Thursday, December 03, 2009



Novas Aventuras em Technicolor

A vida do profissional é assim: cada dia um novo desafio. Se você gosta de estabilidade, previsibilidade e controle, passe longe. Tudo muda a cada semana. Cada projeto é completamente diferente do anterior. Improviso e capacidade de se adaptar são necessidades darwinísticas. O que funcionou da última vez talvez - e muito provavelmente - não vai funcionar na próxima. Para o criativo a vida é realmente uma caixa de chocolates.

O último bombom que eu tirei desta caixa não fugiu à regra. E no final quase deu uma baita indigestão.

Tudo começou no final de setembro quando recebemos um briefing urgente para uma concorrência. o prazo era curto: meio dia para criar um slogan e cinco dias para criar uma campanha para um cliente inusitado: o comitê responsável pela candidatura do Qatar para ser a sede da Copa do Mundo™ de 2022.

A primeira coisa que me saltou aos olhos foi a data: 2022! Para um cara que não faz planos nem para o almoço do dia - e isso geralmente nem depois do horário do almoço - 2022 parecia infinitamente distante.

Para mim 2022 é uma data de ficção científica, remota, impossível. Carros voadores, máquinas pensantes, clones, a Ponte Preta campeã...tudo parece possível quando você pensa numa num futuro tão distante como esse.

Mas ali estava eu, sentado com meu dupla e tentando criar uma campanha para vender o Qatar como sede da Copa de 2022, que só vai acontecer em treze anos. E nós só tínhamos cinco dias. Nem sempre a vida faz sentido.

Mas como um paisinho (é assim que se escreve mesmo, eu vi no dicionário) de um pouco mais de um milhão de habitantes e um pouco maior que tamanho do parque do Anhangabaú tem cojones para se candidatar a ser sede do evento esportivo mais importante do mundo?

Primeiro: eles têm dinheiro.

Segundo: eles têm MUITO dinheiro.

Terceiro: eles têm dinheiro para cacete!

Os caras estão sentados em reservas de óleo gigantes e tem a terceira maior reserva de gás natural, depois da Rússia e do Irã. O país tem a segunda mundo renda per capita do mundo, logo atrás de Liechtenstein - que é só um pouco maior que o quarto de empregada da minha casa.

Pois é, os caras têm dinheiro e têm vontade. Agora é a hora de provar ao mundo que eles são capazes de bater países como a Inglaterra, Holanda, Austrália e se tornarem o primeiro país Árabe a sediar uma Copa.

Para isso eles contrataram os melhores consultores do mercado. Gente que vive de preparar projetos e apresentações para os comitês olímpicos e Fifas da vida. Haja especialização.

Mas para anunciar o projeto e buscar apoio eles precisavam de divulgação. E para divulgar, você precisa de uma campanha. Para ter uma campanha, você precisa de uma agência. E se você não tem uma agência, faça uma concorrência. Mas para tudo ficar mais interessante, dê muito menos tempo do que o necessário para criar a campanha com tranquilidade.

Cinco dias.

Cinco dias olhando um para a cara do outro com os pés em cima da mesa. Cinco dias rabiscando coisas em blocos de anotação. Cinco dias pensando: caramba! Desta vez eles descobrem que sou uma fraude.

Mas como diria Eugênio Mohallem, todo briefing é o pior briefing do mundo - até que você tem uma idéia. Aí vira o melhor briefing do mundo. Para mim, na maior parte dos casos, o briefing bom é o briefing morto.

Para o leitor que não faz a mínima idéia do que eu estou falando quando menciono "briefing", o dito cujo nada mais é do que o documento que explica para o pessoal da criação o que a campanha que eles estão criando tem que fazer para o cliente. O que temos que falar, como temos que falar, quem temos que falar e, claro, quanto dinheiro temos para falar.

No caso - coisa rara nestes tempos de crise - o dinheiro era muito. O público-alvo, diverso - enorme.

Estávamos criando para quatro públicos:

Primeiro - os cidadãos do Qatar (a galera com aquelas roupas de milionário de petrodólares árabe) e os residentes do país - que é quase tão misturado quanto os Emirados Árabes.

Segundo - o resto dos árabes, para buscar apoio à causa.

Terceiro - o resto do mundo, para mostrar que a idéia de ter uma Copa num país árabe não é uma loucura.

Quarto - para o comitê da FIFA que vai decidir onde a Copa vai realmente acontecer.

Resumo da ópera: a idéia era fazer um filme que impressionasse todo mundo, sem se preocupar com dinheiro.

Em tempos de crise mundial e colapso da indústria da propaganda a possibilidade de criar produzir uma campanha sem se preocupar com a quantidade de dinheiro envolvido oferece uma sensação comparável a ganhar na loteria - sozinho, sem bolão.

Sentamos eu e meu parceiro e criamos os comerciais mais mirabolantes e megalomaníacos. O prazo era curto e a pressão enorme.

Segundo as regras da concorrência devíamos entregar o material da campanha para uma pessoa do marketing do cliente até o fim do último dia. Ela estava viajando de Dubai para o Qatar e iria se reunir com a diretoria - incluindo o príncipe responsável pelo projeto - na manhã do dia seguinte para decidir quem era a agência ganhadora.

Claro que para deixar a história saborosa nós terminamos depois do prazo e um dos diretores da agência teve que sair enlouquecido para entregar o material à cliente no portão de embarque do aeroporto, 2 minutos antes da decolagem.

(Pausa para respiração.)

Duas semanas se passam e nenhuma notícia do cliente.

Finalmente uma ligação: parabéns, vocês são a agência escolhida para desenvolver a campanha para a candidatura do Qatar à Copa do Mundo de 2022.

(fogos de artifício)

Parecia que tínhamos ganhado a Copa - o que não estava muito longe da verdade. Num momento em que até o dinheiro do pãozinho faz diferença, uma vitória grande dá injeção de ânimo enorme. Mais ou menos como tomar Red Bull com um cafezinho.

Depois da comemoração chega a hora de entender qual o tamanho da encrenca. Um jogo entre o Brasil e a Inglaterra estava programado para acontecer no Qatar em 7 semanas - evento essencial para provar a capacidade do país para os delegados da FIFA - e o comercial oficial do lançamento da candidatura deveria estar pronto para ir ao ar naquela data.

Ao contrário do que muita gente pensa, publicitários não filmam comerciais, eles contratam diretores e produtoras que vão tomar conta do trabalho. Nossa função é ficar na sombra tomando suco, comendo petiscos e dando opiniões.

Começa a busca por diretores de comerciais e companhias de produção. Como prazo era muito curto e a produção complicada, cheia de efeitos especiais, poucas companhias estavam dispostas a se envolver, mesmo com todo o dinheiro disponível. Tudo teria quer ser feito em seis semanas, prazo muito curto para um comercial deste tamanho.

Depois de dúzias de ligações telefônicas, centenas de emails trocados e muitas horas dentro de salas de reunião chega a hora da verdade. Diretores escolhidos, orçamentos prontos, referências selecionadas, tudo pronto para a aprovação imediata do cliente e o início da produção. Aí vem uma conference call - coisa que eu detesto - para receber o sinal verde do cliente.

Mas as coisas não foram tão simples assim. Conference calls já são coisas confusas por natureza, parece que ninguém sabe exatamente o que o outro lado está dizendo, mas no final todo mundo concorda e sai achando que sabe o que tem que fazer. Mas neste caso foi ainda mais confuso: o que a cliente dizia, os comentários que ela fazia, não batiam com o roteiro que tinha sido aprovado - e orçado.

De repente vem a descoberta: ela estava falando de outro roteiro que tínhamos mandado. A desmiolada havia aprovado um roteiro com a diretoria da candidatura e trocado o nome com outro roteiro que havíamos mandado. Inacreditável. Uma semana perdida.

O resultado é que tivemos que refazer todo o trabalho de orçamento em dois dias, uma insanidade, mas ficou pronto - seis semanas antes da data de entrega, o nosso limite.

O que acontece na sequência é uma tradição nas relações agência-cliente: eles desapareceram. Ficamos decepcionados, pensando se eles haviam desistido de produzir o comercial. Foi bom enquanto durou...

