Estou voltando com um grupo de amigos de uma longa caminhada em Ilhabela. Como o dia estava acabando decidimos voltar nas canoas de uns pescadores locais. O mar estava revolto e a jornada de volta foi tensa, mas nada se compara ao momento de desembarcar. Não havia um porto onde os pecadores iriam nos deixar, que era ponto mais próximo de onde tínhamos estacionado nossos carros, por isso eles tiveram que improvisar: a idéia era acompanhar o movimento das ondas que estavam batendo nas rochas na costa até o momento em que embarcação estivesse em cima delas. Aí o passageiro tinha que se jogar em direção à terra firme, torcendo para que desse tudo certo. A adrenalina fazia parte do pacote.
Fui um dos últimos a pular. Fiquei observando meus amigos se jogando de maneira destemida em direção à salvação e pousando de maneira desajeitada nas rochas escorregadias.
Aí chegou a minha vez.
As ondas batiam forte e a canoa balançava cada vez mais, se aproximando pouco a pouco daquela armadilha geológica. Até que chegou o momento. Subi na proa e me preparei para pular.
Foi na hora que dei o bote que aconteceu. Meu amigo, querendo me alertar do risco de escorregar nas pedras à minha frente, grita:
"CUIDADO COM O LIMBO!!!!"
Eu já estava no ar, precisando de toda a concentração e habilidade física para sobreviver à experiência, mas no momento em que ouvi aquilo nada mais importava. Esqueci de tudo que estava acontecendo ao meu redor e gritei de volta:
"É LIMOOOOOOOO!!!!!"
Pousei de maneira desajeitada na plataforma escorregadia, vivo, aliviado e com a sensação vitoriosa de que o vernáculo havia sido preservado.
Todo mundo já ouviu - ou mesmo falou - essas expressões levemente erradas. Algumas acham intolerável. Eu era uma delas. Muita coisa mudou depois desse dia. Amadureci. Percebi que essa minha resistência não fazia sentido. Meu repúdio por esses pequenos erros foi substituído lentamente por uma tolerância. E essa tolerância se transformou num prazer crescente de ouvir e colecionar essas expressões.
Hoje adoro quando tem chuva de "granito", ou quando vulcões explodem e lançam "larva" para todos os lados. Se uma coisa serviu de maneira perfeita, ela caiu como uma "uva". Quando você consegue resolver vários problemas de uma vez, matou dois coelhos com uma "caixa d'água". Ou quando você vai para o porão de casa e encontra ele cheio de "telhas" de aranha. Claro que quando você se parece demais com alguém, você é a cara dele "cuspido e escarrado".
Essas expressões fazem os nossos diálogos cheios de clichês e lugares comuns muito mais interessantes, nossas conversas mais ricas. Por isso não vejo a hora de ouvir a próxima.
Hoje vi esta imagem de uma tiazinha com um cartaz durante os protestos. Nele tinha uma mensagem perguntando porque membros da atual classe política que está no poder não foram mortos pela ditadura militar. Essa imagem foi usada para mostrar quem são os manifestantes que foram às ruas para protestar contra o governo federal em um artigo falando sobre o fracasso das manifestações contra o governo. Fazia parte de uma coleção de "fotos selecionadas" que tinham a intenção de mostrar que os protestos foram um fracasso e que as idéias políticas – e as pessoas envolvidas – não são só absurdas, mas também bizarras.
E, acredite, o autor selecionou várias, com textos bem-humorados para acompanhar
Eu não estou aí no Brasil para ver como foram as manifestações realmente, mas a idéia de mostrar “fotos selecionadas” para provar uma teoria já é uma maneira excelente de perder a credibilidade.
Me faz lembrar de um comercial genial da Folha de S.Paulo que fala sobre as virtudes de um governante histórico para depois revelar que estão falando de Hitler. As linhas finais são muito contundentes: é possível contar um monte de mentiras só falando a verdade.
Vem à minha mente o significado da palavra propaganda, como é usado no exterior: a divulgação informação, em geral tendenciosa, usada para promover uma causa política ou ponto de vista.
E é isso que eu vejo aqui de longe: um país onde todo mundo - dos dois lados - usa montes de fatos para provar seu ponto de vista. E a verdade - se é que ela existe - está em algum lugar onde a nossa cegueira de torcedores (sim, daquele que torce os fatos) nos faz incapaz de ver.
O que se vê é uma manipulação da informação criando estereótipos e ajudando a bipolarizar o confronto. Quem está com contra o governo é burguês, coxinha. Quem é a favor do governo é comunista, vermelho ou PTralha. Essa estereotipização leva à uma demonização do adversário e à impossibilidade de uma conciliação.
Propaganda pura.
É fácil detestar e desprezar um adversário que é uma figura de papelão, pintada em tons de preto e branco. Fazer o outro ser diferente da gente ajuda. Desse jeito fica fácil justificar a alienação, a perseguição, agressão, racismo, a escravidão e todas essas coisas maravilhosas que nos fazem ser humanos e tornam os livros de história uma leitura tão interessante.
Mas fazer o que? Tem um conflito extremamente polarizado acontecendo no país - e tanto Coxinhas quanto PTralhas estão fazendo de tudo para provar seus pontos de vista.
E como foi dito numa citação atribuída tanto ao poeta grego Ésquilo quanto ao senador americano Hiram Johnson: numa guerra a primeira vítima é a verdade.
P.S.: Este post é uma versão estendida de um comentário que fiz a respeito do artigo em questão
P.S. 2: Para quem não viu, aí vai o comercial da Folha.
De tempos em tempos eu assisto um filme tão bom, mas tão bom que me faz sentir feliz de fazer parte da mesma espécie das pessoas que o produziram.
Foi assim com Guerra nas Estrelas, Caçadores da Arca Perdida, Intriga Internacional, Cidade de Deus, Amarcord, A Vida de Brian, Doze Homens e uma Sentença, Apertem os Cintos O Piloto Sumiu, O Iluminado, ET, o Extraterrestre, Blade Runner, De Volta Para o Futuro, vários do Woody Allen - especialmente Crimes e Pecados, Sociedade dos Poetas Mortos, Asas do Desejo, Cinema Paradiso, Goodfellas, Shortcuts, O Feitiço do Tempo, Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, Os Imperdoáveis, O Sexto Sentido, Oldboy, Alta Fidelidade, A Família, Harry e Sally - Feitos um para o Outro, Silêncio dos Inocentes, Seven, Gênio Indomável, Os Royals Tenenbaums, Gladiador, Boogie Nights, O Clube da Luta, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, Pulp Fiction, Um Sonho de Liberdade, O Grande Lebowski, O filho da Noiva, Os Suspeitos, O Labirinto do Fauno, Fale Com Ela, Matrix, a trilogia de Senhor dos Anéis, A Viagem de Chihiro, Up in the Air, um monte de coisas da Pixar, Transformers...
Estou brincando sobre Transformers. Só para ver se você estava prestando atenção.
Esta sensação de se conectar com uma obra extraordinária te dá a sensação de transcender só por ter tido a oportunidade de assisti-la.
É glorioso.
Sempre tive medo de chegar num ponto da vida em que já vimos tanta coisa e passamos por tantas experiência que nada mais nos impressiona, um momento em que nos tornamos insensíveis e tudo fica meio morno e não deixa mais registro nas nossas mentes.
Mas aí vem um filme como Whiplash e você recupera essa sensação de que coisas extraordinárias são ainda possíveis e que o mundo ainda tem algumas surpresas preparadas para você.
Se você não assistiu, pare tudo e assista. Não tem atores famosos, efeitos especiais, explosões, locações magníficas, trilha sonora com músicas do Aerosmith ou do Pharrell Williams, não tem Minions e ninguém salva o mundo no fim.
É sobre um baterista de jazz.
É uma história extraordinariamente bem contada e ainda melhor interpretada.
Mais do que isso. É um filme que fala sobre quanto custa transformar potencial em realidade. A energia, a obsessão e o foco necessários para transformar talento em genialidade.
Nós acreditamos que é só fama, festas, mansões, carrões, viagens de primeira classe e shows para milhares em estádios lotados, mas esquecemos que o preço que se paga é bem alto: viver à margem das convenções sociais, sacrificar a saúde, a privacidade, tomar um monte de decisões e fazer muitas coisas que vão soar péssimas na sua biografia não-autorizada - mas que com certeza vão ajudar a vender muitas cópias.
O filme me faz agradecer o fato de alguém passe por tudo isso para que a gente possa aproveitar coisas extraordinárias - quando nossas vidas cheias de necessidades sociais comuns, hábitos saudáveis e decisões sensatas nos dão tempo. E este momento de comunhão com o extraordinário te faz sentir maior, melhor, mais inteligente e bonito.
Tudo isso tendo um jazz de primeira não só como trilha sonora - mas como ponto central da história.
E quando foi a última vez que você assistiu a um filme sobre jazz que é mais emocionante que um filme do Tom Cruise?
