Saturday, December 02, 2006

Uma pedra no meio do caminho.

A cabeça da gente faz um monte de conexões que nem notamos. Vivemos por aproximação, montamos imagens básicas, um retrato básico do nosso universo para que a gente não precise percebê-lo, entendê-lo e decupá-lo quando saímos à rua rumo aos nossos destinos diários. Assim sobra mais tempo e espaço no cérebro para pensar na vida, organizar a nossa agenda diária, cantar a música que está tocando no rádio, no CD ou no iPod ou - mesmo que proibido - falar no celular.

Viver é como dirigir falando no celular: de repente, sem perceber você chegou no seu destino final.

Mas quando o dia-a-dia introduz novos elementos temos que voltar a usar a cabeça. Não dá para deixar o piloto automático tomar conta.

Um amigo meu da BBDO uma vez me mostrou com orgulho sua BMW caríssima cheia de gadgets de última geração. Entre as coisas mais impressionantes estava o computador de bordo com GPS. Uma voz muito sexy - dá vontade de casar com ela, o que eu faria se não fosse o custo de manutenção e o fato de ter que mandar para revisão a cada 10 mil quilômetros - diz onde você está e como fazer para chegar no seu destino.

Por exemplo: você está perto do Burj Al Arab e está indo para as Emirates Towers (o lugar onde eu trabalhava antes de mudar para a Young & Rubicam). O computador vai falar coisas como "mude da faixa do centro para a faixa da direita"(realmente, você estava na faixa do centro) "após 400 metros, vire à direita".

Siga as informações passo-a-passo e você chegará ao seu destino.

Teoricamente.

Isso porque não tem como montar um modelo atualizado das ruas de Dubai. O emirado muda tão rapidamente que não tem rua que permaneça a mesma por mais de uma semana. Às vezes de manhã as ruas de uma região estão de um jeito no final da tarde estão de outro. São obras para todos os lados. Você disputa espaço nas ruas, avenidas e rodovias com caminhões, betoneiras, gruas e guindastes.

Se você seguir as dicas do supercomputador de bordo com voz sexy corre o risco de acabar em um buraco de 30 metros de profundidade.

Maldita. Sabia que não dava para confiar!

Mas o resultado disso é que fica mais difícil para você criar modelos mentais. O que faz o seu cérebro ficar sempre atento. Mesmo depois de um tempo longo você continua percebendo o lugar onde você está.

Uma coisa bem darwinista. Se você não estiver ligado acaba sendo tragado por buracos de obras imensos ou atropelado por betoneiras desembestadas - a versão moderna de poços de pixe e de mamutes enraivecidos.

1 comment:

Anonymous said...

Oi,Gui
Gosto de ler vc.
Sou sua fã.
Bjs
Iris