto das Emirates Towers peguei um taxi para dar uma resfriada e uma secada. Assim cheguei ao escritório com um aspecto menos deprimente, mas ainda impressionado com a capacidade das pessoas aqui de gerarem tempestades não em copos d'água, mas em tanques de areia.
Podia ser pior. Podia ser sábado.
Como a galera aqui é braço duro.
Se alguém espirra no trânsito já é causa para engarrafamento.
Agora imagina o que acontece quando tem um acidente numa das avenidas mais movimentas dos Emirados Árabes...
Foi o que aconteceu hoje na Sheikh Zayed Road, a avenida-estrada que liga Dubai a Abu Dhabi.
Teve um acidente pesado em que apareceu até ambulância. Não preciso dizer que parou a cidade inteira.
Eu estava indo no sentido contrário e estava tudo parado também, o que me levou a constatar mais uma vez que os seres humanos são iguais em todos os lugares. Aquela irritante curiosidade mórbida do motorista é internacional - seja ele indiano, árabe, inglês, suazilandês, não importa, todos reduzem para ver o circo pegar fogo.
Demorei meia hora para fazer um trecho que não levaria mais do que 5 minutos.
Estava indo para Al Karama, um bairro predominantemente indiano perto de Bur Dubai.
Lá tem uma agência do UAE Exchange, de onde eu mando o fruto do meu suor para a Pindorama. É rápido, eficiente e barato.
Claro que dá aquela mega-insegurança na primeira vez que você faz isso, aquele sentimento meio infantilóide, de total desproteção - mais ou menos parecido com alquela sensação que você tem quando vai em uma repartição pública no Brasil, em que você precisa arrumar alguma coisa muito importante que está atrapalhando a sua vida, você está totalmente vendido. É como se você estivesse dando adeus para as suas verdinhas, que aqui são de outras cores.
Mas o dinheiro acaba chegando, sem problemas.
Hoje ainda aproveitei para comprar um relógio farseta da Panerai. Uma peça extraordinária da pirataria por apenas 110 reais.
Uma das poucas coisas que tive vontade de comprar por aqui até agora. Acho que a próxima vai ser um carro.
Que mudança, hein?
Quando saí do Karama Center, o shopping de indianos que fica em Al Karama, o trânsito continuava horrível - mesmo a quilômetros do epicentro do acidente.
Saí andando em direção às Emirates Towers porque estava tudo parado. E eu ia muito mais rápido que os carros.
Andei meia hora e fiquei, mais uma vez, suado para caramba. Viva o deserto.
Quando estava mais perto das Emirates Towers peguei um taxi para dar uma resfriada e uma secada. Assim cheguei ao escritório com um aspecto menos deprimente, mas ainda impressionado com a capacidade das pessoas aqui de gerarem tempestades não em copos d'água, mas em tanques de areia.
Podia ser pior. Podia ser sábado.
Friday, September 16, 2005
Última forma!
Estava falando sobre a concorrência e queria adicionar um fato. Eu e minha equipe nos reunimos hoje para criar as tais campanhas. Para dar uma arejada na cabeça resolvemos dar uma saída da agência. É sempre bom fugir deste ambiente cinzento. Ajuda as idéias a fluirem.
Fomos para um restaurante bacaninha e arrumamos uma mesa. O lugar estava lotado e era muito barulhento.
Discutimos o trabalho, tivemos idéias, falamos sobre filmes, mais idéias, mais filmes, ainda mais filmes, comemos, falamos sobre filmes e decidimos que o lugar estava muito barulhento para criar.
Vamos lá para fora, decidimos.
Arranjamos uma mesa e começamos a falar sobre filmes. Mais uma idéia e mais filmes. 15 minutos depois estávamos suando como porcos (de onde vem essa expressão esdrúxula?).
O calor ainda não está dando sossego - e hoje a umidade estava de matar.
Como foi que a civilização chegou até aqui? A civilização até que não faz tanta falta, mas o chopp sim.
Como foi que o chopp não chegou até aqui?
Se Maomé conhecesse o chopp certamente o teria colocado como uma das coisas sagradas para o Islã.
E com certeza faria com que a tarefa de criar uma campanha chatíssima numa tarde de sexta-feira - que é como o sábado para vocês tupiniquins - fosse uma tarefa mais agradável.
In vino veritas.
Estava falando sobre a concorrência e queria adicionar um fato. Eu e minha equipe nos reunimos hoje para criar as tais campanhas. Para dar uma arejada na cabeça resolvemos dar uma saída da agência. É sempre bom fugir deste ambiente cinzento. Ajuda as idéias a fluirem.
Fomos para um restaurante bacaninha e arrumamos uma mesa. O lugar estava lotado e era muito barulhento.
Discutimos o trabalho, tivemos idéias, falamos sobre filmes, mais idéias, mais filmes, ainda mais filmes, comemos, falamos sobre filmes e decidimos que o lugar estava muito barulhento para criar.
Vamos lá para fora, decidimos.
Arranjamos uma mesa e começamos a falar sobre filmes. Mais uma idéia e mais filmes. 15 minutos depois estávamos suando como porcos (de onde vem essa expressão esdrúxula?).
O calor ainda não está dando sossego - e hoje a umidade estava de matar.
Como foi que a civilização chegou até aqui? A civilização até que não faz tanta falta, mas o chopp sim.
Como foi que o chopp não chegou até aqui?
Se Maomé conhecesse o chopp certamente o teria colocado como uma das coisas sagradas para o Islã.
E com certeza faria com que a tarefa de criar uma campanha chatíssima numa tarde de sexta-feira - que é como o sábado para vocês tupiniquins - fosse uma tarefa mais agradável.
