Saturday, February 25, 2006

Eu e o tamagochi de mim mesmo

Sabe uma coisa que é muito jóia de morar aqui?
É que quando você abre o Orkut - que continua uma mania absoluta entre os brasileiros - você centenas pessoas que no profile tem como hometown Ilhas Maurício, Afeganistão, Fiji, Iraque, Tuvalu, Mongólia.
E no meu está Dubai, United Arab Emirates.
E é de verdade.

Friday, February 24, 2006

Carta ao meu pai.

Lázaro, meu querido

Pelo que estou vendo você vai ter um ano bem movimentado.
Parabéns pela primeira nota da nossa empresa. Muitos outros talões virão, com certeza.
As coisas aqui estão boas. Temos um novo diretor de criação executivo - um escocês bacana - que tem poder e apoio para mudar as coisas. Antes nós estávamos muito vulneráveis porque não tínhamos poder suficiente para fazer mudanças expressivas no departamento, principalmente porque nossa responsabilidade acabava no pequeno grupo que era nossa responsábilidade - no meu caso 5 caras.
O cara entrou e está dando uma sacudida na estrutura do departamento - coisa que eu considero muito benéfica.
As pessoas não serão mais responsáveis por apenas um cliente, o que é excelente para a motivação e desenvolvimento dos profissionais.
A parte boa para mim é que eu também não vou ter que trabalhar com este cliente extremamente difícil - a bomba foi para outro cara. E ainda vou ser responsável por outros clientes, o que aumenta a chance de me divertir.
Saio muito por cima desta conta: ontem recebemos a notícia de que 2 projetos enormes - campanhas de lançamento - foram aprovados. Depois de toda aquela pressão para mudar a relação com o cliente nós conseguimos. E eu, modéstia a parte, coordenei minha equipe para chegar lá.
Mas foi um sucesso de todos nós.
O resultado foi tão bom que o CEO da empresa - que agora também é ministro do governo - de tão feliz que ficou com e resultado falou que ia mostrar para Sheikh Mohammed, soberano de Dubai.
Estas mudanças e os acontecimentos recentes deixam a vida mais fácil. Claro que eu preferia estar dando palestras sobre elas em vez de estar passando por elas, mas...
Estes últimos dias foram atípicos em Dubai.
Há dois dias acordamos no meio da noite com um barulho muito estranho.
Chuva.
E ontem caiu um temporal de fazer inveja a São Paulo. Acho que os indianos devem ter se sentido em casa, parecia uma Monção.
A cidade ficou alagada, carros abandonados em lugares inundados e tudo.
Nossa casa também ficou alagada, tá vazando água para tudo que é lado.
A construtora - Emaar, uma das maiores daqui, que está construindo o prédio mais alto do mundo - na sua ânsia por fazer dinheiro, fez tetos que fariam um beduíno feliz mas que são como esponjas.
Todo mundo que mora aqui nos Springs - nosso condomínio gigante com milhares de casas - teve os mesmos problemas.
Ei, aqui chove também! E muito.
As meninas estão ótimas.
A Carolina adaptada à escolinha e começando a entender e a falar um pouquinho de inglês.
A Dri trabalhando um monte e se adaptando aos novos desafios - do jeito que ela gosta.
E os desafios não são poucos. Ela hoje é responsável pelo marketing de Windows em 7 países: UAE, Iêmen, Omã, Kwait, Bahrain, Paquistão e Qatar.
Não é pouco e não é nada comum.
Esta semana a Dri me ligou toda feliz para contar que teve a primeira conversa completa pelo telefone com a dona fofinha.
Em geral quando a gente tentava falar com a pequena no telefone ela pegava o aparelho, abriu o olhão e não falava nada. De vez em quando ela cantava baixinho "Ia, ia, ôu" daquela música do Old MacDonald e sua fazendinha.
Desta vez foi diferente: ela falou sobre tudo que estava acontecendo, falou que estava assistindo o Tigrão, teve mais umas falas surreais e, para finalizar falou "Mamãe, te amo. Preciso ir agora".
Pode?
Hoje tem mais uma reunião com os Brasileiros - na verdade uma festa, a Brazilian Connection.
Eles são muito bacanas os desterrados daqui, mas vamos tentar não ficar fechados só neles porque a parte bacana desta experiência é conviver com gente de todos os lugares e culturas.

