Friday, March 31, 2006

À indiana.

Como algumas pessoas devem saber, Dubai tem mais estrangeiros do que locais. Não apenas mais, muito mais.
80% da população aqui é de estrangeiros. E 60% deles são indianos.
Eles estão para todos os lados - principalmente porque a maioria trabalha em obras ou dirigem taxis, coisa que não falta por aqui. Mão de obra farta e barata.
Pense em Dubai como uma versão oriental do Sul Maravilha para toda a Ásia. Os nordestinos de todo o mundo vem para cá. Indianos, paquistaneses, filipinos, tailandeses, iranianos, chineses, gente de todo o lado.
Humildes de todos os lados vêm para tentar a sorte na cidade grande e cheia de dinheiro. Moram em espeluncas (sempre quis usar essa palavra em um texto) com grupos enormes de gente com esperança de mudar a vida e mandar dinheiro para casa de tempos em tempos.
E como ralam para isso.
Mas os indianos são a maioria disparada. O país-continente que tem mais de um bilhão de habitantes produz de tudo, das mentes mais brilhantes aos seres mais toscos.
E quando falamos sobre tosquidão eles conseguem superar tudo que se tem notícia.
Quando você está na praia e a tarde está no fim ela começa a ficar cheia de trabalhadores das construções da região. Eles andam em bandos, todos coladinhos e alguns com as mãos dadas.
Por mais que eu contenha este preconceito idiota e faça força para incorporar o meu lado cidadão-do-mundo-mente-aberta-puta-cara-cabeça eu vejo surgir dentro de mim aquela necessidade irresistível de incorporar o Didi Mocó e falar "hmmmmmm, ô da poltrona, o rapaz camufla..."
Eles andam pela praia usando roupas pesadas - tanto túnicas quanto camisas xadrez e calça comprida e sapato - naquele calor do cacete e à beira-mar. E, para completar a imagem de tosquidão, ficam secando que nem lobos famintos durante o inverno todas as mulheres da praia. Coisa irritante.
Quando me sinto muito superior lembro das praias no litoral norte onde os imbecis de São Paulo param seus carrões, abrem o porta-malas para tocar Axé music em decibéis que alcançam quase 4 dígitos enquanto tomam cerveja e mexem com a mulherada e percebo que a tosquidão tem muitas formas.
Eles não tem É o Tchan!
Mas essa é uma característica deles. Os caras sempre andam em bando, coladinhos. Deve ser essa a maneira que eles encontram para se sentir em casa.
Num país superpovoado é natural estar colado em alguém. Um bom amigo meu - indiano - estava me contando que em Mumbai - antiga Bombaim - tem tanta gente que tem pessoas que moram naquelas ilhas que ficam no meio das avenidas. Isso mesmo, naquele trechinho de calçada que separa os dois lados da avenida.
Outro pedaço de informação interessante veio de uma comissária da Emirates que é brasileira.
Como aqui estamos falando de vários países que estão separados por oceanos, montanhas e guerras civis, não existe a versão local do pau-de-arara. Todos viajam de avião - inclusive os mais toscos.
Imagina como é para um cara que nunca viajou de avião e que está viajando para trabalhar em uma obra imensa 6 dias por semana, 12 horas por dia numa temperatura que pode chegar a 50 graus e para descansar ao final da jornada de trabalho vai dividir um barracão com outros 23 indivíduos.
Ela me disse que nem dá para mencionar que existem opções de comida. Primeiro eles não entendem inglês e segundo eles não entendem que não precisam pagar pela comida.
Do lado esquerdo, frango e 7UP. Do direito, macarrão e Pepsi.
Se não for assim vai ser o caos.
E os banheiros fazem as latrinas do morumbi no dia de Curíntia e Parmeira parecer o banheiro do Fasano em comparação.
Vida dura essa de comissária.
Mas foi ela que me fez atentar para um pedaço de informação essencial.
Por que Fila Indiana?
Porque a na Índia tem tanta gente que se você abrir um espacinho para o cara da frente entram uns 9 no meio.
Olha a ficha caindo...

Thursday, March 30, 2006

Good Night and Good Luck.