In vino veritas.
Concorrências
Como alguns de vocês sabem, para mim já é fim de semana.
Mas o trabalho não pára. Me reuni com uma equipe para preparar uma campanha chatíssima para uma concorrência.
Por que será que as concorrências são sempre chatas?
Em propaganda as concorrências são as coisas mais pentelhas do mundo. Pode ser no Brasil, nos Estados Unidos, na França, em Dubai e em Uganda. Parece que tem uma lei universal tão forte como a lei da gravidade.
Quando você está trabalhando em uma concorrência a sensação é de que vai para um limbo para onde todos os profissionais de propaganda vão, um lugar sem fronteiras em que todas as agências de todos os lugares parecem se encontrar.
Um imaginário coletivo publicitário que é a definição da chatice.
São trabalhos longos, desgastantes, imensos e que têm dúzias de pessoas com diferentes expectativas envolvidas - e no final todas têm que ficar satisfeitas.
Quase como uma reunião do conselho de segurança da ONU. A única diferença é que às vezes o conselho de segurança chega a um consenso.
E, no fim, a apresentação.
Aí não importa muito se o trabalho é bom ou é ruim. Sempre tem alguma coisa que não tem nada a ver com a qualidade da criação que vai definir se você ganhou. Se ela for terrível com certeza vai ajudar a perder. Mas se for maravilhosa não garante nada. Sempre tem alguém que conhece alguém que faz com que o resultado mude.
A apresentação é sempre igual. Se você apresenta não tem a mínima idéia do que o cliente pensou - eles sempre fazem cara de jogadores de pôquer. Se é outra pessoa que apresentou ela sempre chega dizendo que foi fantástico, maravilhoso. Mas você sabe que é balela. Quando está lá nunca é claro.
Tudo bem, você ganhou. Aí vem a parte mais irritante. Sua campanha NUNCA é produzida. O cliente diz: "muito bem, vocês ganharam. Agora vou dizer o que quero realmente."
Bem vindos ao maravilhoso mundo da propaganda mundial.
Mudam os endereços, mas não as mos...quero dizer, o estilo.
Como alguns de vocês sabem, para mim já é fim de semana.
Mas o trabalho não pára. Me reuni com uma equipe para preparar uma campanha chatíssima para uma concorrência.
Por que será que as concorrências são sempre chatas?
Em propaganda as concorrências são as coisas mais pentelhas do mundo. Pode ser no Brasil, nos Estados Unidos, na França, em Dubai e em Uganda. Parece que tem uma lei universal tão forte como a lei da gravidade.
Quando você está trabalhando em uma concorrência a sensação é de que vai para um limbo para onde todos os profissionais de propaganda vão, um lugar sem fronteiras em que todas as agências de todos os lugares parecem se encontrar.
Um imaginário coletivo publicitário que é a definição da chatice.
São trabalhos longos, desgastantes, imensos e que têm dúzias de pessoas com diferentes expectativas envolvidas - e no final todas têm que ficar satisfeitas.
Quase como uma reunião do conselho de segurança da ONU. A única diferença é que às vezes o conselho de segurança chega a um consenso.
E, no fim, a apresentação.
Aí não importa muito se o trabalho é bom ou é ruim. Sempre tem alguma coisa que não tem nada a ver com a qualidade da criação que vai definir se você ganhou. Se ela for terrível com certeza vai ajudar a perder. Mas se for maravilhosa não garante nada. Sempre tem alguém que conhece alguém que faz com que o resultado mude.
A apresentação é sempre igual. Se você apresenta não tem a mínima idéia do que o cliente pensou - eles sempre fazem cara de jogadores de pôquer. Se é outra pessoa que apresentou ela sempre chega dizendo que foi fantástico, maravilhoso. Mas você sabe que é balela. Quando está lá nunca é claro.
Tudo bem, você ganhou. Aí vem a parte mais irritante. Sua campanha NUNCA é produzida. O cliente diz: "muito bem, vocês ganharam. Agora vou dizer o que quero realmente."
Bem vindos ao maravilhoso mundo da propaganda mundial.
Mudam os endereços, mas não as mos...quero dizer, o estilo.
Thursday, September 15, 2005
Finalmente o calor está começando a ceder.
Melhor do que isso, a umidade está ficando tolerável.
Antes era impossível ficar parado em lugares abertos por muito tempo. 10 minutos e você já estava parecendo - e cheirando como - um estivador no porto de Santos.
Mesmo assim eu fui dar uns arremessos na meia quadra que tem do lado de casa anteontem à noite.
Fiquei 40 minutos arremessando e parecia no final que eu tinha ficado 40 minutos nadando.
Ainda bem que a piscina do condomínio fica a 30 passos da quadra de basquete.
Aí a vida parece que faz muito mais sentido.
Melhor do que isso, a umidade está ficando tolerável.
Antes era impossível ficar parado em lugares abertos por muito tempo. 10 minutos e você já estava parecendo - e cheirando como - um estivador no porto de Santos.
Mesmo assim eu fui dar uns arremessos na meia quadra que tem do lado de casa anteontem à noite.
Fiquei 40 minutos arremessando e parecia no final que eu tinha ficado 40 minutos nadando.
Ainda bem que a piscina do condomínio fica a 30 passos da quadra de basquete.
Aí a vida parece que faz muito mais sentido.
Wednesday, September 14, 2005
Que falta do Didi Mocó.
Muito do meu senso de humor - não estou dizendo que sou engraçado - é totalmente baseado nas coisas da terra. E isso a gente não consegue trazer para o exterior.
