Sunday, March 19, 2006

Os Deuses devem estar putos.

Eu não sou um cara com muitos sonhos de consumo. Meus gostos são simples: gosto de livros, filmes e de viajar.
Nada de gadgets eletrônicos, relógios caros, roupas de griffe e outras frescuras.
Mas uma coisa acontece de vez em quando. Eu tenho vontade de ter um carro específico. Pode ser uma caminhonete - carro de egoísta em que só cabem dois - um dojão que vive dando problema e, como aconteceu recentemente, uma Pajero do modelo antigo.
Eu tinha essa vontade de ter uma Pajero há uns 3 anos. No Brasil não rolava - o seguro era caro, a manutenção era muito cara e o carro em si era como um cartão de visitas que dizia aos bandido "por favor, me seqüestre", mesmo que uma Pajero usada estivesse custando menos do que um Fiesta Totalflex.
Aqui era totalmente diferente: o carro estava barato e, se alguém tentar me seqüestrar e for pego eles cortam a mão ou algo pior.
Então tratei de satisfazer essa vontade. Comprei uma Pajero usada - bem usada, aliás, mas em grande forma.
Os primeiros meses foram bons. Um um monte de coisinhas para fazer no carro mas tudo estava indo às mil maravilhas.
Há mais ou menos umas duas semanas eu resolvi fazer aquele pitstop. Tinha um barulho me incomodando que justificava a parada e lá fui eu.
4 dias sem carro e uma pusta grana gasta. Acho que trocaram metade das peças da Pajero.
E o maldito barulho ainda estava lá.
Raiva.
Fiquei de levar o carro para resolver este problema outro dia - não aguentava mais ficar sem carro em Dubai.
Aí veio o sábado. A Dri não deveria ir trabalhar no sábado, mas o big boss da microsoft golfo tinha marcado uma megareunião.
Ela ficou com o carro durante e manhã, pegou a gente para almoçar e a deixamos na firrrrrrma.
Sete da noite e ela nos chama para buscá-la. Coloco a dona fofinha no assento - o que foi um parto, porque a pequena estava com a bateria no fim e ligo o carro.
Por falar em bateria...
A dita cuja estava no sofrendo seus últimos momentos de vida. Pelo menos assim eu pensava.
Nada de ligar o carro. Liguei para Dri e disse para ela pegar um taxi. Não dava para fazer nada.
Mais uma vez deu aquela sensação de estar perdido numa terra estranha e que não faz sentido. Quem chamar numa situação dessas?
O seguro meia-boca só serve para cobrir os custos da destruição total e parcial do seu carro e o de terceiros que por ventura venham a ser atingidos pelo mesmo.
A única coisa que me ocorreu naquele momento foi ligar para um amigo sírio aqui da agência. Ele mora em Dubai há uns 19 anos e com certeza ele teria todas as respostas.
Bom, as respostas ele não tinha, mas tinha os cabos necessários para fazer uma chupeta. Por favor, não pensem nada errado. Era só para recarregar a bateria.
Sábado à noite e lá vem ele até minha casa para fazer o carro pegar, para eu poder ir pelo menos até um mecânico 24 horas para trocar a bateria - se fosse este o problema.
Funcionou. Agradeci ao meu amigo e lá fui eu enfrentar a noite dubaiana.
Logo após sair do condomínio o carro começou a perder potência. Estranho. De repente os instrumentos não funcionavam mais e o carro foi ficando fraco, fraquinho, muito fraco...
Tentei voltar para casa mas não deu.
Parei no meio da estrada.
Chamo de novo o meu amigo. Coitado.
Mais uma tentativa. Oba! Acho que agora vai dar.
Para encurtar o caminho pego a estrada que fica atrás do condomínio - a Al Khail Road. Uma estrada de alta velocidade e cheia de caminhões. Para completar o cenário tem uma tempestade de areia acontecendo e ela está ficando cada vez mais forte.
Peguei a estrada e, depois de andar o suficiente para estar longe de qualquer coisa, o carro moribundo dá o seu último suspiro.
Nestas horas que eu agradeço pelo irritante telefone celular.
Chamei meu amigo de novo. Coitado, de novo. Não teve jeito, era um carro perdido.
Lá fiquei eu tentando entrar em contato com o mecânico que arrancou meu couro uma semana antes para me socorrer.
Sabe aquele náufrago que se salvou em um bote-salva vidas e passa meses à deriva sem salvação, vendo os barcos passarem.
Os barcos no caso eram caminhões passando à toda velocidade, chacoalhando a Pajero como se ela fosse um Uno Mille com uma galera dançando Techno dentro.
E tinha a tempestade de areia também. E eu estava no meio do deserto. De noite. Tudo isso no mesmo pacote.
Quer mais? Vamos adicionar mais um elemento exótico na mistura para dar um sabor único.
Começou a chover.
Caceta, o que falta mais acontecer?
O socorro demorar.
E demorou mais de uma hora e meia.
Lá estava eu, um náufrago terrestre o meio de uma tempestade de areia com chuva (!) no meio do deserto em uma das estradas mais perigosas do mundo.
A salvação surgiu na forma de um indiano no seu caminhão reboque. Tivemos altos papos, onde ele deve ter entendido no máximo umas 3 palavras. Mas nos divertimos bastante.
Ele colocou a Pajero na carreta e me levou até a mecânica, que claro, estava fechada na hora.
Mas os caras estavam preparados no dia seguinte para pegar meu carro, eliminar os problemas e eliminar qualquer vestígio de dinheiro do meu bolso.
Assim foi. Acho que as peças que eles ainda não tinham trocado no motor foram todas trocas. Pelo menos foi isso o que o meu bolso disse.
Quando um mecânico te diz para sentar quando vai te contar o valor do conserto nós sabemos que a coisa é séria.
Nós somos realmente totalmente reféns dos mecânicos, dada a nossa ignorância quanto aos assuntos, digamos, mecânicos.
Agora pensem como é quando alguém te diz que o problema é na rebimboca da parafuseta, mas em inglês!
Aí somos mais reféns que nunca.
Pelo menos uma coisa boa eu posso dizer sobre toda essa história: o chefe da oficina - um australiano - sabia falar meu nome direitinho! E olha que eu nem ensinei.

