Friday, February 24, 2006

Carta ao meu pai.

Lázaro, meu querido

Pelo que estou vendo você vai ter um ano bem movimentado.
Parabéns pela primeira nota da nossa empresa. Muitos outros talões virão, com certeza.
As coisas aqui estão boas. Temos um novo diretor de criação executivo - um escocês bacana - que tem poder e apoio para mudar as coisas. Antes nós estávamos muito vulneráveis porque não tínhamos poder suficiente para fazer mudanças expressivas no departamento, principalmente porque nossa responsabilidade acabava no pequeno grupo que era nossa responsábilidade - no meu caso 5 caras.
O cara entrou e está dando uma sacudida na estrutura do departamento - coisa que eu considero muito benéfica.
As pessoas não serão mais responsáveis por apenas um cliente, o que é excelente para a motivação e desenvolvimento dos profissionais.
A parte boa para mim é que eu também não vou ter que trabalhar com este cliente extremamente difícil - a bomba foi para outro cara. E ainda vou ser responsável por outros clientes, o que aumenta a chance de me divertir.
Saio muito por cima desta conta: ontem recebemos a notícia de que 2 projetos enormes - campanhas de lançamento - foram aprovados. Depois de toda aquela pressão para mudar a relação com o cliente nós conseguimos. E eu, modéstia a parte, coordenei minha equipe para chegar lá.
Mas foi um sucesso de todos nós.
O resultado foi tão bom que o CEO da empresa - que agora também é ministro do governo - de tão feliz que ficou com e resultado falou que ia mostrar para Sheikh Mohammed, soberano de Dubai.
Estas mudanças e os acontecimentos recentes deixam a vida mais fácil. Claro que eu preferia estar dando palestras sobre elas em vez de estar passando por elas, mas...
Estes últimos dias foram atípicos em Dubai.
Há dois dias acordamos no meio da noite com um barulho muito estranho.
Chuva.
E ontem caiu um temporal de fazer inveja a São Paulo. Acho que os indianos devem ter se sentido em casa, parecia uma Monção.
A cidade ficou alagada, carros abandonados em lugares inundados e tudo.
Nossa casa também ficou alagada, tá vazando água para tudo que é lado.
A construtora - Emaar, uma das maiores daqui, que está construindo o prédio mais alto do mundo - na sua ânsia por fazer dinheiro, fez tetos que fariam um beduíno feliz mas que são como esponjas.
Todo mundo que mora aqui nos Springs - nosso condomínio gigante com milhares de casas - teve os mesmos problemas.
Ei, aqui chove também! E muito.
As meninas estão ótimas.
A Carolina adaptada à escolinha e começando a entender e a falar um pouquinho de inglês.
A Dri trabalhando um monte e se adaptando aos novos desafios - do jeito que ela gosta.
E os desafios não são poucos. Ela hoje é responsável pelo marketing de Windows em 7 países: UAE, Iêmen, Omã, Kwait, Bahrain, Paquistão e Qatar.
Não é pouco e não é nada comum.
Esta semana a Dri me ligou toda feliz para contar que teve a primeira conversa completa pelo telefone com a dona fofinha.
Em geral quando a gente tentava falar com a pequena no telefone ela pegava o aparelho, abriu o olhão e não falava nada. De vez em quando ela cantava baixinho "Ia, ia, ôu" daquela música do Old MacDonald e sua fazendinha.
Desta vez foi diferente: ela falou sobre tudo que estava acontecendo, falou que estava assistindo o Tigrão, teve mais umas falas surreais e, para finalizar falou "Mamãe, te amo. Preciso ir agora".
Pode?
Hoje tem mais uma reunião com os Brasileiros - na verdade uma festa, a Brazilian Connection.
Eles são muito bacanas os desterrados daqui, mas vamos tentar não ficar fechados só neles porque a parte bacana desta experiência é conviver com gente de todos os lugares e culturas.

Sinto muita saudade de você, como pai, amigo e companheiro de trabalho.
O mundo parece menos quando você não pode estar perto de todo mundo que você ama.
Mas, como um grande professor meu falou uma vez...
There's no free lunch.
Bom, na verdade não foi uma vez, foram várias.

Muitos beijos,

Gui

1 comment:

Anonymous said...

Velhusco, parabéns pelas conquistas profissionais. Como colega de profissão eu imagino as trolhas colossais que você teve que resolver. Volta logo, bichona.