Os trocadilhos, as imitações do Galvão Bueno, falar mal do Faustão e destestar o Jô.
Fazer conversas inteiras usando metáforas futebolísticas.
Contar piadas.
Eu lembro de um filme menor baseado em um livro do Stephen King ainda menor, O Apanhador de Sonhos.
Este filme é um samba do crioulo doido (outra expressão perdida!), tem alienígenas, terror, amigos de infância que vivem aventuras e que depois tem um vínculo paranormal, mortes, exército e bomba atômica.
Mas tem uma coisa muito interessante, que já era legal no livro e que no cinema ficou ainda mais jóia.
O tal alienígena invade a mente das pessoas.
E um dos personagens tem sua mente invadida e, para representá-la, eles criaram uma imensa biblioteca onde essa criatura persegue nosso herói. Montes de prateleiras com livros, cadernos, papéis, arquivos, guardanapos com mensagens, estantes cheias. Linda.
Ele foge e, quando tudo parece perdido e ele vai ter sua mente totalmente tomada pelo monstro alienígena (que nós não vemos - ponto para eles!) ele se refugia num quartinho onde estão suas memórias esquecidas de infância. Discos, livros, objetos. Ele se tranca ali e fica protegido, talvez não por muito tempo. Quem quiser saber o que acontece, arrisque-se na locadora mais próxima.
Para mim a nossa cabeça é como essa biblioteca. Cheia, muito cheia, de coisas que sabemos, fizemos e lembramos. Talvez não sempre, mas sempre que precisamos daquela frase chave ou aquela referência matadora, lá vem ela.
O que eu sinto hoje é que muitas prateleiras estão esquecidas, empoeiradas. Prateleiras não, alas inteiras.
Balão Mágico, Cremogema, Araquém - o Showmen, o Xandó, Montanaro, Bernard e William, Bollet's, Havaianas, Chico Anísio, Paralamas do Sucesso, Ultraje a Rigor, Armação Ilimitada, TV Pirata, Fernando Collor, Tancredo Neves, Blitz, Opala, Chevette, Brasília - amarela, de preferência, Fuscão Preto, Chacrinha, Globo Repórter, Você Decide, Perdidos na Noite (Faustão, você teve a sua chance), Chico e Caetano, PT, Yakult, Jornal Nacional, Sessão da Tarde, Pagode, música sertaneja, Xou da Xuxa, Turma da Mônica, Mobilette, Caloi 10, Geléia de Mocotó Colombo, Bala de Leite Kids, Discão, desfile de 7 de Setembro, Sílvio Santos, Show do Milhão, Domingo no Parque, Cid Moreira e Sergio Chapelin, Zico e Sócrates, Playcenter, Capitão Aza, Globinho, Sítio do Pica-Pau Amarelo, Amendoim Japonês, Angeli e Laerte, Analista de Bagé, Veríssimo e Jabor, Carnaval, Lecy Brandão e Carlos Imperial, a Praça é Nossa e Zorra Total, Coleção Vagalume, O Gênio do Crime, O Menino Maluquinho, Flicts, Daniel Azulay, Ayrton Senna, Nelson Piquet, Emerson Fittipaldi, Luciano do Valle, Sílvio Luís e Juarez Soares, Osmar Santos, Vale Tudo, Roque Santeiro e O Bem Amado, Vereda Tropical e Guerra dos Sexos, Que Rei Sou Eu, Os Imigrantes, danoninho e bala Soft, Ked's e Kichute, Bamba e Adidas Top Ten, Planeta dos Homens, Balança Mas Não Cai, festival Jerry Lewis e filme dos Trapalhões nas férias.
Essas, e um monte de prateleiras cheias de coisas que não lembrei ou não tive tempo de escrever, nos fazem quem somos.
Nos fazem maiores do que somos porque nos ajudam a nos conectar com outras pessoas ligadas a este imaginário comum.
Nossa persona internacional é diferente de nosso personagem local. Uma versão mais séria e talvez um pouco menos rica do que aquela lançada em terras tupiniquins, mas sempre interessante. Porque a soma desses volumes que enchem nossas prateleiras nos faz o que somos.
Mas que faz falta gritar "Cacildis!!!" faz.
Como diria o grande sábio Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumo,
ô da poltrona, ou me empirulitar daqui.
É Caflito!!!
Muito do meu senso de humor - não estou dizendo que sou engraçado - é totalmente baseado nas coisas da terra. E isso a gente não consegue trazer para o exterior.
Os trocadilhos, as imitações do Galvão Bueno, falar mal do Faustão e destestar o Jô.
Fazer conversas inteiras usando metáforas futebolísticas.
Contar piadas.
Eu lembro de um filme menor baseado em um livro do Stephen King ainda menor, O Apanhador de Sonhos.
Este filme é um samba do crioulo doido (outra expressão perdida!), tem alienígenas, terror, amigos de infância que vivem aventuras e que depois tem um vínculo paranormal, mortes, exército e bomba atômica.
Mas tem uma coisa muito interessante, que já era legal no livro e que no cinema ficou ainda mais jóia.
O tal alienígena invade a mente das pessoas.
E um dos personagens tem sua mente invadida e, para representá-la, eles criaram uma imensa biblioteca onde essa criatura persegue nosso herói. Montes de prateleiras com livros, cadernos, papéis, arquivos, guardanapos com mensagens, estantes cheias. Linda.
Ele foge e, quando tudo parece perdido e ele vai ter sua mente totalmente tomada pelo monstro alienígena (que nós não vemos - ponto para eles!) ele se refugia num quartinho onde estão suas memórias esquecidas de infância. Discos, livros, objetos. Ele se tranca ali e fica protegido, talvez não por muito tempo. Quem quiser saber o que acontece, arrisque-se na locadora mais próxima.