Sinto muita saudade de você, como pai, amigo e companheiro de trabalho.
O mundo parece menos quando você não pode estar perto de todo mundo que você ama.
Mas, como um grande professor meu falou uma vez...
There's no free lunch.
Bom, na verdade não foi uma vez, foram várias.

Muitos beijos,

Gui

Saturday, February 18, 2006

Mais uma sobre os brasileiros.

Ontem fomos a um churrasco da comunidade brasileira - ou parte dela - no Jumeirah Beach Park. Este é um parque muito arrumadinho que a gente paga para entrar - 20 Dirhams o carro (uns 14 reais) e tem tudo que a gente precisa: praia bonita limpa, banheiros muito limpos (supresa!), lanchonetes, gramados e churrasqueiras.
Na sexta-feira, que é final de semana para todo mundo, fica muito cheio.
Quem organizou foi a Luciana e o André e mais uma leva de brasileiros novos apareceu.
Não faltou nada. Teve picanha até dizer chega, salada (para as meninas, claro), linguiça - de frango, franguinho do bom, pãozinho francês (aqui tem), sambinha e até umas biritas mocozadas que a galera trouxe disfarçada.
Brasileiro é realmente um povo festeiro e conversador. Ontem conversei com umas 10 pessoas novas que fazem umas 11 coisas diferentes. Fora os comissários da Emirates Airlines que dominam o pedaço todo mundo tem ocupações diferentes.
Tem gente que trabalha na Sadia, especialistas em ar-condicionado - instalações imensas, não assistência técnica, engenheiros trabalhando em campos de petróleo que passam um mês no deserto e um mês de folga, gente trabalhando com importação de produtos brasileiros e por aí vai.
Todos interessantes e gente-fina.
A algazarra foi tanta que começaram a aparecer brasileiros do nada - gente que não tinha ainda travado contato com a comunidade e que estava ansiosa para ouvir umas palavrinhas em português. Isso me fez duvidar que existam tão poucos brasileiros aqui na região.
Eles podem ser poucos, mas fazem um barulhão.
E conseguem arrumar picanha.
Acho que Dubai ainda tem salvação. Falta arrumar pão de queijo.

Wednesday, February 15, 2006

Os brasileiros estão chegando.

Eles não são muitos mas são muito unidos, muito barulhentos e, melhor de tudo, muito legais.
Nada como um pouco de contato com a terrinha.
Outra notícia boa é que eles descobriram como conseguir picanha nesta terra dos camelos. Ensinaram a galera de um açougue de supermercado como cortar este pedaço precioso da carne bovina.
Civilização, enfim!
Ah, e tem festança programada para o fim do mês. É a Brazilian Connection, festança brazuca com direito a samba, karaokê e, quem sabe, cerveja.

Monday, February 13, 2006

Só em Dubai...

Ontem saí de manhã para deixar a Carolina na escolinha e a Dri no trabalho.
Depois de deixá-la na Microsoft saí pela Jumeirah Beach Road e enfrentei um congestionamento - coisa comum por aqui.
Mas este congestionamento foi causado por um acidente de carro que tinha acabado de acontecer - também coisa comum por aqui.
A que faz Dubai diferente de outros lugares é que quando passei do lado do carro acidentado, que estava todo destruído, era uma Lamborghini Gallardo novinha.
E o mais legal é que esse carros não amassam, eles racham.
Só em Dubai...

Friday, February 10, 2006

Não estamos sós.

