Wednesday, August 13, 2008

Dissonância


Depois de três anos fora do Brasil ainda tenho a sensação de algo não está certo.

A vida do desterrado é assim. Você se acostuma com as coisas mais extraordinárias, mas sempre fica com a impressão de que alguns espaços não estão sendo preenchidos. Décadas de treinamento consciente e inconsciente fazem com que você tenha uma idéia de como o mundo deve ser. Você sabe, por exemplo, que as placas são devem ser escritas em português, que final de semana é sábado e domingo, que Natal é feriado e que Sete de Setembro também. Quando você muda de país - principalmente um país no Oriente Médio - seu treinamento consciente cuida do recado. Placas em inglês e em árabe, finais de semana de sexta e sábado, nada de Natal ou Sete de Setembro. Você faz a troca tranquilamente porque são coisas importantes e esperadas - parte da sua percepção e treinamento consciente.

As coisas começam a ficar interessantes quando você pensa nas pequenas coisas que fazem de você, digamos, você. Aquelas coisas que separadamente não são importantes, mas juntas ajudam a montar a sua imagem de mundo - e não estou falando apenas de Amendoim Mendorado.

Um dia você está dirigindo por aí e percebe que não nenhum fusca à vista. Como é possível que exista um lugar onde não existam fuscas? E não é só que os fuscas se foram - eles nunca estiveram. Assim como brasílias, variants, kombis e Monzas Hatch - o ausência do último eu qualificaria como uma benção. As ruas de Dubai não parecem certas sem eles. É a dissonância.

Essas pequenas coisas fazem falta - não só porque você gosta delas - muitas vezes é exatamente o contrário - mas porque você ESPERA que elas estejam lá. Condicionamente, meu caro.

Não ter padaria também é estranho. Como pode existir um lugar no mundo onde não tem padaria? Não me leve a mal - os supermercados têm excelentes pães e ainda tem aquela versão meio aviadada que os franceses gostam de chamar de boulangerie, mas não é a mesma coisa. Não são lugares em que você pára no caminho para casa para comprar presunto, mussarela e pãozinho francês - e claro, leite no saquinho. Ou que, na ida para o trabalho dá uma paradinha para tomar uma média.

No supermercado não tem goiabada cascão.

No sinal não tem ninguém tentando limpar seu vidro. Também não tem ninguém tentando te assaltar, mas isso é algo que eu não deixei de notar desde o primeiro segundo em que pisei aqui.

Na estrada não tem pedágio - mas você não pode dizer o mesmo da cidade.

Dubai não tem banquinha de jornal. Como é possível?

Não tem bala juquinha e pirulito Zorro.

Não tem buraco na rua - e também não tem prefeitura para amaldiçoar quando você passa em cima de um. Também não tem Testemunha de Jeová batendo na sua porta para te converter ou simplesmente para interromper sua Sessão da Tarde. Aliás, aqui não tem Sessão da Tarde - ou se tiver, não tive tempo de descobrir a existência.

Em Dubai não tem Coxinha de Frango - sinal, talvez, de que não há futuro para esta terra.

Não existem aqui restaurantes por quilo.

Aqui você nunca ouve o toque de "chamada a cobrar". Também não existe o toque de oito segundos antes do telejornais - a não ser, é claro, que você seja um dos (in)afortunados brasileiros que tem Globosat em casa e podem se deleitar não só com o Jornal Nacional mas também com Faustão, Zorra Total e afins.

Aqui não amolador de faca e vendedor de biju. Não que eles ainda existam no Brasil, mas não consigo imaginar a pátria-amada sem eles. Também não tem vendedora de Yakult com seus carrinho-isopor. Yakult tem, mas só no supermercado e com preço de Black Label. Nunca se pagou tanto por lactobacilos vivos - eles devem ter pedigree, com certeza.

Em Dubai não tem Casas Bahia, nem Riachuelo. E nem me fale em C&A...

Aqui não se vê camelô - a não ser que você tenha sotaque francês.

Dubai não tem pardal. Não tem catadores de papel com sua carroças, gente morando debaixo da ponte. Pontes não faltam.

Aqui não tem aqueles velhinhos com realejo e aquela maritaca que tira a sorte - e nem mico.