Ainda bem que tem alguém disposto a pagar o preço que custa para ser totalmente fora da curva - pode ter certeza que é muito maior do que o do bilhete do cinema.
E ainda bem que tem gente que faça filmes magníficos sobre isso.
Tinha 11 anos de idade e estava esperando um ônibus perto da casa onde morávamos em Campinas, no bairro do São Quirino. Não sei bem o que estava indo fazer, mas me conhecendo - afinal passo muito tempo comigo mesmo - devia estar indo para o centro comprar uns gibis. Pato Donald, Homem de Ferro, Super Homem, X-Men, Batman, Tio Patinhas, Homem Aranha...coisas do gênero.
O bairro era afastado e os ônibus demoravam a passar - uma grande oportunidade para a mente de moleque viajar para longe e voltar cheia de idéias.
Foi o que aconteceu.
Naquele dia o menino que ainda tinha um sotaque forte de quem tinha sido criado no Rio de Janeiro deu uma pausa nos seus devaneios e decidiu começar a contar. Mas essa contagem tinha que ser algo especial, ele pensou. E para fazê-la especial só iria valer contar uma vez por ano.
1.
Um ano depois veio o 2. E depois o 3.
E assim os anos foram se passando e a contagem continuando, sempre me acompanhando.
Com tanta coisa acontecendo na vida, não era fácil lembrar de continuar a contagem, mas com um ano inteirinho à disposição, sempre aparecia uma oportunidade para os neurônios se conectarem e adicionarem mais um número à sequência.
8: Começando a faculdade, indo morar sozinho pela primeira vez.
9: você está no exército.
11: Primeira bebedeira 16: Caminhada em uma geleira na Nova Zelândia
20: Festa de casamento
23: Sou pai!
25: Chegada no Oriente Médio
35: Hoje
Dizem que você nunca vai conseguir entrar num rio duas vezes porque nem águas do rio serão as mesmas - e nem você será o mesmo.
Nesse momento mágico em que adiciono mais um número à minha contagem me ligo àquele moleque magrinho, tímido, romântico, cheio de idéias e sonhos.
Toda vez que adiciono um número à contagem é como se estive me conectando a todos esses Guilhermes que se foram mas que, de alguma forma, ainda estão presentes. Todos diferentes, mas na essência o mesmo.
Quando você tem 11 anos de idade um ano parece uma eternidade, mas com o passar do tempo a vida parece se acelerar. Dizem que é porque o nosso cérebro cria atalhos para as tarefas familiares e elas deixam uma impressão menos profunda mais superficial.
E conforme a vida passa quase tudo que fazemos é a repetição de algo que já experimentamos no passado. Cada vez menos coisas registram na nossa consciência, e por conta disso parece que tempo passa mais rápido. E vamos nos transformando em sonâmbulos que perambulam pelas próprias vidas.
É como fazer o mesmo caminho do trabalho para casa todos os dias: você entra no carro e de repente se vê na frente da sua casa - se não tiver um motoboy chutando seu retrovisor você não vai ter nenhuma memória do seu deslocamento.
E você se pega falando - ou ouve alguém comentando - "Nossa, este ano está voando, hein? Já estamos em (favor inserir o mês em que estamos aqui)"
A rotina e a familiaridade destróem nossa capacidade de nos maravilharmos com o que nos rodeia. O extraordinário vira ordinário depois de um tempo. E o ordinário não deixa registro.
Lembro que quando cheguei em Dubai há quase 10 tudo era novo, diferente, exótico. Cada dia reservava uma surpresa. Cada hora tinha um desafio. Novas paisagens, pessoas, estilos, jeitos de se vestir, os nomes, novos caminhos, novas burocracias e um monte de coisas mais.
Cada dia demorava dez dias para passar.
Eu adorava olhar as placas de trânsito e ter aquela sensação de "Totó, acho que não estamos mais no Kansas". Hoje eu nem reparo que elas estão escritas em árabe.
A familiaridade nos deixas insensíveis.
Mas essa máquina do tempo improvisada me ajuda a entrar em contato com esse garoto divertido com um sotaque carioca carregado sentado no ponto de ônibus. Ele me trouxe até aqui e, de uma certa forma, ainda faz parte de mim, junto com todos os outros Guilhermes que apareceram no caminho.
De uma certa forma ele é meu Motoboy, me acordando de tempos em tempos de uma jornada sonâmbula para olhar para os lados e perceber como a nossa vida é extraordinária - e cheia de possibilidades.
Nem sempre foi assim. Quando eu era moleque tinha esse sonho de um dia conseguir assistir ao desfile das escolas de samba do Rio inteiro. Apesar da extraordinária permissão que meus pais davam para passar a noite em claro, o cansaço e o tédio sempre triunfavam. Era uma overdose de cores, plumas, paetês (tenho que confessar que dei uma procurada no Google para lembrar o que é) e as misturas bizarras dos temas de samba enredo - aquela mistura de fatos históricos obscuros, referências do candomblé e cultura popular que só devem fazer sentido para quem assiste ao desfile tomando ácido.
O tempo passou e depois de várias tentativas frustradas que terminaram prematuramente nos braços de Orfeu e Morfeu, a versão pré-adolescente de mim perdeu o interesse na Sapucaí e em tudo mais que se relaciona com a indústria do carnaval, com a exceção das fotos das celebridades de biquíni nas páginas das finadas revistas Manchete, Amiga TV Tudo e Fatos & Fotos e as zarpadas secretas depois da meia-noite pelos canais de TV que faziam a cobertura dos bailes nos clubes, com repórteres que não sabem o que perguntar entrevistando modelos-atrizes que não sabem o que responder - tendo a bacanália como pano de fundo.
Mas como acontece com uma boa parte da sociedade, para mim com o tempo o Carnaval virou um feriado prolongado para se desconectar de tudo - especialmente do Carnaval.
Ir para um lugar longe e isolado, colocar a leitura em dia, fazer caminhadas, assistir a todos os filmes que perdeu e prometeu assistir e por aí vai. Vale tudo - desde que não seja Carnaval.
Mas é quase impossível se esconder. Oficialmente ele acontece no final de Fevereiro ou começo de Março e dura 5 dias, dependendo da vontade dos astros - ou da Lua - mas na verdade ele começa logo depois do Ano Novo e só acaba na primeira Segunda-Feira depois da Quarta-Feira de Cinzas. São dois meses ou dois meses e meio em que nada de importante acontece no Brasil. Todas as decisões importantes, contratações, compras, qualquer coisa que tenha alguma importância para as nossa vida pessoal e corporativa tem que esperar o fim do Carnaval. Este bendito evento marca o começo não-oficial do ano - dois meses depois.
E eu odeio isso.
O Carnaval nos faz uma nação de procrastinadores. Jogamos fora 2 meses do ano para um evento em que nem sabemos bem o que está sendo celebrado (eu nem vou falar das origens pagãs das festividades para não deixar todo mundo confuso).
Mas é claro que arrumamos razão para a festa. Se a vida está boa, a razão é celebrar. Se a vida está ruim, a razão é compensar. Se está mais ou menos, vamos aproveitar porque nunca se sabe o dia de amanhã. Se a gente não sabe exatamente como estão as coisas, celebramos - só por via das dúvidas.
E assim caminha a humanidade.
Agora, depois de 10 anos fora do Brasil, eu tenho a oportunidade de olhar com um pouco mais de distância.
O Carnaval faz mal para o Brasil porque é a cara do Brasil. Cada que vez que uma imagem de um cara girando o pandeiro do lado de uma passista bunduda aparece na mídia internacional imagino os analistas do Standard & Poor's dando um downgrade na nossa avaliação e aumentando o risco Brasil.
Claro que o governo brasileiro tem trabalhado duro para fazer nossa imagem ficar ainda pior no exterior (parece que eles têm um talento para isso). No momento as coisas que nos definem como nação para os estrangeiros são uma corrupção épica, monumental, nosso maravilhoso futebol (sim, estou sendo sarcástico) e uma festa hiperbólica ultra-sexualizada que pára um país de 200 (duzentos) milhões de habitantes.
Ouch! (Interjeição da língua inglesa que demonstra sofrimento físico ou psicológico)
E não estou falando mal do Carnaval e suas implicações porque acho que o brasileiro trabalha pouco e não merece comemorar. Na verdade trabalha muito, mas para si mesmo. Fazer um país melhor dá trabalho e nem sempre é claro como nos beneficiamos quando fazemos coisas para o bem-comum. Por isso trabalhar por um Brasil melhor é uma coisa que deixamos para amanhã, quando não estivermos tão ocupados. Dá a sensação de que se pudéssemos a gente terceirizaria essa tarefa.
Será que não dá para contratar uma empresa japonesa ou coreana para isso?
Aí vai dar para curtir o Carnaval mais sossegado...
P.S.: Estava muito reclamão neste post. Aqui vai uma imagem de gatinho para compensar.