Como é possível que o maldito do George Clooney também seja um cineasta de primeira?
O cara é galã, ganha milhões, joga bem basquete, é bom ator e agora também é um diretor de primeira linha?
O cara merece a morte!
Ontem assisti Good Night and Good Luck, este filme sobre a luta entre um jornalista e o senador republicano Joseph McCarthy, um paranóico conspiracionista que estava promovendo a caça aos comunistas nos anos 50 nos EUA.
O filme é brilhante. Simples, econômico e maduro.
O roteiro impecável e as os textos do Edward R. Murrow - o tal jornalista - são citações exatas do que ele havia dito nos anos 50.
Uma defesa brilhante das liberdades que estão garantidas na constituição americana - e que são ignoradas de tempos em tempos para justificar causas diversas.
O cara dominava absolutamente a capacidade de se expressar. Dá inveja.
Sobra pancada para todos os lados: o congresso, o governo, a televisão e mesmo a apatia do povo americano em aceitar tudo. Mas que leva mesmo o golpe é o governo de George Bush e seu Patriot Act, que distorce o conceito de liberdades individuais para defender - surpresa - a liberdade.
Liberdade, essa palavrinha que parece que perdeu o sentido e virou apenas a justificativa para agir em favor de certos grupos de poder.
Ontem eu li uma frase excelente que tem tudo a ver com isso:
"Democracia é eu mandando em você.
Ditadura é você mandando em mim."

O filme é todo em preto e branco. Uma metáfora sobre um tempo em que todas as verdades pareciam claras e definitivas.

Tuesday, March 28, 2006

Comemoração.

Ontem foi aniversário da Dri. Para comemorar ela se presenteou com a caixa da série Lost.
Viciante.
Ontem assistimos 6 episódios, aproveitando que a a dona fofinha foi dormir cedo.
Fomos dormir com vontade de ver mais.

O meu presente foi meio diferente: registrei uma estrela com o nome dela.
Eu gostei da idéia de dar um presente que vai durar alguns bilhões de anos e que, se por acaso um dia for encontrada uma civilização alienígena por lá, eles vão ser chamados de Adrianos.
Tudo isso por um punhado de dólares.
E eles aceitam cartão.

Sunday, March 19, 2006

Os Deuses devem estar putos.

