Depois do frio na barriga...
...faz frio de verdade em Dubai.
17 graus - frio para os padrões daqui - e fica ainda mais frio à noite.
E está chovendo.
Choveu o dia inteiro hoje e várias vezes durante a semana.
Para quem está acostumado como o céu azul 360 dias por ano é como estar em um lugar totalmente novo.
Um lugar totalmente novo onde assim que cai UMA gota de chuva no vidro dos carros todos reduzem a velocidade à metade e a cidade se transforma em um imenso congestionamento - não importa a hora do dia.
Uma cidade nova onde os motoristas brações ou andam depressa demais, arriscando a vida, ou devagar demais.
Mas o barulhinho da chuva...eta trem bão, sô!
Saturday, December 02, 2006
Frio na barriga II - A Missão.
Começar um post com uma referência a um filme do Rambo que tem mais de 20 anos é uma coisa engraçada.
Bom, as quase 2 semanas sem um post tiveram uma razão: estou trabalhando como um louco.
Nunca antes na minha carreira uma mudança de trabalho foi tão tranquila. Não perdi o sono, não fiquei ansioso, não fiquei tenso. Foi tão tranquilo que nem parecia que estava acontecendo. Parece que a minha experiência inicial de chegar aqui em Dubai foi uma coisa tão intensa que me deixou maduro ao ponto de encarar qualquer evento da maneira mais tranquila do mundo. Me senti como um novo 007. Daniel Craig, cuide-se.
Ou pelo menos assim pensava eu.
No primeiro dia fui recebido pelo diretor de criação executivo - o Shahir, um indiano que passou quase a vida inteira em Dubai e que é um criativo excepcional.
Ele me contou um pouco da situação atual da agência, falou sobre os clientes e começou a falar sobre o meu papel no futuro.
Aí veio o frio na barriga.
Ele me mostrou primeiro a lista de pessoas pela qual eu seria responsável: 12 pessoas diretamente e mais um monte indiretamente. A lista de clientes: 21. Caramba, isso é mais do que o número de clientes das duas últimas agências que trabalhei no Brasil - somadas.
Entre eles estão:
Ford - e duas divisões Lincoln e Mercury, que são empresas separadas em termos de marketing - LG, Hitachi, Land Rover, Colgate, Emaar (uma empresa de real estate - incorporadora - que tem projetos enormes no mundo inteiro, incluindo o Burj Dubai - o prédio que vai ser o mais alto do mundo)...e por aí vai.
Muito trabalho e muita expectativa por conta dos clientes de receber sempre um trabalho extraordinário.
A expectativa da agência:
1 - Você tem que melhorar a qualidade criativa do seu grupo - são dois grupos de criação - o outro é tão grande quanto o meu, com outras contas enormes.
2 - Mudar a mentalidade das pessoas.
3 - Ganhar prêmios, muitos prêmios.
Fora isso tem aquele problema eterno de aprender o nome das pessoas, sendo que aqui isso significa aprender o nome e só depois aprender o nome das pessoas. Não tem nenhum nome normal. São Shradha, Poorna, Swapna, Umram, Jeevan, Moosa, Zeina, Komal, Dodong, Jobi, Muhannad, Anjum, Shamrock, Kunal, Sanjay, Ashraf, Dinesh...e um Danni.
Por isso "dude" e "man" viraram a minha versão o local de "cara" e "grande" - opções para quando você não faz a mínima idéia de como chama o indivíduo.
Muita expectativa. Muitos nomes, muitas personalidades diferentes. Muito, muito trabalho.
Um puta frio na barriga.
E um ar-condicionado frio para cacete.
Tá com medo, por que veio?
Para o alto e avante!
Começar um post com uma referência a um filme do Rambo que tem mais de 20 anos é uma coisa engraçada.
Bom, as quase 2 semanas sem um post tiveram uma razão: estou trabalhando como um louco.