Ano passado prometi a mim mesmo voltar a escrever aqui para documentar minhas aventuras. Acabei de ver a data do último post: quase um ano e meio atrás.
Mais uma resolução de Ano Novo não cumprida. Existe coisa mais humana que isso?
Ou cumprida com um certo atraso, vamos pensar assim.
Bom, eu prometi a mim mesmo - e a alguns amigos - que eu não deixaria este blog morrer.
Aqui vai mais uma tentativa de reativá-lo.
Não é por falta de histórias que eu parei. Acho que é exatamente o contrário. Quanto mais você adia escrever mais coisas acontecem que são dignas de serem documentadas e você não sabe mais por onde começar - o que acaba sendo uma desculpa ótima para não fazer nada.
Um dia eu vou escrever sobre isso: a diferença entre o tempo físico e o tempo emocional. Ajuda a entender porque a gente fala para os amigos que não teve tempo de ligar porque estava ocupado quando, em algum momento - pode ter certeza, você deve ter lido uma cópia velha de uma revista feminina por vinte minutos enquanto estava sentado no vaso.
Bom, aqui vai a minha tentativa de reconciliar o tempo emocional com o físico (aquele que mostra no relógio).
O Dubailacobaco está de volta.
Tuesday, March 27, 2012
Who cares about birthdays?
My wife, partner, friend and lover,
You know that I believe celebrating dates is just a convention that originate on a distant past, where someone decided that we needed a unit to keep track of the passage of time. It was decided time it takes for the Earth to complete one orbit around the Sun - or for our long gone ancestors, the time the Sun takes to complete one course around the Zodiac - would be it.
So our tools to measure the passage of time are mere conventions - we attribute meaning to it, although there isn't any.
Why do we celebrate Birthdays and anniversaries then?
Most people never asked this question. I did, so whenever the date comes when a friend is celebrating I try to tell them the reason why it's meaningful for me.
We sometimes take things for granted - the things we have, the things we've done and more important than anything, the people that are part of our lives.
Life is a very intense experience. So intense in fact we forget to look around and acknowledge the fact that some people make us smarter, stronger, and happier. More than that, we forget to tell them so.
That's why a birthday is important for me. It's the moment when we force yourselves to stop and give someone something in return for the impact they have on our lives. It's the moment we can tell them how important they are on making of the person who we are now.
But in your case it's different, because I don't care about the number of times the Earth has orbited the Sun or the fact you were born on March 27th.
One date is not enough to celebrate you.
I wish I could do that every day of our lives. To tell you that you make me a better, stronger and happier man - every single day we spend together.
So, my beautiful wife, partner, friend and lover, if I haven't done that enough in the past - and I'm pretty sure I didn't - I'm here to celebrate how wonderful life is while you're in the World. (thanks Sir Elton)
Thanks for letting me be part of your extraordinary life.
Happy existence.
I love you.
Gui
Monday, March 19, 2012
É uma vergonha que eu tenha postado só uma vez em um ano. Este post é para garantir que eu postei pelo menos DUAS VEZES este ano.
Testemunha Ocular
Semana passada eu finalmente assisti ao último Impossible Mission - The Ghost Protocol. Não demorou tanto assim - o filme foi lançado só há quase três meses.
Mas como ainda está passando por essas bandas? Para quem assistiu a razão é clara: Dubai é um dos cenários mais importantes do filme e por isso toda a população dos Emirados deve ter assistido ou ainda está assistindo ao filme, porque tinha um monte de gente no cinema.
Todo mundo fica curioso para ver o um lugar onde a gente já foi em um filme. É só assistir a um filme que se passa em Nova York e você se acha o máximo por reconhecer lugares onde já passou. "Olha lá, é o Central Park!!! Já estive lá". É, só você. É só ter um filme em que a história acontece em Paris e você quase se sente um dos protagonistas - olha lá, eu andei por essas ruas!
Mas quando a história se passa na cidade em que você mora o assunto é sério. Aí você não aprecia o enredo, o que importa é só o cenário - o resto é ruído. No caso de Impossible Mission eu me lembro vagamente de que tem um ator famoso - acho que o Tom Cruise - mas não tenho certeza.
Mas que o filme se passa em Dubai eu tenho certeza, porque não consegui prestar atenção em outra coisa.
Acho que os brazucas - mais especificamente os cariocas - que assistiram ao último Fast & Furious devem ter se sentido do mesmo jeito. Cada detalhe errado na cultura e geografia é quase uma ofensa à sua família. Ao invés de prestar atenção nas cenas de perseguição você fica olhando para as placas das ruas e para os outdoors - e se sente o máximo quando reconhece algum lugar onde você costuma passar.
Foi exatamente o que aconteceu com Mission Impossible. Você só consegue olhar para as paisagens.
Por exemplo, tem uma cena de perseguição em que o ator principal - ainda acho que é o Tom Cruise - corre atrás do bandido. Ele sai correndo a pé do prédio mais alto do mundo - aqui tudo é "mais", mesmo depois da crise - e logo depois está no distrito financeiro, que é onde eu trabalho. O problema é que os dois lugares ficam separados por cinco quilômetros. Aí eles viram à esquerda e estão em um bairro tradicional a 4 quilômetros de lá.
Blasfêmia!
Como é possível??!!! Isto é inaceitável. E claro que, para piorar as coisas, tudo isso acontece no meio de uma tempestade de areia de proporções bíblicas - que pela maneira que o filme coloca deve acontecer pelo menos uma vez por semana.
As inconsistências não páram por aí, mas se eu continuar listando provavelmente meus leitores vão ter seus problemas de insônia resolvidos. Mas acreditem em mim, fora alguns detalhes corretos quase nada tem a ver com a Dubai verdadeira.
É para ficar revoltado, não?
Na verdade não.
É um erro comum que nós cometemos pensar que todos vêem o mundo da mesma maneira - a nossa maneira. Fora a meia dúzia de gatos-pingados que moram por aqui, quem realmente se importa se você consegue seguir a rota dos nossas heróis pelo Google Maps? Os filmes estão distorcem a realidade para criar histórias interessantes. É sempre assim, mas nós não percebemos porque não fazemos parte do problema.
Tudo bem, Dubai não tem engarrafamento de camelos e tempestades de areia dignas de um Independence Day todo dia ímpar mas a alternativa talvez fosse mais chata do que uma cidade do meio-oeste americano.
Realidade ou fantasia? A indústria do entretenimento sempre vai preferir a que tiver mais perseguições de carro, explosões e invasões alienígenas.
Na próxima vez que seu herói favorito for para Praga, Burkina Fasso ou Tuvalu, lembre-se disso.
Sunday, July 17, 2011
A volta dos que não foram.
Bom, hoje a caminho do trabalho eu prometi a mim mesmo que voltaria a escrever aqui. Olhando a data do meu último post percebi que faz um ano que não deixava nada registrado por aqui. E não é por falta de acontecimentos.
Na última vez que escrevi ainda era a véspera da véspera do meu aniversário. Tinha sido promovido recentemente a diretor de criação regional da Young & Rubicam MENA e tinha acabado de completar 5 anos em Dubai. A Carolina, assim como agora, estava no Brasil para passar as férias e o verão estava pegando com força.
Agora, um ano depois, muita coisa mudou. Para começar eu estou de emprego novo - agora sou diretor de criação sênior da DraftFCB Lower Gulf. Maiores poderes, maiores responsabilidades. Ser gente grande pode ser um pé no saco. Mas não posso reclamar, estou me divertindo com minha equipe e estamos mudando as coisas por aqui.
Seis anos já se passaram desde que cheguei no Oriente Médio. Olha que eu achava que não ia agüentar dois meses por aqui.
Acho que meu objetivo inicial era de suportar o tempo suficiente para poder contar aos amigos que tinha morado fora. Agora três empregos, dois carros e duas casas diferentes depois eu acho que não têm dúvidas.
Eu já falei antes sobre o fato de que o extraordinário se torna mundano depois de um tempo. Acho que meu blog estava sofrendo disso ultimamente. Não era a falta de histórias para narrar, mas o fato de que agora elas fazem parte de um dia-a-dia familiar e, surpreendentemente, confortável.
Mas escrever é como comer Doritos: é só você começar que não dá para parar mais.
As histórias estão por aí...agora é só começar a escrever.
Sunday, July 11, 2010
O vôo mais longo da história.
Eu sempre achei que o vôo de Dubai para São Paulo era o mais longo do mundo. Claro que no papel tem vôos mais longos. Afinal o que são 15 horas e meia dentro de um avião em comparação com as 16 horas e meia que leva o vôo sem escalas de Dubai para Los Angeles, ou as 19 horas de duração de uma viagem de Cingapura para Nova York sem escalas - o vôo mais longo da aviação comercial nos dias de hoje? Nada, se eles estiverem apenas no papel.
