Thursday, May 28, 2009

Celebrando a chegada do Metrô de Dubai.
Trocando Figurinhas

Outro dia parei para pensar como a tecnologia é extraordinária. Estava em Los Angeles andando na Sunset Boulevard e de repente recebi uma ligação - no meu telefone. O mesmo telefone que eu carrego para cima e para baixo em Dubai estava ali tocando, literalmente do outro lado do mundo, me ajudando a conectar com uma pessoa a mais de quinze mil quilômetros de distância.

Tudo bem que era um operador de telemarketing tentando me vender algo, como sempre, que eu não tinha a menor intenção de comprar, mas acho que dá para pegar a idéia.

Logo depois eu estava na sede da companhia que estava produzindo o comercial que eu estava supervisionando. Tirei meu laptop da mochila e, sem ter que fazer nada, estava conectado na internet, checando meus emails, dando uma olhada na minha página do Facebook para ver o que meus amigos andavam escrevendo, acessando o Twitter para ver o que as pessoas andavam fazendo ultimamente e para deixar algum documento escrito, um comentário, que refletisse o momento. Não tive muito tempo, porque o ritmo de trabalho não permitia, mas se quisesse poderia também ter acessado minha página do Orkut para ver o estava rolando, poderia também abrir o MSN para ver quem estava online, dar oi para algum amigo ou esperar ser descoberto por alguma pessoa.

E não dá para esquecer também o Skype...fazer ligações internacionais de uma hora para um telefone fixo ou celular e pagar o preço de uma bala juquinha consegue ser quase tão bom quanto comer amendoim Mendorato. Isso sem falar no fato de que se você estiver falando de computador para computador ainda dá para usar sua câmera e ver seu interlocutor.

Neste mundo moderno as possibilidades de conexões com nossos amigos, parentes, filhos, filhas, colegas de trabalho, clientes e operadores de telemarketing são infindáveis. Se a conexão estiver boa dá para mandar uns Twits do alto do Everest, postar uns comentários na página do Facebook do seu amigo direto da fossa das Marianas.

E eu me lembro como era extraordinário quando eu estava viajando de bicicleta pelo sul do Brasil em 1992 com meu amigo Luli. Eu parava em um orelhão no meio do nada e conseguia fazer uma ligação - a cobrar - para a casa do meu pai. E isso sem sair da bicicleta.

Mágica!

Mas nesta minha última viagem aos Estados Unidos percebi que este excesso de conectividade também cria uma ilusão de proximidade.

Aproveitei que tinha alguns dias livres durante o processo de pós-produção e comprei uma passagem para o Colorado, para ver minha irmã que mora perto de Denver.

O encontro foi uma felicidade enorme. Tinha me esquecido como é bom papear com minha irmã e papo para colocar em dia não faltava. Meus sobrinhos, Ian e Matthew, estão enormes, divertidos, ativos e inteligentes. Eles adoram ler e falar sobre ciência - astronomia, biologia, geologia...e olha que são dois pivetes de nove e sete anos de idade!

No meio de toda essa agitação eu e minha irmã demos uma escapada para uma cidade no meio das Montanhas Rochosas onde tem uma piscina natural com água que vem de uma fonte geotérmica. Seria sensacional se não tivéssemos ido no único dia do ano em que eles esvaziam a maldita piscina para limpeza e reparos. Por conta disso decidimos estender nossa viagem para dar uma olhada em Aspen, a estação de inverno dos muito-ricos americanos. Como o inverno já tinha passado e a única neve que sobrou mais parecia algodão doce queimado, a cidade estava vazia - mas tiramos muitas fotos engraçadas.

Papo não faltou. Histórias, causos, fofocas, nossa conversa não tinha fim. Até que num determinado momento nos demos conta - eu ia falar "caiu a ficha" mas achei que ia soar muito velho - de que não nos víamos pessoalmente há quase cinco anos.

Como é que você consegue ficar sem ver sua irmã por cinco anos?