Mas eis que eles reaparecem, três semanas antes da data limite, dizendo:

– Precisamos do filme pronto para o jogo do Brasil x Inglaterra em Doha. Não importa o custo!

Nenhuma produtora aceitaria um projeto de risco com prazo tão curto como esse, mas o cliente sugeriu uma companhia que havia trabalhado com eles que dizia que seria capaz de entragar no prazo. E eles tinham experiência com candidaturas para grandes eventos esportivos, tendo sido responsáveis pelos comerciais de lançamento da candidatura de Londres aos Jogos Olímpicos, entre outros.

Era um tiro no escuro, mas não tínhamos opção. A única condição que colocamos era a de selecionar o diretor, alguém sabíamos que iria fazer o comercial acontecer.

Sinal verde. Começam três semanas de tensão, confusão, tragédia e, no último segundo, triunfo.

A produção foi cheia problemas e situações inesperadas, desorganização e mudanças. O Qatar já é um lugar difícil de se trabalhar pela falta de profissionais experientes disponíveis, junta-se isso a uma produtora sem pulso firme, que gastava mais tempo fazendo política com o cliente tentando minar nossa credibilidade do que cuidando do filme, e você tem uma situação propícia para o surgimento de muitos cabelos brancos na cabeça de um diretor de criação.

Mais de dez locações, mais de 500 extras e atores, helicópteros, ônibus e muito protetor solar depois eu estava indo para Londres para a pós-produção - incluindo os efeitos especiais.

Minha primeira viagem para Londres foi interessante por um lado - passei cinco dias dentro dos estúdios The Mill, talvez a melhor empresa de pós-produção de publicidade do mundo. Você entra na recepção e se vê cara-a-cara com um Oscar que eles ganharam pelos efeitos especiais de Gladiador. Por outro lado foi decepcionante porque passei cinco dias dentro dos estúdios The Mill, sem conseguir ver quase nada de Londres.

Claro que a diretora de produção ainda criou mais problemas, tentando remover o diretor do comercial da edição e falando diretamente com o cliente - pecado imperdoável. No final o cliente ficou do nosso lado e aprovou nossas versões, para o desgosto daquela que havia se tornado nossa antagonista.

Enquanto isso acontecia uma equipe de mais de vinte pessoas estava trabalhando 24 horas por dia para criar os efeitos finais do filme, usando a mesma tecnologia desenvolvida para criar as batalhas de O Senhor dos Anéis.

Saí correndo para o aeroporto com um DVD embaixo do braço. Tínhamos que apresentar o filme na manhã seguinte para o príncipe e conseguir sua aprovação final. Mas só tinha um complicador: o filme estava incompleto e os efeitos especiais finais só ficariam prontos durante a noite, enquanto eu voava para o Qatar. Era chegar de manhã e rezar para que a versão final estivesse pronta para o download.

É incrível que depois disso tudo as coisas possam ter dado certo. Cheguei a tempo no aeroporto, conseguimos fazer o download quando chegamos e o filme foi aprovado por sua santidade, digo, sua alteza digo, sua excelência.

Missão cumprida.

Bom, chega de contar história e vamos para o filme.

Beautiful People





Monday, September 28, 2009

Pequenos Conflitos


Chega um momento na vida de quem tem filhos que diferenças irreconciliáveis aparecem. Em geral você espera que isso aconteça na adolescência ou na idade adulta, nunca quando sua filha tem apenas seis anos de idade.

Mas aconteceu.

Recentemente minha querida amiga Luciana Tafarello, mulher do também grande amigo André, mandou através de uma amiga nossa um pacote do material mais precioso do universo: amendoim Mendorato. Pode parecer um exagero para o público brasileiro, que só precisa dar uma passada em um Pão de Açúcar ou Carrefour para comprar um saquinho do Chateau Margaux dos amendoins japoneses, o amendoim japonês que deu origem à série, o amendoim japonês dos amendoins japoneses, mas para um fã incondicional longe da pátria amada, um pacotinho de Mendorato é como água para um beduíno perdido no deserto - analogia muito pertinente para quem mora no Oriente Médio.

Eu sabia que a minha pequena Carolina gostava de uns Mendoratos. Uma vez ela comeu tanto que até passou mal. O que eu não sabia é que ela é tão fão quanto este seu interlocutor. O primeiro sinal de quão grave era foi quando o pacote chegou às minhas mãos e imediatamente ela pediu para abri-lo. Eu devia ter percebido o que estava para acontecer, mas na minha ignorância do amor paterno eu deixei passar, enchi um pratinho para ela e fui cuidar dos meus afazeres.

Em geral um pacote de Mendorato dura várias semanas nas minhas mãos. Grãozinhos são comidos um a um, com grande prazer. Por isso uma semana depois fui tranquilamente pegar a minha dose semanal esperando encontrar o pacote cheio. Pare meu choque só encontrei os restos mortais dos Mendoratos que lá estiveram - um punhado de casquinhas e algumas lascas de amendoim. Demorou alguns segundos para entender o que tinha acontecido. Com o pacote vazio na mão olhei para a Carolina e perguntei:

- Carolina, o que foi que aconteceu aqui?

E ela respondeu:

- Acabou. Quero mais!

Ainda estou em choque.

Monday, September 14, 2009

Luzes, Câmeras... Ação!!!

Nas últimas duas semanas eu estive envolvido na filmagem de mais um comercial para a Sony.

A produção de um comercial é um processo cansativo e demorado, que começa com um pedido do cliente: quero um anúncio para TV para tal produto. Aí, na teoria, você senta, tem umas idéias, escreve o roteiro, se o cliente exigir faz um storyboard - espécie de história em quadrinhos feita para explicar o comercial - apresenta, aprova, entra em contato com produtoras de comerciais, escolhe o diretor, conversa com os diretor, espera o diretor preparar uma descrição de como ele vê o comercial sendo filmado, faz comentários, aprova a visão do diretor, aprova a escolha do diretor com o cliente, começa a produção, participa da seleção de atores, locações, etc., apresenta tudo para o cliente em uma reunião demorada e complicada em que cada detalhe da produção é abordado - incluindo cada tomada que vai ser filmada - e aí finalmente começa a filmagem.

Ufa!

No caso do comercial de Sony o processo se arrastou por mais de 2 meses. As idéias iniciais foram rejeitadas. A segunda leva também. O cliente, ainda não convencido, pediu mil alterações que acabaram transformando os comerciais no primo feio do Frankenstein.

Na minha opinião idéias são como uma cobertura de bolo: quanto mais gente põe o dedo, pior fica.

Um pequeno aparte. Quando digo "cliente" não estou me referindo a uma pessoa específica que tem o direito e dever de dizer sim ou não - para o bem ou para o mal. Estou usando um termo aproximado para descrever uma massa amorfa de pessoas com formações, expectativas e agendas diferentes, que tem como missão definir o destino do comercial que você está apresentando. Em geral você encontra em apresentações clientes que se enquadram em duas categorias "good cop" e o "bad cop", mas outras personalidades interessantíssimas fazem parte integrante do processo. Temos, por exemplo o "eu-não-deveria-estar nessa-reunião cop", o "sou-um-estagiário-que-quer-impressionar cop", o "porque-estamos-desperdiçando-dinheiro-em-propaganda-quando-deviamos-estar-investindo-em-promoção cop", o "comentários-são-bem-vindos-mas-quem-manda-aqui-sou-eu cop", o "você-tem-toda-razão-chefinho cop" e, talvez o pior de todos, o "eu-não-tenho-a-menor-idéia-do-que-eles-estão-falando-mas-vou-dar-minha-opinião-assim-mesmo cop".

Quanto maior o projeto, maiores as chances de que todos estes exemplares da fauna mercadológica sejam encontrados numa mesma reunião. E maior o número de opiniões desconexas distribuídas. E menores as chances de que o comercial que você vai produzir no final cheire um pouco melhor do que uma pilha fumegante de esterco fresquinho.