Para mim a nossa cabeça é como essa biblioteca. Cheia, muito cheia, de coisas que sabemos, fizemos e lembramos. Talvez não sempre, mas sempre que precisamos daquela frase chave ou aquela referência matadora, lá vem ela.
O que eu sinto hoje é que muitas prateleiras estão esquecidas, empoeiradas. Prateleiras não, alas inteiras.
Balão Mágico, Cremogema, Araquém - o Showmen, o Xandó, Montanaro, Bernard e William, Bollet's, Havaianas, Chico Anísio, Paralamas do Sucesso, Ultraje a Rigor, Armação Ilimitada, TV Pirata, Fernando Collor, Tancredo Neves, Blitz, Opala, Chevette, Brasília - amarela, de preferência, Fuscão Preto, Chacrinha, Globo Repórter, Você Decide, Perdidos na Noite (Faustão, você teve a sua chance), Chico e Caetano, PT, Yakult, Jornal Nacional, Sessão da Tarde, Pagode, música sertaneja, Xou da Xuxa, Turma da Mônica, Mobilette, Caloi 10, Geléia de Mocotó Colombo, Bala de Leite Kids, Discão, desfile de 7 de Setembro, Sílvio Santos, Show do Milhão, Domingo no Parque, Cid Moreira e Sergio Chapelin, Zico e Sócrates, Playcenter, Capitão Aza, Globinho, Sítio do Pica-Pau Amarelo, Amendoim Japonês, Angeli e Laerte, Analista de Bagé, Veríssimo e Jabor, Carnaval, Lecy Brandão e Carlos Imperial, a Praça é Nossa e Zorra Total, Coleção Vagalume, O Gênio do Crime, O Menino Maluquinho, Flicts, Daniel Azulay, Ayrton Senna, Nelson Piquet, Emerson Fittipaldi, Luciano do Valle, Sílvio Luís e Juarez Soares, Osmar Santos, Vale Tudo, Roque Santeiro e O Bem Amado, Vereda Tropical e Guerra dos Sexos, Que Rei Sou Eu, Os Imigrantes, danoninho e bala Soft, Ked's e Kichute, Bamba e Adidas Top Ten, Planeta dos Homens, Balança Mas Não Cai, festival Jerry Lewis e filme dos Trapalhões nas férias.
Essas, e um monte de prateleiras cheias de coisas que não lembrei ou não tive tempo de escrever, nos fazem quem somos.
Nos fazem maiores do que somos porque nos ajudam a nos conectar com outras pessoas ligadas a este imaginário comum.
Nossa persona internacional é diferente de nosso personagem local. Uma versão mais séria e talvez um pouco menos rica do que aquela lançada em terras tupiniquins, mas sempre interessante. Porque a soma desses volumes que enchem nossas prateleiras nos faz o que somos.
Mas que faz falta gritar "Cacildis!!!" faz.
Como diria o grande sábio Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumo,
ô da poltrona, ou me empirulitar daqui.
É Caflito!!!
Tuesday, September 13, 2005
Eles, de novo!
Agora que sou um pedestre de novo - ou seja, deixei de pertencer ao grupo de indivíduos normais, do qual fazia parte desde que aluguei um carro e comprei um celular - não paro de fazer descobertas.
De repente o lugar está cheio de camelos.
E logo no caminho de casa. Eles estavam lá o tempo todo, escondidos nas dunas do deserto. E são muitos! Só que com a atenção voltada para a estrada não via nada. As paisagens de Dubai voltam a oferecer novidades.
Afinal de contar até que não é tão ruim estar a pé.
Também tem prédios interessantes que eu nunca tinha visto e construções que avançaram muito desde que dei minha última olhada rápida.
A pista de esqui está quase pronta. Sim, aqui tem uma pista de esqui - indoor e com neve de verdade, é claro, porque se fosse aberta ao final do dia ela não ia estar nem molhada. Não sei se já tinha falado sobre ela. Mas sempre vale a pena lembrar as coisas malucas que se vê por aqui.
Não podemos perder a sensação de maravilhamento, nunca. Deixar de perceber o espaço que nos rodeia.
Por isso estar a pé tem suas vantagens. Me faz perceber que tem muita coisa para descobrir, mesmo quando achamos que já sabemos exatamente onde estamos.
Ficar sem carro é chato para cacete, mas não é o fim do mundo.
Mas a minha casa está bem perto de lá.
Táxi!
Agora que sou um pedestre de novo - ou seja, deixei de pertencer ao grupo de indivíduos normais, do qual fazia parte desde que aluguei um carro e comprei um celular - não paro de fazer descobertas.
De repente o lugar está cheio de camelos.
E logo no caminho de casa. Eles estavam lá o tempo todo, escondidos nas dunas do deserto. E são muitos! Só que com a atenção voltada para a estrada não via nada. As paisagens de Dubai voltam a oferecer novidades.
Afinal de contar até que não é tão ruim estar a pé.
Também tem prédios interessantes que eu nunca tinha visto e construções que avançaram muito desde que dei minha última olhada rápida.
A pista de esqui está quase pronta. Sim, aqui tem uma pista de esqui - indoor e com neve de verdade, é claro, porque se fosse aberta ao final do dia ela não ia estar nem molhada. Não sei se já tinha falado sobre ela. Mas sempre vale a pena lembrar as coisas malucas que se vê por aqui.
Não podemos perder a sensação de maravilhamento, nunca. Deixar de perceber o espaço que nos rodeia.