Acontece que eu já voei para São Paulo, várias vezes, e posso confirmar: não existe vôo mais longo. Minha adorada esposa tem uma maneira muito interessante de descrever qual é a sensação de passar quinze horas e meia dentro de um avião: você assiste 4 filmes, lê um livro, conversa, almoça, janta, faz um lanchinho, dá umas duas dormidinhas básicas e ainda estão faltando 4 horas para chegar.
Não acaba nunca.
Mas eu descobri como estas 15 horas e meia podem se estender ainda mais, se transformarem em uma eternidade. E para isso você nem precisa estar dentro do avião.
É só deixar sua filhinha de seis anos viajar sozinha neste vôo e esperar 15 horas e meia até ter notícias delas.
Bom, na verdade são mais de 15 horas e meia porque tem o embarque, controle de passaporte, espera, vôo, pouso, controle de passaportes, bagagens...
No total foram quase 20 horas de espera até ouvir a vozinha dela dizendo que estava tudo bem. Claro que um contato muito breve, já que ela estava muito mais interessada em brincar com a priminha e a vovó Vera do que que em apaziguar os espíritos torturados por ansiedade e culpa dos seus pais. Um ótimo sinal de que tudo correu bem.
A sensação foi de que se passaram pelo menos umas 72 horas.
E não é só isso. Eu já tinha experimentado a sensação de distância antes, quando vim para Dubai e fiquei separado das minhas meninas por quatro meses. Mas a Carolina era pouco mais do que um bebê com menos de 2 aninhos e ela estava com a mamãe. O que aconteceu agora é diferente. É o momento em que você percebe que o cordão umbilical está sendo cortado e que seus filhos são entidades independentes de você, que eles podem ser felizes e prosperarem sem que os pais estejam sempre ao redor.
Claro que ela ainda é uma menina de 6 anos de idade e uma viagem para o Brasil não significa que ela vai se casar e ter filhos enquanto estiver por lá, mas é um sinal das coisas que estão por vir.
Muita gente pode achar loucura deixar crianças viajarem uma distância dessas. E eles estão certos. Mas são essas loucuras que fazem a nossa vida rica e interessante. Bom, não fazem a vida assim tão rica porque eu nem quero falar sobre o preço da passagem...
Agora é só aguentar 30 dias de saudade para poder curtir outras 20 horas de ansiedade.
Tuesday, April 27, 2010
Tá faltando assunto.
Essa reportagem foi publicada na edição de Setembro de 2009 da revista PIB (Presença Internacional do Brasil). Acho que hoje em dia os jornalistas estão entrevistando qualquer um...
Thursday, April 22, 2010
Totó, nós não estamos mais no Kansas...
A vida passa muito rápido e às vezes a única maneira de perceber isso é quando acontece algo realmente marcante.
Eu não me sinto muito diferente da minha versão de doze anos de idade. Eu continuo adorando jogar videogames, comer macarrão à bolonhesa e ler livros de ficção científica. Muita coisa mudou, claro, mas sem eventos importantes você pode sentir que as mudanças foram poucas.
A primeira coisa que me vem a cabeça foi ter passado no vestibular. Ei, passar no vestibular era coisa para gente grande, adultos com as caras pintadas e os cabelos raspados. Eu lembro assistindo os comerciais de cursinhos - lembra aquele comercial psicodélico do Etapa? (esta é para o público com mais de 35 anos de idade). Tudo aquilo parecia tão distante, os vestibulandos e universitários tão...adultos.
Mas um dia eu acordo e estou eu lá. De cabelo raspado indo morar sozinho em São Paulo. Sozinho não - numa república! Coisa de adulto.
Este foi um marco.
Outro dia eu acordo com um emprego, meu próprio apartamento e contas para pagar. Independência - e outro marco.
No outro momento estou posando para uma foto de casamento - meu próprio casamento. Mais um.
Estes eventos vão se sucedendo e fazem você parar para pensar.
Aí você se vê assistindo ao nascimento de sua filha e sente que o mundo deu muitas voltas, apesar de você continuar jogando videogame.
O próximo momento acontece quando estou dirigindo para casa de volta do trabalho. As placas estão em inglês e árabe. Estou em Dubai trabalhando há alguns meses. Uau!
Esses momentos de choque e maravilhamento vão se acumulando.
A última aconteceu recentemente. Em fevereiro, para ser mais exato. O meu chefe me chamou para uma reunião e disser que uma reestruturação estava para acontecer e que eu não seria mais diretor de criação da Young & Rubicam Dubai. A partir do mês seguinte eu deixaria de trabalhar para Dubai e passaria a ser diretor de criação regional para Norte da África e Oriente Médio. Catorze países. Infinitas responsabilidades. Mais um grande frio na barriga.
E a vida segue em frente, sempre arrumando um jeito de mostrar para você que tudo muda e que seguimos em frente.
Mas eu continuo gostando de macarrão à bolonhesa.
Monday, April 19, 2010
Agora sob nova direção
Visite Decorado
Eu costumo dizer que nós temos que nos definir pelo que fazemos. As besteiras e as coisas boas, as grandes sacadas e as grandes mancadas.
Como quase todo mundo passa a maior parte de sua vida adulta dentro de um escritório, o que se passa lá dentro.
Mas como um bancário mostra o seu legado? Ele coleciona fichas de depósito de cheques e retiradas bem feitas?
Ou o padeiro? "Ei, dá só uma olhada neste pão maravilhoso que eu fiz em no dia doze de outubro de 1998..."
Ou o funcionário público mostrando orgulhoso sua coleção de carimbos. "Este carimbo aqui era especial, eu só usava às terças-feiras. Tinha uma fila de três meses esperando pela oportunidade..."
O que acaba acontecendo é que a única coisa que a maioria das pessoas guarda de lembrança é o relógio que eles dão quando você completa 25 anos numa mesma empresa.
A vida do publicitário pode ser cheia de altos e baixos, como qualquer outra mas tem uma grande diferença: estes altos e baixos em geral são bem documentados. Isso porque em geral os criativos das agências de propaganda mantém um portifolio com seus anúncios.
Em vez de currículos, carregamos pastas embaixo do braço com exemplos de trabalho que executamos no passado. E essa é a maneira para despertar o interesse nos nossos possíveis contratantes.
O portifolio deveria mostrar o que o profissional fez de melhor, o que não garante a qualidade.
Há algum tempo atrás os portifolios começaram a ser substituídos por laptops e, mais recentemente, por versões online dos mesmos.
Para mostrar que faço parte deste grupo estatístico gastei algum tempo colecionando algumas coisas que fiz durante a parte mais recente da minha carreira e coloquei tudo na rede, para que todo mundo tenha a chance de admirar ou detestar o conjunto do meu trabalho.
Por isso, se alguém tiver um tempo sobrando para tentar decidir se sou ou não uma fraude, aí vai:
The last two days have obviously not been the best days of our agency and more so for some of our colleagues that no longer have an opportunity to share our work space/life. While we wish them all the very best for their future and hope that some day our paths will cross again, there are still a few things that we can be proud of as people and as an agency. It's a new day and with it will come opportunities for change, growth and success.
I have always believed that an organisation anywhere, in any business and at any stage of it's life cycle is always in beta mode. Meaning that there is always room for improvement. And since our agency has gone through the stress over the last couple of years of facing structural and cyclical pressures, change was inevitable. And it is good. That said, here's some news that should inject the much needed momentum into Y&R Dubai.
I take great pride in announcing that Nadine Ghossoub has been promoted to the position of MD of Y&R Dubai, she takes over my role here. I don't believe I need to elaborate on the qualities that make her an ideal choice for the role but I do know that she is the change agent our agency needs. In choosing her as my successor I considered the values that make a successful agency head, have the greatest opportunity to maintain and enhance the culture of the agency. But those are benefits that concern the transition process to ensure it is effortless, her real value is her talent, skill and being the person that she is. Nadine epitomises the passion one needs to be successful in this business, she has the commitment and most importantly the drive to push the agency forward and to push all of you to achieve your best. She takes over the agency at a very difficult time and will surely need your support. A good part of an organisation's success comes from it being a cohesive unit, I expect everyone of you to be aligned with her so she can succeed in her role and in turn give the agency it's best chance to succeed.
All the best Nadine.
Komal Bedi Sohal is now promoted to the role of Executive Creative Director. She will take over Shahir's role, no doubt those are big shoes to fill but Shahir sees in Komal the Manager that the Creative department needs. She has had the privilege of working closely with Shahir over the last 8 years, understands the needs of the agency, knows how to meet and set the creative standards this agency has been and will continue to be proud of. She will bring immense amount of skill, talent, energy and organisation to her job. She will also need your goodwill and support to ensure she continues to deliver the high quality output we have all expected of her over the years.
Komal, my friend, good luck, you will do a wonderful job.