Cada uma das reuniões de apresentação que tivemos o elenco de apoio mudava, assim como as opiniões - e as chances de produzir no final algo que prestasse iam ficando menores do que as chances de ficar mais inteligente assistindo reality shows.

No final do último round, depois de alterar o nosso roteiro até que a única coisa que lembrava a idéia original era o papel em que ele estava impresso, o cliente fala: o roteiro agora está OK, mas vocês têm mais alguma idéia para apresentar?

Diz a sabedoria que chega um momento em que você tem que parar de apresentar novas idéias e começar a produzir alguma coisa. Em tempos de crise não dá para ficar sendo precioso e idealista, tem que fazer dinheiro entrar. Conhece aquela máxima que diz que o bom é inimigo do ótimo? No nosso caso eu diria que o péssimo é inimigo do muito ruim.

Mas desta vez eu decidi não ser prático e respondi para eles: sim, temos mais uma.

Depois de mais de 15 anos trabalhando em propaganda ainda existem momentos em que coisas surpreendentes acontecem. Por exemplo, um comitê de clientes difíceis aprovar uma idéia sem nenhuma alteração. E foi o que aconteceu, para nosso choque. A idéia permaneceu viva, quase intocada, por mais dois rounds de apresentações, para pessoas completamente diferentes.

Milagres acontecem. O roteiro foi aprovado.

Depois da concepção, a gestação - ou produção. Hora de entrar em contato com dúzias de companhias produtoras de comerciais, ver o trabalho de dezenas de diretores - a maioria deles horrível mas um ou dois que realmente fariam a diferença - para escolher o ideal. Fazer malabarismo com o dinheiro disponível. Uma verdade básica da propaganda: sua idéia sempre custa 20% a mais do que a verba do cliente.

Produtora escolhida, diretor confirmado. Chega a hora do longo e doloroso processo de produção. Tudo tem que ser escolhido e aprovado. Atores, locações, roupas, elenco de apoio, extras, música, fotografia... Cada cena, cada ângulo de câmera tem que ser definido e compartilhado com a agência e o cliente. Emails vêm e vão.

O prazo, claro, também é curto. No final acontece uma longa reunião de pré-produção em que todos os detalhes são apresentados, discutidos e, se a sorte está do nosso lado, aprovados. É uma reunião longa, monótona e tensa em que todos os aspectos da produção são discutidos à exaustão. Neste caso estávamos filmando o comercial em Beirute e o cliente estava em Dubai e toda a reunião foi feita por teleconferência - uma coisa que eu detesto. Ninguém se entende e ninguém entende o que está acontecendo do outro lado. E todo mundo age como se tudo estivesse sob controle.

Neste caso especificamente tudo deveria ter sido muito mais tranquilo, porque os pontos mais importantes da reunião - atores e locações - já haviam sido aprovados pelo cliente. O problema é que eu não contava que "sou-eu-quem-manda-e-não-quero-saber-se-já-foi-aprovado-antes cop" fosse aparecer e estragar a festa. De repente, a dois dias da filmagem, todas as locações foram rejeitadas. E você não sabe como isso pode afetar uma produção. Primeiro você precisa de permissões para filmar em um lugar, depois você vai lá e define onde cada câmera vai ser colocada, cada ângulo. Aí você faz um shooting board - uma espécie de storyboard ainda mais detalhada de cada tomada que você vai fazer. Complicado e demorado. De repente, a dois dias da filmagem, estávamos sem nada confirmado. E pior, o lugar que o cliente queria que filmássemos não estava disponível. E para complicar ainda mais o "sou-eu-quem-manda-e-não-quero-saber-se-já-foi-aprovado-antes cop" disse que tinha um contato em Beirute que iria conseguir a tal permissão - coisa que não aconteceu.

O que aconteceu é que a equipe de produção perdeu dois dias de preparação tentando resolver este problema pois no final, após umas mudanças cosméticas nas locações apresentadas antes, o cliente decidiu ir em frente com a nosso seleção original. Perda de tempo e energia. Mas que filmagem que acontece sem nenhum estresse? Ainda estou para ver.

Filmagens são das coisas mais tediosas que existem. Você fica de doze a catorze horas por dia sentado numa cadeira olhando para um monitorzinho sendo alimentado o tempo todo com comida da pior qualidade e refrigerantes. Claro que nem tudo é diversão - você tem que ficar ligado e dar opiniões a cada 5 minutos, para garantir que sua visão está sendo respeitada, algumas vezes tendo que brigar para que isso aconteça.

Dois dias - no caso desta produção - depois as filmagens acabam e começa o processo de pós-produção. O material é editado, apresentado, modificado, apresentado, processado, apresentado, modificado, apresentado, modificado, apresentado...até que todos estão satisfeitos ou o prazo final é alcançado e não há mais tempo para mudar mais nada - o que geralmente acontece. Esta produção especificamente seguiu todos esses passos.

O que eu posso dizer é que depois disso tudo você nem consegue olhar para o produto final - o comercial. É tanto o seu envolvimento que você não aguenta mais assisti-lo, não sabe se é ruim ou bom, divertido ou chato.

Vou deixar você leitor (se é que ainda existe um, já que não escrevo neste blog há dois meses) decidir o que acha.

Thursday, July 16, 2009

Na Lama.


Chegou o dia.

A tão antecipada - e adiada - mudança de endereço da agência finalmente aconteceu. Depois de uma semana inteira de caos, caixas empilhadas e gente distraída pelo barulho e confusão o dia chegou. Quinta-feira, enfim o último dia da Young & Rubicam Dubai na badalada Jumeirah Beach Road.

Foram mais de 9 anos de espera para a tão falada mudança. Só para se ter uma idéia quando eu fui contratado pela agência eles me falaram que mudaríamos em alguns meses - e isso foi há quase 3 anos.

Mas o dia finalmente chegou e para comemorar o evento alguém teve a idéia de fazer algo singelo e intimista: uma guerra de lama no meio da agência. E como, o lugar seria renovado, que tal quebrar tudo no processo? Grande idéia.

E foi o que aconteceu.





A quinta-feira começou normal, até que me arrumaram uma marreta. Aí começou a demolição. Quase todas as paredes foram destruídas por uma turba cada vez mais incontrolável. Mas o melhor estava por vir - uma piscina infantil cheia de lama esperava por todos os foliões logo depois do almoço.

Quando você trabalha em propaganda em geral se acostuma a ver coisas que banqueiros, engenheiros e até mesmo pessoas de marketing achariam um tanto estranha. Mas a visão de umas quarenta pessoas cobertas de lama brincando no meio de um escritório eu diria que não é algo que se veja todo dia.

Tenho que confessar que eu estava tentando me manter afastado mas chegou um momento em que fui cercado e recebi um ultimato: ou iria para a piscina por bem ou por mal. Preferi a segunda opção, principalmente porque me deu a chance de tirar o tênis e respirar fundo antes de ser lançado na lama.

No final da brincadeira eu estava enlameado até do lado de dentro das pálpebras.

Claro que depois de estar coberto de lama não tem como manter a pose por isso me juntei aos foliões e fiz a vida de quem estava limpo miserável. E eu não estava sozinho. Junto de umas 25 pessoas estavam o diretor de criação executivo e o nosso diretor geral - os rola-grossas.





Mais foi muito pior do que se imagina o caos que se instaurou. A mudança ainda não tinha acabado. Aliás, mal tinha começado. A mobília, que viria para a nova agência, ficou completamente enlameada. Os computadores foram tirados às pressas pelos heróis do departamento de IT - os caras tinham que desplugar os as máquinas e levar tudo enquanto desviavam de jatos de lama que voavam para todos os lados. Uma cena digna de um filme sobre a primeira guerra mundial. A única diferença é que os caras de IT estavam mais tensos que os soldados correndo em direção às metralhadoras inimigas.

Quase todo mundo tomou uns tombões dignos de vídeo cassetada - inclusive o autor deste blog. A maior parte caiu na lama. Alguns no chão duro - inclusive, infelizmente, o autor deste blog.

