A volta.
Essa vida de diretor de criação de agência grande não é fácil. Todo todo prometo fazer 25 coisas que me interessam. Acabo fazendo meia.
Parece a maioria das pessoas, quando têm chefe, acabam desistindo de pensar. Vou fazer o meu trabalho de qualquer jeito, devem pensar eles, e depois o meu chefe vai me dizer exatamente o que fazer. E eu vou ficar puto com isso.
O resultado disso é que você não tem tempo nem para ir ao banheiro.
Estou falando sério. No meu caminho para trocar a água das azeitonas sou parado pelo menos 3 vezes para resolver pepinos de maior ou menor grandeza. E quando chego ao banheiro o maldito em geral está ocupado - o que significa que vão me achar de novo para descarregar ainda mais tranqueiras para serem resolvidas.
Estou pensando faz tempo em colocar um letreiro na minha sala dizendo "Corpo de Bombeiros", em vez de departamento de criação. (Não que exista uma placa indicando onde estão os macacos do zôo na nossa agência)
O que acaba acontecendo é que todo o tempo livre que tenho - pouco e em geral de manhãzinha, quando as pessoas ainda não chegaram - eu dedico a atividades que exigem tão pouco do meu cérebro que se colocassem um eletrodos no mesmo iriam achar que estou em um coma profundo.
São coisas bem básicas tipo checar os resultados do basquete profissional americano e as estatísticas e ver uns vídeos meia-boca - ou half-mouth, como dizem por aqui - no YouTube.
Quem acaba se sentindo abandonado é o meu blog. Querido confessionário virtual onde padres conhecidos e desconhecidos acabam sabendo o que se passa na minha cachola. Com a vantagem de que ninguém até hoje me passou nenhuma ave maria para rezar.
Estou com toneladas de coisas para contar mas fico adiando para o dia seguinte. E com isso já se passou um mês sem uma palavra escrita.
Não sou escritor, por isso não tenho essa necessidade visceral de escrever. Essa coisa que está inserida no DNA do desgraçado que não consegue viver sem derramar suas entranhas em um pedaço de papel, numa tela branca de Word ou nessa janelinha meia-boca - ou half-mouth, como dizem por aqui. (Tudo bem, eu sei que acabei de usar a mesma piada mas lembre-se que o pessoal da Praça É Nossa tem feito as mesmas piadas a 50 anos - com muito sucesso. Talvez haja sabedoria nisso.)
Escrever para mim é um esforço consciente. Tenho que sentar, pensar e escrever. Um ato físico tão intenso quanto ir à academia. Mas uma vez que eu começo não dá vontade de parar.
Contar histórias. Disso eu gosto. Pode ser na mesa do bar, no telefone, no blog ou mesmo num palco.
É só começar. E mais do que isso, não parar.
Mas sempre tem a tentação dos resultados do basquete e as estatísticas inúteis...
E mais um fogo para apagar.
To be continued...