É o que eu chamo de ilusão de proximidade, o efeito colateral criado pela conectividade nas nossas vidas.

Nestes cinco anos nos falamos por telefone, email, trocamos mensagens pelo Orkut, deixamos recados nos scrapbooks, nos falamos pelo Skype só com voz e depois usando as câmeras também. É quase como se tivéssemos nos encontrado pessoalmente. E por que não seria? Afinal eu pude falar com ela, ouvi suas histórias e vi sua imagem.

Mas não é a mesma coisa.

Ao mesmo tempo que nos aproximam estes meios criam a ilusão de que estamos próximos. Ter um ícone com a foto de um amigo seu para olhar de vez em quando não é a mesma coisa que falar com ele. Acabando passando dias procurando antigos colegas de escola, ex-colegas de trabalhos, ex-namorados e namoradas, vizinhos e até mesmo parentes não para estar em contato com eles, mas quase para colecioná-los.

No máximo uma mensagenzinha dizendo uma versão ou outra de "que saudade! e aí, o que você conta?", mas na maior parte das vezes nem isso.

É como se as pessoas que conhecemos fossem figurinhas para colecionar. "Nossa, ele tem mais de quatrocentos amigos no Facebook!". Deixa eu dar uma olhada para eu ver quem eu conheço para adicionar...

Você olha para as fotinhos e se sente rodeado pelas pessoas que conhece. É muito confortável. Mas o potencial para comunicação - o canal - não é a comunicação em si. Mas muitas vezes basta para que não nos sintamos desconectados da nossa teia de relações. Muito mais sofisticado do que a antiga caderneta de endereços com nomes e números, mas basicamente a mesma coisa.

Mas deixa este monte de papo filosófico para lá, preciso mesmo é te contar uma coisa. Você não acredita quem eu encontrei no Facebook...

Tuesday, May 19, 2009

Não dá para ser mais Dubai do que isso.

Este é o uniforme que a Carolina tem que usar na escola todo dia...

Ops!

Agora falando sério...

Era o dia nacional dos Emirados Árabes Unidos, e estávamos na frente da sua escola - com minha filhota vestida à caráter para a celebração.

Ao fundo podemos ver um hotelzinho modesto que construiram por aqui.

Isto continua não sendo um cachimbo.

Há mais de vinte anos atrás estava eu entrando em uma sala cheia de adolescentes nervosos para mais um dia de vestibular. Era a segunda fase da FUVEST.

O vestibular é para o adolescente brasileiro de classe média como aqueles ritos de passagem para os jovens índios tem que passar para serem aceitos como adultos. Rituais longos, dolorosos e tensos que nunca sabemos qual será o resultado final, mas que todo mundo tem que passar para fazer parte do mundo de gente grande.

Agora você faz parte da tribo, jovem Gafanhoto.

O dia era importante - a prova de redação, que contava muito na nota final. Mais um motivo para ficar tenso. Entre as várias opções para escrever a redação havia uma dissertação que começava com uma reprodução da pintura acima. Um cachimbo com uma frase embaixo "Isto não é um cachimbo".

Escrever sobre um cachimbo que não era um cachimbo pode não parecer muito convidativo. Especialmente quando você está numa sala dilapidada de uma escola pública sem ar-condicionado junto uns 40 adolescente que, como você e apesar do calor, estão suando frio.

Eu não lembro quais eram as outras opções porque foi essa a que eu escolhi.

O que René Magritte queria dizer com aqui? Um cachimbo que não é um cachimbo.

Depois de me debruçar sobre a imagem por quase meia hora comecei a escrever. Duas páginas à mão - lembra quando a gente usava a mão para escrever? - falando sobre a natureza da realidade.

Interessante que naquele momento tenso estava sem saber forjando minha identidade. Aquela redação era um esboço não de texto acadêmico, mas da minha maneira de ver o mundo.

O que era a realidade afinal? Existe algo verdadeiro ou apenas aquilo que acreditamos real?