No final como entrar no carro e ir para casa? Eis a grande questão. Alguém teve a linda idéia de ir para os banheiros e se lavar lá. Para você imaginar como o lugar ficou depois da baderna, pense no que aconteceria se um elefante tivesse um caso gravíssimo de diarréia explosiva em banheirinho. Deu para imaginar.

Parcialmente limpos fomos todos à pé para a praia para completar nosso ritual de despedida.

Que coisa suja, infantil, destrutiva - e memorável.

À vezes a gente tem que parar para apreciar coisas extraordinárias que acontecem nas nossas vidas que pensamos que são comuns.

Não é impressionante como a mente humana funciona? Imagine se esta energia e criatividade fosse aplicada para curar doenças, evitar o aquecimento global ou acabar com a fome. O mundo seria um lugar muito melhor - e com certeza muito mais chato.

Monday, June 29, 2009



Clique para ver a versão ampliada.

Saturday, June 13, 2009

Quatro Anos de Dubai.

Há quatro anos eu chegava no aeroporto de Dubai pela primeira vez como residente. Não apenas como residente, mas como um cara que estava morando pela primeira vez longe do seu país.

Achei que não iria conseguir ficar mais do que um mês aqui.

Acho que umas das razões para ter aguentado no começo foram não a minhas expectativas, mas as expectativas dos outros. Todo mundo estava tão empolgado com a minha aventura que eu iria me sentir muito bundão voltando depois de duas semanas. Às vezes funciona assim.

O começo difícil passou e muitos altos e baixos vieram - como em qualquer outra experiência. Hoje estou no meu segundo emprego, segundo carro, segunda casa. Ou seja, posso contar para todo mundo que oficialmente morei em Dubai.

Quatro anos e contando.

Thursday, June 04, 2009

Carruagens de Fogo

Não é fácil acordar às 6 da manhã para correr. Este é o único horário que eu tenho livre, porque levo minha filha todos os dias para a escola.

A preguiça é enorme. Só o fato de conseguir acordar neste horário já deveria ser digno de uma medalha olímpica - bronze, pelo menos.

Faço meu alongamento sentindo que meus músculos são correntes enferrujadas que recusam a se mover, implorando para serem deixados em paz, estáticos e tranquilos.

Depois de vencer a resistência inicial comecei a correr. Apesar do calor por volta de 30 graus - bem fresquinho para os padrões de Dubai - e da umidade sufocante que me fez ficar parecendo um picolé de limão derretendo na mão, no calor da praia no Rio, eu estava indo surpreendentemente bem.

Em geral eu corro até o centrinho comercial que tem no nosso condomínio e volto - um circuito de mais ou menos uns cinco quilômetros que é o suficiente para te deixar com a sensação de dever cumprido pela manhã.

Mais ou menos na metade do percurso eu estava mais do que satisfeito com meu resultado. Não estava só sobrevivendo à experiência, mas a performance estava bastante decente. Tão decente que ao invés de ficar usar toda a capacidade do meu cérebro para pensar em desculpas para parar de correr, eu estava pensando em outras coisas. Vida, trabalho, projetos em andamento, idéias para posts...

Foi quando fui ultrapassado.

Todo mundo que corre sabe que não é nada prazeroso ser ultrapassado. Nosso impulso inicial é sempre dar o troco e mostrar quem manda. Mas são coisas da vida - sempre tem alguém que é mais rápido, treina mais, tem mais resistência. Alguns tem todos os atributos em uma só embalagem.

Mas neste meu momento de distração eu fui ultrapassado - por uma garota. Depois que você completa trinta anos você passa a tratar todas as mulheres como garotas, por isso a idade dela não importa - só o fato de ela ser uma garota e ter me ultrapassado.

Minha primeira reação foi de dar o troco, mas mesmo no meu cansaço e com a mente nublada pelo calor e a umidade refleti sobre minha atitude.

É realmente justificada a reação? É realmente tão ruim assim ser ultrapassado por uma mulher? Será que eu devo agir como um porco machista e ultrapassá-la para mostrar quem é superior? Será que temos que continuar vivendo de acordo com antigos estereótipos ou é o momento de questioná-los?

Muitas coisas passaram pela minha cabeça, e no final decidi que não iria ultrapassá-la. Continuei minha corrida no mesmo ritmo em que estava, como se nada tivesse acontecido.

E mostrei ao mundo que não sou um porco machista. Sou um porco machista fora de forma.

Thursday, May 28, 2009

Celebrando a chegada do Metrô de Dubai.
Trocando Figurinhas

Outro dia parei para pensar como a tecnologia é extraordinária. Estava em Los Angeles andando na Sunset Boulevard e de repente recebi uma ligação - no meu telefone. O mesmo telefone que eu carrego para cima e para baixo em Dubai estava ali tocando, literalmente do outro lado do mundo, me ajudando a conectar com uma pessoa a mais de quinze mil quilômetros de distância.

Tudo bem que era um operador de telemarketing tentando me vender algo, como sempre, que eu não tinha a menor intenção de comprar, mas acho que dá para pegar a idéia.

Logo depois eu estava na sede da companhia que estava produzindo o comercial que eu estava supervisionando. Tirei meu laptop da mochila e, sem ter que fazer nada, estava conectado na internet, checando meus emails, dando uma olhada na minha página do Facebook para ver o que meus amigos andavam escrevendo, acessando o Twitter para ver o que as pessoas andavam fazendo ultimamente e para deixar algum documento escrito, um comentário, que refletisse o momento. Não tive muito tempo, porque o ritmo de trabalho não permitia, mas se quisesse poderia também ter acessado minha página do Orkut para ver o estava rolando, poderia também abrir o MSN para ver quem estava online, dar oi para algum amigo ou esperar ser descoberto por alguma pessoa.

E não dá para esquecer também o Skype...fazer ligações internacionais de uma hora para um telefone fixo ou celular e pagar o preço de uma bala juquinha consegue ser quase tão bom quanto comer amendoim Mendorato. Isso sem falar no fato de que se você estiver falando de computador para computador ainda dá para usar sua câmera e ver seu interlocutor.

Neste mundo moderno as possibilidades de conexões com nossos amigos, parentes, filhos, filhas, colegas de trabalho, clientes e operadores de telemarketing são infindáveis. Se a conexão estiver boa dá para mandar uns Twits do alto do Everest, postar uns comentários na página do Facebook do seu amigo direto da fossa das Marianas.

E eu me lembro como era extraordinário quando eu estava viajando de bicicleta pelo sul do Brasil em 1992 com meu amigo Luli. Eu parava em um orelhão no meio do nada e conseguia fazer uma ligação - a cobrar - para a casa do meu pai. E isso sem sair da bicicleta.

Mágica!

Mas nesta minha última viagem aos Estados Unidos percebi que este excesso de conectividade também cria uma ilusão de proximidade.

Aproveitei que tinha alguns dias livres durante o processo de pós-produção e comprei uma passagem para o Colorado, para ver minha irmã que mora perto de Denver.

O encontro foi uma felicidade enorme. Tinha me esquecido como é bom papear com minha irmã e papo para colocar em dia não faltava. Meus sobrinhos, Ian e Matthew, estão enormes, divertidos, ativos e inteligentes. Eles adoram ler e falar sobre ciência - astronomia, biologia, geologia...e olha que são dois pivetes de nove e sete anos de idade!

No meio de toda essa agitação eu e minha irmã demos uma escapada para uma cidade no meio das Montanhas Rochosas onde tem uma piscina natural com água que vem de uma fonte geotérmica. Seria sensacional se não tivéssemos ido no único dia do ano em que eles esvaziam a maldita piscina para limpeza e reparos. Por conta disso decidimos estender nossa viagem para dar uma olhada em Aspen, a estação de inverno dos muito-ricos americanos. Como o inverno já tinha passado e a única neve que sobrou mais parecia algodão doce queimado, a cidade estava vazia - mas tiramos muitas fotos engraçadas.

Papo não faltou. Histórias, causos, fofocas, nossa conversa não tinha fim. Até que num determinado momento nos demos conta - eu ia falar "caiu a ficha" mas achei que ia soar muito velho - de que não nos víamos pessoalmente há quase cinco anos.