Hoje fomos encontrados - eu e a Carolina - por um casal de brasileiros.
Como são as coisas. Passei uns 15 minutos tentando capturar a fofinha para colocar a roupa para passear no lago do condomínio. Ela me deu uma canseira. Mas se isso não tivesse acontecido não teríamos trombado no André e na Luciana.
Entramos na área do lago e me sentei no gramado para preparar uma pipa modernosa que a Di me deu de presente. O vento não estava dando muito sinal de sua presença, mas tinha esperança de colocar o bichinho no ar.
A Carolina correu para o lago para ficar jogando pedras.
Eu me controlei para não dizer aquela velha ladainha "imagina se todo mundo que viesse aqui fizesse isso...em pouco tempo não ia ter mais lago". Deixa ela jogar pedras à vontade.
De repente aparece um vira-lata do meu lado e a fofinha corre para vê-lo.
Eu fala alguma coisa em português e depois emendo no inglês "look, the dog!" - obviamente bancando o pai-professor de inglês.
O dono do cachorro olha para mim e fala "você fala português?".
Eu me senti como aquele português da piada: "Que raio de língua é essa que estou cá a entendeire tudo?"
Demorou para cair a ficha. E devo ter feito uma cara de otário impressionante.
Pô, faz mais de 6 meses que não encontro ninguém que fale português por aqui. Brasileiros parecem com gnomos por estas bandas: muitos acreditam que existem, mas ninguém nunca viu um.
Eles eram brasileiros - eram dois, o André e a Luciana.
Estão aqui há 3 anos e ele trabalha na Sadia.
De repente fico sabendo que existe uma comunidade inteira de brasileiros - de verdade!
Eles se reúnem, festejam, fazem feijoada e jogam futebol. Do jeito que tem que ser os brasileiros.
São um monte e vivem agitando coisas para fazer.
Falamos até cansar - bom, pelo menos até eles cansarem porque eu poderia ficar falando em português por uns 3 dias sem parar.
Trocamos telefones e marcamos de ir num restaurante japa amanhã, que é quando a Dri chega de Atenas.
Que beleza!
Agora imagina se a Carolina não tivesse ficado fugindo de mim...
Minha experiência mais difícil em Dubai.

Ontem passei pela situação mais crítica e estressante desde que cheguei em Dubai.
São nestas horas que o desterrado, expatriado, tem aquela vontade quase incontrolável de largar tudo e voltar para a pátria-mãe.
Tudo começou depois que a Dri saiu na primeira viagem profissional - foi para a Grécia para uma reunião. Ela saiu na terça e volta hoje - uma sexta-feira. Foi a primeira vez que eu ficava sozinho por um tempo mais longo com a Carolina desde o Brasil. Nos primeiros dias ela ficava durante a manhã na escolinha e à tarde com uma babá que a gente contratou por essas dias.
Mas ontem não tinha escolinha e eu decidi tirar o dia de folga para ficar com ela. Como eu trabalhei os últimos 3 finais de semana e passei várias noites em claro, decidi me dar esse presente. Nada como ser chefe.
Então fiquei a quinta-feira com a pequena - e foi aí que aconteceu. Se eu soubesse que seria tão terrível não teria nem tentado, mas já era tarde demais.
Tudo começou com a minha idéia de dar banho na pequena. Até aí tudo bem, mas a minha decisão errada foi em tentar lavar o cabelo dela, que está enorme.
Nenhum pai - digo, nós homens - está preparado para isso.
Depois de vários dias sem lavar o cabelo encaracolado dela estava , como diria minha mulher, um ninho de guaxo. Não faço a mínima idéia do que é um guaxo, mas o cabelo realmente estava parecendo com o ninho de um.
Foram cenas de horror sem fim. Me senti como um daqueles vilões que torturam jovens indefesas em filmes.
Gritaria, choradeira, lágrimas, teve de tudo.
No final, desesperado, apelei para o creme desembaraçante - em quantidades mastodônticas. Muito, muito mesmo. Ela ficou parecendo o Michael Jackson na época do Thriller.
O stress foi tanto que nós fomos para o shopping e ela dormiu as 2 horas que ficamos lá. Nem deu sinal de vida.
Um conselho para os pais: não tentem fazer isto em casa e sem a ajuda de profissionais.
A vítima pode ser você.

Wednesday, February 08, 2006

The telephone credit coin has fallen 2.

Eu já falei aqui sobre a capacidade que o ser humano tem de se acostumar com tudo.
É impressionante que mesmo o mais extraordinário se torna corriqueiro depois de um tempo.
Mas eu faço questão de me renovar constantemente e reavivar a minha capacidade de maravilhamento.
CACETA, ESTOU MORANDO EM DUBAI!!!

Tuesday, February 07, 2006

The telephone credit coin has fallen 1 - fatos que mudaram a história.