Dubai não tem peteca e nem balão em junho. Aqui não tem praça com coreto e nem feira Hippie. Não tem rodoviária - todo mundo vai e vem de avião - e nem descida para a praia em feriado prolongado.

Algumas dessas coisas volta e meia acabam aparecendo, contrabandeadas pela comunidade brazuca que vai e vem, agora non-stop by Emirates. Outras, a maioria delas, continuam ausentes - únicas, insubstituíveis ou intransportáveis.

No final das contas preenchemos as lacunas com outras coisas - treinando nossas cabeças para lidar com novas coisas que não estavam ali antes. O canto dos imans nas horas das preces vindo dos alto-falantes nas mesquitas, comer churrasco grego - shawarma - e achar o máximo, ver mulheres cobertas, trabalhadores indianos, umidade relativa do ar de 100%, comer no escritório durante o Ramadan, assistir cricket - e, surpreendentemente, entender, comer em restaurante indiano no almoço, soltar imprecações em árabe e outras coisinhas que podem até passar desapercebidas mas estão ali, ajudando a definir a sua idéia de realidade.

Mas o que eu não daria por uma coxinha...

Wednesday, July 16, 2008

38 primaveras.

Meu quarto aniversário comemorado em Dubai acabou de passar.

Engraçado que ainda me considero o mesmo moleque que gostava de empinar pipa, ler A Ilha do Tesouro e andar de bicicleta por todo o lado.

O que será que muda na gente? Será que são as contas para pagar? Ou são as dores nas costas?

Talvez sejam os cabelos brancos.

Thursday, July 10, 2008

Banzo vs. anti-Banzo.

O Brasil faz falta. De vez em quando dá vontade de empacotar tudo e voltar para casa, para as paisagens conhecidas, para as comidas, sons, cheiros e amigos.

Por outro lado você pensa no lado bom de estar longe da Pindorama. Desafios, dinheiro, segurança, conforto, aventura, novos amigos...

O resultado final sempre te deixa dividido. A cabeça do expatriado é vive uma eterna confusão, sempre pesando os prós e contras de estar aqui ou acolá - até que uma razão tão forte que destrua este equilíbrio apareça.

Hoje de manhã eu percebi que não dá para voltar para o Brasil. Perdi a fé no meu país de origem e não sei se um dia vou recuperar.

Hoje de manhã eu ouvi pela primeira vez a Dança do Quadrado.

Não há mais esperança para o povo brasileiro, sinto muito.

Friday, July 04, 2008

Mais uma sobre cinema.

Assistimos Wall-E hoje. Primoroso. Os caras da Pixar realmente estão além.
História, animação, personagens, design, edição, som, efeitos sonoros, música, tudo foi feito com tanta paixão e talento que me dão orgulho de fazer parte da mesma espécie dos realizadores.

Talvez tenha sido o melhor filme que vi este ano.

E como bônus tivemos a Carolina imitando sem parar o robozinho do filme dizendo seu nome.

"Wall...íííí, Wall...íííí!!!

Wednesday, July 02, 2008

Múlti-tarefa.

Escrever à mão é como praticar esportes: você precisa se exercitar constantemente senão fica sem forma.

Graças ao computador hoje nossas mãos e dedos só estão acostumados a apertar teclas. Tente escrever uma carta com a boa e velha caneta que você vai sentir. Duas páginas cansam mais do que uma maratona. Uma carta de cinco páginas, se você tiver coragem de chegar lá, vai ser como um Iron Man no verão havaiano.

Mesmo os emails se tornaram curtos e impessoais. Já foi o tempo em que emails eram mais ou menos a mesma coisa que uma carta escrita em forma digital. Hoje é tudo curto, abreviado. Um retrato da idade da falta de paciência em que vivemos.

Você fica 45 segundos dentro de um elevador e já começa a pensar no tempo perdido e como seria bom se tivesse sinal para o celular - aí daria para aproveitar o tempo para mandar uns SMSs. Você coloca um almoço congelado no microondas que fica pronto em um minuto e fica olhando para o prato girando e pensando "caceta, por que não fazem essas coisas mais fáceis de preparar? Está demorando muito".