Como é que você consegue ficar sem ver sua irmã por cinco anos?

É o que eu chamo de ilusão de proximidade, o efeito colateral criado pela conectividade nas nossas vidas.

Nestes cinco anos nos falamos por telefone, email, trocamos mensagens pelo Orkut, deixamos recados nos scrapbooks, nos falamos pelo Skype só com voz e depois usando as câmeras também. É quase como se tivéssemos nos encontrado pessoalmente. E por que não seria? Afinal eu pude falar com ela, ouvi suas histórias e vi sua imagem.

Mas não é a mesma coisa.

Ao mesmo tempo que nos aproximam estes meios criam a ilusão de que estamos próximos. Ter um ícone com a foto de um amigo seu para olhar de vez em quando não é a mesma coisa que falar com ele. Acabando passando dias procurando antigos colegas de escola, ex-colegas de trabalhos, ex-namorados e namoradas, vizinhos e até mesmo parentes não para estar em contato com eles, mas quase para colecioná-los.

No máximo uma mensagenzinha dizendo uma versão ou outra de "que saudade! e aí, o que você conta?", mas na maior parte das vezes nem isso.

É como se as pessoas que conhecemos fossem figurinhas para colecionar. "Nossa, ele tem mais de quatrocentos amigos no Facebook!". Deixa eu dar uma olhada para eu ver quem eu conheço para adicionar...

Você olha para as fotinhos e se sente rodeado pelas pessoas que conhece. É muito confortável. Mas o potencial para comunicação - o canal - não é a comunicação em si. Mas muitas vezes basta para que não nos sintamos desconectados da nossa teia de relações. Muito mais sofisticado do que a antiga caderneta de endereços com nomes e números, mas basicamente a mesma coisa.

Mas deixa este monte de papo filosófico para lá, preciso mesmo é te contar uma coisa. Você não acredita quem eu encontrei no Facebook...

Tuesday, May 19, 2009

Não dá para ser mais Dubai do que isso.

Este é o uniforme que a Carolina tem que usar na escola todo dia...

Ops!

Agora falando sério...

Era o dia nacional dos Emirados Árabes Unidos, e estávamos na frente da sua escola - com minha filhota vestida à caráter para a celebração.

Ao fundo podemos ver um hotelzinho modesto que construiram por aqui.

Isto continua não sendo um cachimbo.

Há mais de vinte anos atrás estava eu entrando em uma sala cheia de adolescentes nervosos para mais um dia de vestibular. Era a segunda fase da FUVEST.

O vestibular é para o adolescente brasileiro de classe média como aqueles ritos de passagem para os jovens índios tem que passar para serem aceitos como adultos. Rituais longos, dolorosos e tensos que nunca sabemos qual será o resultado final, mas que todo mundo tem que passar para fazer parte do mundo de gente grande.

Agora você faz parte da tribo, jovem Gafanhoto.

O dia era importante - a prova de redação, que contava muito na nota final. Mais um motivo para ficar tenso. Entre as várias opções para escrever a redação havia uma dissertação que começava com uma reprodução da pintura acima. Um cachimbo com uma frase embaixo "Isto não é um cachimbo".

Escrever sobre um cachimbo que não era um cachimbo pode não parecer muito convidativo. Especialmente quando você está numa sala dilapidada de uma escola pública sem ar-condicionado junto uns 40 adolescente que, como você e apesar do calor, estão suando frio.

Eu não lembro quais eram as outras opções porque foi essa a que eu escolhi.

O que René Magritte queria dizer com aqui? Um cachimbo que não é um cachimbo.

Depois de me debruçar sobre a imagem por quase meia hora comecei a escrever. Duas páginas à mão - lembra quando a gente usava a mão para escrever? - falando sobre a natureza da realidade.

Interessante que naquele momento tenso estava sem saber forjando minha identidade. Aquela redação era um esboço não de texto acadêmico, mas da minha maneira de ver o mundo.

O que era a realidade afinal? Existe algo verdadeiro ou apenas aquilo que acreditamos real?

Existe um sentido intrínsseco à coisas que observamos e experimentamos ou o sentido é atribuído pelo observador?

Seria a realidade uma fantasia?

O vestibular passou, mas as idéias ficaram.

Às vezes um cachimbo não é um cachimbo.

Monday, May 18, 2009

Mas os meus cabelos...

Quase quatro anos depois eu confesso que dei o braço a torcer.
Mudei a cara do meu blog e troquei para o nome que metade do planeta Terra insistia para eu colocasse.

Antes à tarde do que nunca. (São mais de 7 da tarde aqui)

Sunday, May 17, 2009

Passagem para Índia.

Comer em restaurante indiano já foi um acontecimento exótico para mim.

Fui apresentado à cozinha indiana - um termo relativo porque os indianos concordam que não existe tal coisa, tal a diferença entre a comida de cada estado - pelo meu tio Carlos há mais de duas décadas. Coisa estranha, sofisticada e cara!

Era um restaurante com o qual, muitos anos depois, acabei sendo vizinho, o Ganesh.

Nunca me ocorreu naquela época que estava travando meu primeiro contato com uma cozinha que tinha ambição de representar mais de um bilhão de pessoas.

Meus contatos depois deste primeiro momento foram esporádicos e, na maior parte das vezes motivado pelo meu amor à minha esposa - ela uma viciada na comida do subcontinente.

Avançamos muitos anos no futuro e me vejo em Dubai, uma estranhíssima cidade-estado em que 85% são estrangeiros e, surpresa, 60% indianos.

Claro que em um lugar com tantos indianos não ia ter nenhuma possibilidade de evitar os elaborados pratos das Índias.

Doce ilusão. Muitas pessoas mantém distância da comida indiana, considerada elaborada demais, picante demais e estranha demais para alguns paladares.

As duas culturas vivas mais antigas - a chinesa e a indiana - têm legados culinários completamente diferentes. Nos seus mais de cinco mil anos de histórias os chineses aprenderam a comer absolutamente tudo. De pepinos a pepinos do mar, de abelha a zebra, passando por cachorro e escorpião, eles não recusam nada nos seus pratos.

Indianos por outro lado aprenderam que é possível colocar absolutamente tudo em um prato. Uma refeição ligeira preparada por eles tem umas mil e quatrocentas especiarias, pelo menos. Quando você pede um franguinho básico pode ter certeza que a única coisa reconhecível, talvez, vai ser a textura da ave. O sabor, mascarado por um furacão de especiarias, faz com que as papilas gustativas dos desavisados sejam sobrecarregadas. O cérebro entra em curto-circuito.

É fácil manter distância de restaurantes indianos aqui em Dubai. Tem muito de tudo. De restaurantes libaneses a trash-food americana - McDonald's e Burger King - tem de tudo. Italianos, tailandeses, filipinos, sul-africanos, alemães, franceses, iranianos, argentinos - sim, até eles - estão representados. Tem até uma churrascaria rodízio em Abu Dhabi para aqueles tupinquins que estão com saudade de casa e com dinheiro no bolso.

Mas este nunca foi o meu caso. Não só eu não tinha medo de comida indiana como também encontrei um monte de amigos do subcontinente na minha jornada de publicitário desterrado no Oriente Médio.

Posso descrever a minha experiência (e a de um monte de gente que eu conheço) com a cozinha deles em seis etapas:

1 - Você estranha
2 - Você tolera
3 - Você se acostuma
4 - Você passa a gostar.
5 - Você gosta muito!
6 - Você precisa.

Já faz algum tempo em que estou no sexto estágio. Minha jornada para chegar até aqui não foi simples. Fui em restaurantes caríssimos e em bibocas que não custam nada. Visitei restaurantes de diferentes estados e posso confirmar: a não ser pelo fato que eles adoram especiarias a comida é completamente diferente.

Hoje em dia eu me considero um escolado. Nada me surpreende mais com relação a restaurantes indianos.

Pelo menos era isso que eu pensava. E o pior é que esta experiência completamente inesperada e indigesta aconteceu num restaurante do lado do meu trabalho. Um lugar em que eu como quase toda a semana.