Wilbur D'costa and Guilherme Rangel have been promoted to the role of Regional Creative Directors. This is the team that has been the pillar of our creative department, always dependable yet packing a punch. I have always been impressed by their no fuss approach, and never-say-die attitude. Wilbur and Guilherme have over the years, worn many hats in this agency and their dedication to every responsibility has been exemplary. We should all be proud of the way this team has fronted every big pitch that this agency has put together in recent memory and have handled all our major clients with professionalism and good humour. In their new role, they will be responsible for the creative output of all Y&R agencies outside of Dubai.
Gui and Will, we're counting on you to make the whole network shine.
Matthew Collier has been promoted to the role of Regional New Business Director for Middle East and North Africa. Matt in a span of a little over two years has become such an integral part of the agency that it feels he's been with us forever. He brings an incredible amount of enthusiasm and discipline to his job. Everyday. He has also proved beyond doubt his passion for the agency, he represents us well. In his new role he will bring value to the network and ensure that we leverage every opportunity to gain business and grow. It's a big job and he will need all our support.
Matto, good to have you on our team.
Yogesh has been promoted to Finance Manager of Wunderman in addition to Y&R (a job he has done exceedingly well judging by the number of people who hate him!). Yogesh is an invaluable asset to the agency, in his single minded pursuit he has added tremendous of value to the agency and brought about a sea change in the way our Finance department has functioned. Before I met Yogesh I had no idea people in his profession can be as passionate as he is, that's what makes me want to come to work everyday. The fact that our Finance Manager has passion too and does his job to exacting standards.
Yogesh, go ahead make everyone at Wunderman miserable too. Be the best Finance Manager the world will know.
As for Shahir and myself, we've been tasked to push the Y&R network both creatively and strategically. Our job will be to find the right opportunities and relentlessly pursue the goal of making our network the most efficient and envied in the entire region.
All the best to all of us.
Onwards. Adil A Khan | Y&R
Thursday, December 03, 2009
Novas Aventuras em Technicolor
A vida do profissional é assim: cada dia um novo desafio. Se você gosta de estabilidade, previsibilidade e controle, passe longe. Tudo muda a cada semana. Cada projeto é completamente diferente do anterior. Improviso e capacidade de se adaptar são necessidades darwinísticas. O que funcionou da última vez talvez - e muito provavelmente - não vai funcionar na próxima. Para o criativo a vida é realmente uma caixa de chocolates.
O último bombom que eu tirei desta caixa não fugiu à regra. E no final quase deu uma baita indigestão.
Tudo começou no final de setembro quando recebemos um briefing urgente para uma concorrência. o prazo era curto: meio dia para criar um slogan e cinco dias para criar uma campanha para um cliente inusitado: o comitê responsável pela candidatura do Qatar para ser a sede da Copa do Mundo™ de 2022.
A primeira coisa que me saltou aos olhos foi a data: 2022! Para um cara que não faz planos nem para o almoço do dia - e isso geralmente nem depois do horário do almoço - 2022 parecia infinitamente distante.
Para mim 2022 é uma data de ficção científica, remota, impossível. Carros voadores, máquinas pensantes, clones, a Ponte Preta campeã...tudo parece possível quando você pensa numa num futuro tão distante como esse.
Mas ali estava eu, sentado com meu dupla e tentando criar uma campanha para vender o Qatar como sede da Copa de 2022, que só vai acontecer em treze anos. E nós só tínhamos cinco dias. Nem sempre a vida faz sentido.
Mas como um paisinho (é assim que se escreve mesmo, eu vi no dicionário) de um pouco mais de um milhão de habitantes e um pouco maior que tamanho do parque do Anhangabaú tem cojones para se candidatar a ser sede do evento esportivo mais importante do mundo?
Primeiro: eles têm dinheiro.
Segundo: eles têm MUITO dinheiro.
Terceiro: eles têm dinheiro para cacete!
Os caras estão sentados em reservas de óleo gigantes e tem a terceira maior reserva de gás natural, depois da Rússia e do Irã. O país tem a segunda mundo renda per capita do mundo, logo atrás de Liechtenstein - que é só um pouco maior que o quarto de empregada da minha casa.
Pois é, os caras têm dinheiro e têm vontade. Agora é a hora de provar ao mundo que eles são capazes de bater países como a Inglaterra, Holanda, Austrália e se tornarem o primeiro país Árabe a sediar uma Copa.
Para isso eles contrataram os melhores consultores do mercado. Gente que vive de preparar projetos e apresentações para os comitês olímpicos e Fifas da vida. Haja especialização.
Mas para anunciar o projeto e buscar apoio eles precisavam de divulgação. E para divulgar, você precisa de uma campanha. Para ter uma campanha, você precisa de uma agência. E se você não tem uma agência, faça uma concorrência. Mas para tudo ficar mais interessante, dê muito menos tempo do que o necessário para criar a campanha com tranquilidade.
Cinco dias.
Cinco dias olhando um para a cara do outro com os pés em cima da mesa. Cinco dias rabiscando coisas em blocos de anotação. Cinco dias pensando: caramba! Desta vez eles descobrem que sou uma fraude.
Mas como diria Eugênio Mohallem, todo briefing é o pior briefing do mundo - até que você tem uma idéia. Aí vira o melhor briefing do mundo. Para mim, na maior parte dos casos, o briefing bom é o briefing morto.
Para o leitor que não faz a mínima idéia do que eu estou falando quando menciono "briefing", o dito cujo nada mais é do que o documento que explica para o pessoal da criação o que a campanha que eles estão criando tem que fazer para o cliente. O que temos que falar, como temos que falar, quem temos que falar e, claro, quanto dinheiro temos para falar.
No caso - coisa rara nestes tempos de crise - o dinheiro era muito. O público-alvo, diverso - enorme.
Estávamos criando para quatro públicos:
Primeiro - os cidadãos do Qatar (a galera com aquelas roupas de milionário de petrodólares árabe) e os residentes do país - que é quase tão misturado quanto os Emirados Árabes.
Segundo - o resto dos árabes, para buscar apoio à causa.
Terceiro - o resto do mundo, para mostrar que a idéia de ter uma Copa num país árabe não é uma loucura.
Quarto - para o comitê da FIFA que vai decidir onde a Copa vai realmente acontecer.
Resumo da ópera: a idéia era fazer um filme que impressionasse todo mundo, sem se preocupar com dinheiro.
Em tempos de crise mundial e colapso da indústria da propaganda a possibilidade de criar produzir uma campanha sem se preocupar com a quantidade de dinheiro envolvido oferece uma sensação comparável a ganhar na loteria - sozinho, sem bolão.
Sentamos eu e meu parceiro e criamos os comerciais mais mirabolantes e megalomaníacos. O prazo era curto e a pressão enorme.
Segundo as regras da concorrência devíamos entregar o material da campanha para uma pessoa do marketing do cliente até o fim do último dia. Ela estava viajando de Dubai para o Qatar e iria se reunir com a diretoria - incluindo o príncipe responsável pelo projeto - na manhã do dia seguinte para decidir quem era a agência ganhadora.
Claro que para deixar a história saborosa nós terminamos depois do prazo e um dos diretores da agência teve que sair enlouquecido para entregar o material à cliente no portão de embarque do aeroporto, 2 minutos antes da decolagem.
(Pausa para respiração.)
Duas semanas se passam e nenhuma notícia do cliente.
Finalmente uma ligação: parabéns, vocês são a agência escolhida para desenvolver a campanha para a candidatura do Qatar à Copa do Mundo de 2022.
(fogos de artifício)
Parecia que tínhamos ganhado a Copa - o que não estava muito longe da verdade. Num momento em que até o dinheiro do pãozinho faz diferença, uma vitória grande dá injeção de ânimo enorme. Mais ou menos como tomar Red Bull com um cafezinho.
Depois da comemoração chega a hora de entender qual o tamanho da encrenca. Um jogo entre o Brasil e a Inglaterra estava programado para acontecer no Qatar em 7 semanas - evento essencial para provar a capacidade do país para os delegados da FIFA - e o comercial oficial do lançamento da candidatura deveria estar pronto para ir ao ar naquela data.
Ao contrário do que muita gente pensa, publicitários não filmam comerciais, eles contratam diretores e produtoras que vão tomar conta do trabalho. Nossa função é ficar na sombra tomando suco, comendo petiscos e dando opiniões.
Começa a busca por diretores de comerciais e companhias de produção. Como prazo era muito curto e a produção complicada, cheia de efeitos especiais, poucas companhias estavam dispostas a se envolver, mesmo com todo o dinheiro disponível. Tudo teria quer ser feito em seis semanas, prazo muito curto para um comercial deste tamanho.
Depois de dúzias de ligações telefônicas, centenas de emails trocados e muitas horas dentro de salas de reunião chega a hora da verdade. Diretores escolhidos, orçamentos prontos, referências selecionadas, tudo pronto para a aprovação imediata do cliente e o início da produção. Aí vem uma conference call - coisa que eu detesto - para receber o sinal verde do cliente.