Nós hoje vivemos o tempo prensado. Engarrafamento é hora de retocar a maquiagem, mandar SMSs, responder emails, ler jornal, falar no telefone, cutucar o nariz e, se sobrar um tempo, prestar atenção no trânsito. Cada segundo conta. No escritório tem sempre 4 janelas abertas no navegador de internet. Notícias, home banking, seu email pessoal onde sempre tem umas piadas novas, e aquele site de fofocas ou esporte que você gosta tanto de ler. E fora isso tem uma planilha de excel sendo feita junto com uma apresentação de Power Point que o seu chefe pediu ajuda para preparar.

A tecnologia não está aí para nos fazer poupar tempo. Está aí para te deixar mais atarefado, para comprimir tarefas que demoravam dias em blocos de poucos minutos. Nunca parou para pensar que com todos os aparatos tecnológicos você trabalha muito mais do que nossos pais trabalhavam?

Por isso as artes lentas como escrever cartas, contar piadas ao vivo e em cores e, no meu caso, desenhar, vão se tornando cada vez mais raras.

Meus dedos ainda estão doendo das duas ilustrações que fiz esta semana. E nem sentiram nada depois das 1500 marteladas nos teclados que se transformaram neste post.

Tuesday, July 01, 2008

Filmes.

Kung Fu Panda é sensacional.
Into The Wild é tocante.
Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull é decepcionante.
Iron Man é pura diversão.
Super Bad é super good.
American Gangster é bom demais.
The Happening é médio e por isso desapontador.
Juno é excelente.
Walk Hard é engraçado para cacete.
There Will Be Blood é perturbador.
Pan's Labyrinth é hipnótico.
Narnia Chronicles - Prince Caspian é OK.
Norton Hears a Who é doce.
Forbidden Kingdom é uma volta à adolescência.

Monday, June 30, 2008

Inquilino o cacete!

A pior coisa de morar em Dubai é ter que pagar aluguel. A cada ano que passa quando chega a hora de renovar o contrato do aluguel - os aluguéis aqui são pagos anualmente, o que torna o processo ainda mais doloroso - o desterrado sente provavelmente o mesmo tipo de tensão que o vietcong sentia quando ouvia o barulho dos helicópteros ianques chegando. Não tem para onde correr, é só continuar na sua posição e lutar para sobreviver mais um pouquinho.

Mercado imobiliário aqui é um papo mais popular do que futebol e política. Não importa de onde você vem - Sérvia, Índia, Egito, Nova Zelândia, Alemanha, Inglaterra, Índia e Índia (aqui tem muito indiano) - aluguel é sempre o tema mais presente nas rodas de papo.

E não é para menos. Desde que cheguei aqui o aluguel da casa de dois dormitórios em que morava está 3 vezes mais caro. Você sente que está pagando para ficar morando no palácio de Buckingham - claro que sem os empregados e a carruagem. A cada dia que passa não só os aluguéis, mas os preços das propriedades sobem mais do que carregador sherpa em temporada de escalada. Proprietários querem aumentar os aluguéis e quando, por lei, não podem, vem com desculpas como "Vamos mudar para a casa onde vocês estão" ou "Meu filho vai casar e mudar para esta casa". Espera lá, seu filho tem 8 anos de idade! Não importa, tudo é desculpa para fazer muito dinheiro e rápido.

Empreendedoras lançam novos projetos e as pessoas viram a noite em filas para comprar o máximo possível. Parece o INPS, com a diferença que as filas aqui ficam às vezes no meio do deserto. A parte mais insana é que sempre tem mais gente do que unidades disponíveis e o que acontece é que a pessoa sai com o documento de compra e já tem um cara lá fora está te esperando para fazer uma oferta. Tumultos não são incomuns.

Se para quem está de fora o mercado imobiliário em Dubai é insano, para quem está dentro, com o próximo aluguel prestes a vencer é insuportável.

Hoje em dia eu não suporto nem jogar Banco Imobiliário. É só parar em um quadradinho em que tenho que pagar aluguel me dá vontade de vomitar.

Depois de três anos pagando aluguel prometi a mim mesmo que isso ia acabar. Como uma Scarlett O'Hara na frente de sua mansão na Geórgia eu fiz uma promessa: Não irei pagar aluguel de novo!