Mé em árabe quer dizer água.
Quem diria que Antônio Carlos iria buscar sua sabedoria nas distantes areias do Oriente Médio.
Mais uma razão para colocar este mito no panteão dos grandes da filosofia.

Cacildis!

Sunday, February 05, 2006

Tâf dêis

Que volta!
Chegamos de viagem numa sexta e voltei a trabalhar em um domingo. Ainda estava sofrendo os efeitos do jet lag, sem conseguir dormir direito e com aquela sensação de estar acordado de madrugada. Óbvio que a nossa filhota não estava ajudando. Afinal como se explica para uma criança de 2 anos de idade que ela tem que se adaptar ao fuso horário?
O pequeno dínamo estava ficando acordado até as 2 da manhã todos os dias. E eu me sentindo como um zumbi.
Brains!
Logo no primeiro dia de trabalho já tive uma reunião longa e, quando estava voltando para agência, recebi um chamado me dizendo que tínhamos que resolver uma crise.
A crise, fiquei sabendo depois, era ter que criar uma campanha inteira - ou melhor, duas - começando às 5 da tarde e apresentando no próximo dias às 10 da manhã.
Conseguimos negociar para o próximo dia - grande ajuda!
Mas isso só adiou a correria para o dia seguinte. Ainda cansado passei a noite em claro criando a bendita campanha - isso porque metade do meu grupo estava ausente, por várias razões.
No dia seguinte, tudo pronto para ir para casa e dormir, vem o atendimento e implora para que eu vá apresentar com eles.
Só vai demorar uma hora, disseram.
Eu sabia que não ia ser assim. Mas não estava esperando pelo que ia acontecer.
Fui, ou melhor, o que restou de mim foi com eles.
Eu tinha muita confiança na qualidade do trabalho que ia apresentar mas uma coisa eu posso afirmar: publicidade não é uma ciência exata.
Fomos destruídos pelo Chief Marketing Officer da empresa.
A campanha, o planejamento, a agência, o clima em Dubai. Só faltou ele falar que eu tenho chulé.
Se você tem vontade de destruir uma campanha - ou qualquer coisa baseada em criatividade - você consegue.
Essa é a triste verdade do nosso negócio. O "não gostei" recheado de um monte de explicações pseudo-intelectuais tem a mesma validade das tábuas sagradas trazidas por Moisés do alto do monte Sinai.
Derrotados e esculhambados voltamos para a agência - sim, para a agência - para resolver a situação.
Solução: criar novas campanhas em 3 horas(!), apresentar para o cliente as idéias e executá-las - colocá-la no papel - na noite seguinte para a apresentação.
Isso significou mais uma noite em claro.
Meu recorde foi batido: 48 horas em claro.
O problema - mais um problema, digo - é que essa empresa, Dubai Holding, é como uma cebola.
Não, não é porque ela me faz vontade de chorar - não sempre, pelo menos.
Mas porque ela é constituída em camadas.
E ela não funciona sem que todas as camadas estejam envolvidas, o que significa que até a sogra do presidente é envolvida no processo decisório.
A primeira apresentação era só uma entre muitas, culminando na grande apresentação para o ultra BIG BOSS MASTER BLASTER OF THE UNIVERSE da empresa, o homem que tem contato direto com o Sheikh Mohammed, ruler of Dubai.
E nessa a gente não tem acesso. Fica tudo a cargo dos cupinchas.
É como jogar um videogame: você luta, luta, luta até enfrentar o chefão da fase, aí você passa para fase seguinte, e é a mesma coisa.
No final você enfrenta o Mega Chefão e game over.
A diferença é você tem que enfrentar todos eles mais de uma vez.
E o game ainda não está over.
Depois da primeira apresentação foram várias outras, mais stress, mais encheção de saco e várias noites em claro.
Semana passada tivemos a notícia que que a comemoração do ano novo muçulmano seria na quinta-feira passada.
Oba! Final de semana prolongado!
E ficamos aqui todos os dias até de madrugada...
A novela continua, hoje tem mais um capítulo.
O bom das novelas é que no final todos se casam e os vilões se dão mal.
Que bom seria...
Agora deixa eu voltar para a vaca fria.

Câmbio, desligo.