Nunca antes na minha carreira uma mudança de trabalho foi tão tranquila. Não perdi o sono, não fiquei ansioso, não fiquei tenso. Foi tão tranquilo que nem parecia que estava acontecendo. Parece que a minha experiência inicial de chegar aqui em Dubai foi uma coisa tão intensa que me deixou maduro ao ponto de encarar qualquer evento da maneira mais tranquila do mundo. Me senti como um novo 007. Daniel Craig, cuide-se.
Ou pelo menos assim pensava eu.
No primeiro dia fui recebido pelo diretor de criação executivo - o Shahir, um indiano que passou quase a vida inteira em Dubai e que é um criativo excepcional.
Ele me contou um pouco da situação atual da agência, falou sobre os clientes e começou a falar sobre o meu papel no futuro.
Aí veio o frio na barriga.
Ele me mostrou primeiro a lista de pessoas pela qual eu seria responsável: 12 pessoas diretamente e mais um monte indiretamente. A lista de clientes: 21. Caramba, isso é mais do que o número de clientes das duas últimas agências que trabalhei no Brasil - somadas.
Entre eles estão:
Ford - e duas divisões Lincoln e Mercury, que são empresas separadas em termos de marketing - LG, Hitachi, Land Rover, Colgate, Emaar (uma empresa de real estate - incorporadora - que tem projetos enormes no mundo inteiro, incluindo o Burj Dubai - o prédio que vai ser o mais alto do mundo)...e por aí vai.
Muito trabalho e muita expectativa por conta dos clientes de receber sempre um trabalho extraordinário.
A expectativa da agência:
1 - Você tem que melhorar a qualidade criativa do seu grupo - são dois grupos de criação - o outro é tão grande quanto o meu, com outras contas enormes.
2 - Mudar a mentalidade das pessoas.
3 - Ganhar prêmios, muitos prêmios.
Fora isso tem aquele problema eterno de aprender o nome das pessoas, sendo que aqui isso significa aprender o nome e só depois aprender o nome das pessoas. Não tem nenhum nome normal. São Shradha, Poorna, Swapna, Umram, Jeevan, Moosa, Zeina, Komal, Dodong, Jobi, Muhannad, Anjum, Shamrock, Kunal, Sanjay, Ashraf, Dinesh...e um Danni.
Por isso "dude" e "man" viraram a minha versão o local de "cara" e "grande" - opções para quando você não faz a mínima idéia de como chama o indivíduo.
Muita expectativa. Muitos nomes, muitas personalidades diferentes. Muito, muito trabalho.
Um puta frio na barriga.
E um ar-condicionado frio para cacete.
Tá com medo, por que veio?
Para o alto e avante!
Uma pedra no meio do caminho.
A cabeça da gente faz um monte de conexões que nem notamos. Vivemos por aproximação, montamos imagens básicas, um retrato básico do nosso universo para que a gente não precise percebê-lo, entendê-lo e decupá-lo quando saímos à rua rumo aos nossos destinos diários. Assim sobra mais tempo e espaço no cérebro para pensar na vida, organizar a nossa agenda diária, cantar a música que está tocando no rádio, no CD ou no iPod ou - mesmo que proibido - falar no celular.
Viver é como dirigir falando no celular: de repente, sem perceber você chegou no seu destino final.
Mas quando o dia-a-dia introduz novos elementos temos que voltar a usar a cabeça. Não dá para deixar o piloto automático tomar conta.
Um amigo meu da BBDO uma vez me mostrou com orgulho sua BMW caríssima cheia de gadgets de última geração. Entre as coisas mais impressionantes estava o computador de bordo com GPS. Uma voz muito sexy - dá vontade de casar com ela, o que eu faria se não fosse o custo de manutenção e o fato de ter que mandar para revisão a cada 10 mil quilômetros - diz onde você está e como fazer para chegar no seu destino.