E como promessa é dívida, acabamos de nos endividar pelos próximos 25 anos. Compramos a casa que alugávamos nos Arabian Ranches.

Claro que não foi assim simples. O tempo ia passando, o nosso aluguel para vencer e nenhuma opção disponível. Já tínhamos perguntado para a imobiliária que administra nossa casa se o proprietário estava interessado em vendê-la mas eles disseram que não, por isso esta opção estava descartada. Começamos a procurar outros lugares mas nada realmente interessante ou dentro da faixa de preço que podíamos pagar. Os famosos 45 minutos do segundo tempo iam chegando e nada.

Um belo dia em que tínhamos agendado a visita de pelo menos umas 10 propriedades e teríamos que decidir por uma recebemos a ligação do agente imobiliário que alugou a casa para a gente.

"O proprietário quer vender. Vocês ainda querem comprar?"

Sim!!!

Eu tenho uma teoria que explica porquê as pessoas mudam. Mudam de casa, mudam de cidade, Estado ou país. Elas se mudam porque temos memória curta, porque se lembrássemos o pé-no-saco que é mudar, encaixotar tudo, desencaixotar tudo, arrumar tudo e fazer o lugar parecer um lar de novo, nunca saíriamos do mesmo lugar. Iríamos ficar ali quietinhos, felizes.

Eu posso falar disso como quem tem conhecimento de causa. Já morei em pelo menos umas 18 casas diferentes nestas quase 38 primaveras.

Foi um longo e desgastante processo em que você tem juntar mais papel do que inquerito contra político corrupto. E quando acha que acabou ainda tem mais papéis faltando. Finalmente você tem tudo na mão e aí aparecem mais papéis ainda para entregar. Finalmente chega o dia e te informam que mais um papel está faltando. A sensação é de que o Sol vai se apagar, o universo vai esfriar e você ainda vai estar colecionando papéis para ter sua hipoteca aprovada.

Chega o grande dia.

Vou sozinho para o Dubai Land Department onde os agentes imobiliários, o proprietário e o cara do banco com um cheque que tem um valor tão assustador que não quero nem pensar muito porque senão vou decidir comer no McDonald's o resto da vida.

Papéis assinados, apertos de mão, sorrisos e uma sensação de leveza indescritível.

Sou finalmente senhor do meu castelo - mesmo que tenha que passar os próximos 25 anos pagando salgadas prestações mensais.

Sunday, June 29, 2008

1095

No último dia 13 de junho o planeta Terra completou 3 voltas desde que saí do Brasil.
De cachorro que caiu de uma mudança de catorze mil quilômetros para parte da paisagem local foi um longo caminho.

Quando cheguei aqui era o único brasileiro à vista - claro que haviam outros, mas demorei 8 meses para encontrá-los - e por isso as pessoas me tratavam quase como um monumento, um marco, um ponto de referência:

- Bom, para você chegar lá é fácil, é só pegar esta avenida e, quando você avistar o brasileiro vire à esquerda. Não tem como errar.

1095 dias depois Dubai não parece mais tão longe. Em vez de ouvir "Ai, meu deus! Você está indo para aquele lugar, no meio da guerra, no meio do deserto, no meio do nada??!!!" você começou a ouvir "Nossa, eu vi uma matéria sobre Dubai no Fantástico, na Veja, no Amaury Júnior, no Faustão, na Turma do Didi, na Zorra Total, no quadro de avisos do meu prédio..." e ultimamente "Tem um conhecido, amigo, primo, irmão meu morando aí" ou " Estou pensando em passar uns dias aí, posso ficar na sua casa?"

Mudou muito.

Mudou o trabalho, mudamos de casa, mudamos de carro, mudamos de amigos...

Dubai é um lugar em que ninguém vem para ficar. Todos estão aqui em um caráter temporário. Essa temporada pode ser de um mês, um ano, cinco, dez anos. Mas no fim todos acabam seguindo em frente. O próprio governo dos Emirados ajuda a criar esta situação, porque - a não ser em situações muito específicas e restritas - ninguém aqui vira cidadão. Nossa relação com o lugar tem data de validade. O resultado é que o panorama humano muda quase tão rápido quanto a paisagem.

