Marcas
De vez em quando a gente tem que parar um pouco e entender o que está se passando ao seu redor. É da nossa natureza viver um dia de cada vez e não perceber o que está acontecendo com a "grande imagem" - big picture, para os mais íntimos.
Estar morando neste lugar maluco há quase 2 anos (achei no começo que não fosse aguentar 2 meses). Esta experiência muda você, vai deixando marcas, muitas e profundas.
Só para listar algumas delas:
- Quando a sua filha de 3 anos vem para você e fala em inglês e você responde em inglês, sem pensar.
- Quando um folgado faz uma barbaridade no trânsito e você primeiro checa se ele não é local (pela roupa de milionário árabe ou de beduíno de filme) antes de começar a xingar - em português.
- Você acha natural ser chefe de 12 indianos, uma libanesa e um cara de Bahrain. (Acho que se me dissessem há uns 10 anos que eu seria chefe de 12 pessoas já me espantaria.
- Você vai comer na praça de alimentação do shopping center e comida indiana é uma das opções mais populares - junto com McDonald's.
- O Burj Al Arab vira parte da paisagem e você deixa de notá-lo. (bom, eu ainda não cheguei lá mas quem sabe...)
- Sua esposa está um dia no Kwuait, no outro em Oman, depois em Bahrain e no dia seguinte no Qatar.
- Alguns dos seus melhores amigos são da Sérvia.
- Você definitivamente percebe que quando você é chefe não mais um cara da galera. Você pode ser querido, respeitado, temido ou detestado, mas não é mais o cara com quem seus companheiros de trabalho vão trocar confidências e falar mal da chefia.
- Você não se importa em estar nessa posição.
- Você não aguenta mais comer comida libanesa.
- Você se acostuma a ver Ferraris, Bentleys, Lamborghinis, Porsches e todos os carros caros do mundo nas ruas.
- Não te surpreende mais que os filmes tenham legendas em árabe.
- Você acha que ter um sheikh que é o líder supremo do Emirado e que tem fotos dele para todo lado é uma coisa normal.
- Passar 9 meses sem ver uma gota de chuva faz parte da vida.
- Comer feijoada (o que vai acontecer hoje) vira uma experiência quase religiosa.
- Você não tem mais paciência para ver as notícias no UOL e, quando vê, a maior parte delas você não entende.
- Você não faz idéia de quem esteve nos 4 últimos Big Brothers.
- O Lula parece uma coisa tão distante que você sente como se fosse uma memória distante de um sonho ruim que você teve há algum tempo.
- Faustão, Gugu e Zorra Total também fazem parte deste sonho ruim.
- Você se não fica mais frustrado por não poder fazer imitações dos Trapalhões. Ninguém entende mesmo...
- Não te irrita mais falar com pessoas que acham que o Maradona foi maior que Pelé.
- Música brasileira passa a ser maior que música. Passa a ser uma comunhão com algo maior.
- Até pagode e axé te deixam emocionado.
- Algumas das pessoas que você mais gosta são indianos.
- Tempestade de areia deixa de ser uma coisa exótica para se transformar em uma coisa pentelha.
- Fazer apresentação para qualquer grupo de pessoas, de qualquer nacionalidade e em qualquer nível hieráquico não te tiram o sono.
- Ter um cara trabalhando com você que chama Dodong é uma coisa normal.
- Morar em um condomínio no meio do deserto é, digamos, comum.
- Ter um computador com teclado em árabe é uma coisa corriqueira. (Não é só em árabe, claro)
- Você vai para o Brasil e depois volta para casa.
- Você consegue contar piadas em inglês fazendo tradução simultânea.
- Uma das coisas que você mais odeia são conference calls.
- 150 pessoas te procuram por dia para resolver problemas.
- Você tem disponível um prazo máximo de atenção de um minuto e 47 segundos para cada pessoa que vem falar com você. E ele tem diminuído ultimamente.
- A mania Dubaiana de fazer tudo gigante e impressionante deixa de ser (só) motivo de deslumbramento e passa a ser (também) motivo de piada.
- Ter um pacote de amendoim Mendorado na sua despensa é uma coisa mais importante do que a paz mundial.
Mas, como diria meu caríssimo Lázaro citando não-sei-quem (acho que é Adélia Prado, mas seria chute):
"A vida só é possível reinventada"
Friday, February 23, 2007
Tuesday, February 13, 2007
Um post, enfim!
Só para romper o marasmo resolvi escrever algo para reestabelecer meu contato com o blog.
O número de histórias para contar é diretamente proporcional à falta de energia e inspiração para sentar e escrever ao final do dia. Acabo me dedicanto a modalidades de entretenimento acéfalo tipo sentar e olhar a TV (olhar mesmo, sem compreender) e babar.
Prometo a mim mesmo e aos meus leitores - se é que eles ainda existem - a voltar a deixar minhas impressões no meu diário virtual. Mesmo que sejam breves e superficiais.
Vamos ver se funciona.
Só para romper o marasmo resolvi escrever algo para reestabelecer meu contato com o blog.
O número de histórias para contar é diretamente proporcional à falta de energia e inspiração para sentar e escrever ao final do dia. Acabo me dedicanto a modalidades de entretenimento acéfalo tipo sentar e olhar a TV (olhar mesmo, sem compreender) e babar.
Prometo a mim mesmo e aos meus leitores - se é que eles ainda existem - a voltar a deixar minhas impressões no meu diário virtual. Mesmo que sejam breves e superficiais.
Vamos ver se funciona.
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