Eu não sou um cara com muitos sonhos de consumo. Meus gostos são simples: gosto de livros, filmes e de viajar.
Nada de gadgets eletrônicos, relógios caros, roupas de griffe e outras frescuras.
Mas uma coisa acontece de vez em quando. Eu tenho vontade de ter um carro específico. Pode ser uma caminhonete - carro de egoísta em que só cabem dois - um dojão que vive dando problema e, como aconteceu recentemente, uma Pajero do modelo antigo.
Eu tinha essa vontade de ter uma Pajero há uns 3 anos. No Brasil não rolava - o seguro era caro, a manutenção era muito cara e o carro em si era como um cartão de visitas que dizia aos bandido "por favor, me seqüestre", mesmo que uma Pajero usada estivesse custando menos do que um Fiesta Totalflex.
Aqui era totalmente diferente: o carro estava barato e, se alguém tentar me seqüestrar e for pego eles cortam a mão ou algo pior.
Então tratei de satisfazer essa vontade. Comprei uma Pajero usada - bem usada, aliás, mas em grande forma.
Os primeiros meses foram bons. Um um monte de coisinhas para fazer no carro mas tudo estava indo às mil maravilhas.
Há mais ou menos umas duas semanas eu resolvi fazer aquele pitstop. Tinha um barulho me incomodando que justificava a parada e lá fui eu.
4 dias sem carro e uma pusta grana gasta. Acho que trocaram metade das peças da Pajero.
E o maldito barulho ainda estava lá.
Raiva.
Fiquei de levar o carro para resolver este problema outro dia - não aguentava mais ficar sem carro em Dubai.
Aí veio o sábado. A Dri não deveria ir trabalhar no sábado, mas o big boss da microsoft golfo tinha marcado uma megareunião.
Ela ficou com o carro durante e manhã, pegou a gente para almoçar e a deixamos na firrrrrrma.
Sete da noite e ela nos chama para buscá-la. Coloco a dona fofinha no assento - o que foi um parto, porque a pequena estava com a bateria no fim e ligo o carro.
Por falar em bateria...
A dita cuja estava no sofrendo seus últimos momentos de vida. Pelo menos assim eu pensava.
Nada de ligar o carro. Liguei para Dri e disse para ela pegar um taxi. Não dava para fazer nada.
Mais uma vez deu aquela sensação de estar perdido numa terra estranha e que não faz sentido. Quem chamar numa situação dessas?
O seguro meia-boca só serve para cobrir os custos da destruição total e parcial do seu carro e o de terceiros que por ventura venham a ser atingidos pelo mesmo.
A única coisa que me ocorreu naquele momento foi ligar para um amigo sírio aqui da agência. Ele mora em Dubai há uns 19 anos e com certeza ele teria todas as respostas.
Bom, as respostas ele não tinha, mas tinha os cabos necessários para fazer uma chupeta. Por favor, não pensem nada errado. Era só para recarregar a bateria.
Sábado à noite e lá vem ele até minha casa para fazer o carro pegar, para eu poder ir pelo menos até um mecânico 24 horas para trocar a bateria - se fosse este o problema.
Funcionou. Agradeci ao meu amigo e lá fui eu enfrentar a noite dubaiana.
Logo após sair do condomínio o carro começou a perder potência. Estranho. De repente os instrumentos não funcionavam mais e o carro foi ficando fraco, fraquinho, muito fraco...
Tentei voltar para casa mas não deu.
Parei no meio da estrada.
Chamo de novo o meu amigo. Coitado.
Mais uma tentativa. Oba! Acho que agora vai dar.
Para encurtar o caminho pego a estrada que fica atrás do condomínio - a Al Khail Road. Uma estrada de alta velocidade e cheia de caminhões. Para completar o cenário tem uma tempestade de areia acontecendo e ela está ficando cada vez mais forte.
Peguei a estrada e, depois de andar o suficiente para estar longe de qualquer coisa, o carro moribundo dá o seu último suspiro.
Nestas horas que eu agradeço pelo irritante telefone celular.
Chamei meu amigo de novo. Coitado, de novo. Não teve jeito, era um carro perdido.
Lá fiquei eu tentando entrar em contato com o mecânico que arrancou meu couro uma semana antes para me socorrer.
Sabe aquele náufrago que se salvou em um bote-salva vidas e passa meses à deriva sem salvação, vendo os barcos passarem.
Os barcos no caso eram caminhões passando à toda velocidade, chacoalhando a Pajero como se ela fosse um Uno Mille com uma galera dançando Techno dentro.
E tinha a tempestade de areia também. E eu estava no meio do deserto. De noite. Tudo isso no mesmo pacote.
Quer mais? Vamos adicionar mais um elemento exótico na mistura para dar um sabor único.
Começou a chover.
Caceta, o que falta mais acontecer?
O socorro demorar.
E demorou mais de uma hora e meia.
Lá estava eu, um náufrago terrestre o meio de uma tempestade de areia com chuva (!) no meio do deserto em uma das estradas mais perigosas do mundo.
A salvação surgiu na forma de um indiano no seu caminhão reboque. Tivemos altos papos, onde ele deve ter entendido no máximo umas 3 palavras. Mas nos divertimos bastante.
Ele colocou a Pajero na carreta e me levou até a mecânica, que claro, estava fechada na hora.
Mas os caras estavam preparados no dia seguinte para pegar meu carro, eliminar os problemas e eliminar qualquer vestígio de dinheiro do meu bolso.
Assim foi. Acho que as peças que eles ainda não tinham trocado no motor foram todas trocas. Pelo menos foi isso o que o meu bolso disse.
Quando um mecânico te diz para sentar quando vai te contar o valor do conserto nós sabemos que a coisa é séria.
Nós somos realmente totalmente reféns dos mecânicos, dada a nossa ignorância quanto aos assuntos, digamos, mecânicos.
Agora pensem como é quando alguém te diz que o problema é na rebimboca da parafuseta, mas em inglês!
Aí somos mais reféns que nunca.
Pelo menos uma coisa boa eu posso dizer sobre toda essa história: o chefe da oficina - um australiano - sabia falar meu nome direitinho! E olha que eu nem ensinei.

Always look at the bright side of life.

Saturday, March 18, 2006

Da série "Pensamentos"

Sabe qual é a pior parte de ter que trabalhar com um cliente que você odeia? É ter que sorrir e apertar a mão dele antes de uma apresentação.
Semaninha do cão.

Caramba, eu tinha umas 20 histórias para contar mas eu tive uma semana tão miserável que não consegui escrever uma palavra.
Trabalho demais, pentelhação demais e tempo de menos.
Além disso ainda tenho uma cacetada de emails para responder. Amigos, não esqueci de você não!!!
Vou tentar atualizar o blog neste final de semana.

Sunday, March 12, 2006

Problemas de linguagem.