Por isso estar a pé tem suas vantagens. Me faz perceber que tem muita coisa para descobrir, mesmo quando achamos que já sabemos exatamente onde estamos.
Ficar sem carro é chato para cacete, mas não é o fim do mundo.
Mas a minha casa está bem perto de lá.
Táxi!
Monday, September 12, 2005
Pedestre
Minha vida anda meio atrapalhada ultimamente. Consegui meu visto de residência um dia antes de viajar para o Líbano. Até aí tudo bem - finalmente havia me afirmado como um morador oficial de Dubai. Mas eu não sabia que iria entrar em um buraco negro burocrático que está me tomando tempo, energia e dinheiro.
No dia de viajar entreguei meu carro alegremente na locadora e pensei "que beleza, vou enconomizar uns trocados enquanto estou fora". Liguei de Amsterdam para a locadora e pedi para que eles deixassem um carro me esperando no aeroporto de Dubai quando chegasse. Tudo certinho. Nem parecia que era eu, de tão organizado.
Depois do pesadelo que foi a viagem de Amsterdam para Dubai pela maldita KLM cheguei, cansado, no aeroporto de Dubai.
Finalmente as coisas iriam começar a funcionar.
Era essa a idéia.
Fui até o guichê da Europcar e pedi meu carro. Ele estava lá, lindinho me esperando. Só que eles não aceitaram minha carteira de motorista...Segundo os malditos depois que você recebe o visto de residência você tem que ter uma carteira local - coisa fácil de você tem uma carteira de motorista americana ou inglesa, situação em que você só precisa trocar a licença por uma local. Mas para nós, pobres terceiro-mundistas da longínqua América do Sul, não tem outro jeito. Tem que fazer os testes. E, fazendo os testes você tira a sua maravilhosa carteira - mas não pode alugar o carro!!!
Isso porque a locadora não aceita carteiras com menos de um ano...
Agora que eu estou morando num condomínio que é num fim de mundo essa situação fica ainda mais penosa.
Táxi, táxi, táxi...
E grana, grana, grana.
Ei, alguém aí pode me dar uma carona?
Minha vida anda meio atrapalhada ultimamente. Consegui meu visto de residência um dia antes de viajar para o Líbano. Até aí tudo bem - finalmente havia me afirmado como um morador oficial de Dubai. Mas eu não sabia que iria entrar em um buraco negro burocrático que está me tomando tempo, energia e dinheiro.
No dia de viajar entreguei meu carro alegremente na locadora e pensei "que beleza, vou enconomizar uns trocados enquanto estou fora". Liguei de Amsterdam para a locadora e pedi para que eles deixassem um carro me esperando no aeroporto de Dubai quando chegasse. Tudo certinho. Nem parecia que era eu, de tão organizado.
Depois do pesadelo que foi a viagem de Amsterdam para Dubai pela maldita KLM cheguei, cansado, no aeroporto de Dubai.
Finalmente as coisas iriam começar a funcionar.
Era essa a idéia.
Fui até o guichê da Europcar e pedi meu carro. Ele estava lá, lindinho me esperando. Só que eles não aceitaram minha carteira de motorista...Segundo os malditos depois que você recebe o visto de residência você tem que ter uma carteira local - coisa fácil de você tem uma carteira de motorista americana ou inglesa, situação em que você só precisa trocar a licença por uma local. Mas para nós, pobres terceiro-mundistas da longínqua América do Sul, não tem outro jeito. Tem que fazer os testes. E, fazendo os testes você tira a sua maravilhosa carteira - mas não pode alugar o carro!!!
Isso porque a locadora não aceita carteiras com menos de um ano...
Agora que eu estou morando num condomínio que é num fim de mundo essa situação fica ainda mais penosa.
Táxi, táxi, táxi...
E grana, grana, grana.
Ei, alguém aí pode me dar uma carona?
Saturday, September 10, 2005
O show do Wusha.
Hoje a minha maior preocupação em Dubai não é criar campanhas para Emirates Airlines ou Pepsi. Toda os meus pensamentos estão concentrados em trazer minhas meninas o mais rápido para cá possível. Acho que só assim as coisas vão ficar realmente boas. Vocês não fazem idéia como é duro para mim acompanhar todas as coisas que estão acontecendo à distância. Cada detalhe das coisas que estão acontecendo com as duas. Principalmente com a dona fofinha. Cada dia é uma novidade, cada dia sua personalidade vai ficando mais complexa, interessante e divertida. Cada dia ela se afasta mais daquele bebezinho lindo que falava algumas palavrinhas e vai virando uma pessoinha. E você sabe que essas coisas não vão voltar. São únicas. Cada dia perdido não tem como recuperar - especialmente nesta fase em que tudo é novo e acontece numa velocidade inacreditável.
Por isso eu preciso de um wusha.
Mas que diabo é isso?
Wusha é uma figura que existe aqui nos Emirados que tem uma única função: furar filas.
São caras que ganham a vida pulando obstáculos na burocracia árabe. Eles conhecem todos os buracos nas legislações, todas as brechas e todas as pessoas-chave ou não tão chave assim que podem fazer a sua vida mais simples e sem dores de cabeça.
É sempre bom ter um wusha especializado em imigração, no departamento de trânsito ou em qualquer outro lugar que possa te causar algum transtorno ou prejuízo - geralmente os dois.
São uma versão sofisticada daqueles coitados que ganham a vida guardando lugar em fila de repartição pública. Só que esses não usam havaianas - dirigem SUVs gigantes.
No meu caso o wusha vai trabalhar para conseguir o visto para minhas meninas o mais rápido possível.