Estávamos lá eu e mais um amigo indiano e um americano. Pedimos pratos óbvios, pré-testados e aprovados. Até aí, nada de mais. A comida chegou e estava saborosa. Música indiana tocava no sistema de som. Espera, eu conheço essa música indiana...como é possível.

Eu olho para a cara dos meus amigos e uma centelha de reconhecimento faz meu cérebro se acender como uma árvore de natal.

O que eu estava escutando era uma versão indiana ilegal - isto é, sem pagar direitos - de Lambada, do grupo Kaoma. Lembram? Infelizmente eu lembrava.

Depois de tanto tempo um restaurante indiano me deu indigestão.
O violão morreu, viva o violão!

Depois do desastre, a depressão, enfim boas notícias.
A salvação veio pelas linhas tortas da internet, depois que postei um comentário desesperado no meu Status do Facebook. Foi como ter jogado uma mensagem na garrafa num oceano virtual. Mas funcionou.

Levei meu violão para um indiano guitarrista, talentoso e interessante, fã de Joe Satriani. Ele olhou para os restos mortais e disse que ainda havia esperança e que em alguns dias tudo estaria resolvido. Eu deixei os dias passarem com medo de ligar e receber más notícias.

- Infelizmente nada pôde ser feito...tentamos tudo que era possível. Seu violão não está mais entre nós. Mas ele foi sem sofrimento, se isto lhe conforta.

Eu já imaginava o pobrezinho no céu dos violões - tudo bem, para violões e guitarras eu abro uma exceção - sendo tocado por um anjo sereno. Que destino horrível! Neste céu imaginário eles não devem tocar Rock'n'Roll, só músicas do Ray Conniff e do Zamfir.

Ignorando meu temor eu liguei e recebei a notícia: está pronto.

E não é que o cara fez um bom trabalho?

Fui até o apartamento dele para pegar o menino e me surpreendi. Quase não se vê as marcas da fratura e ele está soando lindamente. Acho que estava imaginando que ia ver um conserto parecido com aqueles que a gente fazia nos brinquedos que quebravam quando éramos crianças, com cola vazando pelas rachaduras. Felizmente eu estava errado.

O violão só não está soando melhor porque eu sou ruim demais. Mas para isso eu não sei se tem conserto.

Tuesday, May 05, 2009

A dor da separação, parte II.

Um update na história da guitarra: Ainda há esperança. Mandei uma mensagem desesperada no Facebook eu uma amiga me respondeu recomendando um especialista em conserto de guitarras.

Hoje eu juntei os pedaços e estou levando para ele.

Cruzem os dedos.

Monday, May 04, 2009

A dor da separação.

Foi realmente dolorosa a separação. Até agora ainda não me recuperei e até este momento não tive energia ou cabeça para falar no assunto.

Estranho que você use o blog, um modo totalmente público, para se expor de uma maneira que você jamais faria na sua vida privada. Mas este ritual catártico acaba ajudando você a lidar com seus demônios.

Aconteceu há umas 3 semanas. Cheguei em casa e a nossa empregada me deu a notícia. Fiquei sem reação. Não senti raiva, tristeza, nada. Só um grande vazio, choque.

A tristeza veio mais tarde, muita.

Dias depois veio uma viagem longa para Los Angeles. Foi uma fuga. Lá eu encontrei outras, muitas outras. Mas não era o momento, a separação ainda dolorosa não me deixa pensar em algo novo.

Claro, devo confessar, que tinha - e ainda tenho - esperança de que possamos juntar os pedaços, voltar ao que tínhamos antes da separação. Mas para isso preciso de ajuda. Não consigo fazer sozinho, preciso de ajuda profissional.

Por isso eu me abro e lanço este apelo:

Por acaso vocês sabem de alguém que conserte uma guitarra com o braço quebrado em dois pedaços?

Thursday, April 02, 2009

Coldplay e as águas de Março.

Imagine ir a um show the rock em que, meio da apresentação da banda, comece a chover.
Não é difícil de imaginar. Todo roqueiro deve ter pelo menos uma história de chuva durante show incluída no seu currículo. Eu mesmo tenho várias.

Agora imagine que você está no show da banda de maior sucesso da atualidade.

No Oriente Médio.

Com chuva.

Obviamente não é a combinação mais provável de fatores. Mas foi exatamente o que aconteceu no final de semana passado quando fomos comemorar o aniversário da minha querida esposa no show do Coldplay em Abu Dhabi.

Um megashow do lado do hotel mais caro e impressionante de Abu Dhabi - o Emirates Palace. Lotado, disputado, antecipado, animado, molhado.

Quando chegamos em Abu Dhabi algumas gotas estavam caindo - o que já era inesperado. Ei, isso aqui não é São Paulo. Estamos no meio do deserto, Oriente Médio, caramba! Não é para chover aqui.

Claro que chove. Umas 5 vezes por ano. Mas não antes do show de rock mais esperado do ano - e não em Março, por favor.

Mas tem chovido - e bastante - ultimamente.

Depois de penar para chegar ao local do show - o trânsito em Abu Dhabi é tão lento que parece que você está em uma fotografia - paramos no estacionamento e, como tinha um tempo de sobra, ficamos assistindo um episódio de Lost no DVD do carro. It's good to be the king.

Como o horário do show estava chegando decimos entrar. Já lá dentro a luta foi para conseguir comprar bebida. Devia ter umas cinco mil pessoas tentando comprar cerveja - entre elas umas três mil furando fila.

Claro que também aconteceu na nossa frente. Para melhorar meu humor - filas comprar bebida em show e tentar arrumar vaga estacionamento de shopping deveriam fazer parte dos métodos de tortura usados pela CIA em Guantanamo - um grupo de argentinos estava na nossa frente e demorou quase uma hora para pedir metade do bar - claro que com mais alguns hermanos chegando para furar fila enquanto esperávamos. Bebidas na mão, entramos na área VIP (a Dri tinha comprado ingressos especiais) e descobrimos...que tinha um bar lá dentro, vazio, tranquilo.

Quando eu era criança e alguém da classe dizia ou fazia algo estúpido as crianças faziam um som.

- Dãããããrrrrrrr

Acho que dá para imaginar a cena.

Entramos no show com a banda tocando. Nada da loucura que vemos em shows no Brasil com gente se empurrando e tentando se matar para chegar perto dos ídolos. Fãs de todas as nacionalidades curtindo juntos.

E tenho que confessar, mesmo não sendo um grande fã da banda, que eles são muito bons ao vivo. O show foi sensacional. Inesquecível, mas não pela apresentação da banda.

Vinte minutos depois do começo da apresentação começou a chuviscar. Inacreditável! Chovendo num show nos Emirados Árabes? Eu estava achando irônico - até que começou a chover de verdade. E quando falo de verdade quero dizer que começou a chover para cacete!

Chuva de verdade, daquelas que você corria para rua para ficar ensopado e depois tomava bronca da mãe.

O legal de gente ensopada é que todas as máscaras caem. Todo mundo perde a pose e relaxa. E foi isso que aconteceu. A galera relaxou e pulou que nem criança - e o show ficou memorável.

A banda fez piada, brincou com a galera e, num momento surpresa, correu no meio do público e se apresentou num palquinho no meio do estádio - a uns 3 metros de onde estávamos.

Durante este "pocket show" no meio do show eles pediram para apagar as luzes para celebrar a Earth Hour e o Chris Martin - o vocalista da banda - falou para a platéia iluminar o palco com seus celulares. Funcionou.

Os celulares oficialmente substituiram os isqueiros como fonte oficial de iluminação de platéia.

Muita diversão.

No final do show, quase secos de tanto pular depois que a chuva parou, vamos para casa feliz da vida. Claro que ainda ia ter um atoleiro pela frente - que deixou muita gente parada mas foi enfrentado bravamente pelo Ford Flex da Dri com este seu interlocutor no volante - e mais de duas horas de viagem até Dubai - incluindo uma parada estratégica para comprar um rango e trocar a água das azeitonas.

Exaustos e ainda meio molhados fomos dormir com um sorriso nos lábios e dor nas pernas.

