Wednesday, September 14, 2005

Que falta do Didi Mocó.

Muito do meu senso de humor - não estou dizendo que sou engraçado - é totalmente baseado nas coisas da terra. E isso a gente não consegue trazer para o exterior.
Os trocadilhos, as imitações do Galvão Bueno, falar mal do Faustão e destestar o Jô.
Fazer conversas inteiras usando metáforas futebolísticas.
Contar piadas.
Eu lembro de um filme menor baseado em um livro do Stephen King ainda menor, O Apanhador de Sonhos.
Este filme é um samba do crioulo doido (outra expressão perdida!), tem alienígenas, terror, amigos de infância que vivem aventuras e que depois tem um vínculo paranormal, mortes, exército e bomba atômica.
Mas tem uma coisa muito interessante, que já era legal no livro e que no cinema ficou ainda mais jóia.
O tal alienígena invade a mente das pessoas.
E um dos personagens tem sua mente invadida e, para representá-la, eles criaram uma imensa biblioteca onde essa criatura persegue nosso herói. Montes de prateleiras com livros, cadernos, papéis, arquivos, guardanapos com mensagens, estantes cheias. Linda.
Ele foge e, quando tudo parece perdido e ele vai ter sua mente totalmente tomada pelo monstro alienígena (que nós não vemos - ponto para eles!) ele se refugia num quartinho onde estão suas memórias esquecidas de infância. Discos, livros, objetos. Ele se tranca ali e fica protegido, talvez não por muito tempo. Quem quiser saber o que acontece, arrisque-se na locadora mais próxima.
Para mim a nossa cabeça é como essa biblioteca. Cheia, muito cheia, de coisas que sabemos, fizemos e lembramos. Talvez não sempre, mas sempre que precisamos daquela frase chave ou aquela referência matadora, lá vem ela.
O que eu sinto hoje é que muitas prateleiras estão esquecidas, empoeiradas. Prateleiras não, alas inteiras.

Balão Mágico, Cremogema, Araquém - o Showmen, o Xandó, Montanaro, Bernard e William, Bollet's, Havaianas, Chico Anísio, Paralamas do Sucesso, Ultraje a Rigor, Armação Ilimitada, TV Pirata, Fernando Collor, Tancredo Neves, Blitz, Opala, Chevette, Brasília - amarela, de preferência, Fuscão Preto, Chacrinha, Globo Repórter, Você Decide, Perdidos na Noite (Faustão, você teve a sua chance), Chico e Caetano, PT, Yakult, Jornal Nacional, Sessão da Tarde, Pagode, música sertaneja, Xou da Xuxa, Turma da Mônica, Mobilette, Caloi 10, Geléia de Mocotó Colombo, Bala de Leite Kids, Discão, desfile de 7 de Setembro, Sílvio Santos, Show do Milhão, Domingo no Parque, Cid Moreira e Sergio Chapelin, Zico e Sócrates, Playcenter, Capitão Aza, Globinho, Sítio do Pica-Pau Amarelo, Amendoim Japonês, Angeli e Laerte, Analista de Bagé, Veríssimo e Jabor, Carnaval, Lecy Brandão e Carlos Imperial, a Praça é Nossa e Zorra Total, Coleção Vagalume, O Gênio do Crime, O Menino Maluquinho, Flicts, Daniel Azulay, Ayrton Senna, Nelson Piquet, Emerson Fittipaldi, Luciano do Valle, Sílvio Luís e Juarez Soares, Osmar Santos, Vale Tudo, Roque Santeiro e O Bem Amado, Vereda Tropical e Guerra dos Sexos, Que Rei Sou Eu, Os Imigrantes, danoninho e bala Soft, Ked's e Kichute, Bamba e Adidas Top Ten, Planeta dos Homens, Balança Mas Não Cai, festival Jerry Lewis e filme dos Trapalhões nas férias.

Essas, e um monte de prateleiras cheias de coisas que não lembrei ou não tive tempo de escrever, nos fazem quem somos.
Nos fazem maiores do que somos porque nos ajudam a nos conectar com outras pessoas ligadas a este imaginário comum.

Nossa persona internacional é diferente de nosso personagem local. Uma versão mais séria e talvez um pouco menos rica do que aquela lançada em terras tupiniquins, mas sempre interessante. Porque a soma desses volumes que enchem nossas prateleiras nos faz o que somos.

Mas que faz falta gritar "Cacildis!!!" faz.

Como diria o grande sábio Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumo,
ô da poltrona, ou me empirulitar daqui.
É Caflito!!!

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