Não tão rápido quanto eu gostaria, mas até aí nunca seria rápido o bastante.
Hoje a minha maior preocupação em Dubai não é criar campanhas para Emirates Airlines ou Pepsi. Toda os meus pensamentos estão concentrados em trazer minhas meninas o mais rápido para cá possível. Acho que só assim as coisas vão ficar realmente boas. Vocês não fazem idéia como é duro para mim acompanhar todas as coisas que estão acontecendo à distância. Cada detalhe das coisas que estão acontecendo com as duas. Principalmente com a dona fofinha. Cada dia é uma novidade, cada dia sua personalidade vai ficando mais complexa, interessante e divertida. Cada dia ela se afasta mais daquele bebezinho lindo que falava algumas palavrinhas e vai virando uma pessoinha. E você sabe que essas coisas não vão voltar. São únicas. Cada dia perdido não tem como recuperar - especialmente nesta fase em que tudo é novo e acontece numa velocidade inacreditável.
Por isso eu preciso de um wusha.
Mas que diabo é isso?
Wusha é uma figura que existe aqui nos Emirados que tem uma única função: furar filas.
São caras que ganham a vida pulando obstáculos na burocracia árabe. Eles conhecem todos os buracos nas legislações, todas as brechas e todas as pessoas-chave ou não tão chave assim que podem fazer a sua vida mais simples e sem dores de cabeça.
É sempre bom ter um wusha especializado em imigração, no departamento de trânsito ou em qualquer outro lugar que possa te causar algum transtorno ou prejuízo - geralmente os dois.
São uma versão sofisticada daqueles coitados que ganham a vida guardando lugar em fila de repartição pública. Só que esses não usam havaianas - dirigem SUVs gigantes.
No meu caso o wusha vai trabalhar para conseguir o visto para minhas meninas o mais rápido possível.
Não tão rápido quanto eu gostaria, mas até aí nunca seria rápido o bastante.
Uma coisa podemos dizer: a KLM é realmente confiável - assim como diz seu slogan "the reliable airline".
Você pode confiar que seu próximo vôo vai ser uma droga.
O meu foi uma desgraça completa. Querem saber porquê?
Acho que sou a primeira pessoa do mundo a ganhar um "downgrade".
Isso mesmo. Era para eu viajar de business e, quando cheguei para o check in, eles me dizem que a business class estava "oversold" mas, como eles são muito bacanas, iriam me arrumar um lugar na econômica, já que o desgraçado do vôo não tinha primeira classe. Mas aí é querer muito deste lixo de companhia. Foram 6 horas e meia de muita irritação. Uma aeromoça veterana veio tentar me apaziguar (boa palavra essa!) e foi muito gentil - a única coisa boa a respeito desta experiência irritante. E, achando que ia me deixar REALMENTE feliz, me presenteou com uma miniatura de porcelana de uma casa holandesa cheia de liquor que eles distribuem para a business class. Minha vontade era jogar aquela droga pela janela, e dar muitas risadas vendo a equipe da KLM sendo sugada e lançada no espaço.
Acreditem em mim NÃO VOEM PELA KLM!!!
Você pode confiar que seu próximo vôo vai ser uma droga.
O meu foi uma desgraça completa. Querem saber porquê?
Acho que sou a primeira pessoa do mundo a ganhar um "downgrade".
Isso mesmo. Era para eu viajar de business e, quando cheguei para o check in, eles me dizem que a business class estava "oversold" mas, como eles são muito bacanas, iriam me arrumar um lugar na econômica, já que o desgraçado do vôo não tinha primeira classe. Mas aí é querer muito deste lixo de companhia. Foram 6 horas e meia de muita irritação. Uma aeromoça veterana veio tentar me apaziguar (boa palavra essa!) e foi muito gentil - a única coisa boa a respeito desta experiência irritante. E, achando que ia me deixar REALMENTE feliz, me presenteou com uma miniatura de porcelana de uma casa holandesa cheia de liquor que eles distribuem para a business class. Minha vontade era jogar aquela droga pela janela, e dar muitas risadas vendo a equipe da KLM sendo sugada e lançada no espaço.
Acreditem em mim NÃO VOEM PELA KLM!!!
Wednesday, September 07, 2005
Não estava muito inspirado para escrever sobre Amsterdam.
A cidade é muito interessante, não parece de verdade. É um misto de algo muito, muito antigo, nos seus prédios e canais com a juventude que povoa suas ruas.
O holandês é um povo bonito e graúdo. Tem umas mulheres aqui que seriam pivôs titulares em qualquer time de basquete. Ver mulheres mais altas do que eu me incomoda. Acho que me sinto meio infantilizado, de volta aos meus 9 anos de idade - época em que era fácil encontrar mulheres mais altas do que eu.
Mas tem jovens de todos os lados. Indonésios, africanos, americanos, italianos, indianos, franceses, japoneses, árabes, sulamericanos, mexicanos e brasileiros.
Eles vêm para cá para apreciar os museus fantásticos, andar pelas suas charmosas ruas e canais que remontam ao século XVI, para admirar seus belos prédios, absorver um pouco da rica cultura local e para fumar maconha.
Se você estiver andando por Amsterdam e resolver entrar em um Coffee Shop você vai encontrar muita coisa: gente com cabelo rastafári - dreadlocks para os íntimos - estrangeiros de todos os tipos, um cheiro de mato queimado, cardápios completos com mais de 40 tipos de ervas, elefantes cor-de-rosa e muito pouco café.
Os caras aqui levaram a coisa ao extremo. Tem até cadeias dos tais coffee shops. A mais famosa delas é a Bulldog. Estão para todos os lados.