Mas as coisas não foram tão simples assim. Conference calls já são coisas confusas por natureza, parece que ninguém sabe exatamente o que o outro lado está dizendo, mas no final todo mundo concorda e sai achando que sabe o que tem que fazer. Mas neste caso foi ainda mais confuso: o que a cliente dizia, os comentários que ela fazia, não batiam com o roteiro que tinha sido aprovado - e orçado.
De repente vem a descoberta: ela estava falando de outro roteiro que tínhamos mandado. A desmiolada havia aprovado um roteiro com a diretoria da candidatura e trocado o nome com outro roteiro que havíamos mandado. Inacreditável. Uma semana perdida.
O resultado é que tivemos que refazer todo o trabalho de orçamento em dois dias, uma insanidade, mas ficou pronto - seis semanas antes da data de entrega, o nosso limite.
O que acontece na sequência é uma tradição nas relações agência-cliente: eles desapareceram. Ficamos decepcionados, pensando se eles haviam desistido de produzir o comercial. Foi bom enquanto durou...
Mas eis que eles reaparecem, três semanas antes da data limite, dizendo:
– Precisamos do filme pronto para o jogo do Brasil x Inglaterra em Doha. Não importa o custo!
Nenhuma produtora aceitaria um projeto de risco com prazo tão curto como esse, mas o cliente sugeriu uma companhia que havia trabalhado com eles que dizia que seria capaz de entragar no prazo. E eles tinham experiência com candidaturas para grandes eventos esportivos, tendo sido responsáveis pelos comerciais de lançamento da candidatura de Londres aos Jogos Olímpicos, entre outros.
Era um tiro no escuro, mas não tínhamos opção. A única condição que colocamos era a de selecionar o diretor, alguém sabíamos que iria fazer o comercial acontecer.
Sinal verde. Começam três semanas de tensão, confusão, tragédia e, no último segundo, triunfo.
A produção foi cheia problemas e situações inesperadas, desorganização e mudanças. O Qatar já é um lugar difícil de se trabalhar pela falta de profissionais experientes disponíveis, junta-se isso a uma produtora sem pulso firme, que gastava mais tempo fazendo política com o cliente tentando minar nossa credibilidade do que cuidando do filme, e você tem uma situação propícia para o surgimento de muitos cabelos brancos na cabeça de um diretor de criação.
Mais de dez locações, mais de 500 extras e atores, helicópteros, ônibus e muito protetor solar depois eu estava indo para Londres para a pós-produção - incluindo os efeitos especiais.
Minha primeira viagem para Londres foi interessante por um lado - passei cinco dias dentro dos estúdios The Mill, talvez a melhor empresa de pós-produção de publicidade do mundo. Você entra na recepção e se vê cara-a-cara com um Oscar que eles ganharam pelos efeitos especiais de Gladiador. Por outro lado foi decepcionante porque passei cinco dias dentro dos estúdios The Mill, sem conseguir ver quase nada de Londres.
Claro que a diretora de produção ainda criou mais problemas, tentando remover o diretor do comercial da edição e falando diretamente com o cliente - pecado imperdoável. No final o cliente ficou do nosso lado e aprovou nossas versões, para o desgosto daquela que havia se tornado nossa antagonista.
Enquanto isso acontecia uma equipe de mais de vinte pessoas estava trabalhando 24 horas por dia para criar os efeitos finais do filme, usando a mesma tecnologia desenvolvida para criar as batalhas de O Senhor dos Anéis.
Saí correndo para o aeroporto com um DVD embaixo do braço. Tínhamos que apresentar o filme na manhã seguinte para o príncipe e conseguir sua aprovação final. Mas só tinha um complicador: o filme estava incompleto e os efeitos especiais finais só ficariam prontos durante a noite, enquanto eu voava para o Qatar. Era chegar de manhã e rezar para que a versão final estivesse pronta para o download.
É incrível que depois disso tudo as coisas possam ter dado certo. Cheguei a tempo no aeroporto, conseguimos fazer o download quando chegamos e o filme foi aprovado por sua santidade, digo, sua alteza digo, sua excelência.
Missão cumprida.
Bom, chega de contar história e vamos para o filme.
Beautiful People
Monday, September 28, 2009
Pequenos Conflitos
Chega um momento na vida de quem tem filhos que diferenças irreconciliáveis aparecem. Em geral você espera que isso aconteça na adolescência ou na idade adulta, nunca quando sua filha tem apenas seis anos de idade.
Mas aconteceu.
Recentemente minha querida amiga Luciana Tafarello, mulher do também grande amigo André, mandou através de uma amiga nossa um pacote do material mais precioso do universo: amendoim Mendorato. Pode parecer um exagero para o público brasileiro, que só precisa dar uma passada em um Pão de Açúcar ou Carrefour para comprar um saquinho do Chateau Margaux dos amendoins japoneses, o amendoim japonês que deu origem à série, o amendoim japonês dos amendoins japoneses, mas para um fã incondicional longe da pátria amada, um pacotinho de Mendorato é como água para um beduíno perdido no deserto - analogia muito pertinente para quem mora no Oriente Médio.
Eu sabia que a minha pequena Carolina gostava de uns Mendoratos. Uma vez ela comeu tanto que até passou mal. O que eu não sabia é que ela é tão fão quanto este seu interlocutor. O primeiro sinal de quão grave era foi quando o pacote chegou às minhas mãos e imediatamente ela pediu para abri-lo. Eu devia ter percebido o que estava para acontecer, mas na minha ignorância do amor paterno eu deixei passar, enchi um pratinho para ela e fui cuidar dos meus afazeres.
Em geral um pacote de Mendorato dura várias semanas nas minhas mãos. Grãozinhos são comidos um a um, com grande prazer. Por isso uma semana depois fui tranquilamente pegar a minha dose semanal esperando encontrar o pacote cheio. Pare meu choque só encontrei os restos mortais dos Mendoratos que lá estiveram - um punhado de casquinhas e algumas lascas de amendoim. Demorou alguns segundos para entender o que tinha acontecido. Com o pacote vazio na mão olhei para a Carolina e perguntei:
- Carolina, o que foi que aconteceu aqui?
E ela respondeu:
- Acabou. Quero mais!
Ainda estou em choque.
Monday, September 14, 2009
Luzes, Câmeras... Ação!!!
Nas últimas duas semanas eu estive envolvido na filmagem de mais um comercial para a Sony.
A produção de um comercial é um processo cansativo e demorado, que começa com um pedido do cliente: quero um anúncio para TV para tal produto. Aí, na teoria, você senta, tem umas idéias, escreve o roteiro, se o cliente exigir faz um storyboard - espécie de história em quadrinhos feita para explicar o comercial - apresenta, aprova, entra em contato com produtoras de comerciais, escolhe o diretor, conversa com os diretor, espera o diretor preparar uma descrição de como ele vê o comercial sendo filmado, faz comentários, aprova a visão do diretor, aprova a escolha do diretor com o cliente, começa a produção, participa da seleção de atores, locações, etc., apresenta tudo para o cliente em uma reunião demorada e complicada em que cada detalhe da produção é abordado - incluindo cada tomada que vai ser filmada - e aí finalmente começa a filmagem.
Ufa!
No caso do comercial de Sony o processo se arrastou por mais de 2 meses. As idéias iniciais foram rejeitadas. A segunda leva também. O cliente, ainda não convencido, pediu mil alterações que acabaram transformando os comerciais no primo feio do Frankenstein.
Na minha opinião idéias são como uma cobertura de bolo: quanto mais gente põe o dedo, pior fica.
Um pequeno aparte. Quando digo "cliente" não estou me referindo a uma pessoa específica que tem o direito e dever de dizer sim ou não - para o bem ou para o mal. Estou usando um termo aproximado para descrever uma massa amorfa de pessoas com formações, expectativas e agendas diferentes, que tem como missão definir o destino do comercial que você está apresentando. Em geral você encontra em apresentações clientes que se enquadram em duas categorias "good cop" e o "bad cop", mas outras personalidades interessantíssimas fazem parte integrante do processo. Temos, por exemplo o "eu-não-deveria-estar nessa-reunião cop", o "sou-um-estagiário-que-quer-impressionar cop", o "porque-estamos-desperdiçando-dinheiro-em-propaganda-quando-deviamos-estar-investindo-em-promoção cop", o "comentários-são-bem-vindos-mas-quem-manda-aqui-sou-eu cop", o "você-tem-toda-razão-chefinho cop" e, talvez o pior de todos, o "eu-não-tenho-a-menor-idéia-do-que-eles-estão-falando-mas-vou-dar-minha-opinião-assim-mesmo cop".
Quanto maior o projeto, maiores as chances de que todos estes exemplares da fauna mercadológica sejam encontrados numa mesma reunião. E maior o número de opiniões desconexas distribuídas. E menores as chances de que o comercial que você vai produzir no final cheire um pouco melhor do que uma pilha fumegante de esterco fresquinho.
Cada uma das reuniões de apresentação que tivemos o elenco de apoio mudava, assim como as opiniões - e as chances de produzir no final algo que prestasse iam ficando menores do que as chances de ficar mais inteligente assistindo reality shows.