Existe um sentido intrínsseco à coisas que observamos e experimentamos ou o sentido é atribuído pelo observador?

Seria a realidade uma fantasia?

O vestibular passou, mas as idéias ficaram.

Às vezes um cachimbo não é um cachimbo.

Monday, May 18, 2009

Mas os meus cabelos...

Quase quatro anos depois eu confesso que dei o braço a torcer.
Mudei a cara do meu blog e troquei para o nome que metade do planeta Terra insistia para eu colocasse.

Antes à tarde do que nunca. (São mais de 7 da tarde aqui)

Sunday, May 17, 2009

Passagem para Índia.

Comer em restaurante indiano já foi um acontecimento exótico para mim.

Fui apresentado à cozinha indiana - um termo relativo porque os indianos concordam que não existe tal coisa, tal a diferença entre a comida de cada estado - pelo meu tio Carlos há mais de duas décadas. Coisa estranha, sofisticada e cara!

Era um restaurante com o qual, muitos anos depois, acabei sendo vizinho, o Ganesh.

Nunca me ocorreu naquela época que estava travando meu primeiro contato com uma cozinha que tinha ambição de representar mais de um bilhão de pessoas.

Meus contatos depois deste primeiro momento foram esporádicos e, na maior parte das vezes motivado pelo meu amor à minha esposa - ela uma viciada na comida do subcontinente.

Avançamos muitos anos no futuro e me vejo em Dubai, uma estranhíssima cidade-estado em que 85% são estrangeiros e, surpresa, 60% indianos.

Claro que em um lugar com tantos indianos não ia ter nenhuma possibilidade de evitar os elaborados pratos das Índias.

Doce ilusão. Muitas pessoas mantém distância da comida indiana, considerada elaborada demais, picante demais e estranha demais para alguns paladares.

As duas culturas vivas mais antigas - a chinesa e a indiana - têm legados culinários completamente diferentes. Nos seus mais de cinco mil anos de histórias os chineses aprenderam a comer absolutamente tudo. De pepinos a pepinos do mar, de abelha a zebra, passando por cachorro e escorpião, eles não recusam nada nos seus pratos.

Indianos por outro lado aprenderam que é possível colocar absolutamente tudo em um prato. Uma refeição ligeira preparada por eles tem umas mil e quatrocentas especiarias, pelo menos. Quando você pede um franguinho básico pode ter certeza que a única coisa reconhecível, talvez, vai ser a textura da ave. O sabor, mascarado por um furacão de especiarias, faz com que as papilas gustativas dos desavisados sejam sobrecarregadas. O cérebro entra em curto-circuito.

É fácil manter distância de restaurantes indianos aqui em Dubai. Tem muito de tudo. De restaurantes libaneses a trash-food americana - McDonald's e Burger King - tem de tudo. Italianos, tailandeses, filipinos, sul-africanos, alemães, franceses, iranianos, argentinos - sim, até eles - estão representados. Tem até uma churrascaria rodízio em Abu Dhabi para aqueles tupinquins que estão com saudade de casa e com dinheiro no bolso.

Mas este nunca foi o meu caso. Não só eu não tinha medo de comida indiana como também encontrei um monte de amigos do subcontinente na minha jornada de publicitário desterrado no Oriente Médio.

Posso descrever a minha experiência (e a de um monte de gente que eu conheço) com a cozinha deles em seis etapas:

1 - Você estranha
2 - Você tolera
3 - Você se acostuma
4 - Você passa a gostar.
5 - Você gosta muito!
6 - Você precisa.

Já faz algum tempo em que estou no sexto estágio. Minha jornada para chegar até aqui não foi simples. Fui em restaurantes caríssimos e em bibocas que não custam nada. Visitei restaurantes de diferentes estados e posso confirmar: a não ser pelo fato que eles adoram especiarias a comida é completamente diferente.

Hoje em dia eu me considero um escolado. Nada me surpreende mais com relação a restaurantes indianos.