Fora os 40 tipos de maconha tem a descrição de que tipo de barato cada uma causa.
"barato claro"
"barato alucinado"
"Só para fumantes experientes"
"barato extremamente forte"
"barato ultra-extremamente forte"
"Uau"
E por aí vai.
Divertido, não é?
Não tente fazer isso em casa sem a ajuda de profissionais.
A cidade é muito interessante, não parece de verdade. É um misto de algo muito, muito antigo, nos seus prédios e canais com a juventude que povoa suas ruas.
O holandês é um povo bonito e graúdo. Tem umas mulheres aqui que seriam pivôs titulares em qualquer time de basquete. Ver mulheres mais altas do que eu me incomoda. Acho que me sinto meio infantilizado, de volta aos meus 9 anos de idade - época em que era fácil encontrar mulheres mais altas do que eu.
Mas tem jovens de todos os lados. Indonésios, africanos, americanos, italianos, indianos, franceses, japoneses, árabes, sulamericanos, mexicanos e brasileiros.
Eles vêm para cá para apreciar os museus fantásticos, andar pelas suas charmosas ruas e canais que remontam ao século XVI, para admirar seus belos prédios, absorver um pouco da rica cultura local e para fumar maconha.
Se você estiver andando por Amsterdam e resolver entrar em um Coffee Shop você vai encontrar muita coisa: gente com cabelo rastafári - dreadlocks para os íntimos - estrangeiros de todos os tipos, um cheiro de mato queimado, cardápios completos com mais de 40 tipos de ervas, elefantes cor-de-rosa e muito pouco café.
Os caras aqui levaram a coisa ao extremo. Tem até cadeias dos tais coffee shops. A mais famosa delas é a Bulldog. Estão para todos os lados.
Fora os 40 tipos de maconha tem a descrição de que tipo de barato cada uma causa.
"barato claro"
"barato alucinado"
"Só para fumantes experientes"
"barato extremamente forte"
"barato ultra-extremamente forte"
"Uau"
E por aí vai.
Divertido, não é?
Não tente fazer isso em casa sem a ajuda de profissionais.
Friday, September 02, 2005
As ruas de Beirute.
Imaginem um trânsito bagunçado.
É pouco. Pensem mais. Acho que vocês ainda não chegaram lá.
Beirute é bem pior. O planejamento urbano parece ter sido feito por drogado com mal de parkinson.
Não existem ruas paralelas em Beirute. Com poucas exceções não existem ruas largas e avenidas.
E, claro, existem MUITOS carros.
Carros novos e carros velhos. Muitos carros velhos.
E, para ajudar, quase não existem placas.
Dirigir em Beirute é algo que exige décadas de aprendizado. Para decorar os caminhos tortuosos e para sobreviver a este trânsito darwinista.
Os locais não respeitam sinais. Vão entrando e jogando os carros uns sobre os outros. Param no meio da rua e seguram o trânsito para fazer conversões proibidas. E se xingam. Se xingam muito. Mas é um xingamento leve, parte da interação social desta cidade vibrante. Não deixa residuais de estresse como em São Paulo, onde você desenvolve uma úlcera nervosa se leva uma fechada.
Em São Paulo um conflito em trânsito é motivo para perseguição digna dos piores filmes de Hollywood.
Aqui é só motivo para fazer um gesto com a mão, que lembra um brasileiro perguntando "quanto custa" na linguagem dos surdo-mudos. E que aqui significa "você está louco?".
Tudo isso me levou à conclusão que as ruas no mundo árabe são um lugar onde reina o mais absoluto caos.
Mesmo nessa cidade com jeito de Europa.
Para ajudar o cara da agência que veio comigo é daqui e alugou um carro para a gente se movimentar.
Só tem um detalhe: ele é ex-piloto de rali...
Tava procurando emoção?
Como diria a imortal Angélica, eu vou de taxi.
Imaginem um trânsito bagunçado.
É pouco. Pensem mais. Acho que vocês ainda não chegaram lá.
Beirute é bem pior. O planejamento urbano parece ter sido feito por drogado com mal de parkinson.
Não existem ruas paralelas em Beirute. Com poucas exceções não existem ruas largas e avenidas.
E, claro, existem MUITOS carros.
Carros novos e carros velhos. Muitos carros velhos.
E, para ajudar, quase não existem placas.
Dirigir em Beirute é algo que exige décadas de aprendizado. Para decorar os caminhos tortuosos e para sobreviver a este trânsito darwinista.
Os locais não respeitam sinais. Vão entrando e jogando os carros uns sobre os outros. Param no meio da rua e seguram o trânsito para fazer conversões proibidas. E se xingam. Se xingam muito. Mas é um xingamento leve, parte da interação social desta cidade vibrante. Não deixa residuais de estresse como em São Paulo, onde você desenvolve uma úlcera nervosa se leva uma fechada.
Em São Paulo um conflito em trânsito é motivo para perseguição digna dos piores filmes de Hollywood.
Aqui é só motivo para fazer um gesto com a mão, que lembra um brasileiro perguntando "quanto custa" na linguagem dos surdo-mudos. E que aqui significa "você está louco?".
Tudo isso me levou à conclusão que as ruas no mundo árabe são um lugar onde reina o mais absoluto caos.
Mesmo nessa cidade com jeito de Europa.
Para ajudar o cara da agência que veio comigo é daqui e alugou um carro para a gente se movimentar.
Só tem um detalhe: ele é ex-piloto de rali...
Tava procurando emoção?
Como diria a imortal Angélica, eu vou de taxi.
Thursday, September 01, 2005
Como falam!