No final do último round, depois de alterar o nosso roteiro até que a única coisa que lembrava a idéia original era o papel em que ele estava impresso, o cliente fala: o roteiro agora está OK, mas vocês têm mais alguma idéia para apresentar?
Diz a sabedoria que chega um momento em que você tem que parar de apresentar novas idéias e começar a produzir alguma coisa. Em tempos de crise não dá para ficar sendo precioso e idealista, tem que fazer dinheiro entrar. Conhece aquela máxima que diz que o bom é inimigo do ótimo? No nosso caso eu diria que o péssimo é inimigo do muito ruim.
Mas desta vez eu decidi não ser prático e respondi para eles: sim, temos mais uma.
Depois de mais de 15 anos trabalhando em propaganda ainda existem momentos em que coisas surpreendentes acontecem. Por exemplo, um comitê de clientes difíceis aprovar uma idéia sem nenhuma alteração. E foi o que aconteceu, para nosso choque. A idéia permaneceu viva, quase intocada, por mais dois rounds de apresentações, para pessoas completamente diferentes.
Milagres acontecem. O roteiro foi aprovado.
Depois da concepção, a gestação - ou produção. Hora de entrar em contato com dúzias de companhias produtoras de comerciais, ver o trabalho de dezenas de diretores - a maioria deles horrível mas um ou dois que realmente fariam a diferença - para escolher o ideal. Fazer malabarismo com o dinheiro disponível. Uma verdade básica da propaganda: sua idéia sempre custa 20% a mais do que a verba do cliente.
Produtora escolhida, diretor confirmado. Chega a hora do longo e doloroso processo de produção. Tudo tem que ser escolhido e aprovado. Atores, locações, roupas, elenco de apoio, extras, música, fotografia... Cada cena, cada ângulo de câmera tem que ser definido e compartilhado com a agência e o cliente. Emails vêm e vão.
O prazo, claro, também é curto. No final acontece uma longa reunião de pré-produção em que todos os detalhes são apresentados, discutidos e, se a sorte está do nosso lado, aprovados. É uma reunião longa, monótona e tensa em que todos os aspectos da produção são discutidos à exaustão. Neste caso estávamos filmando o comercial em Beirute e o cliente estava em Dubai e toda a reunião foi feita por teleconferência - uma coisa que eu detesto. Ninguém se entende e ninguém entende o que está acontecendo do outro lado. E todo mundo age como se tudo estivesse sob controle.
Neste caso especificamente tudo deveria ter sido muito mais tranquilo, porque os pontos mais importantes da reunião - atores e locações - já haviam sido aprovados pelo cliente. O problema é que eu não contava que "sou-eu-quem-manda-e-não-quero-saber-se-já-foi-aprovado-antes cop" fosse aparecer e estragar a festa. De repente, a dois dias da filmagem, todas as locações foram rejeitadas. E você não sabe como isso pode afetar uma produção. Primeiro você precisa de permissões para filmar em um lugar, depois você vai lá e define onde cada câmera vai ser colocada, cada ângulo. Aí você faz um shooting board - uma espécie de storyboard ainda mais detalhada de cada tomada que você vai fazer. Complicado e demorado. De repente, a dois dias da filmagem, estávamos sem nada confirmado. E pior, o lugar que o cliente queria que filmássemos não estava disponível. E para complicar ainda mais o "sou-eu-quem-manda-e-não-quero-saber-se-já-foi-aprovado-antes cop" disse que tinha um contato em Beirute que iria conseguir a tal permissão - coisa que não aconteceu.
O que aconteceu é que a equipe de produção perdeu dois dias de preparação tentando resolver este problema pois no final, após umas mudanças cosméticas nas locações apresentadas antes, o cliente decidiu ir em frente com a nosso seleção original. Perda de tempo e energia. Mas que filmagem que acontece sem nenhum estresse? Ainda estou para ver.
Filmagens são das coisas mais tediosas que existem. Você fica de doze a catorze horas por dia sentado numa cadeira olhando para um monitorzinho sendo alimentado o tempo todo com comida da pior qualidade e refrigerantes. Claro que nem tudo é diversão - você tem que ficar ligado e dar opiniões a cada 5 minutos, para garantir que sua visão está sendo respeitada, algumas vezes tendo que brigar para que isso aconteça.
Dois dias - no caso desta produção - depois as filmagens acabam e começa o processo de pós-produção. O material é editado, apresentado, modificado, apresentado, processado, apresentado, modificado, apresentado, modificado, apresentado...até que todos estão satisfeitos ou o prazo final é alcançado e não há mais tempo para mudar mais nada - o que geralmente acontece. Esta produção especificamente seguiu todos esses passos.
O que eu posso dizer é que depois disso tudo você nem consegue olhar para o produto final - o comercial. É tanto o seu envolvimento que você não aguenta mais assisti-lo, não sabe se é ruim ou bom, divertido ou chato.
Vou deixar você leitor (se é que ainda existe um, já que não escrevo neste blog há dois meses) decidir o que acha.
Thursday, July 16, 2009
Na Lama.
Chegou o dia.
A tão antecipada - e adiada - mudança de endereço da agência finalmente aconteceu. Depois de uma semana inteira de caos, caixas empilhadas e gente distraída pelo barulho e confusão o dia chegou. Quinta-feira, enfim o último dia da Young & Rubicam Dubai na badalada Jumeirah Beach Road.
Foram mais de 9 anos de espera para a tão falada mudança. Só para se ter uma idéia quando eu fui contratado pela agência eles me falaram que mudaríamos em alguns meses - e isso foi há quase 3 anos.
Mas o dia finalmente chegou e para comemorar o evento alguém teve a idéia de fazer algo singelo e intimista: uma guerra de lama no meio da agência. E como, o lugar seria renovado, que tal quebrar tudo no processo? Grande idéia.
E foi o que aconteceu.
A quinta-feira começou normal, até que me arrumaram uma marreta. Aí começou a demolição. Quase todas as paredes foram destruídas por uma turba cada vez mais incontrolável. Mas o melhor estava por vir - uma piscina infantil cheia de lama esperava por todos os foliões logo depois do almoço.
Quando você trabalha em propaganda em geral se acostuma a ver coisas que banqueiros, engenheiros e até mesmo pessoas de marketing achariam um tanto estranha. Mas a visão de umas quarenta pessoas cobertas de lama brincando no meio de um escritório eu diria que não é algo que se veja todo dia.
Tenho que confessar que eu estava tentando me manter afastado mas chegou um momento em que fui cercado e recebi um ultimato: ou iria para a piscina por bem ou por mal. Preferi a segunda opção, principalmente porque me deu a chance de tirar o tênis e respirar fundo antes de ser lançado na lama.
No final da brincadeira eu estava enlameado até do lado de dentro das pálpebras.
Claro que depois de estar coberto de lama não tem como manter a pose por isso me juntei aos foliões e fiz a vida de quem estava limpo miserável. E eu não estava sozinho. Junto de umas 25 pessoas estavam o diretor de criação executivo e o nosso diretor geral - os rola-grossas.
Mais foi muito pior do que se imagina o caos que se instaurou. A mudança ainda não tinha acabado. Aliás, mal tinha começado. A mobília, que viria para a nova agência, ficou completamente enlameada. Os computadores foram tirados às pressas pelos heróis do departamento de IT - os caras tinham que desplugar os as máquinas e levar tudo enquanto desviavam de jatos de lama que voavam para todos os lados. Uma cena digna de um filme sobre a primeira guerra mundial. A única diferença é que os caras de IT estavam mais tensos que os soldados correndo em direção às metralhadoras inimigas.
Quase todo mundo tomou uns tombões dignos de vídeo cassetada - inclusive o autor deste blog. A maior parte caiu na lama. Alguns no chão duro - inclusive, infelizmente, o autor deste blog.
No final como entrar no carro e ir para casa? Eis a grande questão. Alguém teve a linda idéia de ir para os banheiros e se lavar lá. Para você imaginar como o lugar ficou depois da baderna, pense no que aconteceria se um elefante tivesse um caso gravíssimo de diarréia explosiva em banheirinho. Deu para imaginar.
Parcialmente limpos fomos todos à pé para a praia para completar nosso ritual de despedida.
Que coisa suja, infantil, destrutiva - e memorável.
À vezes a gente tem que parar para apreciar coisas extraordinárias que acontecem nas nossas vidas que pensamos que são comuns.
Não é impressionante como a mente humana funciona? Imagine se esta energia e criatividade fosse aplicada para curar doenças, evitar o aquecimento global ou acabar com a fome. O mundo seria um lugar muito melhor - e com certeza muito mais chato.
Monday, June 29, 2009
Clique para ver a versão ampliada.
Saturday, June 13, 2009
Quatro Anos de Dubai.
Há quatro anos eu chegava no aeroporto de Dubai pela primeira vez como residente. Não apenas como residente, mas como um cara que estava morando pela primeira vez longe do seu país.
