Wednesday, July 02, 2008

Múlti-tarefa.

Escrever à mão é como praticar esportes: você precisa se exercitar constantemente senão fica sem forma.

Graças ao computador hoje nossas mãos e dedos só estão acostumados a apertar teclas. Tente escrever uma carta com a boa e velha caneta que você vai sentir. Duas páginas cansam mais do que uma maratona. Uma carta de cinco páginas, se você tiver coragem de chegar lá, vai ser como um Iron Man no verão havaiano.

Mesmo os emails se tornaram curtos e impessoais. Já foi o tempo em que emails eram mais ou menos a mesma coisa que uma carta escrita em forma digital. Hoje é tudo curto, abreviado. Um retrato da idade da falta de paciência em que vivemos.

Você fica 45 segundos dentro de um elevador e já começa a pensar no tempo perdido e como seria bom se tivesse sinal para o celular - aí daria para aproveitar o tempo para mandar uns SMSs. Você coloca um almoço congelado no microondas que fica pronto em um minuto e fica olhando para o prato girando e pensando "caceta, por que não fazem essas coisas mais fáceis de preparar? Está demorando muito".

Nós hoje vivemos o tempo prensado. Engarrafamento é hora de retocar a maquiagem, mandar SMSs, responder emails, ler jornal, falar no telefone, cutucar o nariz e, se sobrar um tempo, prestar atenção no trânsito. Cada segundo conta. No escritório tem sempre 4 janelas abertas no navegador de internet. Notícias, home banking, seu email pessoal onde sempre tem umas piadas novas, e aquele site de fofocas ou esporte que você gosta tanto de ler. E fora isso tem uma planilha de excel sendo feita junto com uma apresentação de Power Point que o seu chefe pediu ajuda para preparar.

A tecnologia não está aí para nos fazer poupar tempo. Está aí para te deixar mais atarefado, para comprimir tarefas que demoravam dias em blocos de poucos minutos. Nunca parou para pensar que com todos os aparatos tecnológicos você trabalha muito mais do que nossos pais trabalhavam?

Por isso as artes lentas como escrever cartas, contar piadas ao vivo e em cores e, no meu caso, desenhar, vão se tornando cada vez mais raras.

Meus dedos ainda estão doendo das duas ilustrações que fiz esta semana. E nem sentiram nada depois das 1500 marteladas nos teclados que se transformaram neste post.

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