Chuva em Abu Dhabi durante o show do Coldplay? Improvável, mas não impossível, diriam alguns.

Wednesday, February 25, 2009

Guilhermismos 02

Mire na lua, porque se errar irá alcançar as estrelas. Em uns 14.ooo anos, depois de passar fome, sufocar e congelar.

Tuesday, February 24, 2009

Guilhermismos 01

Arte é execução mais contexto.
Considerações.

Aqui em Dubai você só lembra que é Carnaval por que tá cheio de neguinho vestido de sheikh.

Monday, February 16, 2009

Caras-Metades

Imagina você conhecer uma pessoa num dia e três dias depois estar casado com ela.

Bom, você não precisa estar bêbado em Las Vegas, ser uma estrela da indústria do entretenimento - ou ambos - para fazer isso.

No Oriente Médio e na Ásia - principalmente a Índia - isso é comum.

Casamentos arranjados entre pessoas da mesma casta ou da mesma região da Índia acontecem com frequência. Uma amiga minha indiana conheceu o futuro marido um mês antes do casamento, depois que o enlace já estava negociado pelas famílias.

Outro amigo, nepalês, conheceu a noiva - que era a única representante da mesma casta disponível na sua vila - cinco dias antes do casamento. Se você acha isso estranho, devia ver uma foto da criatura.

No mundo muçulmano conservador a história acontece de um jeito diferente. Garotos não saem com garotas, namoros são proibidos e beijo na boca, nem pensar! Em países que seguem leituras mais radicais do Corão - como a Arábia Saudita - se você não é marido, pai ou irmão da mulher você não pode nem andar junto, sob o risco de ser preso e levar uma chibatadas - como aconteceu com um amigo libanês que tinha um rolo com uma enfermeira canadense na. O coitado estava andando com a garota num shopping - a uma distância segura, pensava ele - quando foi abordado pela polícia religiosa. Preso, tomou dez chibatadas e foi expulso do país. Imagina o que aconteceria se tivessem pegado ele transando no carro...

Mas os moleques sempre arrumam um jeito. Antigamente passam de carro do lado das garotas e jogavam bilhetinhos com seus telefones - e romances começavam aí. Hoje em dia a tecnologia ajuda a furar os bloqueios. Eles flertam com as meninas - e vice-versa - usam bluetooth e SMSs e depois continuam seus xavecos via MSN, GoogleTalk ou o que estiver disponível.

Onde há hormônios sempre há um jeito.

Mas na hora de casar a história é outra. Você tem que ir até a casa da menina com seus pais para ser apresentado aos pais dela que, depois de aprová-lo, irão deixá-lo falar com futura noiva. Se os dois concordarem e gostarem um do outro podem se casar em uma semana - ou em alguns meses se a preparação para a cerimônia for mais complicadas. Em alguns casos a família decide pela mulher.

Antigamente haviam mulheres que ganhavam a vida fazendo estas apresentações, juntando as partes interessadas. Hoje elas são mais raras e, mais um sinal de que a tecnologia tem poder de mudar nossas cabeças mais do que cabeleireiro, estão sendo substituídas por agências matrimoniais online. Você coloca seu perfil, fotinho e pronto!

Mas um dos fatos mais curiosos é que no mundo árabe muçulmano a poligamia é permitida. Segundo algumas leituras do corão - eles nunca concordam - o homem muçulmano pode ter até 4 (quatro esposas). Isso mesmo, quatro esposas.

Imagina colocar quatro mulheres sob um mesmo teto e tentar viver em harmonia? Não é à toa que os locais adoram ficar perdidos no deserto na companhia de camelos.

Algum tempo atrás eu falei com um cara dos Emirados que tinha duas e estava se preparando para casar com a terceira. Qual era o truque, perguntei eu, porque eu tinha só uma e de vez em quando me deixava louco.

O segredo, disse ele, é sempre dar às outras o que você ofereceu à uma - ao invés de olho por olho, dente por dente é Louis Vuitton por Louis Vuitton, Prada por Prada.

Fácil. Só precisa ser justo e ter um cartão de crédito sem limite.

Sunday, February 15, 2009


Salve a Donzela de Ferro.

Vinte e quatro anos depois finalmente assisti ao show que perdi no Rock in Rio.
Claro que meus pais não deixaram aquele moleque magrelo de catorze anos embarcar sozinho para a capital fluminense. Ele ficou na vontade, ouvindo a versão em vinil do show até gastar.

Doze anos depois veio a primeira chance de ver os caras ao vivo em em cores. Mas não foi a mesma coisa. As músicas não eram as mesmas que eu queria e talvez eu também não fosse o mais mesmo. Muito bom, mas poderia ter sido perfeito.

Corta de novo. Nos movemos para o futuro, mais treze anos - quase o número de anos que eu tinha quando perdi minha grande chance. Estou em Campinas e meu grande amigo André Brandalise me conta que a turnê iria passar no Brasil em Março. E lá estava eu em Campinas, pronto para voltar para Dubai...deixando a possibilidade de assistir aos catorze mil quilômetros e vinte e três horas de viagem para trás.

Claro que como todo grande amigo o André esfregou na minha cara o ingresso. "Já comprei, vou estar lá e você não!".

Se você algum cara te tratar bem pode ter certeza que ele não é seu amigo. Amigos de verdade enchem o seu saco, te provocam, te chamam de um monte de coisas ruins e você pensa "caramba, o cara é o maior brother" - e tenta provocá-lo pelo menos três vezes mais.

Mas encher a paciência não é o suficiente no competitivo universo macho - tem que pagar na mesma moeda. E eu não sabia que os deuses do Metal estariam do meu lado - pelo menos nesta oportunidade.

Cheguei em Dubai e meio sem querer, no meio de uma conversa com um colega de trabalho, que a Donzela de Ferro viria para essas paragens. Glória!

Cadê meu ingresso?

Mas não podia ficar assim...uma semana depois estou em Beirute para a finalização de um comercial que filmamos - aquele mesmo da libanesa beiçuda superstar. Quando você senta na ilha de edição para editar um comercial em geral é um misto de agitação e ócio. Primeiro você vê o material editado e tem que fazer uns cinquenta comentários - essa é a parte tensa. Aí você tem que esperar horas para eles fazerem todas as mudanças - a parte do ócio.

Durante este ócio eu liguei meu laptop e fiquei surfando na net feito um zumbi. Saí para ver um filme num shopping perto e quando voltei o Skype estava piscando: chamada de André Brandalise.

Ligamos nossas câmeras e ficamos conversando por uma hora, sobre todos os assuntos. E, antes de terminar, claro que ele me provocou de novo falando dos show. E eu fiquei quietinho.

Vingança é um prato mais saboroso servido com frios. Vai um salaminho e um queijo tipo reino aí.

De volta para Dubai leio mais sobre a turnê. Com se estivessem atendendo aos pedidos já quase esquecidos de um moleque de catorze anos feitos há vinte e cinco anos, o tema do show é reviver o show mais famoso que eles fizeram nos anos oitenta. Aquele que eu perdi.

E lá vou eu para o meu primeiro grande show em Dubai.

Uma coisa você pode dizer sobre rock clássico: é sempre um encontro de gerações. Moleques de dez anos de idade se misturam com tiozinhos com cabelos brancos e mesmo sem cabelos. Em qual das categorias será que eu me encaixo?

Naquela noite eu tinha catorze anos de idade.

Claro que tirei montes de fotos, pulei e cantei como um retardado e me filmei abusando verbalmente do meu grande amigo enquanto a banda tocava uma das músicas favoritas para postar depois no YouTube. Mas o meu plano infalível - esse é o meu lado Cebolinha - não funcionou - exatamente como o Cebolinha.

Tentei ligar de lá para o André enquanto o Iron Maiden tocava Phantom of the Opera, mas o maldito celular não funcionou. Gambá de sorte.

No fim do show o moleque, feliz da vida, andou até seu carro, voltou para casa, para sua esposa, sua filha e sua carreira. Vinte e cinco anos depois.

Thursday, February 12, 2009


Parabéns, Charles.

Há duzentos anos nascia Charles Robert Darwin.