No final a sensação é de que você viveu muitas Dubais, completamente diferentes, nestes últimos 1095 dias. Mudanças radicais - algumas vezes para melhor, outras vezes para pior, na maior parte das vezes apenas para algo diferente - em que a única vantagem é que você não tem que chamar o caminhão de mudança.

Saturday, March 29, 2008

Sem frescura - No Fuss

Quando você trabalha em propaganda a vida passa em múltiplos de 30 segundos.

Neste post tem duas unidades. Me custaram dois meses de idas e vindas, conference calls, reuniões ao vivo, muitos emails de feedback escritos, longas horas na ilha de edição e alguns - novos - cabelos brancos.

Essa é a nova campanha de marca da Ford para ao Oriente Médio - um comercial que chamamos "No Fuss". Foi escrito por dois indianos e um brasileiro, produzido por libaneses, dirigido por um espanhol, com locução de um americano, música de um inglês e coordenado por uma equipe de atendimento liderada por um australiano, capitaneada por uma neozelandesa e com um soldado palestino-austríaco na linha de frente.

Isto é Dubai


Wednesday, March 26, 2008

A Sangue-frio.

A vida é assim. Vivemos nos auto-enganando.

Damos desculpa para adiar o começo do regime, para furar o regime, para recomeçar o regime, para deixar de pagar o cartão de crédito, para deixar de ligar para um amigo ou parente querido, para deixar de acordar mais cedo para ir à academia, para deixar de começar a ler aquele livro técnico importante que vai fazer toda a diferença na sua carreira, para não parar de espremer cravos no nariz, para não responder agora os emails recebidos, para adiar a ida ao dentista, , para parar de assistir ao Big Brother, para deixar para outra hora aquela ligação para o seu banco, para continuar votando no PT e para adiar para outro dia a tarefa de escrever um novo post.

Amanhã eu começo, eu faço, eu paro.

E assim vamos levando a nossa vida cheia de agoras.

As coisas boas devem ser saboreadas o quanto antes.

As coisas ruins devem ser tratadas como tirar band-aids: faça rápido e de uma vez só.

Assim tem sido a minha vida de chefe: todo dia é como se meu corpo amanhecesse coberto de band-aids de todas as cores e tamanhos.

Estes são os problemas que eu encontro todos os dias.

Alguns são daqueles redondinhos, cor-da-pele e pequenininhos. Saem fácil, você quase não percebe. Outros são daqueles tradicionais - transparentes, cor-da-pele ou até mesmo coloridos com estampas alegres. Doem bastante, mas dá para aguentar - se você for rápido e puxar com decisão.

Mas alguns são uns esparadrapos gigantes que cobrem uma área peluda perto da virilha. As mulheres sabem muito bem do que estamos falando.

Em geral a expectativa é mais dolorida do que a atividade da retirada propriamente dita. Você é quem dita a dimensão do curativo a ser removido.

Chamar alguém que pisou na bola para o que os escritores de livro de administração chamariam de "Feedback negativo porém construtivo" pode ser desde um band-aid redondinho até um quadrado de tamanho respeitável.

Se você for escolado pode ser até mesmo como passar um mertiolate dos novos - incolor, indolor e já vem com sopro. (A maior parte das pessoas nem deve conhecer o mertiolate vermelho e dolorido)

Mas tem algumas situações que sempre vão ser muito espadrapo, sem gaze numa região sensível e com muitos pelos debaixo.

Na vida do chefe eu diria que seriam anunciar demissões e fazer avaliações de final de ano extremamente negativas - estou tendo uma boa dose das duas.

Diria o sábio que notícia ruim é que nem presente: é melhor dar do que receber.

Eu diria que há dúvidas.

Você chega ao final do dia completamente esgotado e dolorido.

Talvez chegue um dia em que eu vá me transformar em um calejado assassino de aluguel que não lembra mais o nome das vítimas - ou uma enfermeira veterana encarregada de trocar as ataduras. Insensível.

Para mim ainda está longe de ser assim. Eu sofro até quando assisto aos episódios de O Aprendiz. (Bom, isso não é verdade, mas seria engraçado se fosse)

Mas no final do dia, da semana, do mês ou do ano fiscal você vai ter que fazê-lo.

Mas se tiver que acontecer, lembre-se: faça rápido, de uma vez.

Afinal o pelos crescem de novo.