Eu sempre achei que eu falasse bastante. Mas nada se compara com os árabes. Eles preenchem todos os espaços disponíveis com palavras.
Durante a filmagem aqui em Beirute éramos eu, o pessoal da agência, o pessoal da produtora de comerciais, o diretor e o diretor de fotografia.
O diretor era um holandês escroque parecido com o Jeff Bridges. Um dos caras mais desagradáveis que eu já conheci. E olha que trabalhando em publicidade eu já tive a oportunidade de ver todo tipo abominações. Quem vê rolo não vê coração. (N.do E.: Rolo em propaganda é a maneira que a o povo de propaganda chama o conjunto comerciais gravados por um diretor, agência, produtora ou cliente. Pode ser videocassete, DVD ou, para os antigos, um rolo mesmo)
Para nossa sorte ele ficava longe. Bem longe. E acompanhávamos a filmagem através de uns monitores.
Confortavelmente instalados em nossas cadeiras e vendo a filmagem de longe, o truque que a produtora usa para nos manter felizes é dar comida incessantemente. Em geral porcaria - mas muita porcaria.
Come-se te tudo muito.
Doces, salgados, refrigentantes, sucos. Tem até comida.
Tudo isso para disfarçar o marasmo que é uma filmagem. Nada acontece. Cada tomada demora horas para ser aprontada, depois um tempão para ser filmada. Nesse meio tempo você não tem nada para fazer. A não ser comer e falar.
E os árabes falam. Se bem que "árabe" é um conceito amplo. Aqui em Beirute tem muitos cristãos descendentes de franceses por exemplo. Todo mundo fala francês e árabe. Tem também muitos muçulmanos e tem os misturados. Não é clara a separação. Mas vou tratá-los por árabes para ficar mais fácil. Principalmente porque eles falam árabe o tempo todo.
E como falam!
E para o brasuca ignorante na linguagem aqui é como se estivessem falando grego. Não. grego ia ser mais fácil. Até tem umas palavrinhas em comum. Onomatopéia, maratona, égide, prosopopéia, Temístocles... Só coisas úteis para se falar num papo amigo.
Eu fico ali, de lado e eles falam, falam e falam. Onde arrumam tanto assunto?
Depois de um tempo eu desenvolvi a técnica de entrar no modo Sleep. Se ficar sem um impulso sonoro reconhecível por 15 minutos, desconecto.
Sou reativado pelo som do meu nome. Quer dizer que é a hora de dar umas opiniões e fazer cara de interessante. Desta vez em inglês.
Mais uma vez quero agradecer a São Miguel Paulo 3, padroeiro do iPod. Sem sua ajuda este post não seria possível. Ia morrer de tédio.
A filmagem acabou anteontem e neste momento estou apreciando o silêncio enquanto trabalho do meu quarto do hotel.
Será que a gente fala tanto assim?
Eu sempre achei que eu falasse bastante. Mas nada se compara com os árabes. Eles preenchem todos os espaços disponíveis com palavras.
Durante a filmagem aqui em Beirute éramos eu, o pessoal da agência, o pessoal da produtora de comerciais, o diretor e o diretor de fotografia.
O diretor era um holandês escroque parecido com o Jeff Bridges. Um dos caras mais desagradáveis que eu já conheci. E olha que trabalhando em publicidade eu já tive a oportunidade de ver todo tipo abominações. Quem vê rolo não vê coração. (N.do E.: Rolo em propaganda é a maneira que a o povo de propaganda chama o conjunto comerciais gravados por um diretor, agência, produtora ou cliente. Pode ser videocassete, DVD ou, para os antigos, um rolo mesmo)
Para nossa sorte ele ficava longe. Bem longe. E acompanhávamos a filmagem através de uns monitores.
Confortavelmente instalados em nossas cadeiras e vendo a filmagem de longe, o truque que a produtora usa para nos manter felizes é dar comida incessantemente. Em geral porcaria - mas muita porcaria.
Come-se te tudo muito.
Doces, salgados, refrigentantes, sucos. Tem até comida.
Tudo isso para disfarçar o marasmo que é uma filmagem. Nada acontece. Cada tomada demora horas para ser aprontada, depois um tempão para ser filmada. Nesse meio tempo você não tem nada para fazer. A não ser comer e falar.
E os árabes falam. Se bem que "árabe" é um conceito amplo. Aqui em Beirute tem muitos cristãos descendentes de franceses por exemplo. Todo mundo fala francês e árabe. Tem também muitos muçulmanos e tem os misturados. Não é clara a separação. Mas vou tratá-los por árabes para ficar mais fácil. Principalmente porque eles falam árabe o tempo todo.
E como falam!
E para o brasuca ignorante na linguagem aqui é como se estivessem falando grego. Não. grego ia ser mais fácil. Até tem umas palavrinhas em comum. Onomatopéia, maratona, égide, prosopopéia, Temístocles... Só coisas úteis para se falar num papo amigo.
Eu fico ali, de lado e eles falam, falam e falam. Onde arrumam tanto assunto?
Depois de um tempo eu desenvolvi a técnica de entrar no modo Sleep. Se ficar sem um impulso sonoro reconhecível por 15 minutos, desconecto.
Sou reativado pelo som do meu nome. Quer dizer que é a hora de dar umas opiniões e fazer cara de interessante. Desta vez em inglês.
Mais uma vez quero agradecer a São Miguel Paulo 3, padroeiro do iPod. Sem sua ajuda este post não seria possível. Ia morrer de tédio.
A filmagem acabou anteontem e neste momento estou apreciando o silêncio enquanto trabalho do meu quarto do hotel.
Será que a gente fala tanto assim?
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