Uma das memórias mais intensas da minha infância dos momentos que meu pai passava brincando com a gente.
Nós dois pequenininhos aproveitando as brincadeiras que ele inventava ou incorporava de outros lugares.
Uma das minhas favoritas era uma que ele imitava um quadro da Praça da Alegria (isso é velho), um precursor de A Praça é Nossa (credo!).
O quadro era sempre a mesma coisa. Toda semana era a mesma piada, desde os tempos do rádio.
O Carlos Alberto da Nóbrega - o segundo do clã a fazer as mesmas piadas - sentava no banco da praça e recebia seus amigos bizarros.
Mas tinha este quadro específico que inspirou meu pai e fazia a nossa alegria - pelo menos aos 4 anos de idade eu gostava da Praça. Era um em que ele encontrava seu amigo alemão que ainda não sabia português direito, quadro protagonizado pelo Jô Soares, e ensinavam a ele palavras erradas para designar coisas que ele não sabia.
Chapéu eles chamavam de penico (ou pinico?), e lá ia o alemão contando como gostava de colocar o penico - na cabeça e tirar o penico para as mulheres.
Toda a semana era a mesma coisa. E nós rolávamos de rir. Bom, eu só tinha uns 4 anos, lembrem-se.
Mas era muito mais divertido quando meu pai fazia essa brincadeira.
Eu falei tudo isso para contar que ainda hoje essa confusão de palavras ainda faz a minha alegria. Uma alegria reminiscente do pequeno que fui mas também uma alegria de quem acha tudo isso ainda engraçado.
E que tal dar uma olhada no pôster de um filme libanês que é um sucesso estrondoso recente para saber como eu ainda consigo dar umas boas risadas com umas palavras fora de lugar.



(Só um detalhe, o nome do filme não é Besta. Sim é exatamente isto que você está pensando.)

Saturday, March 11, 2006

Verdades da ordem universal.

1 - Os preços vão subir.
2 - Os políticos vão mentir.
3 - Quando você lavar seu carro, vai chover.
(mesmo que você estiver morando no meio do deserto, isso eu posso garantir por experiência própria)

Thursday, March 09, 2006

Não sei se eu falei isso antes, mas aí vai:

Você sabia que os Emirados Árabes Unidos são os maiores consumidores de água per capita do mundo?
Você sabia que os Emirados Árabes Unidos são os maiores produtores de lixo per capita do mundo?

Tuesday, March 07, 2006

Assistam "Layer Cake".

Filminho legal com um estilo meio "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes". Aliás o diretor Layer Cake foi o produtor de Jogos, Trapaças.
Nele está o soon to be James Bond, Daniel Craig. O carinha manda bem. Mas tem mais cara de chefão da máfia russa do que agente inglês.
Uma história legal de vida bandida filmada como se fosse um comercial de duas horas. Publicitários vão gostar.
Miss Softy

A Carolina está oficialmente globalizada. Surgiram as primeiras palavrinhas en inglês no seu vocabulário.
Não é impressionante a capacidade de adaptação das cabecinhas destas pequenas criaturinhas?
Nada mais jóia do que uma pequena gritando "EU QUELO MEU PAPAI-DADDY!!!"
Twinkle, twinkle little star para vocês, brazucada.

Saturday, March 04, 2006

Al Candinha

Eu estava conversando com um amigo sérvio outro dia e ele fez um comentário muito pertinente sobre a vida no oriente médio.
Eu já contei há algum tempo como os árabes gostam de conversar.
E como falam!
A parte mais irritante é que quando tem um monte deles na mesa tem uma hora em que eles passam para o árabe e ignoram o fato de que você está lá.
Como já estou acostumado e vejo que eles estão começando a misturar expressões em inglês e árabe e logo vai ser árabe direto, entro no modo sleep ou stand by.
Em geral quando isso acontece significa que eles estão falando de alguém.
Isso mesmo, aqui a fofoca corre solta.
Eles querem saber de tudo. Perguntam da vida de todos e falam da vida de todos.
Você sai para almoçar e eles perguntam onde você foi, o que comeu e com quem foi, sem cerimônia.
É como ser uma celebridade - sem aparecer na revista Caras.

Thursday, March 02, 2006

Perguntas que não querem calar.

Por que será que todos os textos que eu recebo via email são escritos pelo Jabor ou pelo Veríssimo?
Texto do Jabor e do Veríssimo são como as loiras que andam por aí: a grande maioria é patrocinada pela Wellaton.