Quarenta e nove anos depois ele publicaria, junto com Alfred Russel Wallace, a teoria da evolução que explicaria que a vida no nosso planeta está em constante transformação - processo regulado pela seleção natural - e que faz com que organismos mais adaptados ao meio ambiente tenham maiores chances de sobrevivência.

Entre outras afirmações controversas, Darwin anunciou que o homem (notem a ausência de maiúscula) descenderia do macaco - ou um ancestral comum aos macacos. Muitos se sentiram ofendidos.

Surpreendentemente, aqueles que deveriam ter se sentido mais ultrajados não se pronunciaram. Os macacos permanecem neutros com relação ao assunto.
Considerações sobre o macroverso.

Você pode ser preso por não seguir as leis da física?

A polícia pode te multar se você ultrapassar a velocidade da luz?

Se eu fosse um membro do congresso eu teria votado contra a Lei da gravidade.

A maior prova de que o universo está se expandindo é o valor do meu aluguel.

A maior prova de que ele não está é o meu salário.

Monday, February 02, 2009

O copo está meio cheio.

A coisa mais fantástica sobre as crises, mesmo em uma situação complicada como esta recessão global, é que sempre há uma história feliz e positiva para contar.

Eu ainda não ouvi nenhuma, mas tenho certeza que um dia vai aparecer.

Thursday, January 29, 2009

A crise. Ah, a crise.

Os ecologistas devem estar felizes - estamos vivendo o desaquecimento global.

Pingüins e ursos polares, uni-vos!

Tuesday, January 27, 2009

Resoluções de ano-novo fáceis de cumprir.

1 - Prometo respirar com mais frequência.
2 - Prometo esquecer alguns aniversários.
3 - Prometo jogar videogame até deixar minha mulher P. da vida.
4 - Prometo colocar gasolina no carro.
5 - Prometo comer no MacDonald's.
6 - Prometo não usar protetor solar
7 - Prometo que vou ficar irritado se tiver que acompanhar minha mulher às compras.
8 - Prometo assistir Sexto Sentido de novo na TV a cabo, mesmo que seja da metade para a frente.
9 - Prometo esquecer de usar fio dental.
10 - Prometo que vou dizer que coloquei água na forminha de gelo, mesmo que não tenha colocado.
11 - Prometo ficar com raiva de procurar vaga em estacionamento de shopping.
12 - Prometo deixar para o dia 23 de dezembro as compras de Natal.
13 - Prometo que vou descobrir alguma coisa cara que minha mulher comprou.
14 - Prometo que vou ficar puto com a coisa cara que minha mulher comprou.
15 - Prometo que vou comer todos os Mendoratos disponíveis.
16 - Prometo que vou comprar mais livros do que dou conta de ler.
17 - Prometo que vou esquecer de comprar ketchup na próxima vez que for ao supermercado.
18 - Prometo que vou queimar meu pé na areia quente da praia porque não levei chinelo.
19 - Prometo contar a piada da competição internacional das polícias.
20 - Prometo reclamar dos mecânicos de Dubai.
21 - Prometo reclamar dos preços em Dubai.
22 - Prometo reclamar do trânsito em Dubai.
23 - Prometo arrumar minha mala uma hora antes da viagem.
24 - Prometo esquecer de colocar pasta de dente na mala.
25 - Prometo ficar irritado com a operadora do meu cartão de crédito.
26 - Prometo falar que a pizza de São Paulo é a melhor que existe.
27 - Prometo contar para alguém que há mais libaneses em São Paulo do que no Líbano.
28 - Prometo confirmar para alguém que em Beirute não se come beirute.
29 - Prometo prometer que vou correr de kart com a galera.
30 - Prometo comer chilli con carne preparado pela minha esposa até passar mal.
31 - Prometo dar risada sozinho de uma coisa que achei na internet e que ninguém mais vai achar engraçado.
32 - Prometo comprar alguma coisa e logo depois de comprá-la descobrir que tinha muito mais barato em outra loja.
33 - Prometo dar dois beijos em uma pessoa que está esperando três.
34 - Prometo comprar um DVD pirata que não vai funcionar.
35 - Prometo sair atrasado de casa e ligar dizendo que estou chegando em 5 minutos.
36 - Prometo escrever mais promessas depois.
Fazendo beicinho.

Estou eu aqui em Beirute numa filmagem com a maior estrela pop árabe: Nancy Ajram.

Para dar uma idéia ela é a Beyoncé local. Está para todos os lados - da Coca Cola à Damas (joalheria de maior sucesso no Oriente Médio) entre outras grandes marcas. No meu caso ela foi escolhida para ser a cara da Sony Ericsson.

Como toda estrela árabe, ela tem o look de quem fez a alegria de algum cirurgião plástico - ou vários. Se no Brasil cirurgia plástica ficou mais importante do que ter geladeira em casa no Líbano é mais importante do que ter geladeira e comida para por na geladeira. Acho que já devo ter mencionado isso, mas tem até banco oferecendo empréstimo para pagar plástica. É interessante emprestar dinheiro para gente que tem um produto que está em queda...

Parece que todas as estrelas do mundo árabe vão ao mesmo cirurgião - elas eventualmente acabam ficando com a mesma cara. O mesmo nariz, os mesmos peitos, os mesmos beições.

E que beições.

Elas acabam ficado com o que os gringos chamam de trout pout - beicinho de truta em bom e velho português. O mais engraçado é que as mulheres a partir da casa dos quarenta acabam seguindo o mesmo caminho e, como todas acabam parecidas você nunca sabe se está frente a frente com uma lenda da música árabe ou a mulher do Mustafá.

Mas o que difere a Nancy Ajram das demais é o fato de ela ser uma pessoa muito tranquila, o que é difícil de entender dada a devoção que o público árabe tem por elas. Homens, mulheres, crianças, todo mundo a adora.

Estou escrevendo isso quinze minutos depois de ter almoçado um PF com ela e a equipe de filmagem em umas mesinhas de plástico vagabundas, em que só faltava ter o logo da Kaiser. E para tornar a situação ainda mais complicada, ela está grávida...

Dá para respeitar, principalmente depois de ter feito um trabalho com um outro astro da música, Wael Kfoury.

O cara era uma figura realmente irritante. Durante uma sessão de fotos ele deixava a agência - no caso eu - ver o que estava acontecendo até ele estar feliz com o resultado. Era só ele, o fotógrafo, o assistente e o maquiador, isolados do resto da equipe.

Aí você era convidado para ver as fotos no monitor que foram selecionadas por ele. Enquanto passávamos pelas fotos - com nossa estrela do lado - e chegávamos a uma que o indivíduo achava especialmente boa ele mandava parar e assobiava.

- FIUUUUUUUU!!!! (nota do tradutor: como sou lindo!!!!!)

Não é de matar?

Monday, January 19, 2009

London, London.

Uma coisa que provavelmente alguns dos meus milhares de leitores não estão sabendo:

Ganhei um prêmio internacional bacana. Prata no London Festivals.

Claro que não fui para Londres para receber o trófeu. Primeiro porque não sabíamos se iríamos ganhar ou não e não ia ser muito divertido ir para lá e ficar com aquela cara de pão Pullman, quando anunciam que outro anúncio, que você sempre acha muito pior que o seu, ganhou.

A parte boa é que o trófeu chegou dois dias depois do anúncio oficial dos vencedores - e era bem pesado. Me senti numa Copa do Mundo quando levantei a taça. Só faltou a camiseta 100% Jardim Irene.

Para quem não conhece o tal anúncio, aí vai...

Que vergonha...

Quase seis meses sem postar.

As razões são várias. No começo você deixa de postar porque está sem assunto - ou pensa estar. Depois você fica ocupado por um tempo e não arruma espaço na cabeça para escrever. De repente você pára e descobre que não consegue escrever mais por excesso de assuntos.

Bom, para voltar a escrever com no blog nada melhor que uma das minhas resoluções de ano novo: voltar a escrever no blog.

Para continuar escrevendo nada melhor do que listar todas as outras resoluções. Mas isso fica para outro post, quero acumular números neste começo de ano.