Por exemplo: você está perto do Burj Al Arab e está indo para as Emirates Towers (o lugar onde eu trabalhava antes de mudar para a Young & Rubicam). O computador vai falar coisas como "mude da faixa do centro para a faixa da direita"(realmente, você estava na faixa do centro) "após 400 metros, vire à direita".
Siga as informações passo-a-passo e você chegará ao seu destino.
Teoricamente.
Isso porque não tem como montar um modelo atualizado das ruas de Dubai. O emirado muda tão rapidamente que não tem rua que permaneça a mesma por mais de uma semana. Às vezes de manhã as ruas de uma região estão de um jeito no final da tarde estão de outro. São obras para todos os lados. Você disputa espaço nas ruas, avenidas e rodovias com caminhões, betoneiras, gruas e guindastes.
Se você seguir as dicas do supercomputador de bordo com voz sexy corre o risco de acabar em um buraco de 30 metros de profundidade.
Maldita. Sabia que não dava para confiar!
Mas o resultado disso é que fica mais difícil para você criar modelos mentais. O que faz o seu cérebro ficar sempre atento. Mesmo depois de um tempo longo você continua percebendo o lugar onde você está.
Uma coisa bem darwinista. Se você não estiver ligado acaba sendo tragado por buracos de obras imensos ou atropelado por betoneiras desembestadas - a versão moderna de poços de pixe e de mamutes enraivecidos.
A cabeça da gente faz um monte de conexões que nem notamos. Vivemos por aproximação, montamos imagens básicas, um retrato básico do nosso universo para que a gente não precise percebê-lo, entendê-lo e decupá-lo quando saímos à rua rumo aos nossos destinos diários. Assim sobra mais tempo e espaço no cérebro para pensar na vida, organizar a nossa agenda diária, cantar a música que está tocando no rádio, no CD ou no iPod ou - mesmo que proibido - falar no celular.
Viver é como dirigir falando no celular: de repente, sem perceber você chegou no seu destino final.
Mas quando o dia-a-dia introduz novos elementos temos que voltar a usar a cabeça. Não dá para deixar o piloto automático tomar conta.
Um amigo meu da BBDO uma vez me mostrou com orgulho sua BMW caríssima cheia de gadgets de última geração. Entre as coisas mais impressionantes estava o computador de bordo com GPS. Uma voz muito sexy - dá vontade de casar com ela, o que eu faria se não fosse o custo de manutenção e o fato de ter que mandar para revisão a cada 10 mil quilômetros - diz onde você está e como fazer para chegar no seu destino.
Por exemplo: você está perto do Burj Al Arab e está indo para as Emirates Towers (o lugar onde eu trabalhava antes de mudar para a Young & Rubicam). O computador vai falar coisas como "mude da faixa do centro para a faixa da direita"(realmente, você estava na faixa do centro) "após 400 metros, vire à direita".
Siga as informações passo-a-passo e você chegará ao seu destino.
Teoricamente.
Isso porque não tem como montar um modelo atualizado das ruas de Dubai. O emirado muda tão rapidamente que não tem rua que permaneça a mesma por mais de uma semana. Às vezes de manhã as ruas de uma região estão de um jeito no final da tarde estão de outro. São obras para todos os lados. Você disputa espaço nas ruas, avenidas e rodovias com caminhões, betoneiras, gruas e guindastes.
Se você seguir as dicas do supercomputador de bordo com voz sexy corre o risco de acabar em um buraco de 30 metros de profundidade.
Maldita. Sabia que não dava para confiar!
Mas o resultado disso é que fica mais difícil para você criar modelos mentais. O que faz o seu cérebro ficar sempre atento. Mesmo depois de um tempo longo você continua percebendo o lugar onde você está.
Uma coisa bem darwinista. Se você não estiver ligado acaba sendo tragado por buracos de obras imensos ou atropelado por betoneiras desembestadas - a versão moderna de poços de pixe e de mamutes enraivecidos.
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