Always look at the bright side of life.

5 comments:

mauro said...

agora você já sabe: da próxima vez, compra um fusca. qualquer beduíno sabe consertar.

Anonymous said...

Meu carro antigo - o SP2 - tava vazando óleo e me deixando cansado: toda semana tinha que fazer ele pegar, ir com ele até o posto de gasolina, trocar o óleo, ver se não tinha mais nada de errado que estivesse provocando o vazamento, escutar conselhos geniais do frentista (que é um mecânico frustrado). E tudo isso pra depois chegar em casa e o carro vazar óleo no chão da garagem.
Perguntei para meu mecânico como resolver essa trabalheira toda que eu tava tendo e ele disse: "Porque você não compra vários litros de óleo e joga um pouquinho por semana direto no chão da garagem?". Ele é bom.

Anonymous said...

Gui, o Paulo sempre fala que o melhor carro do mundo é o ...zero km. hahahahahahahahhahaha
Sorte amigo, beijo na fofinha !!

Anonymous said...

benzadeus Gui!!!! Pensei que só eu tava zicada...
em janeiro caí na rua (tombinho besta) e torci o tornozelo. Isso bem na frente de uma siderúrgica que tava cheia de "peão" chegando pro trampo. Se não bastasse, fui ao pronto socorro, tiraram um RX e a médica de plantão ACHOU que tinha uma fissura (acho que no cérebro dela tinha uma...) e me engessou. Fiquei uma semana de repouso e no último dia comecei a sentir uma dor do caramba... resultado: TROMBOSE DE VEIA PROFUNDA. Mifu... Ai descobri também que não tinha fissura porcaria nenhuma e nem chegou a romper os ligamentos, ou seja, me engessou desnecessariamente, fiquei uma semana no hospital tomando 2 injeções por dia na barriga, mais 2 meses de repouso, fui pro INSS e só voltei a trabalhar agora (por isso estou aproveitando para ler os posts atrasados).
Enfim amigo.... pra isso que a gente tem senso de humor, né?
Beijos e saudades
Dri

Anonymous said...

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