Achei que não iria conseguir ficar mais do que um mês aqui.
Acho que umas das razões para ter aguentado no começo foram não a minhas expectativas, mas as expectativas dos outros. Todo mundo estava tão empolgado com a minha aventura que eu iria me sentir muito bundão voltando depois de duas semanas. Às vezes funciona assim.
O começo difícil passou e muitos altos e baixos vieram - como em qualquer outra experiência. Hoje estou no meu segundo emprego, segundo carro, segunda casa. Ou seja, posso contar para todo mundo que oficialmente morei em Dubai.
Quatro anos e contando.
Thursday, June 04, 2009
Carruagens de Fogo
Não é fácil acordar às 6 da manhã para correr. Este é o único horário que eu tenho livre, porque levo minha filha todos os dias para a escola.
A preguiça é enorme. Só o fato de conseguir acordar neste horário já deveria ser digno de uma medalha olímpica - bronze, pelo menos.
Faço meu alongamento sentindo que meus músculos são correntes enferrujadas que recusam a se mover, implorando para serem deixados em paz, estáticos e tranquilos.
Depois de vencer a resistência inicial comecei a correr. Apesar do calor por volta de 30 graus - bem fresquinho para os padrões de Dubai - e da umidade sufocante que me fez ficar parecendo um picolé de limão derretendo na mão, no calor da praia no Rio, eu estava indo surpreendentemente bem.
Em geral eu corro até o centrinho comercial que tem no nosso condomínio e volto - um circuito de mais ou menos uns cinco quilômetros que é o suficiente para te deixar com a sensação de dever cumprido pela manhã.
Mais ou menos na metade do percurso eu estava mais do que satisfeito com meu resultado. Não estava só sobrevivendo à experiência, mas a performance estava bastante decente. Tão decente que ao invés de ficar usar toda a capacidade do meu cérebro para pensar em desculpas para parar de correr, eu estava pensando em outras coisas. Vida, trabalho, projetos em andamento, idéias para posts...
Foi quando fui ultrapassado.
Todo mundo que corre sabe que não é nada prazeroso ser ultrapassado. Nosso impulso inicial é sempre dar o troco e mostrar quem manda. Mas são coisas da vida - sempre tem alguém que é mais rápido, treina mais, tem mais resistência. Alguns tem todos os atributos em uma só embalagem.
Mas neste meu momento de distração eu fui ultrapassado - por uma garota. Depois que você completa trinta anos você passa a tratar todas as mulheres como garotas, por isso a idade dela não importa - só o fato de ela ser uma garota e ter me ultrapassado.
Minha primeira reação foi de dar o troco, mas mesmo no meu cansaço e com a mente nublada pelo calor e a umidade refleti sobre minha atitude.
É realmente justificada a reação? É realmente tão ruim assim ser ultrapassado por uma mulher? Será que eu devo agir como um porco machista e ultrapassá-la para mostrar quem é superior? Será que temos que continuar vivendo de acordo com antigos estereótipos ou é o momento de questioná-los?
Muitas coisas passaram pela minha cabeça, e no final decidi que não iria ultrapassá-la. Continuei minha corrida no mesmo ritmo em que estava, como se nada tivesse acontecido.
E mostrei ao mundo que não sou um porco machista. Sou um porco machista fora de forma.
Thursday, May 28, 2009
Celebrando a chegada do Metrô de Dubai.
Trocando Figurinhas
Outro dia parei para pensar como a tecnologia é extraordinária. Estava em Los Angeles andando na Sunset Boulevard e de repente recebi uma ligação - no meu telefone. O mesmo telefone que eu carrego para cima e para baixo em Dubai estava ali tocando, literalmente do outro lado do mundo, me ajudando a conectar com uma pessoa a mais de quinze mil quilômetros de distância.
Tudo bem que era um operador de telemarketing tentando me vender algo, como sempre, que eu não tinha a menor intenção de comprar, mas acho que dá para pegar a idéia.
Logo depois eu estava na sede da companhia que estava produzindo o comercial que eu estava supervisionando. Tirei meu laptop da mochila e, sem ter que fazer nada, estava conectado na internet, checando meus emails, dando uma olhada na minha página do Facebook para ver o que meus amigos andavam escrevendo, acessando o Twitter para ver o que as pessoas andavam fazendo ultimamente e para deixar algum documento escrito, um comentário, que refletisse o momento. Não tive muito tempo, porque o ritmo de trabalho não permitia, mas se quisesse poderia também ter acessado minha página do Orkut para ver o estava rolando, poderia também abrir o MSN para ver quem estava online, dar oi para algum amigo ou esperar ser descoberto por alguma pessoa.
E não dá para esquecer também o Skype...fazer ligações internacionais de uma hora para um telefone fixo ou celular e pagar o preço de uma bala juquinha consegue ser quase tão bom quanto comer amendoim Mendorato. Isso sem falar no fato de que se você estiver falando de computador para computador ainda dá para usar sua câmera e ver seu interlocutor.
Neste mundo moderno as possibilidades de conexões com nossos amigos, parentes, filhos, filhas, colegas de trabalho, clientes e operadores de telemarketing são infindáveis. Se a conexão estiver boa dá para mandar uns Twits do alto do Everest, postar uns comentários na página do Facebook do seu amigo direto da fossa das Marianas.
E eu me lembro como era extraordinário quando eu estava viajando de bicicleta pelo sul do Brasil em 1992 com meu amigo Luli. Eu parava em um orelhão no meio do nada e conseguia fazer uma ligação - a cobrar - para a casa do meu pai. E isso sem sair da bicicleta.
Mágica!
Mas nesta minha última viagem aos Estados Unidos percebi que este excesso de conectividade também cria uma ilusão de proximidade.
Aproveitei que tinha alguns dias livres durante o processo de pós-produção e comprei uma passagem para o Colorado, para ver minha irmã que mora perto de Denver.
O encontro foi uma felicidade enorme. Tinha me esquecido como é bom papear com minha irmã e papo para colocar em dia não faltava. Meus sobrinhos, Ian e Matthew, estão enormes, divertidos, ativos e inteligentes. Eles adoram ler e falar sobre ciência - astronomia, biologia, geologia...e olha que são dois pivetes de nove e sete anos de idade!
No meio de toda essa agitação eu e minha irmã demos uma escapada para uma cidade no meio das Montanhas Rochosas onde tem uma piscina natural com água que vem de uma fonte geotérmica. Seria sensacional se não tivéssemos ido no único dia do ano em que eles esvaziam a maldita piscina para limpeza e reparos. Por conta disso decidimos estender nossa viagem para dar uma olhada em Aspen, a estação de inverno dos muito-ricos americanos. Como o inverno já tinha passado e a única neve que sobrou mais parecia algodão doce queimado, a cidade estava vazia - mas tiramos muitas fotos engraçadas.
Papo não faltou. Histórias, causos, fofocas, nossa conversa não tinha fim. Até que num determinado momento nos demos conta - eu ia falar "caiu a ficha" mas achei que ia soar muito velho - de que não nos víamos pessoalmente há quase cinco anos.
Como é que você consegue ficar sem ver sua irmã por cinco anos?
É o que eu chamo de ilusão de proximidade, o efeito colateral criado pela conectividade nas nossas vidas.
Nestes cinco anos nos falamos por telefone, email, trocamos mensagens pelo Orkut, deixamos recados nos scrapbooks, nos falamos pelo Skype só com voz e depois usando as câmeras também. É quase como se tivéssemos nos encontrado pessoalmente. E por que não seria? Afinal eu pude falar com ela, ouvi suas histórias e vi sua imagem.
Mas não é a mesma coisa.
Ao mesmo tempo que nos aproximam estes meios criam a ilusão de que estamos próximos. Ter um ícone com a foto de um amigo seu para olhar de vez em quando não é a mesma coisa que falar com ele. Acabando passando dias procurando antigos colegas de escola, ex-colegas de trabalhos, ex-namorados e namoradas, vizinhos e até mesmo parentes não para estar em contato com eles, mas quase para colecioná-los.
No máximo uma mensagenzinha dizendo uma versão ou outra de "que saudade! e aí, o que você conta?", mas na maior parte das vezes nem isso.
É como se as pessoas que conhecemos fossem figurinhas para colecionar. "Nossa, ele tem mais de quatrocentos amigos no Facebook!". Deixa eu dar uma olhada para eu ver quem eu conheço para adicionar...
Você olha para as fotinhos e se sente rodeado pelas pessoas que conhece. É muito confortável. Mas o potencial para comunicação - o canal - não é a comunicação em si. Mas muitas vezes basta para que não nos sintamos desconectados da nossa teia de relações. Muito mais sofisticado do que a antiga caderneta de endereços com nomes e números, mas basicamente a mesma coisa.
Mas deixa este monte de papo filosófico para lá, preciso mesmo é te contar uma coisa. Você não acredita quem eu encontrei no Facebook...