Pelo menos era isso que eu pensava. E o pior é que esta experiência completamente inesperada e indigesta aconteceu num restaurante do lado do meu trabalho. Um lugar em que eu como quase toda a semana.

Estávamos lá eu e mais um amigo indiano e um americano. Pedimos pratos óbvios, pré-testados e aprovados. Até aí, nada de mais. A comida chegou e estava saborosa. Música indiana tocava no sistema de som. Espera, eu conheço essa música indiana...como é possível.

Eu olho para a cara dos meus amigos e uma centelha de reconhecimento faz meu cérebro se acender como uma árvore de natal.

O que eu estava escutando era uma versão indiana ilegal - isto é, sem pagar direitos - de Lambada, do grupo Kaoma. Lembram? Infelizmente eu lembrava.

Depois de tanto tempo um restaurante indiano me deu indigestão.
O violão morreu, viva o violão!

Depois do desastre, a depressão, enfim boas notícias.
A salvação veio pelas linhas tortas da internet, depois que postei um comentário desesperado no meu Status do Facebook. Foi como ter jogado uma mensagem na garrafa num oceano virtual. Mas funcionou.

Levei meu violão para um indiano guitarrista, talentoso e interessante, fã de Joe Satriani. Ele olhou para os restos mortais e disse que ainda havia esperança e que em alguns dias tudo estaria resolvido. Eu deixei os dias passarem com medo de ligar e receber más notícias.

- Infelizmente nada pôde ser feito...tentamos tudo que era possível. Seu violão não está mais entre nós. Mas ele foi sem sofrimento, se isto lhe conforta.

Eu já imaginava o pobrezinho no céu dos violões - tudo bem, para violões e guitarras eu abro uma exceção - sendo tocado por um anjo sereno. Que destino horrível! Neste céu imaginário eles não devem tocar Rock'n'Roll, só músicas do Ray Conniff e do Zamfir.

Ignorando meu temor eu liguei e recebei a notícia: está pronto.

E não é que o cara fez um bom trabalho?

Fui até o apartamento dele para pegar o menino e me surpreendi. Quase não se vê as marcas da fratura e ele está soando lindamente. Acho que estava imaginando que ia ver um conserto parecido com aqueles que a gente fazia nos brinquedos que quebravam quando éramos crianças, com cola vazando pelas rachaduras. Felizmente eu estava errado.

O violão só não está soando melhor porque eu sou ruim demais. Mas para isso eu não sei se tem conserto.

Tuesday, May 05, 2009

A dor da separação, parte II.

Um update na história da guitarra: Ainda há esperança. Mandei uma mensagem desesperada no Facebook eu uma amiga me respondeu recomendando um especialista em conserto de guitarras.

Hoje eu juntei os pedaços e estou levando para ele.

Cruzem os dedos.

Monday, May 04, 2009

A dor da separação.

Foi realmente dolorosa a separação. Até agora ainda não me recuperei e até este momento não tive energia ou cabeça para falar no assunto.

Estranho que você use o blog, um modo totalmente público, para se expor de uma maneira que você jamais faria na sua vida privada. Mas este ritual catártico acaba ajudando você a lidar com seus demônios.

Aconteceu há umas 3 semanas. Cheguei em casa e a nossa empregada me deu a notícia. Fiquei sem reação. Não senti raiva, tristeza, nada. Só um grande vazio, choque.

A tristeza veio mais tarde, muita.

Dias depois veio uma viagem longa para Los Angeles. Foi uma fuga. Lá eu encontrei outras, muitas outras. Mas não era o momento, a separação ainda dolorosa não me deixa pensar em algo novo.

Claro, devo confessar, que tinha - e ainda tenho - esperança de que possamos juntar os pedaços, voltar ao que tínhamos antes da separação. Mas para isso preciso de ajuda. Não consigo fazer sozinho, preciso de ajuda profissional.

Por isso eu me abro e lanço este apelo:

Por acaso vocês sabem de alguém que conserte uma guitarra com o braço quebrado em dois pedaços?